Le Entrevista a Rui Teigão por El Rafa

Ao aproximar de mais uma edição do FATAL, o Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa na sua 14ª edição, falamos com um dos seus programadores, Rui Teigão.
 
O teatro, mormente o teatro académico, está vivo e recomenda-se ou há alguma fatalidade também no teatro relacionado com o emagrecimento - ou a redução de visão - do desinvestimento cultural? O FATAL pretende, como grande festival de teatro académico, de carácter seminal e de natureza amadora (no sentido de profissionalização), criticar e contrariar isso?

O Teatro Universitário está vivo sim, recomenda-se e pretende sobretudo contrariar o desinvestimento cultural. É por isso que este ano voltámos a aumentar o número de grupos a apresentarem espectáculos no Festival. São cerca de 24, a maior ou uma das maiores programações de sempre. 

Com as duas Salas do Teatro da Politécnica disponíveis não fazia sentido deixar de fora grupos que se inscreveram. 
 
O teatro Universitário é amador, feito por pessoas que de dedicam por gosto e paixão no tempo livre, por isso, ter uma programação cujo conceito era ter apenas «os melhores» não fazia sentido. Investimos no que importa, trazer dois grupos amadores por dia a uma das principais salas de teatro de Lisboa e deixar que o Festival aconteça.

Contextualizando o festival e decifrando o acrónimo que o encabeça. FATAL. O FATAL é uma montra, mostra e amostra das companhias de teatro académico de Portugal. Existe espaço e massa crítica para alimentar e fazer viver este festival?

O Fatal é o Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa. É montra e mostra, mas amostra deixou definitivamente de ser. E cada vez mais é um Festival. Estamos muito contentes porque estes anos conseguimos alargar o espaço de encontro e convívio diário entre os grupos de teatro universitário. É impressionante verificar que em cada nova edição, ao segundo ou terceiro dia, já se respira um ambiente jovem, com energia e de Festival. Este ambiente surge naturalmente da energia e juventude dos corpos e cabeças dos estudantes universitários. 
 
Prolonga-se pelas tertúlias, conversas, debates, workshops e críticas. No ano passado tivemos um painel de crítica coordenado pelo Prof. Rui Pina Coelho da ESTC (em fase de confirmação para este ano).

Como funciona e se materializa o trabalho de programador de um festival como este? Há, houve em edições transactas, o interesse em veicular também performances e actuações de rua, este ano prolongam-se essas extensões ao programa? E, já agora, como pergunta lateral - quase opcional - faz comichão dizer performance ou, tudo isso, em bom português, recairia em artes de palco (i.e. tudo aquilo que se nomeia como performances, happenings, site specific etc.)?

Pela experiência adquirida ao longo de 11 anos. 
 
Em anos anteriores tivemos uma programação de performances, nalguns anos mais extensa do que noutros. Por isso este ano decidimos apenas apresentar performances que nos fossem propostas. E surgiu esta parceria com o grupo «Maricastaña» que está a preparar em Ourense, na Galiza, uma performance para o portão de entrada do Teatro da Politécnica sobre o tema da crise. Também no MITEU, festival em Ourense, esteve um grupo da UTL a apresentar o seu espectáculo e uma performance sobre este tema. 
 
Se fizer comichão dizer performance, melhor ainda, coça-se. Os termos existem e têm significados próprios, portanto devem ser utilizados no seu sentido. Artes de Palco também, mas é uma designação geral.

A dado momento, na programação, é-se aliciado com o dado de «outras surpresas e novidades», FATAL Convida e programação paralela. É possível levantar o pano de cena quanto a isto? Em que consiste o FATAL Convida?

Não posso trair a estratégia de comunicação do Festival. A directora zangava-se comigo. Mas confesso que até gosto quando isso acontece. 
 
Posso desvendar o FATAL Convida: teremos o espectáculo do «Grupo Maricastaña» da Galiza, que já referi. Um grupo de teatro universitário de Barcelona, a estreia do «Grupo de Teatro de Funcionários da UL» e uma sessão de leitura de textos intitulada «Teatro sem Cortes», organizada em conjunto com a «Casa da Esquina» de Coimbra, onde serão lidos alguns textos inéditos e escritos para esta sessão por autores portugueses (estes só serão revelados mais tarde).

Temos a Competição, com 13 espectáculos de teatro universitário e 9 peças no segmento «Mais FATAL». É de esperar uma renhida teatralidade? Temos uma minoria maioritária de peças vindas de Lisboa, seguidas de companhias do Porto e de Coimbra e uma constelação de Aveiro, Leiria, Algarve. Se bem que centrado em Lisboa, pretende-se que o FATAL seja também um ponto de encontro e de partilha das academias portuguesas?

Sim, o Festival tem sido, antes de mais, o maior Festival de Teatro Universitário do País (temos felizmente outros, como o da Covilhã) e o ponto de encontro dos grupos e das universidades que representam. 
 
Sobre a renhida teatralidade, dou a minha opinião pessoal: gosto de pensar que os grupos vencedores da Competição vão ganhar um reconhecimento que os pode ajudar a construir espectáculos no próximo ano. Os prémios representam uma ajuda para os grupos. Os grupos mostram o melhor que podem, o melhor que fizeram ao longo [do ano]. É assim que gosto de pensar a Competição. Mas que se esmerem.

Eliminemos quaisquer possíveis ideias pré-concebidas. O FATAL não é apenas para estudantes e de estudantes, é sobretudo para amantes de teatro e das artes de palco?

Sem dúvida que é sobretudo de estudantes e para estudantes e isto consegue-se apurar nos inquéritos que fazemos ao público. Mas onde somos mais festival é quando temos todo o tipo de pessoas a assistir aos espectáculos (e é bastante comum). O diálogo entre gerações é importantíssimo. Noutros anos tivemos o «Grupo da Universidade Internacional da Terceira Idade» a promover este encontro. Para além disso, temos habitualmente um painel de artistas profissionais e professores universitários nas tertúlias que se realizam a seguir aos espectáculos.

Para fecho, peço um convite para assistir ao festival.

E eu peço um destaque. Os actores merecem. A Universidade também é isto que vão ver.

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