Le Entrevista a Joclécio Azevedo por Rafa

Nasci no Brasil, em Fortaleza. Os meus pais faleceram ainda muito jovens e passei metade da vida a viajar e a viver em diversas cidades brasileiras com outros familiares. Há 20 anos fui parar ao Porto a convite de um amigo que escrevia muitas vezes a dizer que se um dia eu o fosse visitar iria me apaixonar pela cidade. E foi de facto o que aconteceu, apaixonei-me não só pelo Porto mas especialmente pelas pessoas que conheci inicialmente e que me fizeram sentir imediatamente integrado e em casa.

Já no Porto estudei Teatro mas posteriormente, quase que por acidente, comecei a desenvolver um interesse cada vez maior pela Dança e pela Performance.

Profissionalmente sou extremamente curioso e gosto de explorar novas possibilidades e metodologias de criação, sem me preocupar demasiado com definições disciplinares ou com possuir uma identidade estética fixa. Desenvolvo o meu trabalho criativo desde 1999, procurando focar sobretudo a relação entre corpo e escrita, corpo e imagem, corpo e sonoridade.

O Porto é uma nação ... artística?

Não sei se é uma nação artística ou não, mas tem certamente um grande potencial ainda pouco explorado para além das suas emblemáticas grandes instituições. Há muito trabalho a fazer para abrir caminho a todo um tecido criativo que existe, que possui uma dinâmica muito própria, mas que parece viver encoberto num manto de invisibilidade.

Não te vias a fazer arte numa cidade maior - numa metrópole? Que te oferece de bom o Porto que te faça permanecer? O Porto é para voltar ou para ir ficando?

Haverá sem dúvidas mais oportunidades nas grandes cidades, o Porto não é um lugar simples para se trabalhar, há que se criar quase tudo de raiz. Entretanto o meu trabalho tem sido desenvolvido normalmente em colaboração com diversas instituições ou com outros artistas nacionais e estrangeiros, a mobilidade inerente à minha área e o meu interesse em residências artísticas e em projectos de colaboração fazem com que eu consiga estar quase sempre a criar bolsas de ar onde posso recuperar o fôlego antes de voltar ao árduo trabalho no Porto. Mas sim, é uma cidade para se voltar muitas vezes, e voltar a partir e voltar outra vez.

Fala-me do que fazes - dos teus projectos, colaborações, de onde coreografas e refere o teu site Contentor (e outros projectos onde colabores)

Actualmente desenvolvo alguns projectos com o Contentor, um site documental sobre o meu trabalho mas que futuramente deverá dar origem a uma nova estrutura de produção, sou director artístico do Núcleo de Experimentação Coreográfica, associação da qual sou um dos membros fundadores, colaboro com a GDA e com o coreógrafo suíço Jean-Marc Heim que conheci na Tunísia em 2001 e com quem tenho desenvolvido projectos desde 2003.

Onde te poderemos "ver" brevemente no Porto? Vais trazer para cá o Superflux? E o Alexandria será para breve?

Actualmente estamos no NEC a finalizar o catálogo do projecto “Viver a Rua” do artista britânico Joshua Sofaer e que esperamos poder lançar na próxima edição do Fitei em Junho de 2011. Em relação ao meu trabalho o projecto em curso “Alexandria (fragmentos)” deverá se estender pelo próximo ano, ainda sem datas para a apresentação final. O projecto “Superflux”, uma coreografia do Jean-Marc Heim onde colaboro na elaboração da dramaturgia estreou de 15 a 20 de Março em Lausanne. Estamos a fazer esforços para levar o espectáculo ao Porto, mas ainda não temos datas confirmadas.

Sugere-me um sítio para sair no Porto, um percurso a tomar, um restaurante a saborear e uma vista imperdível.

Sempre vivi no centro do Porto, rua Formosa, praça da Batalha, rua de Ceuta e actualmente rua da Alegria. Correndo o risco de ser pouco original diria que o meu passatempo preferido é percorrer a pé as ruas da cidade. Sá da Bandeira, Cândido dos reis, Cedofeita, Galerias de Paris, Rodrigues de Freitas, etc... Sou mais ligado aos percursos do que aos lugares onde se chega.

Gosto de ir descobrindo as pequenas transformações que vão ocorrendo durante os anos. Uma vista imperdível é às vezes quando se atravessa a pé a ponte D. Maria Pia ao fim da tarde. Sair à noite: Passos Manuel, Maus Hábitos e Zoom.

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Contentor | www.contentor.org
Núcleo de Experimentação Coreográfica | www.nec.co.pt
GDA | www.gda.pt
Viver a Rua | www.viverarua.com

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