Le Entrevista a Left Hand Rotation por Rafael
Os Left Hand Rotation por eles próprios :
Left Hand Rotation é um colectivo artístico que trabalha em intervenções no espaço público, em vídeo e instalações - aquilo que viemos a denominar de Alterações. A expressão "Left Hand Rotation" tem a sua origem nos parafusos que se apertam da direita para a esquerda em lugar de ser da esquerda para a direita, algo como em "contra-mão".
O colectivo trabalha de forma anónima, sendo que duas pessoas são o seu núcleo principal. No www.lefthandrotation.com aparecem os nossos projectos e convidamos outros artistas interessantes a participar.
Left Hand Rotation pretende provocar um aluvião incessante de contradições irresolúveis, cuja finalidade é a busca da sua integração paradóxica. Como colectivo, trabalhamos com os meios e os formatos na fronteira entre a arte e todos os demais canais, adoptando a forma do que viemos a chamar de "arte questionável" (que não questionadora).
Tudo o descrito anteriormente pode cair anulado a qualquer momento, devido a uma alteração constante de estratégia.
Poder-se-ia dizer que são artistas de intervenção, que adaptam as soluções ao espaço ou não se integram em qualquer corrente artística definida?
Efectivamente. Não buscamos um estilo definido (ainda que o humor negro seja algo comum nos nossos projectos). Ainda que seja óbvio, dizemos sempre que trabalhamos com ideias e essas ideias são desenvolvidas com diferentes ferramentas e acções, focadas a gerar estratégias de resistência ou luta.
Porquê Lisboa, querem fazer da cidade o vosso pólo de trabalho? O que vos atrai por cá e o que vos atraiu para se instalarem cá.
É uma questão de afinidade sentimental com esta cidade. Conhecemos Portugal desde há muito tempo e sempre quisemos agitar um pouco este país. Em qualquer caso, para o colectivo o lugar de residência não é o mais importante, os nossos projectos podem desenvolver-se em qualquer parte.
Que acham da cena artística lisboeta - portuguesa, destacam algum trabalho, têm em vista colaborações?
Estamos há pouco tempo em Lisboa e estamos numa constante busca de alianças e colaborações para trabalharmos em conjunto. Estamos conscientes de que nos falta muito por descobrir nesta cidade. Vemos muitas actividades subvencionadas por empresas privadas (e agora mais, com a reducção do Ministério da Cultura), e alternativas interessantes a estas, como Epipiderme, uma iniciativa mensal do artista Nuno Oliveira com outros criadores convidados, e com o qual vamos colaborar proximamente. Também a Pickpocket, o espaço do grande Rui Poças, é outro bom exemplo de um lugar onde ocorrem coisas interessantes de forma constante.
A nível conceptual há muita gente a fazer projectos muito sólidos, mas sentimos falta, dada a situação social e política na que vivemos actualmente, algo de pensamento mais crítico com o contexto (a crise converteu-se numa nova forma de governo).
Também há alguns meses tivemos a oportunidade de trabalhar com Marta Bernardes e Dalila Gonçalves, duas artistas portuguesas muito interessantes.
Falem-me desta expo na Pickpocket Gallery (artigo nesta LC * 301), o que irão apresentar?
A inauguração apresenta o projecto "Procura-se" e também algumas peças de registo das intervenções urbanas que denominamos Acções Urbanas Absurdas.
O projecto "Procura-se", em forma de um pequeno fanzine que partilharemos gratuitamente, reflecte sobre o discurso de Walter Benjamin quanto à obra de arte, não já na era da sua reprodutibilidade técnica, mas na na era actual da hiper-reprodutibilidade digital (tal como Alvaro Cuadrada intitulou o seu ensaio). Celebramos a perda da aura da obra de arte com esta aproximação à arte outsider. Cada uma das páginas do fanzine [mostra] uma busca obsessiva e o seu objectivo nunca foi colorir (decorar) o mundo.
Como tem sido a experiência em Portugal, dá para trabalhar? Já vi que têm aparecido, que vão expondo, que tiveram participação na extensão à Bienal de Porto Santo. As coisas parecem progredir e multiplicar-se agora.
Nunca "trabalhámos" na indústria cultural, e nenhum dos componentes do colectivo se considera profissional da cultura nem da arte. Left Hand Rotation só tem sentido no ócio e no tempo livre, pois, como dizia Careri, cremos necessário preservar o poder [ter] tempo não produtivo para construir novos espaços de liberdade. Dado que vivemos num sistema capitalista, não existe diferença nenhuma entre um trabalhador da cultura e, digamos, por exemplo, um padeiro, se bem que nós perseguimos a total desvalorização da arte no sentido económico.
Descrevam-me Lisboa numa frase. É esta a cidade dos poetas?
"En Lisboa continúa la batalla del tiempo libre". (No original)
Qual é o sítio de que gostam imenso na cidade e que a maioria das pessoas desconhece?
Gostamos de andar à deriva e deambular pela zona industrial junto ao rio, entre as traseiras da Estação de Santa Apolónia e Xábregas.
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Links
lefthandrotation.com
lefthandrotation.blogspot.com
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