Le Entrevista à Associação Cultural Pantalassa por Ana Pracaschandra

“A cultura é uma coisa viva, é uma coisa que se mistura e transforma.” Franklin Soares

A Associação Cultural Pantalassa, promove a obtenção de sinergias no desenvolvimento de projetos em torno do espaço cultural lusófono. Esta associação vai realizar um programa multidisciplinar em regime de
residência artística em São Tomé e Príncipe, entre 7 de fevereiro e 1 de
março de 2013.
Para conhecer um pouco mais deste projeto, a Le Cool conversou com a Raquel Lima e o Franklin Soares, mais conhecido como Frankão, dois dos responsáveis pela criação da Pantalassa.

Como nasceu a Pantalassa? Quando e como começaram? Qual o âmbito em que atuam?
Raquel Lima: A ideia da associação surgiu antes de a constituirmos, em conversas entre mim, o Frankão, a Filipa Batista e outros amigos, que hoje em dia nem fazem parte da associação formalmente, mas que estão sempre presentes. Sentimos que havia uma necessidade de criar uma rede entre países que falam português, de forma a divulgar os artistas desse espaço. Sentimos que havia ausência de uma plataforma de promoção dos artistas da Lusofonia. Criámos a associação em 2011, com alguns receios em relação à palavra Lusofonia, porque não queremos ficar centrados num conceito, para muitos, ultrapassado. Queríamos propor uma visão da Lusofonia mais contemporânea, que não fosse apenas relacionada com a língua, que tivesse a ver com hábitos culturais, como a tradição oral, a alimentação, ou seja com coisas mais subtis do dia-a-dia, sem ser uma coisa meramente geo-política.

Frankão: Na verdade, nós preocupamo-nos muito mais com a linguagem do que com a língua. Com as várias linguagens que existem dentro da Lusofonia. Dentro da Lusofonia existem várias línguas, e nós não estamos propriamente focados na questão da língua portuguesa. O nosso projeto é muito mais
voltado para a linguagem. Acho que é mais interessante preocuparmo-nos com as variadas formas de linguagem do que exatamente com a língua.

Que projetos desenvolvem na Pantalassa?
Raquel Lima: Começámos a tentar elaborar projetos que conseguissem valorizar o que dissemos atrás, através da pedagogia por exemplo, indo às escolas, começando com coisas simples, onde é importante, com as crianças. Começámos a fazer umas oficinas que se chamam “Oficinas Itinerantes da Lusofonia” onde se desenvolvem temas como a “Folia de Reis”, que é uma manifestação que nasceu na Península Ibérica, depois foi para o Brasil, e apanhou com influências indígenas e africanas.

Frankão: A “Folia de Reis” neste caso é um tema que vai ter outros temas ligados à Lusofonia, e à mistura de culturas. Nós acreditamos que a cultura é uma coisa viva, é uma coisa que se mistura e transforma. E a maneira como trabalhamos o tema da “Folia de Reis” é muito livre, para eles criarem, para mostrar para eles que a cultura também sofre isso. A cultura quando é tratada como uma coisa intocável, morre, torna-se numa peça de museu. A cultura é viva, vai-se transformando, adaptando aos tempos e as gerações vão mudando, e as informações também. E é essa didática que nós buscamos nas “Oficinas Itinerantes”.

Para além da divulgação dos artistas que tinham falado no início, outro dos objetivos da Pantalassa passou a ser uma presença ativa no contexto educacional, foi isso?

Raquel Lima: Na verdade a Pantalassa tem várias ações. Tem esse lado das oficinas, que para além da “Folia dos Reis”, está a desenvolver a “Agridoce Cultura”, que promove a construção de um trajeto de frutas e legumes num espaço lusófono e não só.

A Pantalassa tem esse lado educacional, e depois tem um lado de apoio à produção de artistas, em que tentamos apoiar artistas que estão em Portugal, com trabalho realizado e que têm uma certa dificuldade em promover. Depois além disso, temos um projeto que é mensal, de poesia, o Poetry Slam Sul, que se realiza em Almada.

Temos também o “Moscatela”, que começou no mês passado e também é periódico. Consiste numa mostra de cinema amigo, em que filmes de pessoas mais ou menos próximas de nós, são projetados e o público pode assistir a um filme e beber moscatel.

Há um workshop que o Frankão desenvolve, sobre Arte e Educação em zonas de risco, que já se realizou seis vezes em Lisboa e uma no Porto.

Frankão: É um workshop para formadores, pessoas que têm interesse em trabalhar nesse tipo de condições precárias.

Raquel Lima: Ainda temos o intercâmbio. O ano passado trouxemos uma banda de São Paulo para uma tournée pequena aqui em Lisboa e arredores. Nesta perspetiva de intercâmbio agora vamos para São Tomé.

O que vai acontecer nesta iniciativa em São Tomé?
Raquel Lima: A residência em São Tomé foi feita no âmbito de um apoio da Direção Geral das Artes, o Apoio à Internacionalização das Artes. E nós concorremos com um projeto que chamamos “Portugal Contemporâneo com São Tomé e Príncipe” que era em formato de residência artística, durante três semanas lá, em que oito artistas faziam várias coisas. Uma das iniciativas é uma banda que se chama Tapete, que é com os meus poemas em spokenword acompanhados de quatros músicos: Joana Guerra no violoncelo, o Bernardo Álvares no contrabaixo, o António Ramos no saxofone e o Jorge Nunes na percussão. Vamos realizar ensaios abertos e concertos durante esse período. Depois a Joana Guerra, que vai estar presente com o seu projeto a solo com voz e violoncelo, e acabou de lançar recentemente o seu primeiro álbum "Gralha"! Vai acontecer a Folia de Reis, com a Mariana Marques e com o Frankão, em três escolas de São Tomé. Nas escolas vai haver também uma oficina de  construção de audiolivros, com o Jorge Nunes. O workshop do Frankão de Arte e Educação também vai decorrer em São Tomé e é aberto ao público. Haverá um workshop de música improvisada com os músicos de Tapete, e um evento de Poetry Slam que eu irei dinamizar com os miúdos das escolas.

Haverá ainda um atelier de artes plásticas com Mariana Marques. Ao todo são sete artistas e três responsáveis pela produção a trabalharem nesta iniciativa, o Alix Sarrouy, a Filipa Batista e a Ana Fradique.

O que significa para a Pantalassa o concretizar do projeto “Portugal Contemporâneo com São Tomé e Príncipe”?
Raquel Lima: Para nós é a primeira oportunidade de ir com a Pantalassa para fora. Já recebemos pessoas e artistas, mas é a primeira vez que vamos juntos para fora, e para nós é brutal. Vai ser intenso. Depois, em maio, nós vamos estar na Bienal de Culturas Lusófonas na Malaposta, e vamos ter uma parte reservada para mostrar o que andámos a fazer em São Tomé.

Como é que a Pantalassa se sustenta? São vocês que sustentam a associação? Dedicam-se a full time a este projeto, ou têm outras atividades em paralelo?
Frankão: Dedicamo-nos em part-time. Na verdade, todos nós temos os nossos trabalhos individuais, para além da Pantalassa. Formar uma associação não é fácil. Leva tempo e maturidade. Estamos numa época de crise e cortes nos apoios, mas temos que nos adaptar e fazer acontecer de outra forma. Não podemos ficar presos a apoios, buscamos de outras formas.

Raquel Lima: Esse discurso pessimista do “ai a crise”… as pessoas estão mais abertas a ajudar por causa da crise. A unirem-se e a fazerem coisas juntas. Dá para aproveitar esta altura para crescer também. Todos os membros têm os seus trabalhos, na área cultural à mesma: pessoas na área artística, e outros trabalhos precários que apareçam que nós tenhamos que fazer. Ninguém vive só da associação. Ainda é um sonho, se calhar, daqui a alguns anos conseguirmos criar postos de trabalho para alguns.
E é com este sonho futuro que finalizamos esta entrevista a dois dos grandes responsáveis pelo projeto Pantalassa. Relembramos que esta semana acontecerá a 8ª edição do Poetry Slam em Almada, no Espaço da Cerca, no dia 25 de Janeiro, sexta-feira.

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Contactos:
Rua Garrett, 100, 1200-205 Lisboa Lisboa (1º andar da Livraria Sá da Costa)
21 342 20 34

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