Le Entrevista a Claudio Hochman por Ana Pracaschandra

Na passada semana fui experimentar o curso de teatro que começou na Casa do Brasil,  lecionado pelo encenador ClaudioHochman. Gostei tanto da experiência que senti que tinha de partilhar com os nossos leitores um bocadinho desta viagem. Se há coisa que eu abomino no início destes cursos, é aquela apresentação formal que se faz no primeiro encontro, vocês sabem: «eu sou a… tenho x anos, vivo em… e sou…». Acho simplesmente redutor, intimidante e causa-me sempre alguma ansiedade.

Quando entrei na Casa do Brasil, estava meia a medo. Lá descobri a sala e entrei. Apresentei-me ao Claudio e já estavam mais seis pessoas na sala. Começámos logo a trabalhar. Caminhando, mais depressa, mais devagar, em ziguezague, em todas a direções. Dali até ao final da aula foram duas horas que passaram rápido demais, e me deram vontade de voltar. Treinámos corpo, voz, dicção, expressão e criatividade. O teatro é realmente uma valência que nos prepara para as mais variadas situações da vida. Seja falar em público, estimular a auto-confiança ou desenvolver a criatividade.

Aprender a lidar com as ferramentas que trazemos no nosso corpo que nem sequer estamos bem conscientes delas, é o desafio que as aulas de teatro propõem. Viver o aqui e agora, conscientes, focados. Aprender que no nosso dia a dia podemos estar mais enraizados e completos nas tarefas que realizamos. Sairmos da nossa zona de conforto e estarmos disponíveis para o desconhecido. Estes são apenas alguns dos desafios que Claudio irá propor ao longo destas aulas de teatro. Para nos esclarecer um pouco melhor sobre o curso e sobre o seu percurso, a Le Cool conversou com o encenador, autor e docente Claudio Hochman.

Como foi o teu percurso de descoberta da representação e do teatro?

Aos quinze anos entrei num grupo de teatro, mas mais por razões sociais do que artísticas. Queria conhecer pessoas. Tive um mestre que gostava de concretizar coisas. Estimulou-nos a ensaiar a versão de Romeu de Julieta na tradução de Pablo Neruda. Rapidamente descobri que não era a atuação o que mais me fascinava. Queria estar do outro lado. Compor. Desenhar o espaço. Mas o camino foi longo e sinuoso, com muitas bifurcações. Passei pela dança, pintura, música, até descobrir que encenando podia praticar tudo ao mesmo tempo. A palavra, o movimento, a busca da estética, o som, as luzes e mais, isto permitia-me contar histórias que movem os sentimentos.

Há quanto tempo estás em Lisboa? 

Comecei a vir para Lisboa em 1997 para fazer uma adaptação do Cyrano no Teatro da Trindade. Nos cinco anos seguintes continuei a viver em Buenos Aires mas vinha dois meses por ano a Lisboa, encenar uma obra. Desde de 2002, faz onze anos que vivo permanentemente em Lisboa.  

Porquê Lisboa?

Não foi uma escolha consciente. Convidaram-me para trabalhar e fui ficando.

O que mais gostas desta cidade?

Muitas coisas. É uma cidade abrangente e versátil. A proximidade do mar. A luz. Eu gosto de caminhar e sinto Lisboa como minha. Agrada-me a tranquilidade quase bairrista fundida com a possibilidade de ter acesso a quase tudo.

O que é preciso na tua perspetiva para se ser ator/atriz? 

Ter vontade de jogar/brincar. Ter coisas para dizer. Coragem para trabalhar com as emoções. Sentido de humor para se rir de si mesmo. Um corpo aberto, disponível e preparado. Mas sobretudo, vontade de arriscar, de entrar em territórios desconhecidos.

Qual foi o texto que mais gostaste de encenar? 

Ui! Que difícil! Poderia dizer-te o que estou a ensaiar agora. Macbeth, de Shakespeare, que vai estrear no Teatro de Carnide no dia 27 de Março. Mas cada texto que fiz toca-me de maneira diferente, seja pela sua temática, pela sua dificuldade ou por algum mistério.

Como trabalhas a tua agilidade para ver as coisas de maneiras diferentes? 

Estando aberto. Alejandro Jodorowsky conta que quando tira o tarot entra numa espécie de transe. Eu identifico-me com isso, não é nada místico, é estar atento, receptivo, deixar que as coisas venham sem antever teorias ou dogmas. A escultura está na pedra, há que eliminar somente o supérfluo.

Tens dicas para trabalhar a criatividade? 

Ainda que pareça estranho acredito que dos pontos chave é ter limites claros. Se me disserem «faz o que quiseres», nem sei por onde começar, mas se as condicionantes forem precisas, a criatividade pode surgir com mais força. Mas não há receitas. Há sim alguns componentes mágicos, que são difíceis de definir, mas podem trabalhar-se, estimulando-os.

Fala-nos um pouco do curso que iniciaste agora na Casa do Brasil, no Bairro Alto. O que o distingue de outros?

Tem precisamente a ver com a criatividade. Para além dos aspectos técnicos (treino do corpo, da voz, composição das personagens e muito mais), interessa-me desenvolver o ato criativo. Para isso tem que se dar certas condições que se experimentam neste curso. Um bom grupo (que ainda não está fechado, quem quiser experimentar pode aparecer), um espaço que dê vontade de estar e a Casa do Brasil é isso mesmo. No coração de um dos bairros mais emblemáticos de Lisboa, o Bairro Alto.

Já sabes, como o Claudio disse, o grupo ainda se encontra aberto. Não percas a oportunidade de vir experimentar uma viagem pelo mundo do teatro e da expressão, na Casa do Brasil, às segundas-feiras, pelas 19 horas.

Quando: segundas-feiras das 19:00 às 21:00.
Onde: Casa do Brasil, Rua Luz Soriano, 42 1200 – 248 Lisboa
Quanto: 45€ por mês


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* Originalmente publicada a 13 de Fevereiro de 2013, na Le Cool Lisboa * 380

1 comentário:

  1. O texto, a entrevista, é um bom texto e um bom pretexto para se indagar sobre o mistério do Teatro e...da Vida!!!

    Parabens Ana!A simplicidade da forma enriquece o conteudo da matéria.

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