Le Entrevista a Expeão por Fernando Mondego

Falamos com Rui Pina, largamente conhecido e reconhecido como vocalista dos Dealema. O mote? O lançamento de novo álbum como Expeão, o «O Fim de Todas as Estradas».
 
Gostava de uma breve apresentação de Expeão e o porquê da escolha deste 
nome de artista. Achas, como apontou Octávio Paz, que o artista não tem
 biografia, a sua biografia é a sua obra - a frase original é «os poetas não têm
 biografia. A sua obra é a sua biografia»?
 

O nome EXPEÃO é um nome que te faz pensar no significado, por isso o escolhi. Para mim significa deixar de ser um mero peão no jogo de xadrez que é a sociedade e passar a ser mais autónomo e árbitro do próprio destino.

Concordo com Octávio Paz, o poeta tem a sua intemporalidade explícita na sua obra.
 
Tens álbum, o «O fim de todas as estradas», para o qual compuseste, 
escreveste e onde cantas. Queres explicar-me um pouco todo este processo 
de criação e de desmultiplicação? No encarte do álbum agradeces a mil e uma 
pessoas (talvez mil e duas, tenho que recontar). Achas importante toda essa
 massa humana ao compor e ao criar, é um bom anteparo e sustento?
 


Gosto de ser eu a ter o controle de todas as fases dos meus álbuns, desde a 
composição até à gravação, mistura etc. Assumo toda a responsabilidade do 
disco, embora este novo álbum tenha produção minha e de Zé Nando Pimenta da
 Meifumado. Foi um disco que contou com alguns músicos executantes das minhas
 composições, pois eu gravei todos os instrumentos no meu estúdio, e depois 
levava para o estúdio da Meifumado e regravávamos o que eu tinha tocado na 
maquete, se fosse necessário. 
 
Chegámos a guardar muitos «taques» da minha gravação
 (especialmente as vozes), mas as baterias gravámos todas de novo, assim como
 muitas das partes de guitarra e baixo.
 Quanto a compor e a criar, geralmente, faço-o no piano ou na guitarra, raramente
 componho de outra forma. É muito directa a minha forma de trabalhar, basta-me
 uma ou duas guitarras, um baixo, os meus teclados vintage (e a funcionar mal), uma 
bateria, e é muito rápido, a partir daí, mas geralmente faço-o sozinho ou com o meu 
baixista, Guito Maldiva.
 
Agradeço a todas as pessoas e instrumentos que ajudaram
 ao resultado final por muito pouco que tenham feito.


 
Expeão. Vês-te como um óptimo seguidor das características humanas? O 
amor ou a desilusão, por exemplo, vêm bem explícitos nalgumas das faixas do
 disco, no primeiro single, por exemplo, onde até há um piscar de lírica a Rui
 Veloso / Tê. Quais são os interesses que te movem?


 
O amor e a desilusão são temas constantes nos meus trabalhos, pois são reais para 
mim, assim com a morte e a dor. Há quem ache que falar desses temas demonstra a 
tua fraqueza, mas eu acho que é o contrário. É preciso sentir e é preciso ter coragem 
para abordar esses temas. Toda a gente fala agora em revolução e manifestos, mas
 continuo a ver no terreno os mesmos de sempre, há quem possa confundir a minha
 música com activismo, mas estão muito enganados, eu não vou vender a minha 
música para essa falsa revolução e aproveitar-me do momento do manifesto para
 fazer promoção à minha banda ou empresa.

 Conheço muitos casos desses e é triste, como lhe chamo, «vender a revolução».
 
Eu 
actuo nos locais onde as pessoas possam beneficiar da minha ajuda, contactos para 
resolverem alguma situação grave no bairro, por exemplo, ou actuo em escolas e
 associações de apoio a crianças de rua, onde existem problemas com a comunicação 
entre alunos e professores.
 
Por exemplo, agora estou a fazer um projecto com uma 
turma de risco de uma escola em Matosinhos. Não confundo isso com a música, a não ser quando acho que deva escrever sobre 
esse tema. Mas não me vejo como um alguém que diga às pessoas como devem 
pensar (política), mas sim como alguém que te faz pensar.
 
Dealema e agora a solo como Expeão. Chamas-lhe virar de página - ou de disco 
- ou é fundamental para um músico procurar sempre novas alternativas para
 a sua «voz»? «O Fim de todas as estradas» não é vincadamente um disco de Hip-
hop...


 
O meu primeiro disco como Expeão saiu em 2006, «Máscara», e este foi uma
 evolução desse primeiro, mas mais conceptual. Com uma sonoridade mais rock,
 com rap e seja lá o que lhe quiserem chamar, eu não me enquadro em nenhum
 movimento, faço música, tenho diferentes bandas: toco punk hardcore desde
 sempre com os meus amigos de infância, pois foi a música que nos fez querer ser
 músicos, tenho a minha editora de música electrónica: Facamonstro, assim como 
Santo Ovídeo Grime, Expeão, Dealema. Gosto de separar as águas, por isso nunca
 vou fazer um disco na mesma onda que DEALEMA, pois estaria a sugar a banda. 
Felizmente consigo separar bem as coisas na minha cabeça.


 
«O fim de todas as estradas» não será um fim, mas mais um ponto de situação?
 Que podemos esperar de ti em termos musicais para os próximos meses?
 

Alguns concertos, pois a banda com que estou neste momento é incrível e está a soar
 muito forte ao vivo, podemos competir com qualquer banda de rock nacional.


 
Lisboa. Casa e pátria, bom combustível para letras?

 
Lisboa é uma cidade muito bonita e inspiradora, pois costumo estar em certas 
acções da “Plataforma Artigo 65” – Direito à Habitação, da qual faço parte
 e tive a oportunidade de conhecer sítios com uma cultura incrível, como a Cova da 
Moura, entre outros guetos, e é sem dúvida inspirador.
 Mas a maior parte da minha inspiração vem da cidade do Porto, onde sempre vivi, e
 todos os bairros que já percorri.
 A pobreza no Porto chega a atingir os 30% da população e é ao mesmo tempo uma
 cidade com pessoas muito acolhedoras e sentes mais a entreajuda humana, o que é 
essencial para lutar contra a ditadura do Rui Rio.

 

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