Le Entrevista a Sérgio Graciano por Pedro Alfacinha


Como surgiu a ideia para realização deste filme (Assim Assim)?

Sempre me atraiu filmar sobre essencialmente relações humanas, é um caminho que gosto, contar histórias de pessoas. Falei com o Pedro Lopes para escrever e assim nasceu a ideia do filme.

Porquê o nome "Assim Assim"?

Porque não há nada mais português do que isso, nunca estamos nem bem, nem mal, estamos sempre assim assim.

O que Lisboa tem de tão especial para atrair o olhar da câmara?

Para já, é a cidade onde nasci e cresci e tenho um grande fascínio por ela. É das cidades mais bonitas que existem. Mais que suficiente para fazer um filme com Lisboa como pano de fundo.


Este filme fala sobre as relações humanas, são mesmo complexas ou esforçamo-nos para que assim o sejam?

Claro que nos esforçamos para tudo correr mal. Nada pode ser simples, custa pensar que estamos felizes, há sempre qualquer coisa de insatisfação nas relações da minha geração. Foi isso que quis retratar.

Como foi o processo de escolha do elenco? Foi difícil juntar os mesmos?

Foi uma escolha natural, os papéis foram praticamente escritos para aqueles atores, juntá-los foi muito fácil. São amigos, pessoas com as quais tenho uma relação que vai para além do trabalho.

O facto de ter ganho a primeira edição mensal do Shortcutz Lisboa foi decisivo para a decisão de realizar esta longa-metragem?

Sim, foi. Todas as pessoas gostaram muito da curta e a partir daí comecei a pensar que fazia sentido continuar com a história. As personagens eram muito ricas para parar por ali.

Os portugueses são românticos ou hoje em dia está fora de moda?

Acho que são muito românticos, na história sempre sofremos por amor. É o nosso fado. Acho que os latinos sofrem mais, mas também fazem tudo por amor.

A realização deste filme foi condicionada pela ausência de apoios na sua produção, como encarou esse facto? Foi um desafio a superar?

Foi um grande desafio, não quis esperar por concursos do ICA, até porque acho que este filme está longe daquilo que o cinema português "costuma" aprovar. O facto de não ter dinheiro fez com que tivéssemos que ser mais criativos, e isso é bom. Claro que se tivesse dinheiro tinha saído um filme diferente, mas ficou este e tenho muito orgulho nele.

Como surgiu a motivação para tornar-se realizador? Está contente com o percurso percorrido?

Tenho tido a felicidade de trabalhar em ficção essencialmente com a SP Televisão, isso faz com que "mexa" com histórias todos os dias. Sou apaixonado pelo cinema e também pela televisão. Passei por muitos sítios enquanto realizador, e estou grato por isso, acho que sou mais experiente por ter tido esse tipo de "versatilidade" profissional. A paixão pela realização talvez tenha chegado aos 16 anos, sempre vi muito cinema, desde pequeno que o meu avô me levava ao cinema, e eu adorava. Depois nunca deixei de ver, via tudo, até que um dia fiz um filme com uns amigos e comecei a pensar seriamente em fazer daquilo profissão.

A nível da realização nacional e internacional quem lhe enche as medidas e porquê?

A nível nacional ninguém me enche as medidas, não me identifico com o cinema que se faz por cá, claro que gosto de alguns filme portugueses mas isso não é suficiente para me encher as medidas. Internacionalmente gosto muito do Woody Allen, Wes Anderson, PT Anderson, Chris Nolan, entre outros, são realizadores que estão sempre muito preocupados com a história e eu confesso que sou obcecado por isso. É isso que quero fazer.

Voltando ao filme, qual a mensagem que pretendeu passar ao espetador?

Vivemos numa sociedade que não sabe o que quer, devíamos pensar mais em quem temos do nosso lado e menos em quem podíamos ter. É a minha visão do retrato da nossa geração, gostava que este filme não fosse esquecido por isso. Não importa se for visto por muita ou pouca gente, o que importa é que marque quem o veja e deixe as pessoas a pensar.

O filme aborda questões como a homofobia, o racismo, existe maior tolerância ou ainda há um longo caminho pela frente?

O caminho ainda é grande, ainda há muita gente a sofrer por isso. Mas há países piores, somos um povo que aceita as mudanças com alguma facilidade. Acredito que na geração dos meus filhos tudo esteja melhor.

"Assim Assim" pode servir para conquistar um público que se encontra de costas voltadas para o cinema português? Quais as suas expetativas?

Quero pensar que sim, é uma história que nos toca a todos. Precisamos disso, precisamos de nos identificar, precisamos de rir, de chorar, de nos emocionar, e eu acho que o "Assim Assim" tem isso tudo. O meu maior desejo é que o filme comunique com as pessoas e isso tem acontecido. Infelizmente alguns críticos já destruíram um pouco o filme, tenho pena que só reconheçam um caminho no cinema português, o cinema é muito mais que isso, às vezes um filme só é assim porque não quer ser mais. Não precisamos só de obras primas, até porque dessas há muito pouco, precisamos sim, de ser diferentes, de mostrar muitos caminhos. Há espaço para tudo, um filme que comunica não é mau só porque comunica, esses senhores não querem pensar, querem ir pelo caminho mais fácil. Mas não pararei, não faz sentido que o faça, vou fazer sempre aquilo que gosto, contar histórias e fazer o meu cinema.

Em relação a futuros projetos já há algo na calha?

Sim, estou a trabalhar em dois projetos, a adaptação para cinema do romance “A máquina de fazer Espanhóis” em conjunto com o Valter Hugo Mãe, e a preparar uma biografia de uma figura do desporto português.

Que caminho deve trilhar o cinema português? Há alguma luzinha ao fundo do túnel?

Acho que devemos variar a produção, fazer mais, dar oportunidades aos jovens para fazer filmes, os prémios não são obras do acaso, há muita gente nova com talento e cheia de vontade, tenho visto coisas muito boas de muita gente que nem sequer é reconhecida. Manuel Pureza, Luís Alves, João Alves, Paulo Prazeres, Artur Serra Araújo, Nuno Rocha, Rodrigo Areias, Filipe Melo entre outros, todos estes são realizadores com provas dadas e à espera de oportunidades de fazer sem ter que gastar o seu próprio dinheiro.

Para finalizar, um desejo para o futuro, a nível profissional ou outro.

Que o cinema português cresça e que acabemos com os preconceitos, se formos todos, podemos ser fortes. A nível profissional só quero emocionar quem vê os meus filmes, é para eles que os faço.


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