Le Entrevista a Inês Alvim (Le Cool Team) por Fernando Mondego


Quem é a Inês Alvim? E como surge Lisboa nesse percurso – ou dito por outras palavras – não é Madrid melhor?

Conheço-a de vista, é escorregadia e foge do divã como o diabo da cruz. É hiperactiva, mas lá para o meio-dia e meia, uma hora (antes disso, é não contar com ela). Tem tendência para o disparate e está normalmente atrasada, ainda que desconheça para quê. Gosta de fazer coisas com as palavras e de escrever a direito, mas as palavras saem-lhe em ziguezague, cheias de rodriguinhos. Está, invariavelmente, embrenhada em figuras de estilo. Lisboa é casa, Madrid é invasão crónica. Vou estando muito em Madrid, mas é a Lisboa que não consigo parar de voltar.


Como te apresentarias se te pedisse um curriculum? Fala-me da tua volta ao mundo em 80 funções. Por onde já deambulaste?

Tudo no meu curriculum é improvável. Contra todas as probabilidades, estudei Direito, passei por uma improvável sociedade de advogados e aterrei numa startup do mundo financeiro. Estas têm sido as minhas ocupações penteadinhas. Enquanto estudante, tenho um passado obscuro no mundo da organização de eventos e uma passagem exótica pelas saias-casaco de congressos médicos, em que respondia pelo nome sórdido de Goretti-do-Guichet. Já fiz, e céus com que sucesso, locuções para tele-vendas e fui estagiária, essa posição logo acima de um agrafador que, jura a minha Mãe, forma o carácter. Nunca perguntei e nunca me explicaram se ler e escrever era aceite pelas finanças como profissão.

És daquelas que, perante um pedido de indicações dum estrangeiro, o encaminhavas para o lado oposto do que pretendia? Ou és tão alfacinha que tens boa anfitriã como nomes do meio?

Deliro com pedidos de indicações de estrangeiros. Compenso em boa vontade o que me falta em sentido de orientação. Comigo, estrangeiros que calçam o 46 nunca perdem um bom programa, mas perdem-se sempre.

Lisboa é assim para o boa?

Lisboa é a minha cidade inventada. O rio, esta luz, as velhinhas que estendem roupa em becos de Alfama, o Chiado. O fado e as pedrinhas da calçada. Lisboa vista do Tejo. As expressões só nossas – o “morde aqui a ver se eu deixo”, o “passa-se isto assim assim”, o “parecendo que não”. Nunca consigo traduzir Lisboa.

Preferes pastéis de bacalhau ou de belém?

Tenho o coração dividido. Os ímpetos emigrantes fazem-se inclinar para o fiel-amigo, até porque pastéis de nata não vão tão bem com vinho tinto.

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