Le Editorial * 232 por Mami

Hoje vimos umas andorinhas nos céus do Cais do Sodré, eram poucas mas gritavam como loucas. Cheirámos o pólen doce das flores que ainda não nasceram, ficámos tontos de tanto licor. Espiámos namorados aos beijos em jardins alcatifados. Comemos morangos ilegais comprados às escondidas, e laranjas com mel vindas da China. Hoje alguém misturou cor de rosa com o azul do céu, e imaginem, ficou bem! Hoje choveu mas o ar estava quente e apeteceu dançar, mesmo sem par. Hoje dissemos adeus ao longo Inverno. A Primavera está aí toda, em calda, já não há volta a dar. As andorinhas estão a chegar….

Le Editorial * 231 por Mami

O Carmo era um rapazote quase obeso, de carácter teso e fazia um dinheirão (sempre que não era preso). A Trindade era uma mocinha de figura atroz, filha de pais já avós, sabia bordar com nós e passava as tardes a ler Eça de …

Num belo dia, na cidade, daqueles que se acorda com vaidade e se vai tomar café ali para os lados do IADE, estes dois se encontraram, ao som da última música da Sade. Mas eis que logo se desprezaram, levantaram as vistas e passaram com o desdém que convém a quem, no fundo, não se contém.

E então, cheia de sagacidade e sem ser um segundo mais tarde, Lisboa decide abanar com vontade…
E foi assim que se acharam, naquela idade, caídos nos braços um do outro, o Carmo e a Trindade.

Le Editorial * 230 por Mami

Íamos dedicar este editorial ao desenvolvimento da grande questão mística enunciada um dia da seguinte maneira: “Mas afinal quem são os estranhos fulanos que comem aquelas maçãs ranhosas e assadas, polvilhadas de açúcar, com um pau de canela espetado à laia de “A Espada era a Lei”?” Mas depois pensámos que devem ser os mesmos indivíduos que chegam ao mesmo café e pedem um ovo cozido (que está sempre refastelado numa caminha de sal). Sim, os exactamente os tipos que chegam ao balcão e mandam vir um “Babá”, uma “Orelha”, um “Claudino”, um “Rim” ou uma “Sogra”. Aqueles que pedem a mousse de chocolate mesmo sabendo que “caseiro” é sinónimo de “Alsa”, aqueles que arriscam o Molotof com ar de coisa criada na Perestroilka. E então decidimos brindar a esses lisboetas audazes. Sem eles os nossos cafés não tinham mesmo graça nenhuma.
Esta semana esquece as empadas e os croquetes e arrisca qualquer coisa da qual te possas arrepender.