Valéria Carvalho regressa para uma apresentação especial de «Chico em Pessoa», peça onde se desmultiplica em Pessoa e se dedica a desfolhar, camada a camada, folha a folha, as mulheres de Chico Buarque. Trocamos uma palavras em antevisão.
E o que diriam, de facto, Chico Buarque a Fernando Pessoa dos seus personagens, se se encontrassem?
Penso que encontrariam mais pontos em comum do que poderiam a priori imaginar. Por «detrás» das diferenças, muito mais semelhanças.
Este regresso com o Chico em Pessoa é já uma repetição. Ou uma reposição muito bem vinda. Como foi recebida a peça na sua primeira vida? E o que espera a Valéria deste seu renascimento, uma digressão?
A peça estreou no Teatro da Comuna, onde esteve em temporada. Foi uma experiência curiosa e gratificante. Estreámos com um público razoável e finalizámos com sessões extra sempre esgotadas, o que leva a crer que o público falou sobre o espectáculo, trazendo mais pessoas para a plateia. A comunicação na primeira pessoa da experiência sobre o espectáculo, ainda continua a ser algo muito forte.
O espectáculo encontra-se em digressão, acabamos de chegar da ilha da Madeira, onde fomos convidados a encerrar o Festival AMO Teatro no Dia Mundial do Teatro. Uma experiência maravilhosa, a troca de experiências e visões com outros artistas e com as pessoas da terra. Os espectáculos esgotaram e tinham na plateia um público muito atento.
Agora, segue-se a presença no Centro Cultural Olga Cadaval em Sintra, dia 3 de Maio. Logo depois, estamos de malas prontas para Luanda, Brasil, Cabo Verde e Guiné, com datas a confirmar.
A Valéria sente-se desassossegada ao interpretar tantas e diferentes mulheres de Chico?
Eu cresci a ouvir Chico Buarque. Ele despertou-me para um universo suburbano em que eu estava inserida e não sabia. Estas mulheres (do seu universo) rodeavam-me, moravam na minha rua… faziam parte da minha família… Interpretá-las, para mim, é tão natural quanto «comer um prato de arroz com feijão». (risos)
Há uma escritora italiana quase desconhecida que usou também um heterónimo, Cristina Campo. Como acha que Pessoa lidaria, um enorme poeta com tão poucas - só uma, que se saiba - mulheres na sua vida, sobre esta desmultiplicação de personagens de «Chico em Pessoa»? Pode-se dizer que esta é uma obra feminina?
Não, de todo! Definitivamente, a solidão, o apego, a saudade, o desamor, o adultério, o luto, a hipocrisia, a participação na vida política e social, são inerentes ao ser. Fernando Pessoa confere às personagens uma clareza de consciência, enquanto que Chico Buarque é a «terra», o quotidiano.
E agora, pedia um convite para que a venham assistir em «Chico em Pessoa».
Amigos e «inimigos», dia 3 de Maio, vou estar no Centro Cultural Olga Cadaval, este teatro lindo, em Sintra, este lugar incrível, pelas 22h00, numa única apresentação do «Chico em Pessoa». Encenação do grande Carlos Paulo, um trabalho onde percorro várias mulheres, desde a «dona de casa», às «mulheres da vida», numa viagem por personagens controversos e suburbanos, revivendo as músicas de Chico Buarque de Hollanda pontuadas pela poesia de Fernando Pessoa.
Reservas abertas para o 219 107 118.
E «afasta de mim esse cálice…»
-----
Foto por Mariiscapela
Sem comentários:
Enviar um comentário