Há cerca de um ano
atrás que várias comunidades no Vale Sagrado de Machu Picchu, foram
destruídas pelas cheias. E em algumas delas, o apoio que tiveram do
governo até hoje consistiu em tendas e comida uma vez num ano. Nessa
altura, Loki Hostel percorreu quase todo o Vale à procura de quem
necessitava de ajuda. Em Urubamba, numa comunidade chamada Paca
Vilcanota, encontraram Celestino, um homem de meia idade a apanhar no
chão os destroços da sua casa.
Até Junho do ano passado Loki ajudou-os com voluntários a limpar tudo o que foi destruído. Cerca de 90 famílias ficaram sem nada. Assim que tive conhecimento desta situação decidi ir visitá-los. Mulheres agarraram-se a mim a chorar a pedir por tudo para que eu fizesse algo por eles. Tive que manter o sangue frio porque estava prestes a desmanchar-me. Naquele preciso momento percebi que eu era a força e a esperança para 90 famílias.
Cada família está a tentar construir uma casa por sua conta, mas com que meios. Todos os Domingos de manhã cedo desde os 8 aos 80 anos, cada um tem a sua ferramenta na mão disposto a trabalhar até à exaustão. Soube que Cuzco deu dinheiro a Urubamba para financiar o projecto de reabilitação. O que é certo é que esse dinheiro nunca entrou. Uma ONG decidiu organizar um almoço em Lima para angariar os fundos. Conseguiram 350 mil dólares, que serve praticamente para construir vivendas para quase todos. Há cerca de 2 meses que Celestino vai à ONG a perguntar pelo dinheiro e pela pessoa responsável. Foi de férias e entretanto nunca mais voltou... Na entrada da comunidade está um outdoor enorme a fazer publicidade a algumas empresas que “estão a ajudar a reconstruir casas para 49 famílias, assim como outros meios provisórios”. Tudo isto nao passa de uma mentira e estas pessoas todos os dias têm de olhar para esta hipocrisia, quando depois de um ano já não devia ser uma batalha a combater. Ao mesmo tempo que as chuvas atacavam estas comunidades, os turistas em Machu Picchu não conseguiam sair porque todos os acessos estavam cortados. Então o Governo decide enviar helicópteros diariamente para os recorrer e em pouco tempo tratou de desobstruir todos os acessos.
Cuzco é a cidade mais turística do Peru, mas é claro que os lucros nao tocam a todos. A chuva aumenta e eu passo as noites acordada a pensar em que estado estarão eles. E a pensar em como seria ver uma parte de mim a ser levada pelas forças da Natureza e ter que começar toda uma vida do zero. Numa dessas noites prometi a mim mesma que nao saía daqui enquanto cada família não tivesse a sua casa.
Este mês caduca a minha estadia no Peru. Tenho que sair, ir à Bolívia e voltar. Fronteira Bolívia-Peru. Dão-me 3 meses mais. Volto com toda a energia para continuar o meu trabalho. Surgem propostas para ajudar em novos projectos.
Num final de tarde no Vale escorrego e caio para uma ravina de 3 metros. Recordo-me perfeitamente que enquanto caia e rolava, só esperava que o rio não estivesse no fundo - eu sabia que estava a cerca de 10 metros abaixo. Numa fracção de segundos apercebi-me que tudo podia acabar mal. Tive bastante sorte. Continuo com dois braços e duas pernas, tudo a que tenho direito. Estava cansada mas nao pude pregar olho toda a noite. A pensar em como a vida pode mudar de um minuto para o outro, e que se eu estava ali naquele momento deitada na minha cama a pensar sobre isso, tinha que agradecer a quem olha por mim.
Loki | www.youtube.com/watch?v=GjoGClWePro
Joana Vitória Martins
Fev 2011
Até Junho do ano passado Loki ajudou-os com voluntários a limpar tudo o que foi destruído. Cerca de 90 famílias ficaram sem nada. Assim que tive conhecimento desta situação decidi ir visitá-los. Mulheres agarraram-se a mim a chorar a pedir por tudo para que eu fizesse algo por eles. Tive que manter o sangue frio porque estava prestes a desmanchar-me. Naquele preciso momento percebi que eu era a força e a esperança para 90 famílias.
Cada família está a tentar construir uma casa por sua conta, mas com que meios. Todos os Domingos de manhã cedo desde os 8 aos 80 anos, cada um tem a sua ferramenta na mão disposto a trabalhar até à exaustão. Soube que Cuzco deu dinheiro a Urubamba para financiar o projecto de reabilitação. O que é certo é que esse dinheiro nunca entrou. Uma ONG decidiu organizar um almoço em Lima para angariar os fundos. Conseguiram 350 mil dólares, que serve praticamente para construir vivendas para quase todos. Há cerca de 2 meses que Celestino vai à ONG a perguntar pelo dinheiro e pela pessoa responsável. Foi de férias e entretanto nunca mais voltou... Na entrada da comunidade está um outdoor enorme a fazer publicidade a algumas empresas que “estão a ajudar a reconstruir casas para 49 famílias, assim como outros meios provisórios”. Tudo isto nao passa de uma mentira e estas pessoas todos os dias têm de olhar para esta hipocrisia, quando depois de um ano já não devia ser uma batalha a combater. Ao mesmo tempo que as chuvas atacavam estas comunidades, os turistas em Machu Picchu não conseguiam sair porque todos os acessos estavam cortados. Então o Governo decide enviar helicópteros diariamente para os recorrer e em pouco tempo tratou de desobstruir todos os acessos.
Cuzco é a cidade mais turística do Peru, mas é claro que os lucros nao tocam a todos. A chuva aumenta e eu passo as noites acordada a pensar em que estado estarão eles. E a pensar em como seria ver uma parte de mim a ser levada pelas forças da Natureza e ter que começar toda uma vida do zero. Numa dessas noites prometi a mim mesma que nao saía daqui enquanto cada família não tivesse a sua casa.
Este mês caduca a minha estadia no Peru. Tenho que sair, ir à Bolívia e voltar. Fronteira Bolívia-Peru. Dão-me 3 meses mais. Volto com toda a energia para continuar o meu trabalho. Surgem propostas para ajudar em novos projectos.
Num final de tarde no Vale escorrego e caio para uma ravina de 3 metros. Recordo-me perfeitamente que enquanto caia e rolava, só esperava que o rio não estivesse no fundo - eu sabia que estava a cerca de 10 metros abaixo. Numa fracção de segundos apercebi-me que tudo podia acabar mal. Tive bastante sorte. Continuo com dois braços e duas pernas, tudo a que tenho direito. Estava cansada mas nao pude pregar olho toda a noite. A pensar em como a vida pode mudar de um minuto para o outro, e que se eu estava ali naquele momento deitada na minha cama a pensar sobre isso, tinha que agradecer a quem olha por mim.
Loki | www.youtube.com/watch?v=GjoGClWePro
Joana Vitória Martins
Fev 2011
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