Le Entrevista aos LIKEarchitects por Rafa


Gosto de começar pelas introduções, abraço e mão, dá-cá-o-bacalhau, como te chamas e o que fazes. Apresentem-se. Quero mais do que apenas os LIKE, quero o Aguiar e quero a Otto. Falem-me do atelier e das pessoas por detrás. Respondam ao cliché do eu querer saber o porquê do nome e mostrem-me o resto.

Somos do Porto. Amigos desde a escola secundária, fizemos a faculdade juntos e Erasmus em sítios bem diferentes - a Teresa (Otto) em Roma e o Diogo (Aguiar) no Rio de Janeiro.

Os LIKEarchitects, propriamente ditos, terão começado quando regressámos ao Porto, vindos do estágio académico - a Teresa dos RCR Arquitectes, em Olot, e o Diogo dos UN Studio, em Amesterdão – e, a meio do processo que é fazer a tese de licenciatura na FAUP (!), decidimos participar no concurso para o bar da Associação de Estudantes da Faculdade do Porto, que viríamos a vencer com um bar que se constrói a partir de caixas do IKEA.


O nome, LIKEarchitects, brinca com a posição do arquitecto em início de carreira - que tenta ser COMO os arquitectos a sério - ao mesmo tempo que goza de uma conotação positiva – GOSTAR de arquitectura. Por outro lado, há a conexão imediata com a interacção contemporânea nas redes sociais da Internet, numa tentativa de aproximação da nossa prática à comunidade em geral - o famoso ‘LIKE’ do facebook -. Depois, também está associado a uma dilatação dos limites da disciplina - TIPO arquitectura, mas mais abrangente - já que as nossas intervenções, sendo sempre arquitectónicas, se aproximam bastante da Instalação, da Land Art, da Arte Urbana, do Happening, etc., assumindo um percurso alternativo que pretende tirar partido das diferentes condições do efémero.

E quanto a obra. Sugiram-me instalações e participações vossas. De que andam os LIKE a gostar? E o depois, coisas que virão?

A obra construída ainda é pouca e toda ela efémera. Por isso, vale a pena começarmos do início:
Temporary Bar, que já referimos, foi o nosso primeiro trabalho conjunto e correu o mundo inteiro em livros e revistas de arquitectura. Para além do processo de concepção, estivemos totalmente envolvidos no processo de construção (o bar foi construído por estudantes), o que viria a marcar a nossa prática assente na lógica DIY (do-it-yourself).

BusStopSymbiosis é um trabalho que resulta de uma lógica de concepção e fabricação digital mas que goza de uma implantação, muito própria, sobre uma banal paragem de autocarros. Trata-se de um trabalho crítico à utilização passiva e despreocupada dos centros históricos das nossas cidades.

Party Animal foi o rei da festa de S. António deste ano no Largo de S. Paulo, em Lisboa: um palco temporário que procurou assumir-se como um novo ícone urbano. Mais uma vez, foi um trabalho com orçamento e prazos muito curtos, em que nos envolvemos totalmente no processo de concepção e construção, ao ponto de até a instalação eléctrica da iluminação da moldura vermelha que caracterizava o objecto arquitectónico ter sido montada por nós!

E, finalmente, Frozen Trees, uma instalação efémera de luz para o natal no Rossio, que pode ser visitada até 10 de Janeiro e que traz para a escala urbana um objecto do quotidiano doméstico, num apelo à criatividade em tempos de crise. Até porque o orçamento deste ano para as iluminações natalícias foi cinco vezes inferior ao de anos anteriores e é quando não há dinheiro que os criativos são chamados a entrar em acção.

Quanto à segunda parte da tua questão, ultimamente temos andado a gostar de projectos de uma cor só. Estamos a preparar uma série de programas sobre o uso da cor em intervenções espaciais, divididos por cor, para o canal 180 (unicamente dedicado à cultura e às artes). Consegues imaginar o que são 10 minutos de televisão sobre arquitectura amarela? Trabalhar em televisão num projecto em open source, onde contamos com a colaboração de mais de 50 arquitectos que admiramos pelo mundo fora, tem sido um desafio muito interessante e esperamos que o resultado esteja à altura das expectativas.

O que vos move na arquitectura, que dicotomias gostariam de levantar - novidade vs gosto pelo antigo, respeito pelo envolvente vs projectos académicos, globalização vs regionalismos concretos.

A arquitectura, para nós, é um vício...

Somos muito jovens - até porque quando se é arquitecto é-se jovem arquitecto até aos 50 anos – mas, ainda assim, podemo-nos dar ao luxo de explorar não só a vertente de projecto, como também a do ensino – sobre a prática de workshops - e mais recentemente a da curadoria. Quando se gosta do que se faz as oportunidades multiplicam-se, e nós tentamos sempre aproveitá-las.

Na nossa prática, interessa-nos mesmo muito o tema da intervenção no espaço público. Gostamos bastante de intervir, e se necessário até de um modo impositivo, sobre edifícios ou monumentos de interesse ou até simplesmente sobre mobiliário urbano, quando o objectivo é chamar a atenção, criticamente, para alguma situação que nos preocupa ou que nos interessa. Queremos trabalhar o contraste entre o antigo e o novo e tirar partido desta relação. E, pelo facto das nossas intervenções serem temporárias, permitimo-nos levar as nossas ideias ao limite.

Depois, não poderíamos deixar de falar num interesse particular que temos: o de construir objectos arquitectónicos a partir de objectos existentes no quotidiano, reinterpretando a sua utilidade com sentido de humor. Procuramos aprender a ver para além do óbvio e a inovar a partir do que já existe, surpreendendo as pessoas com intervenções inesperadas.

Achamos que, acima de tudo, gostamos de interagir com as pessoas e de aprender com as sua (re)acções.

Destaquem-me um arquitecto português e outro de fora. Porquê?

Para fugirmos ao Siza ou ao Souto Moura, que são as grandes referências na nossa escola, destacamos o Ricardo Bak Gordon. Cativam-nos os ambientes que consegue criar recorrendo a ideias simples. E numa lógica mais próxima da prática que temos vindo a realizar, podemos salientar, no estrangeiro, por exemplo, o Office for Subversive Architecture ou os Recetas Urbanas: colectivos de arquitectos (uma ideia cada vez mais sustentável) que procuram questionar, ou até solucionar, problemas da comunidade através de ideias muito simples e criativas, sempre muito pertinentes, e com uma boa dose de humor. Interessa-nos esta postura performativa da arquitectura.

Agora lisboa. Porquê Lisboa quando vêm do Porto (estarei certo aqui?) e o que é Lisboa para os LIKE?

Lisboa porque é onde está quem manda e quem decide…

Agora a sério. Lisboa é uma cidade onde nos sentimos muito bem e, neste momento, é onde temos encontrado mais oportunidades para trabalhar no que gostamos. Enquanto assim fôr, vamos ficando por cá.

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LIKEarchitects (likearchitects.com) / Diogo Aguiar (diogoaguiar.com) + Teresa Otto (teresaotto.com)

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