Le Entrevista a Francisco Batista (Le Cool Team) por Rafa


Quem é o Francisco? 

Numa palavra: um paradoxo. Sou capaz do melhor e do pior. Vivo dos momentos: são os pequenos e inesperados que me deixam feliz e contente... onde o lado negativo é óbvio (não são duradouros). Aprendi a viver solto: não a dizer o que penso e quero à toa (porque tudo tem consequências), mas são ideias próprias, nem sempre partilhadas pela maioria. Aprendi que baixar expetativas (não só minhas mas das outras pessoas sobre mim) tem mais benefícios do que aspetos negativos: a desilusão é mais pequena, os problemas relativizam-se e as diferenças são aceites mais facilmente, o que me deixa menos ansioso. Nota: não deixo de ser ambicioso, por ter as expectativas baixas, mas falhar e acertar têm a mesma probabilidade e é fundamental aceitar o falhanço. Ser flexível comigo e com os outros é uma máxima que procuro pôr em prática todos os dias, o que tem sido fundamental para me sentir feliz.

Le Entrevista aos a Jigsaw por NunoT


Quem são os a Jigsaw? Falem-nos um pouco do trio de pessoas por trás dos músicos.

Os a Jigsaw são o Jorri, a Susana Ribeiro e o João Rui. Julgo que não há muito a falar acerca das pessoas por detrás dos músicos porque tentamos que a nossa música seja suficientemente sincera para justificar as pessoas que somos. Talvez fizesse mais sentido falar dos músicos por trás das pessoas.

Quando foi e como foi que nas vossas vidas entrou a música que se viria a transformar numa carreira (de cada um)? E como é que os vossos percursos musicais se cruzaram?

A música entrou bastante cedo na vida de cada um devido à importância que têm as memórias que lhe associamos da nossa infância. Contudo, é a Susana a primeira a enveredar por esse caminho, por via da formação clássica do conservatório. Quanto a mim e ao Jorri, esse caminho surgiria bastante mais tarde, quando percebemos que a nossa paixão por música não se bastava na sua audição. Os percursos cruzam-se entre mim e o Jorri em 99, quando formámos os a Jigsaw. Finalmente, os nossos percursos cruzaram-se com a Susana Ribeiro em 2005 quando a convidámos para tocar violino em algumas faixas do nosso primeiro álbum “Letters From The Boatman”.

Vitória 14


Puerto López – Ecuador.

Uma cidade de pescadores bastante simpática, no coração da tão conhecida “ Ruta del Sol”. Depois de uma longa viagem noturna desde Guayaquill, aqui eu e o Diogo encontramos um paraíso perdido. Abrimos o guia de viagem que apenas usamos para procurar alojamento, e entramos no “ Hostel Sol Inn”. E daqui não queremos sair mais. Um hostel construído de bambu, com uma zona chill out, uma cozinha aberta, imensas plantas tropicais, e o quarto - um sonho. Tudo por apenas 20 dólares a noite. Era o local ideal para terminarmos esta viagem juntos.


Le Editorial * 342 por Rafa

Lisbora

O Miguel , a Fauna Maria e o Rafa.El planeiam para junho uma de três, sendo que das três que anseiam, duas irão desembocar definitivamente na terceira. Temos Santos a repicar e três coelhos na canasta. Conferem-se as deduções em sede de IRS, atiram-se impropérios em dívida ao Estado e às Finanças e ala que a Festa se agiganta em Lisboa. Ou corremos todos os bairros e seus arraiais. Ou então metemo-nos em negócios e montamos nós a festa com uma barraca e um balcão. Der por onde se quiser, a festa da sardinha da pinga do bailarico e do manjerico será sempre nossa. E tua.

Le Artista da Capa * 342, Rui do Rosário Ribeiro

As imagens crescem a partir de memórias, desejos e sonhos.
Esta constrói-se principalmente pela personificação imaginada de Lisboa, menina e moça, uma espécie de imperatriz da cidade que transita entre os seus classicismos modernos, epopeias clássicas e rasgos contemporâneos. A história que é Lisboa não se traduz numa imagem, mas em pequenos fragmentos e detalhes do aqui e dali. São todos esses pedaços que constroem a cidade que, com uma alma mutável, nos envolve e arrasta para bem perto do seu núcleo. Toda a alma desta está em movimento e cada pulsação é um convite. Assim é Lisboa.

Bio

Rui explora, pára e pensa. Frequentemente. Depois volta atrás, repensa, faz ar de quem não sabe muito bem o que está a faltar, lembra-se do que é e continua. Altera aqui e ali e depois, quando conclui: "bem, eu acabava era isto", é quando realmente o trabalho começa a ganhar outro ritmo. É um processo estranho e peculiar que parece resultar. Rui estudou na ESAD.CR e no Reino Unido, onde concluiu a sua licenciatura em Design Gráfico. Breves experiências marcaram o seu ritmo e modelo de trabalho sendo os Estados Unidos e Itália os últimos locais de rasto profissional.


Le Capa * 342


Por Rui do Rosário Ribeiro

Le Entrevista aos TV Rural por João Freire


















Os TV Rural apresentaram dia 12 de maio o seu mais recente trabalho, intitulado "Balada de um Coiote". Para quem esteve foi um ótimo concerto, mostrando porque os TV Rural são de momento uma das mais cativantes bandas portuguesas. Cantam em português, misturando elementos tão distintos como um rock musculado e bem delineado, com elementos "jazzísticos" e quase de improviso. São canções instrumentalmente já bastante poderosas, o que aliado à grande qualidade das letras transforma cada uma delas em algo muito viciante.

David Jacinto - DJ
David Santos - DS
Gonçalo Ferreira - GF

Le Entrevista a D-Mars / Rocky Marsiano por Nuno T


Marko Roca também conhecido como D-Mars, Rocky Marsiano, o Microlandês ou ainda como "Espião em Amsterdão", é certamente um dos DJ/Produtores portugueses melhor projetado na Europa nos dias de hoje. Depois do seu intenso e bem construído percurso com a (entretanto extinta) Loop Recordings em Lisboa, D-Mars transferiu-se em 2008 para Amsterdão, cidade onde tem elevado a sua carreira enquanto Músico, DJ e Produtor, e a partir da qual tem aproveitado para projetar no mundo alguma da corrente musical eletrónica made in Portugal.

"Lisbon Bass" compila o trabalho de 14 jovens músicos dos mares da eletrónica de dança portuguesa e é o mais recente projeto de D-Mars enquanto produtor, segundo o qual este disco surge com a intenção de captar o momento especial que a música eletrónica vive atualmente em Lisboa. A Le Cool Lisboa aplaude a iniciativa e o projeto e encontra-se com Marko Roca para saber mais sobre si, a sua estadia na cidade do mais puro "Open Mind" e sobre este potentíssimo "Lisbon Bass".

Le Artista da Capa * 341, Inês Cóias

Nasceu e vive em Lisboa.

Antes de aprender a escrever, desenhava histórias de aventuras e ditava o texto à mãe. Nos anos oitenta, em plena guerra fria, fundou o jornal O Missel, que teve um único assinante. Quando tinha idade para isso enviava poemas e desenhos para o DN Jovem, tendo recebido vários prémios nesta última modalidade. Ex-futura arquiteta, licenciou-se em Design Visual no IADE e cursou Ilustração e BD no Ar.Co. Participou em exposições coletivas (Beja, Roma, Helsínquia, Malmö, Texas) e auto-editou o livro Red Shoes que a levou até à EXD’11 e à bienal Livres à Voir 9, em França.

por aqui.

A capa : no verão trocam-se os sapatos pela sapateira.

Le Editorial * 341 por Rafa

Lisgoa

O Miguel , a Fauna Maria e o Rafa.El desceram ao Martim Moniz em busca de pimenta rosa e açafrão e acharam-se como Vasco da Gama perante os tesouros de Calecute: deslumbrados de cor e de cheiros. Apimentados, não de deuses mãe e pai de mil e um nomes e nem uma dezena de braças, de mercearias da Mouraria e do Intendente, de gentes da Lisgoa em evocação de naus e caravelas de quinhentos. Nós queríamos e tivemos. E eles apenas vieram atrás e são nossos, somos nós. E nem começo a falar do prazer do palato por aqui... que cada casa de pasto movida a saber do Oriente, eleva em mim baba desejosa que nem saliva do mar na maré viva mais cheia do ano.

Le Capa * 341


Por Inês Cóias

Le Editorial * 340 por Rafa

Lisboa, a promíscua

O Miguel , a Fauna Maria e o Rafa.El torceram o nariz ao ver o cognome para Lisboa que lhes saiu na tômbola. Para a próxima, que lhes saia "solar" ou "anfitriã", que mais gozo para brincar com metáforas primaveris e imagens de turistas a quem cresceu um vermelhaço. Para , promiscuidade é mesmo entre Lisboa e o mar, Lisboa e o Tejo, Lisboa e a terra, Lisboa contigo e com migo. Se a cada riso de lisboeta se somasse um grito de outro, este seria na sua quase totalidade, de prazer ascendente.

Le Capa * 340


Por Nikki Dodds

Le Entrevista a Ângela Marques por Rafa



Apresenta-te, preenche os espaços a cinza sobre quem és. De onde vens e para onde vais?

Há cinco coisas que tens de saber sobre mim:

1. Acusam-me de ser muito a preto e branco, pelo que falar de cinza em mim pode transformar-se num exercício de eufemismos.

2. Chamo-me Ângela e odeio que escrevam o meu nome sem acento circunflexo (e por favor não lhe chamem chapelinho).

3. Sou jornalista e embora adore o que faço não gosto muito de falar sobre isso.

4. Faço trinta anos em novembro e quero ter um castelo insuflável na minha festa. Mesmo correndo o risco de ir parar ao hospital.

Le Entrevista a Selma Uamusse por Célia Fialho


Selma Uamusse é a voz negra dos Wraygunn. A “menina de coro” a quem os endiabrados elementos de uma das mais geniais bandas da música portuguesa não conseguiram resistir. Doce, cheia de personalidade e dona de uma voz surpreendente. Selma anda nestas andanças dos palcos há pouco tempo, mas já se move como um peixe na água. Já colaborou com bandas como os Cacique 97 e os Funkoffandfly, e por onde passa enfeitiça com a sua beleza natural e voz.

Fomos conhecer a jóia africana, deixando-a abrir o coração e falar-nos de si.

Quem é a Selma? De onde veio, onde está, para onde vai?

A Selma é uma menina com 30 anos com muito por aprender ainda… Nasci em Moçambique e vivo em Portugal desde os 7 anos mas tenho uma forte ligação ao meu país, tenho lá toda a minha família e tento lá ir sempre que posso. Sou formada em Engenharia do Território e o  meu sonho foi, um dia, fazer o planeamento urbano de cidades em Moçambique. Entretanto, surgiu o gospel que espoletou a minha paixão por Deus e pela música como forma de expressão.

Le Artista da Capa * 340, Nikki Dodds

Recessão

Explorei durante cerca de 10 minutos pontos vantajosos do Anfiteatro da Gulbenkian; caindo sobre os assentos ou passando pelo palco, a atmosfera íntima conseguida num espaço não confinado foi surpreendente! Reparei que este "gentleman" mudou de posição 3 ou 4 vezes enquanto estava sentado na "audiência." Estava tão distraído no pensamento, ainda me pergunto se terá reparado no meu comportamento.

Lisboa

Passei dois meses em Lisboa no final de 2001, inicialmente para tomar partido de ter mais tempo para criar e por causa do meu interesse em ver os projetos sociais de regeneração urbana em curso na Amadora.


Le Artista da Capa * 339, Nikki Dodds

Out of this world : Lisbon

alguma coisa neste bloco de apartamento que representa um tipo de utopia - tão perto, mas tão longe (fisicamente), fotografado isolado da realidade da sua envolvente, parece equilibrado e próspero.

Lisboa

Passei dois meses em Lisboa no final de 2001, inicialmente para tomar partido de ter mais tempo para criar e por causa do meu interesse em ver os projetos sociais em curso de regeneração urbana na Amadora.

Uma falta de planeamento (e, portanto, de expetativas) gerou uma experiência honesta e completamente extraordinária. Os locais e os rostos de Arroios e dos Anjos tornaram-se familiares e assumiram o aspeto de "casa." Passei dias a caminhar com a câmara, afortunada com um sol de inverno e sem necessidade de localização ou de agenda.  

Le Capa * 339


Por Nikki Dodds

Le Entrevista aos Capitães da Areia por NunoT


Os Capitães da Areia vêm de outro tempo e de outro espaço. Um mundo onde reina uma espécie de boa disposição universal e constante no tempo. Há alegria, muito sol, calor e praias por todo lado. Aliás, o mundo dos Capitães da Areia é uma praia gigante sem saída e na qual o sol nunca se põe. E claro, muita onda para surrar ou simplesmente para nos deixarmos molhar até ao tornozelo. No mundo dos Capitães tudo é alegre, colorido, democraticamente perfeito. Vêm do tempo em que a maior preocupação era o fim de um amor de verão, e um espaço onde todos são Capitães de tudo. Até o último dos marinheiros é capitão no seu solo. Afinal se o indomável mar não pertence a ninguém, a terra, essa é de todos.

A Le Cool quis visitar a praia dos Capitães, onde, claro, não há telefones nem grandes sinais da tecnologia. Por isso mandaram-me à frente num barco à vela sem capitão, nem remos. Sem saber como, lá cheguei, e sem perceber bem porquês quatro Capitães me esperavam na praia de onde me acenavam frenética, quase histericamente. Lisonjeado e excitado por tão efusiva ainda que misteriosa recepção, visto que não anunciara a minha chegada, coloquei o barco de vento em popa para acelerar o meu encontro com os Capitães. Percebi tarde o significado dos seus acenos, e não pude evitar um brutal embate num tramado de um rochedo que mal se via em hora de maré cheia. Mas se há bom sítio no mundo onde encalhar é na praia dos Capitães da Areia. Há música fresca todos os dias e a boa disposição salta de acorde em acorde, de batuque em batuque.

Le Entrevista aos RED Trio por Pedro Tavares


Acrónimos chave para a entrevista:

Gabriel Ferrandini GF
Hernâni Faustino HF
Rodrigo Pinheiro RP
Le Cool - Pedro Tavares 

Como se formou o RED Trio?
(risos)
RP Epá, responde tu!

GF (risos) O Hernani tinha bué vontade de tocar connosco.

HF Eu tocava em situações de bandas em Ad hoc.

RP Todos nós.


HF Tocava com coisas de circunstância e comecei a pensar, pá, porque não fazer uma banda mesmo e convidar duas pessoas para tocar, um trio. Então, eu depois conheci o Rodrigo num concerto do Hot Clube onde tocámos juntos num septeto ou octeto, já não me recordo, do Ernesto Rodrigues e pronto. Depois combinei com ele e conheci o Gabriel na altura em que apareceu aqui na Trem Azul. Estava a estudar bateria e precisava de um sitío para ensaiar.

Le Editorial * 339 por Rafa

Lisboa, para a mesa do canto

A mesa do canto é, de longe, a melhor. É ideal para quem observa, pois é omnisciente. É perfeita para quem quer observar, é o canto do espião. Evita punhaladas pelas costas, que os costados estão protegidos. É tanto a última a ser servida, como aquela onde a gente mais se demora, pois é protegida por um mar de gente e o caminho até chegar é quase a Rota da Seda. É um lugar redondo, recôndito, circular e cadeirão do reino das vistas. E é onde queres estar se, certamente, te apetecer correr os dias de Lisboa. O Miguel , a Fauna Maria e o Rafa.El preferem mil mesas do canto a um lugar ao balcão. Sai uma Le Cool para 47 mil mesas do canto!

Le Entrevista a Sérgio Graciano por Pedro Alfacinha


Como surgiu a ideia para realização deste filme (Assim Assim)?

Sempre me atraiu filmar sobre essencialmente relações humanas, é um caminho que gosto, contar histórias de pessoas. Falei com o Pedro Lopes para escrever e assim nasceu a ideia do filme.

Porquê o nome "Assim Assim"?

Porque não há nada mais português do que isso, nunca estamos nem bem, nem mal, estamos sempre assim assim.

O que Lisboa tem de tão especial para atrair o olhar da câmara?

Para já, é a cidade onde nasci e cresci e tenho um grande fascínio por ela. É das cidades mais bonitas que existem. Mais que suficiente para fazer um filme com Lisboa como pano de fundo.

Le Editorial * 338 por Rafa

Lisboa, A chorona

Não é sobre a extinta Lhasa de Cela que falo, não, é mesmo de Lisboa. O Miguel , a Fauna Maria e o Rafa.El não são feitos de açúcar, até que são da mesma qualidade genética daquele pessoal que foi de casca de noz até ao Brasil e Bissau, Goa e Macau. Mas que São Pedro não desligue as torneiras do céu durante dias a fio, até que se torna chato. Ou tem a conta da água incluída nas renda do céu ou é a brincar connosco às cascatas, pois que um fluxo de monção de hora a hora. São Pedro, , e se fosses chatear o Camões?

Le Artista da Capa * 338, Nicolae Negura

Sobre a capa, em tempo de greves, quando grandes forças combatem por grandes objetivos, alguns apenas vêem e o aproveitam como mais uma folga.

Dizem que Lisboa é "a kind of magic", verdadeiro. Mas mais magia por e não é necessária uma varinha mágica para a encontrar.

Considero-me um contador de histórias, coloco nas minhas ilustrações e comics o que vejo, o que ouço e experimento.
Conhece-me por aqui e por aqui.

Le Entrevista a Valéria Carvalho por Rafa.El


Nasci no interior de Minas Gerais, Brasil e a dança foi a minha primeira forma de expressão artística. Há 20 anos atrás vim para Portugal com uma mochila cheia de sonhos nas costas. Ao longo deste tempo muito trabalho e dedicação, sobretudo na TV, fez-me ficar mais conhecida do grande público, mas o teatro é o meu veículo, paralelamente à formação e ao trabalho de intervenção artística na área social.

Quanto à peça em cena na Comuna (Chico em Pessoa, já passado) e que se inclui na celebração do seu quarto decénio, que aconteceria de facto se se encontrassem tantas personagens - os Pessoas e as mulheres de Chico?  E os dois, se se encontrassem, haveria frutos daí?

Penso que na peça o encontro entre Chico Buarque de Holanda e Fernando Pessoa, é um "casamento perfeito", as mulheres de Chico e a consciência de Pessoa que pontua cada uma delas, na vida real seria interessante, quem me dera estar presente!

Le Entrevista a Rute Ribeiro por Rafa


Apresente-se sucintamente e não deixe de destacar o seu papel quanto ao FIMFA.

Falar de mim é complicado… mas aqui vai! Neste momento a minha vida gira em torno do teatro de marionetas! Até nos meus sonhos estão presentes! Mas nem sempre foi assim… ou se calhar até foi! Desde muito pequena que me lembro que adorava brincar com as minhas mãos e com todo o tipo de objetos... Com as minhas mãos gostava de imaginar histórias de cowboys e ladrões, durante passeios semanais no banco de trás do carro… parece estranho, mas é verdade… Também adorava as tardes intermináveis de filmes a preto e branco na televisão, especialmente os musicais com Fred Astaire e Ginger Rogers, os quais recriava com as famosas Tuxas… Mas do que eu gostava mesmo era dos programas do Vasco Granja e a adoração suprema, os Marretas! E de teatro.

Não perdia a oportunidade de participar em todos os projetos na escola e mais tarde no Liceu. Outra grande paixão era História, ou melhor, Arqueologia. Fiz o curso de história e participei em muitas escavações arqueológicas. Dividia este projeto com o teatro de marionetas, mas chegou uma altura em que tinha de escolher, já não dava para conciliar… escolhi o mundo onde tudo é possível! Em 1993 criei juntamente com o Luís Vieira a companhia A Tarumba - Teatro de Marionetas e num ápice, zás! Já passaram 19 anos! No projeto da Tarumba faz parte o FIMFA, que ocupa um papel muito importante no trabalho da companhia. Partilho com o Luís a direção artística e um sem número de tarefas… acho que o FIMFA só é possível porque nos empenhamos verdadeiramente de alma e coração em partilhar com Lisboa este universo e estes seres com os quais nos identificamos…

Como é dirigir artisticamente um Festival desta dimensão, com o envolvimento que tem com os agentes culturais da cidade e que já vai na décima segunda edição? Dezassete dias de programação também é de fôlego - esperam que o público seja ainda mais participativo que no ano passado.

É verdade, o FIMFA já vai na décima segunda edição… Dirigir o FIMFA é uma tarefa e uma responsabilidade gigantesca que nos ocupa o ano inteiro, para além das produções e outros projetos da Tarumba. É fantástico podermos ter o envolvimento que temos com os agentes culturais da cidade pelos quais nos sentimos acarinhados e nos dá ainda uma responsabilidade acrescida, para mantermos a qualidade artística e a capacidade de surpresa, sem eles não seria possível manter o festival.

Este ano temos um novo parceiro, o Teatro São Luiz, para além do Museu da Marioneta, do Teatro Maria Matos, do Teatro Nacional D. Maria II e do Centro Cultural de Belém. Vamos ainda apresentar espetáculos no nosso espaço, no CAMa - Centro de Artes da Marioneta, na Galeria Boavista e no Jardim da Estrela. Para além de Lisboa, este ano realizamos duas extensões do FIMFA ao Teatro Municipal da Guarda e em Montemor-o-Novo, no Espaço do Tempo. Vão ser dezassete dias super intensos e esperamos sinceramente que o público continue a aderir ao FIMFA, que continue a esgotar as diversas salas e a participar efusivamente nas diversas actividades.

Correndo o programa, constato que permanecem os segmentos habituais de espectáculos de rua e pequenas formas e dos espetáculos em teatro. Mas há eventos mais atípicos, como um concerto com gramofone. Pode comentar-me estes outros espetáculos que fogem a uma linha - haverá alguma - que um grande público esperaria do teatro de marionetas. Em nota pessoal sinto que essa linha (a de acolher outros meios e formas, como o cinema, por exemplo) já foi flanqueada há muito tempo, sobretudo depois de ver o Fausto de Svankmajer e de assistir ao trabalho da Tarumba e das Marionetas do Porto. E o mesmo se poderia comentar quanto à velha questão do teatro de marionetas ser apenas para crianças.

O teatro de marionetas tem este papel aglutinador de juntar várias artes. Ao longo da história constatamos que este esteve presente nas vanguardas artísticas, que souberam explorar o seu valor experimental, social e político e, muito importante, foi também um meio de retratar as injustiças sociais e ainda continua a ser. Muitas vezes podemos estar a ver a utilização desta forma artística nos projetos mais experimentais e não nos lembramos que são marionetas…

Essa é um velha questão, a associação imediata que muitos fazem sobre marionetas serem só para crianças. Foi algo que sempre quisemos combater, desde a primeira edição e no contexto da Tarumba, em que desde o início criámos espetáculos para adultos. Mas mesmo quando apresentamos projetos destinados ao público familiar ou infantil, gostamos que tenham associado um lado experimental, que foge à ideia rotineira que muitos têm das marionetas. E sim, mantemos os segmentos habituais, na sua maioria estreias nacionais e mundiais, mas também, na sua maioria, com projetos alternativos, podemos dizer que este ano o FIMFA vai a casa… mas isso vai ser uma surpresa… temos espetáculos com lotação que vai desde os dois espetadores no máximo, até à ocupação de salas com grande lotação e muito diferentes entre si.

Penso que gostamos de mostrar que o teatro de marionetas é um mundo de grande liberdade artística e que junta todas as artes e pessoas de grandes e diversos talentos. O caso do concerto referido é um exemplo, Yael além de marionetista, tem uma voz fantástica, e vai ser uma noite especial de festa! Teremos espetáculos em que o público vai poder experienciar a absoluta diversidade criativa, desde o teatro de objetos, a ilusões ópticas, modelação de barro em cena, pintura ao vivo… e documentários, duas estreias, um dedicado à tradição europeia das marionetas de luva, neste caso, com entrevistas a alguns dos mais importantes marionetistas deste tipo de manipulação e investigadores, alguns dos quais vão estar no FIMFA. É dedicado ao João Paulo Seara Cardoso e podemos ver alguns momentos da Sara Henriques das Marionetas do Porto, a preparar a nova versão do Teatro Dom Roberto, que estreia no FIMFA. Curiosamente este filme parte de uma figura criada no século passado, em Espanha, mais precisamente na Galiza, o Barriga Verde, e o seu criador José Silvent Martínez (1890-1970), que terá aprendido a arte das marionetas de luva no Porto, por volta de 1905 com um marionetista português e os populares Robertos… depois teve um pavilhão de marionetas que andava de feira em feira - uma família de marionetistas que percorria as feiras galegas durante os anos da Segunda República Espanhola e no pós-guerra, como acontecia em Portugal, com Manuel Rosado, por exemplo.

O outro documentário é sobre Pepe Otal, uma figura mítica de Barcelona, marinheiro, marionetista. O seu espaço foi o berço de alguns dos mais importantes marionetistas espanhóis, como Jordi Bertran, entre outros, um local de tertúlia e de festas famosas com poetas e marionetistas.

Mais do que uma apresentação do festival, gostava que destacasse alguns espectáculos, como as versões de Punch & Judy ou o Théâtre du Rugissant.

Este ano comemora-se os 350 anos de Mr. Punch em Maio, e o FIMFA não podia passar ao lado deste acontecimento… ainda por cima no clima atual que se vive mundialmente, parece-nos que vozes como a do revolucionário Mr. Punch, são cada vez mais necessárias. Por isso o menu de abertura é contrapor o tradicional e o contemporâneo, o “Punch and Judy”, pelo Professor Rod Burnett, e depois, um outro olhar, mais atual, com o fantástico Neville Tranter e o seu “Punch & Judy in Afghanistan”. Ainda no campo da marioneta de luva e a forma diferente de vários criadores a usarem nos seus espetáculos e para adultos, temos Jean-Pierre Larroche e a sua companhia, Les Ateliers du Spectacle, com uma abordagem muito pessoal, numa perspetiva contemporânea, sob o tema da dança da morte. Vamos rir e pensar com todos estes suicídios e assassínios de marionetas que tantas vezes gozam com o mundo.

O Théâtre du Rugissant é outro dos grandes destaques, com uma cenografia e marionetas fantásticas, onde vemos os vários andares de um edifício, com música ao vivo, e uma abordagem ao racismo que nos vai comover e fazer pensar… outro projeto a destacar é o de Yael, que já referi anteriormente, e o seu Paper cut, teatro de objetos e figuras de papel, inspirado no universo do cinema americano dos anos 40… Joan Baixas, pintor e marionetista, conhecido pelo trabalho que realizou com vários pintores, como Miró, apresenta uma nova versão do seu espetáculo Música Pintada… A companhia Pèlmanec e marionetas de tamanho humano, numa manipulação excelente, com um espetáculo inspirado em Hamlet de Shakespeare, e que nos lembra os jovens japoneses hikikomori.

Mas muitos mais havia que destacar… A Tarumba volta a apresentar “Mironescópio: A Máquina do Amor, o qual continuamos constantemente a receber solicitações de reposição, e é tão bom receber “os nossos queridos clientes”… Ah! E a companhia Mireille & Mathieu, conhecida como os “punks das marionetas”, em que o palco vai parecer uma feira da ladra, onde ocorrem números absolutamente hilariantes, como um encontro romântico entre a Barbie e o Ken, que vai abalar a palavra “paixão”…

Como sente que tem sido o percurso do FIMFA ao longo dos anos, há espaço para progredir e se expandir? E o teatro de marionetas no nosso rectângulo (e não gostaria de puxar a questão económica, que está sufocante para as artes) tem bons técnicos e criativos e promete melhorar?

Sinto que o FIMFA conseguiu crescer e implantar-se ao longo destes anos, que faz parte do calendário cultural de Lisboa e de uma agenda internacional, mais ampla de festivais congéneres… e que as pessoas em geral já olham para o teatro de marionetas de uma outra forma. Penso que há espaço para progredir e expandir ainda mais o festival, temos muitos projetos e ideias que queremos desenvolver para ocupar ainda mais a cidade, e que os lisboetas ainda possam intervir e interagir mais com o festival.

Muitas destas concretizações tiveram de ser adiadas, precisamente por factores económicos, se o nosso orçamento comparado com outras iniciativas era muito reduzido, este ano ainda foi mais, a determinada
altura parecia impossível conseguir realizar o FIMFA nos moldes a que todos estão habituados.

A equipa é pequena, mas como se entrega de alma e coração, juntamente com os amigos e voluntários, conseguimos fazer mais uma edição. O teatro de marionetas em Portugal tem bons criativos e pessoas cada vez mais interessadas em criar e desenvolver projetos interessantes, os problemas são os meios que são extremamente escassos! Se sempre o foram, agora muito mais! Basta ver a multiplicidade e vitalidade dos portugueses presentes no Festival, como o Teatro de Ferro, o Teatro de Marionetas do Porto, e as novas criações de pequenas formas, de André Murraças, Ana Gabriel, Joaquim René e Luís Hipólito, ou o novo trabalho de João Calixto e Márcia Lança. A formação de qualidade é muito importante, e este ano, embora não existam workshops no FIMFA, por questões orçamentais, e porque desenvolvemos um projecto internacional denominado Funicular no qual resolvemos apostar, que tem vários momentos ao longo do ano com criadores internacionais, e que têm feito com que pessoas de várias nacionalidades e proveniências artísticas se possam conhecer e desenvolver projetos na área das formas animadas em Lisboa. O que queremos ou desejamos? Era ter um orçamento que pudesse apoiar e impulsionar verdadeiramente a criação artística portuguesa, com artistas de vários campos artísticos, e posterior circulação nacional/internacional.

Lance, por favor, um convite aos nossos leitores para que assistam e participem.

Venham aos espetáculos e noites do FIMFA, viver verdadeiramente este mundo mágico… venham de mente aberta, preparados, pois tudo pode acontecer! E onde tenho a certeza que vão sair a dizer nunca pensei que as marionetas me pudessem transmitir todas estas sensações, ou serem tão radicais…

E agora deixe-me alguma palavras quanto a Lisboa - é prática comum nas entrevistas para a Le Cool.

Lisboa é a minha cidade! Nasci aqui e costumo dizer que sou filha do Bairro da Graça… nasci, vivi e continuo a viver na Graça. Quando era pequena dizia que vivia no cimo do Monte, na montanha mais alta de Lisboa e que dali podia ver todas as casas e janelas de Lisboa… às vezes parece uma aldeia, uma espécie de microcosmos na cidade, ao contrário de outros locais, os sábados e domingos são momentos muito atarefados, a fervilhar de vida por todos os lados.Aqui tenho a maior parte das minhas memórias, a escola, o Liceu Gil Vicente… entre elas, guardo com carinho a do Cinema Royal (onde funciona atualmente um supermercado) onde todos os fins de semana, desde cedo, assistia ali às matinés, e a milhares de filmes… Agora gosto de ver que a Graça se começa a renovar, com novos espaços a abrir. Mas para mim, no Miradouro do Monte, a olhar para aquela vista imensa, ainda consigo sentir ao pôr do sol a cidade a fervilhar e gosto de imaginar o que se passa em cada janela, rua, ruela, beco…

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* Originalmente publicada a 3 de Maio de 2012, na Le Cool Lisboa * 338

Le Entrevista a Marisa Costa por Rafa


Apresente-se sem deixar de lado o seu papel continuado como Diretora de Produção e de Comunicação do FATAL.
 
Tenho 33 anos, fiz uma licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, fiz parte da direcção do jornal Os Fazedores de Letras, da Faculdade de Letras. Tenho trabalhado sempre na área Cultural na Reitoria da Universidade de Lisboa, onde estou há cerca de uma década produzindo e divulgando projetos culturais sempre em ligação com professores, estudantes e funcionários. Trabalhei pela primeira vez no FATAL, em 2003, e fui assumindo, com o crescimento do festival, novas responsabilidades à medida que têm crescido também os desafios deste festival.

Antes passei também, de forma fugaz, pelo ensino a crianças e tenho trabalhado, em paralelo, noutras áreas com as quais me identifico bastante, especialmente a música (fui vocalista em alguns projetos e tenho formação musical) e a escrita (tenho feito alguns argumentos para Banda Desenhada e tenho alguns textos publicados). No teatro, passei pelo teatro universitário e participei em teatro de rua. Não me imagino a trabalhar em algo que não esteja ligado à criatividade.

Le Capa * 338


Por Nicolae Negura

Le Entrevista a Adriano Smaldone por Pedro Alfacinha


Entrevista  com Adriano Smaldone, programador da 5ª Edição da Festa do Cinema Italiano

Fala-nos um pouco do percurso feito pela Festa do Cinema Italiano ao longo destes 5 anos.

A primeira forma deste festival era uma mostra de meia dúzia de filmes italianos e surgiu graças à vontade de um grupo de amigos italianos que vivem em Lisboa já há alguns anos, em que cada um trabalha em várias áreas, em vários âmbitos mas devido à paixão cinéfila decidiram juntar-se e forma a Associação Il Sorpasso, que é a entidade organizadora do festival, juntamente com o apoio do Instituto Italiano de Cultura e da Embaixada de Itália. A origem, a génese deste festival é uma mostra para promover a cultura italiana através do cinema.

Que tipo de público frequenta este festival?

O nosso objetivo é que cada vez mais pessoas desenvolvam o interesse pelo cinema italiano mas pensando num contexto mais geral é bom que haja festivais temáticos, que mostre uma outra vertente. Esta é uma forma de o fazer mas há outras, tais como propor ciclos, propor retrospetivas ao longo do ano. A Associação Il Sorpasso pretende propor outro tipo de eventos ao longo do ano e não se limitar à organização deste festival.