Le Editorial * 237 por Mami

Molha os pés, bate as palmas, assobia, lambe os dedos, faz o mapa estelar dos teus sinais, dá piparotes no nariz, ressona, come terra, boceja como as leoas, toma banho de luz apagada, rói as unhas até doer, faz caretas mesmo feias, anda às cavalitas, gargareja, ri-te alto, anda a olhar para o céu, faz uma cicatriz nova, gira até ficares tonto, cai no chão, coça a cabeça, dá a mão, pica o pé, gritaaaaaa, faz cocegas, espirra bem, dá cambalhotas, morde orelhas, morde a bochecha, salta mais alto, fecha os olhos, beija o teu ombro, prova o acido e depois o salgado, faz tudo só com a mão esquerda, queima-te no fogo, queima-te no gelo, beija com bâton, chora de beleza, chora de tristeza, pára de chorar, agora acorda, respira fundo, mais fundo ainda, ainda mais, pés no chão, cabeça do ar e estás pronto para começar…

Le Editorial * 236 por Mami

Camaradas comunistas, fascistas, absolutistas, satanistas, exibicionistas, saudosistas, altruístas, terroristas, accionistas, otorrinolaringologistas, acordeonistas, alquimistas, ambientalistas, anarquistas, intervencionistas, pensionistas, politeístas, sebastianistas, narcisistas, capitalistas, halterofilistas, artistas, vigaristas, neocolonialistas, vanguardistas, propagandistas, trapezistas, surrealistas, tabagistas, niilistas, meteorologistas, taxistas, gestaltistas, surfistas, seminaristas, evolucionistas, sexistas, retalhistas, puristas, salazaristas, sadomasoquistas, leninistas, epicuristas, catequistas e alguns míopes.

Le Editorial * 235 por Mami

Na rua tal há uma pacata residencial com nome de cidade ancestral. Ou “a pensão do coração” como lhe chama o patrão da menina Assunção.

Há uma lojeca de ortopedia moderna, com imagens de morfologia externa e uma prótese de perna.
E depois há um velho baeta forreta (que ao que consta também é proxeneta) promete penteados aperaltados e rostos bem escanhoados, por uma nota preta.

Vizinho da velha garagem da Castrol, onde se vê futebol ao lado do calendário de uma tipa nua, só de cachecol.

O alfarrabista fez-se à pista para se dedicar ao comércio de alpista ou para ser artista (já não sei). Livros sobre educação sexual, manuais para o estudante mais anormal, literatura ocidental, o almanaque animal e até o folhetim imoral, esperam novo dono com capital.

A cabeleireira Tila, é dona tranquila mas tem um filho reguila que aniquila a freguesia que ela depila com cera de argila.

Só falta a boite profana, onde o Aníbal conheceu a Ana, essa cinquentona balzaquiana, ex-paroquiana ovolactovegetariana.

E a tasca da esquina, onde a cozinheira é uma marroquina albina e franzina, que faz ordinarices em plasticina.

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* Originalmente publicada a 15 de Abril de 2010, na Le Cool Lisboa * 235

Le Entrevista a Gonçalo Prazeres


Sou o Gonçalo Prazeres, músico de profissão, mas nas horas vagas faz-se de tudo. Costumava tocar guitarra, mas converti-me ao saxofone porque dá mais estilo. Gosto de jazz, de música independente, de BD, de revistas sensacionalistas para ler no consultório, de andar à deriva por cidades que desconheço e de não pagar parquímetro. Neste momento o que mais gosto é de ver o meu disco “Depois de Alguma Coisa” à venda nas lojas.

Lisboa é a melhor cidade do mundo e pronto! A zona ideal é a Estefânia, onde vivo. Fica perto de tudo e diversidade não lhe falta. Transformava a Praça de Touros num mercado vegetariano, juntava-lhe uma boa livraria, uma loja de discos decente, punha no jardim do Príncipe Real a vista do miradouro da Graça, o Bicaense e o novo Hot Clube (que tal nesta zona da cidade?). Sonho fazer uma tournée mundial, ter direitos ao passar recibos verdes e fazer uma cura de sono.

Le Editorial * 234 por Mami

Deitas-te de lado na relva quente, à romana, espreguiças-te e tudo. Saboreias pelos ouvidos, o teu Beethoven de bolso toca a Pastoral. Estás num jardim municipal a curtir o idílico e o bucólico ao mesmo tempo.

Trazemos-te, quais ninfas Kellogg’s, o melhor branche (aportuguesamento já necessário desse hábito importado) de sempre.

Há cereais às cores e uns híbridos deliciosos entre estrelitas e chocapic que emagrecem só de olhar. Há leites das mais originais ordenhas e sumos de tudo o que tem cor. Morangos do tamanho de uvas, figos doces e nêsperas, algumas cerejas. Os ovos quentes, os queijos, as carnes frias juntam-se à orgia. Panquecas e pães pedem banhos de doce.

Esta semana, o jardim municipal é o teu cenário de Dejeuner sur l’herbe(Branche na Relva), desfruta-o em escândalo e delicia René, Miguel & Mami.

Le Editorial * 234 por Mami

Deitas-te de lado na relva quente, à romana, espreguiças-te e tudo. Saboreias pelos ouvidos, o teu Beethoven de bolso toca a Pastoral. Estás num jardim municipal a curtir o idílico e o bucólico ao mesmo tempo.

Trazemos-te, quais ninfas Kellogg’s, o melhor branche (aportuguesamento já necessário desse habito importado) de sempre.

Há cereais às cores e uns híbridos deliciosos entre estrelitas e chocapic que emagrecem só de olhar. Há leites das mais originais ordenhas e sumos de tudo o que tem cor. Morangos do tamanho de uvas, figos doces e nêsperas, algumas cerejas. Os ovos quentes, os queijos, as carnes frias juntam-se à orgia. Panquecas e pães pedem banhos de doce.

Esta semana, o jardim municipal é o teu cenário de Dejeuner sur l’herbe(Branche na Relva), desfruta-o em escândalo e delicia