Le Artista da capa * 281, Stephanie Poell


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* Originalmente publicada a 31 de Março de 2011, na Le Cool Lisboa * 281

Le Capa * 281

por Stephanie Poell

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* Originalmente publicada a 31 de Março de 2011, na Le Cool Lisboa * 281

Le Entrevista a Teresa Ricou por Rafael Vieira

Teresa Ricou em discurso directo:

Nasci em Novembro de 1946, na Praia de Granja, a Norte de Portugal, no seio de uma família burguesa.
Segunda filha de Eduardo Ricou, médico de lepra de origem suíça, embarco, em 1949, para Luanda, com ele e com a minha mãe, Alda, brasileira de sangue italiano e mais as minhas irmãs por essas terras de África, a levar a cura ao corpo desses povos negros de pele e transparentes de alma. Dos irmãos que tinha e dos irmãos que vieram somam-se sete.

E foi em terras de Angola, a fazer casinhas e castelos e a misturar o pó vermelho da terra com as mil cores dos sonhos que aprendi as tantas cores que tem o Mundo, o que era a Cultura e tive a certeza do que queria ser. Nem mulher recatada nem mulher casada, antes Tété – Mulher Palhaço. Com espontaneidade, adquiri o gosto pela fantasia de ser, dia a dia, uma mulher livre de preconceitos mas com sentido do mundo onde navegamos.

De volta à metrópole, vivia já os meus 17 anos, os meus pais inscrevem-me no Instituto de Cultura Alemã e depois na Alliance Française do Porto e depois num outro colégio para depois eu voltar a trocar as voltas ao predestinado e partir, desta vez para Londres, acompanhada pelo amigo de família Joaquim Paço d’Arcos, ao encontro dos melhores amigos de Angola.

Aqui, sem a rede dos meus pais, aprendi a viver, a sobreviver, a lutar, a procurar, a não dizer que a conquista da emancipação é impossível.

Fui muita coisa. Dog-sitter e baby-sitter, guia turística, empregada de mesa, disco-jockey. Vendi bilhetes no mercado negro para a primeira World Coup de futebol, aproveitando para assistir, na 1.ª fila, a todos os jogos. Até vi o Eusébio a chorar no célebre jogo com os coreanos na companhia dos velhos amigos de Luanda a que se foram juntando outros tantos: Carlos Monjardino, José Megre, Domingos Sá Nogueira.

Uma amiga, Maria João Campos, ex-assistente de bordo da TAP inscreveu-me num concurso para novas hospedeiras e levou-me de volta a Lisboa.

Casei, fui dona de casa e fui mãe.

Separada, fui cara de campanhas publicitárias, convivi com cineastas, poetas, escritores, pintores e intelectuais. Tudo girava à volta da Arte e das Letras, sempre na descoberta peugada da Arte do Circo. Nos passeios pelo Parque Eduardo VII, com o Nuno num braço e o Mundo de tantas outras crianças no outro, fui encontrando formas de educar pela arte, com animação. Trabalhei com elas dando-lhes aulas de pintura e, no sótão de uma livraria partilhada com Camilo Mortágua, Padre Felicidade, Padre Fanhais e outros revolucionários, dei os primeiros passos em direcção àquele que viria a ser, anos mais tarde, o fundamento de um projecto de Reinserção Social através das Artes.

Com Calvet de Magalhães, director da Francisco Arruda, trabalhei com jovens iniciando-os no mundo das artes e da transformação do Velho em Novo Portugal, Lisboa, a polícia política, tudo isto me asfixiava. Fui para Paris onde vendi jornais na rua, privei com prostitutas, travestis e turistas, mergulhei na boémia parisiense, conheci artistas. Estudei a Arte de fazer Rir na École Jacques Lecoq e frequentei o Gymnase du Cirque do velho Palhaço-mestre Bonot. Aprendi sapateado, acrobacia e dança. Frequentei a Cartoucherie de Vincennes onde os ensinamentos filosóficos e artísticos de uma senhora chamada Ariane Mnouskine, num primeiro estágio, os clowns, deram-me a orientação necessária para prosseguir esta minha vida artística.

Frequentei o Musée de l’Homme onde descobri a cultura africana, as mulheres Mumuila e dos Cuanhama através da etnologia. Com Jean Rouche dei o meu primeiro passo no Audiovisual. Durante o mandato de Langlais, a Cinemateca era o lugar dos grandes encontros. Arrabal foi o desfecho e a oportunidade de realização profissional pela mão de um grande amigo, o Novais Teixeira, um comunista profissional do cinema exilado em Paris. Participei em acções de animação cultural com a comunidade portuguesa e fui directora artística da Maison des Jeunes et de la Culture de Gentilly, um modelo de casa de Cultura que me inspirou e que, anos mais tarde, traria para Lisboa e dar-lhe-ia o nome de Chapitô, assumindo um sério compromisso com a vertente da Reinserção Social e Formação nas Artes.

Na madrugada de 24 para 25 de Abril recebo o telefonema da minha prima Ede, locutora de rádio. Corri para Lisboa e fiz a Festa da Revolução.

Integro o Sindicato dos Trabalhadores do Espectáculo, cruzo-me com Luciano Nobre, o mestre dos Palhaços e, nas Portas de Santo Antão, encostados ao café Castanheira, deixo-me misturar com o cinzento da noite, conhecendo os empresários do Circo, nomeadamente o Ricardo Covões.

Sou convidada para fazer parte do Grupo Faz Tudo do Coliseu dos Recreios, a catedral do Circo. Contratada por outros empresários e de parelha com o Mestre Luciano Lopes, segui em tournées de norte a sul do país. De volta à cidade, depois de ter vivido, pressentido e pensado acerca da condição social e cultural que legava ao esquecimento a Arte do Circo, fui escrevendo uma proposta para a criação de uma base de apoio social e o reconhecimento desta cultura circense. Na Secretaria de Estado da Cultura, no 1.º mandato do Partido Socialista, o Secretário de Estado Dr. António Reis aceitou a minha proposta de integração de um Departamento do Circo, lado a lado com o Departamento de Teatro, passando a fazer parte da Lei Orgânica da Secretaria de Estado.

Mas não esqueço nunca o meu objectivo: aliar as artes ao social. Não me bastava uma mesa e uns papéis na Secretaria de Estado da Cultura, nem me alimentava o conforto de Funcionária Pública. Não tinha desistido do Circo, nem de dar voz aos que fantasiam esta arte, mas muitos mais caminhos haviam para percorrer e o meu chamava-me à Justiça Social. Foi exactamente o desejo do Ministério da Justiça que me levou aos colégios. Nasce o Chapitô.

Com um grupo de sociólogos, pensadores e intelectuais, reunimos esforços e ideias à volta de uma mesa. Um pensamento comum, um sonho que finalmente se concretiza: era a construção do projecto Chapitô a nascer dos escombros da antiga Cadeia das Mónicas ao Castelo, em Lisboa. A 7 de Janeiro de 1981 é criada a Colectividade Cultural e Recreativa de Santa Catarina, uma IPSS – Instituição Particular de Solidariedade Social e mais tarde uma ONGD – Organização Não Governamental para o Desenvolvimento de reconhecido mérito social e cultural.

O Chapitô:

Chapitô: Casa de Cultura – Uma Tenda de espectáculos, um Bar ao estilo vintage de sala de estar, uma Esplanada e uma fórmula mágica para se Ser Criativo.

Chapitô: Projecto pedagógico único em Portugal, uma escola profissional de artes de nível secundário que não termina no terceiro ano, mas prolonga-se através do acompanhamento que é feito pela equipa pedagógica ao percurso profissional de cada aluno que desce a Costa do Castelo, muitas vezes em direcção a Universidades e Instituições de Ensino Superior sedeadas nas grandes capitais da Europa, como Paris, Espanha, Londres e tantas outras...

Chapitô: Projecto social pensado nos jovens e para os jovens, um local de Liberdades e trans-inserção alicerçado na educação para a cidadania. Através do conceito Animação em Acção, pedagogos, sociólogos, artistas e animadores desta Casa acompanham a integração dos jovens nos Centros Educativos Navarro de Paiva e Bela Vista sob tutela do Ministério da Justiça.

Ainda nesta vertente, a Casa do Castelo, no berço deste local a que alguns chamam “babilónia comedida”, recebe alguns destes jovens, dando-lhes alternativa habitacional. Aqui encontram um espaço que é um salto para um outro salto maior: a vida em Sociedade.

Chapitô: Uma Companhia - projecto de convergências e diálogos que, com uma matriz linguística e de expressão fortemente marcada pelo teatro físico - “gesto” -, recuperou o ideal de criação colectiva, transformando peças de autores em campos de discussão entregues ao domínio do público.
Chapitô: Uma obra com história, memória fotográfica e videográfica; uma Biblioteca que foi buscar o nome à poeta Luíza Neto Jorge, grande amiga da Casa que, lado a lado com Agostinho da Silva, ajudou a dar forma ao pequeno Centro de Documentação / Biblioteca.

Como estes, outros amigos nos ajudaram a construir os diferentes espaços: Zeca Afonso, Mariano Franco, Tótó Campos, Luciano Lopes, Quinito, etc. Este espaço é, indiscutivelmente, o único testemunho fiel da História do Circo em Portugal e no Mundo, da história da única Casa que transforma jovens marginalizados em Líderes das Artes Performativas, privilegiado o espaço da Rua e pisando os palco dos Teatros.

Um dos exemplos da nossa contribuição, mais do que na cidade, na sociedade passa pela presença da palavra “Chapitô” no discurso de políticos, comentadores e jornalistas: - “Isto parece um Chapitô”.
Julgo que o Chapitô é uma referência nacional à parte do ainda preconceito de uma cultura portuguesa que, atrevo-me a afirmar, ainda é um pouco provinciana, tradicional.

Pese embora o facto, somos premiados sobretudo pelas culturas do norte da Europa que vêm neste tipo de projectos modelos de sociedade onde as suas culturas são recebidas, reconhecidas e integradas. Quanto a Lisboa, às entidades oficiais falta-lhes o olhar mais sério e atento sobre o modelo, a realidade do Chapitô como mais valia para o país. Não basta reconhecê-lo, é preciso sê-lo.

Qual é o circo, qual é ele, que antes de o ser já o era? O Chapitô… Neste mundo global, rapidamente nos reconhecem pela bela vista sobre o Tejo, pela esplanada e todas as propostas de restauração, mas acima de tudo, e quando não nós tentamos, reconhecem-nos pelo projecto cultural e de acção social. Aqui deixo três testemunhos/ exemplos do nosso trabalho transversal: acção social, educação e cultura.

O sucesso só será sucesso verdadeiro se for o resultado de um trabalho, passo a passo, formiguinha, para que não seja um esforço efémero. Aliado a este sucesso estão muitas vidas e é por isso que nada do que fazemos hoje pode cair no esquecimento amanhã. Todo o nosso esforço tem que, diariamente, reverter-se numa realidade. Neste pressuposto, acredito que Lisboa e Portugal mereçam um espaço como o Chapitô. Mas é preciso que as entidades oficiais também acreditem, ser comprometam e incentivem.

A primeira aposta é terminar o trabalho feito com os alunos que saem agora para o 12.º ano, fazendo-o de forma a reverter o nosso trabalho em resultados positivos para o sistema educativo nacional. O próximo passo, em estudo, passa pela construção do 4.º ano da especialidade e a abertura do caminho ao ensino das artes do circo ao nível superior. Em negociação está a criação de uma estrutura universitária e previsto um espaço com dimensões adequadas para receber esse projecto, isto para além de manter o Chapitô Castelo em plena acção.

Contámos com várias parcerias na área das artes e dos ofícios do espectáculo. Sempre mantendo um modelo integrado. Alguns empresários foram desafiados, temos uma grande esperança no trabalho que estamos a fazer e estamos certos que semearemos os resultados muito em breve. É tempo de investir, o prestígio é sempre uma mais valia para o empresário e os lucros, bem geridos e bem aplicados, revertem positivamente para a humanidade.

E Lisboa:

Para tomar uma refeição, o Restô do Chapitô. Sempre! Fora isso, sugiro a Bica do Sapato. Para espreitar o rio e Lisboa inteira aos seu pés, o Castelo de São Jorge, onde, este ano, temos planos para encenar um grande espectáculo com os nossos alunos, seja essa a vontade das entidades locais. Um parque, ou antes um jardim, sugiro o Jardim Botânico. Num ano em que se fala tanto da preservação da natureza e da questões ambiental, eis um bom exemplo de preservação do bom que temos em Lisboa e em Portugal.

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* Originalmente publicada a 31 de Março de 2011, na Le Cool Lisboa * 281

Le Capa * 279


Por Vanessa Teodoro

Le Entrevista a Tamara Alves por Le Rafa


Fotografia por Leandro Gonçalves Pinto http://cargocollective.com/leandropinto Intervenção por Tamara Alves

Sou uma menina que cresceu na praia, numa pequena vila que se chama Praia do Carvoeiro para ser mais específica; comecei a desenhar galinhas antes sequer de saber andar  - segundo a minha mãe - e desde que me lembro que desenhar e pintar é a minha paixão.

Sempre fugi de Lisboa por me parecer assustadoramente grande para uma menina pequenina como eu. Fui para as Caldas da Rainha onde tirei Artes Plásticas na Esad e em seguida fui para o Porto onde tirei o mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas na FBAUP e onde residi durante 4 anos. Estou de momento em Lisboa há um ano depois de me desafiar a perder o medo e todos os dias me apaixono pela cidade... a sua luz e dinâmica fazem com que me queira perder pelas ruas a toda a hora. O meu trabalho como artista sempre foi influenciado pela cidade e pela sua vivência, o meio urbano e pelo seu contexto.

Le Entrevista a Joana Vitória Martins por El Rafa


Joana Vitória Martins. Pau para toda a obra, desde estilista, a monitora de atelier, empregada de mesa, professora de arte-terapia, promotora de bebidas, a coordenadora de projectos de voluntariado.

Lisboa, será menina e moça para sempre na minha alma e coração. Sou alfacinha de gema, no meio de mais 6 tipos de sangue. Lisboa fez-me ser quem sou, quem quero ser e aonde quero estar. Mas neste momento, Lisboa está longe, mas perto. Agora. América do Sul. Peru. Cuzco. Apesar de todas as qualidades da minha bela cidade no país à beira mar plantado, algo me faltava.

Vazio, materialismo, stress em Lisboa. Solução: viajar. Alargar novos horizontes. Enfrentar os meus medos. Novembro. Lisboa - Rio de Janeiro – Argentina – Chile – Peru em Cuzco. Dezembro. De uma vulgar viagem a Machu Pichu, resultou uma estadia na cidade perdida sem data para terminar e com muita vontade de continuar e crescer.

Le Artista da capa * 277, Roleta Russa

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* Originalmente publicado a 3 de Março de 2011, na Le Cool Lisboa * 277

Le Capa * 277

por Roleta Russa

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* Originalmente publicado a 3 de Março de 2011, na Le Cool Lisboa * 277

Le Vitória 1


Há cerca de um ano atrás que várias comunidades no Vale Sagrado de Machu Picchu, foram destruídas pelas cheias. E em algumas delas, o apoio que tiveram do governo até hoje consistiu em tendas e comida uma vez num ano. Nessa altura, Loki Hostel percorreu quase todo o Vale à procura de quem necessitava de ajuda. Em Urubamba, numa comunidade chamada Paca Vilcanota, encontraram Celestino, um homem de meia idade a apanhar no chão os destroços da sua casa.

Até Junho do ano passado Loki ajudou-os com voluntários a limpar tudo o que foi destruído. Cerca de 90 famílias ficaram sem nada. Assim que tive conhecimento desta situação decidi ir visitá-los. Mulheres agarraram-se a mim a chorar a pedir por tudo para que eu fizesse algo por eles. Tive que manter o sangue frio porque estava prestes a desmanchar-me. Naquele preciso momento percebi que eu era a força e a esperança para 90 famílias.

Le Entrevista a Bruno Muratori por Daniela Catulo


Bruno Muratori é o jovem carioca responsável por trazer a Lisboa o sol e o charme do Rio de Janeiro. Tudo isto traduzido num grande sorriso, numa energia contagiante e em festas e mais festas!

Para quem ainda não ouviu falar na FLUX, ou nas últimas festas - sensação do Konvento ( Grupo K), então está na hora de seguirem a corrente, até porque neste Carnaval Muratori em parceria com Diogo Aragon, brinda-nos com um Ultra Emoti-ON: uma maratona de festas em 3 dias e uma inovação : “Bacalhau com Farofa”: um cortejo pelas ruas do Bairro Alto em que o melhor dos dois países se une e em que finalmente podemos pôr de lados tentativas frustradas para termos por cá um carnaval brasileiro. Abraçar o que é nosso é importante também e é nisso que Muratori acredita: na união, na partilha de culturas, sempre pela música, pelo convívio saudável e por um grande companheirismo.