Le Entrevista a Stefano Savio por Rafa


Quem é Stefano Savio, situe-nos a sua ocupação profissional. Sei que divide o seu tempo por Portugal entre o Estoril Film e a Festa do Cinema Italiano (que conquista Lisboa a partir de dia 14 de Abril). Partilhe qual a sua relação com il cinema.


Uma das minhas primeiras tarefas enquanto criança era de gravar em VHS os filmes que passavam na televisão e que o meu pai não podia ver porque estava fora de casa. Aos quinze anos as cassetes de vídeo já não cabiam no meu quarto. Quando tinha vinte anos fui trabalhar num dos maiores arquivos de vídeo da Itália. Durante anos enchi as prateleiras com filmes de todos os géneros. Muitos dos quais nunca foram visionados.


Depois tive a ocasião de estagiar na Cinemateca Portuguesa e aí começou a minha aventura portuguesa.

Sempre tive uma relação privada e muito possessiva com o cinema, mas agora com a enorme acessibilidade  aos conteúdos que a rede pode proporcionar, o sentido de um arquivo perdeu parte do seu valor. Achei mais interessante partilhar alguns dos próprios prazeres com outras pessoas em vez de que fechá-los numa gaveta.  

O que pode esperar o cinéfilo lisboeta desta 4a edição da Festa?

Temos filmes para todos os gostos. Mas o cinéfilo mais radical não pode perder “Le quattro volte” de Michelangelo Frammartino, ancestral, magnético, mais de que um filme, um raro objecto cinematográfico. Um diálogo silencioso entre a natureza das coisas e do tempo. 

Uma outra aposta para esta edição foi “L’uomo che verrà” de Giorgio Diritti, filme exemplar que junta o rigor do testemunho com uma mensagem  ética e moral de grande valor.     

Destaque a actualidade do cinema italiano - uma das escolas de cinema com maior peso histórico. Refira-me também a contribuição da Festa quanto ao trazer o melhor que se faz na "bota" italiana até Portugal, nomeadamente Lisboa.

Estamos a viver num momento muito positivo no cinema italiano.

No último ano as produções nacionais encontraram o favor do próprio público, as grandes receitas na geradas na bilheteira ajudaram também a investir num cinema mais de autor e de qualidade que marca presença nos maiores festivais internacionais.

A nossa grande satisfação foi ver como o número dos filmes italianos que estrearam em Portugal aumentou sensivelmente desde quando a Festa começou. Sem a ajuda dos distribuidores o nosso festival seria só um evento ocasional, para trazer verdadeiramente o cinema italiano em Portugal precisamos de novas sinergias e de uma politica mais ampla e de maior prazo. Não tenho dúvida que vamos conseguir, o público português demonstrou-se muito interessado na nossa proposta. 

Sugira-me um momento, um filme, um actor, um evento (ou vários) imperdíveis nesta 4ª Festa.

Um momento: A festa de Abertura na Esplanada da Portas do Sol no dia 14 de Abril.
Um filme: Qualunquemente, bem sucedida sátira ao sistema político italiano.
Um actor: Alba Rohrwacher em A Solidão dos Números Primos, sem dúvida a melhor actriz italiana da sua geração.
Um evento: O encontro dedicado ao laboratório criativo da Fabrica (20 de Abril), uma possibilidade para conhecer e colaborar com um dos pólos artísticos mais interessantes de Itália.

E Lisboa? O que é Lisboa para Stefano Savio? Lisboa é como Veneza - as capitais de impérios que foram caindo, absolutas no seu esplendor e história e com uma praça central que tanto era o centro do seu poder, como ponto de chegada a navios e passageiros. Terreiro do Paço e São Marcos. Lisboa é uma colecção de momentos cinematográficos?

Mais de que Veneza, Lisboa lembra-me Trieste, princesa e porto de um império que já não existe (Austro-Húngaro). Cidade sem estereótipos onde a mittel europa  se cruza com o mediterrâneo, onde Sigmund Freud estudava e James Joyce escrevia. Metade da historia ocidental de 900 passou por cá mas apesar disso, ficou um lugar sem tempo.

O titulo dum livro de Jan Morris -  “Trieste, o del nessun luogo” parece-me a melhor definição. Não serve acrescentar que para alem da praça principal há muitas outras coisas parecidas com Lisboa. Se tiver de escolher um filme para descrever o sentido de não lugar que muitas vezes encontro em Lisboa, este é sem duvida A Cidade Branca de Alain Tanner.

E um programa para Lisboa. Um local para almoçar, outro para passear, um para jantar e um para terminar a noite em perfeição.

O almoço para mim é sempre muito rápido, mas se tenho tempo paro no café do Museu do Chiado,  tem um ar silencioso e minimal mas no mesmo tempo é acolhedor. Não sei porquê mas gosto das revistas deixadas nos degraus da escada, logo à entrada.

Para passear gosto muito do caminho que anda das embaixadas de Lapa até em baixo nos becos de Madragoa. Em maneira diferentes são dois lugares reservados. Estou atraído dos sítios onde não posso entrar, as vezes preciso de sentir-me estrangeiro.

Para jantar tenho a sorte de ter muitos amigos que são bom cozinheiros. Infelizmente não posso divulgar a moradas deles. Uma solução para encontrar um ambiente verdadeiramente familiar e descontraído é o restaurante Lumar em frente do Museu da Arte Antiga. A simpatia do senhor Francisco é sem duvida o melhor dos pratos.

Para acabar a noite o chalé – kitsch do Heidi Café no Bairro Alto ou na mais tradicional Casa da Bela na Rua dos Remédios.

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