Le Entrevista a Filipe Melo por Rafa


É quase escusado, mas cá vai uma pergunta da praxe, quem é Filipe Melo e o que faz - em formato-apresentação para os mais distraídos.

Sou um tipo de Benfica que toca piano, faz argumentos para banda desenhada nos tempos livres e, volta e meia, arma-se em realizador de filmes.

Como conseguem sobreviver tantas facetas numa só pessoa - haverá vezes em que o realizador se sobrepõe ao músico e ao argumentista, ou a convivência é pacífica?

A convivência é bastante pacífica, porque faço uma gestão de tempo baseada na urgência de cumprir um determinado objetivo - pode ser terminar uma música, escrever um argumento... Tento sempre não limitar as coisas que me dão gozo fazer a uma determinada área, embora a que me ocupe mais tempo é, sem dúvida, a música.

Já pensaste em conduzir um filme de terror que envolvesse jazz?
 Ou um músico de jazz?
Podes revelar algo dos projetos em que estás envolvido neste momento?

Nunca pensei em cruzar essas duas vertentes. Jazz e terror, acho que seria inédito. Normalmente, não gosto muito de cruzar as coisas que faço, a menos que façam sentido. Aqui há uns tempos, escrevi um filme de animação que se passava num clube de jazz, mas nunca o consegui financiar, com grande pena. Mas não era de terror, era assim meio romântico, meloso... Mas eu gostava da história!

Neste momento estou completamente dedicado ao piano, vou tocando com vários grupos e projetos, e estou a terminar o guião do meu terceiro e último livro de BD "As Fantásticas Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy", para a Dark Horse Comics.

"Odd Making of - “Lickanthrope" é a masterclass que apresentas no MOTELx sobre o videoclip dos Moonspell. Que se pode esperar desse momento (não peço uma masterclass por aqui, gostava que funcionasse como convite a que te assistam)?

Na verdade, o videoclip é mais um pretexto - claro que explicarei como foi feito e contarei as dificuldades que surgiram, mas gostaria que esta masterclass fosse uma desculpa para juntar pessoas que se movem nas mesmas áreas que eu (música, filmes e BD), para uma conversa em que farei o que puder para as ajudar a concretizar os seus próprios projetos nessas áreas. Será um enorme prazer partilhar a minha experiência e ouvir e aprender com as ambições e dúvidas de quem aparecer por lá.

E um festival como o MOTELx, que se expande e se consolida a cada edição que passa e que se centra num dos teus gostos - o cinema de terror e o fantástico - é necessário a Lisboa? O que lhe acrescenta?

Claro que é necessário. Lisboa precisava do MOTELx, e o número de espetadores confirma isso. É um motor criativo que motiva e educa a imaginação das pessoas. Jantar com o John Landis no Ribadouro, ver o George A. Romero a passear na Avenida da Liberdade - são momentos inesquecíveis, que nos fazem perceber que alguns nomes sagrados do terror são pessoas como nós. Fazem-nos ter a ambição de fazer coisas maravilhosas e inspiram-nos a contar histórias. O papel do MOTELx na vida cultural lisboeta é único e imprescindível.

Uma pergunta política - ou, no mínimo, atual. Como realizador, como encaras a mudança do financiamento quanto à arte cinematográfica?

O panorama atual é uma tragédia. Como o Eugénio Lisboa dizia agora nesta carta ao primeiro ministro: "não é meu costume nem vocação escrever coisas de cariz político, mais me inclinando para o pelouro cultural. Mas há momentos em que, mesmo que não vamos nós ao encontro da política, vem ela, irresistivelmente, ao nosso encontro. E, então, não há que fugir-lhe."

O governo, que há muito tinha deixado de ser um aliado das questões artísticas, tornou-se um verdadeiro inimigo da mesma - atualmente, é impossível contar com a ajuda do governo para qualquer tipo de projeto artístico, e as medidas de austeridade impedem o investimento pessoal. Não creio que achem que a cultura seja útil ou necessária. Quando os portugueses estiverem completamente derrotados e sem qualquer tipo de esperança (e está quase a acontecer) pode ser que percebam o contrário, mas será tarde demais.
  
E quanto a Lisboa e dado que somos um magazine cultural centrado na cidade, quais os locais que mais te agradam para:

- Um bom susto ou uma saída noturna

 O Hotclube de Portugal, na Praça da Alegria.

- Um fim de tarde introspectivo.

Deixei de ter fins de tarde instrospetivos desde o último discurso do Passos Coelho.

- Um passeio com amigos chegados de fora.

Eu diria o Castelo de S. Jorge, mas a última vez que lá fui gamaram-me o telefone. Cautela com isso.

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