Le Entrevista a Emylis (DJ) por Marcelo de Magalhães

Esta semana trago uma entrevista ao lituano Emylis, onde se pode conhecer melhor este artista enamorado por Lisboa. Conheci-o, há mais de um ano, numa festa da editora Groovement no MUSICBOX. 

Falámos enquanto estavam a preparar o palco para o concerto de Vahagn com Jerry The Cat e Diamondancer. Apenas um tempo depois, descobri que era DJ e, na minha opinião, é dos bons. É dos que têm sensibilidade, bagagem e ecletismo musical e para compreender o público que tem à sua frente, de um acolhedor bar a um grande e escaganifobético clube. 


Como e quando começaste a tocar como DJ?
 

Primeiro fiquei curioso relativamente ao scratching. Vi um dos showcases mais memoráveis de DJ Babu & Shortkut no Campeonato ITF alemão no canal VIVA e fiquei viciado! Não fazia ideia de como funcionava e como poderia começar, já que a Internet em casa naquela altura ainda era uma miragem. Certo dia passei por uma loja de instrumentos e equipamento de DJ, vi um jovem a fazer scratch e deu-me algumas dicas. Em alguns meses tive o meu primeiro prato Technics SL-1200 e uma mesa de mistura um bocado má, mas foi mais que suficiente por um tempo. Alguns meses depois envolvi-me no círculo local de DJs e tive a minha oportunidade de mover público, tinha 14 anos de idade e estava rodeado dos «maiores» da cidade.
 

Então começaste pelo hip hop?
 

Sim, comecei por ser um DJ de hip hop e fui durante bastantes anos. Mais tarde, juntaram-se os grooves e funk, depois electrónica, depois mais e mais… Tornei-me um apaixonado por música em geral, hoje em dia, eu raramente procuro por um estilo de música em particular. É como uma bola de neve, está tudo ligado, é só uma questão de abrir a mente. Há alturas que posso estar mais inclinado para uma coisa ou outra, mas o que importa é a música.
 

Para mim, há duas formas de tocar: orgânico ou electrónico. Ou então ambas. Orgânico é quando toco coisas mais brokenbeat, disco, nu soul, afro, reggae, Latinas ou o que chamo de groove beats & breaks. Electrónico é beats, breaks, um bocado de footwork e trap, dubstep, house e principalmente a cena bass britânica/UK funky/Garage, chamem-lhe o que quiserem.
 

Quais são as tuas bandas ou artistas preferidos?
 

Uma série de artistas vêm e vão, mas o que raramente falharam, para mim, são: Tribe Called Quest, Redman, MF Doom, Quantic, Flying Lotus, Four Tet, Pixelord, Take/Sweatson Klank, FaltyDL, The Cinematic Orchestra, Mr. Scruff and, my favorite of all - Bonobo!
 

Costumas tocar no Bairro Alto no Café Suave e Maria Caxuxa. Além desses locais, onde é que te podemos encontrar?
 

No Café Suave toco umas poucas vezes por mês. Adoro o espaço, a atmosfera e a equipa. Também costumo tocar no Bacalhoeiro, gosto da programação alternativa e do aquela espécie de clube maior, mais escuro e música mais alta. No Maria Caxuxa, actuava a meio da semana, boas noites com pessoas simpáticas. Também já toquei no Europa, MUV e Lounge. É uma questão de ficarem atentos à minha página de Facebook. Algumas vezes também toco fora de Lisboa, como nas Caldas da Rainha, onde tive muito boas noites atrás e à frente da cabina.
 

Como te adaptas aos diferentes contextos?
 

Eu adapto a música visitando o espaço, falando com as pessoas com, o programador e também de acordo com as minhas anteriores experiências etc. Alguns tendem a ser mais orgânicos e outros mais electrónicos. Ao fim das contas, chego, vejo o público e a atmosfera do espaço, e adapto-me.
 

Relativamente a produção musical. Também produzes?
 

É um assunto penoso. Eu desejo fazê-lo há muitos anos, mas nunca avancei a sério. Ora por causa da universidade, ora porque vim para Portugal. Agora radiquei-me em Lisboa, acredito que em 12 anos de DJing, o meu ouvido tornou-se maduro o suficiente para criar algo sólido. Aliás, já falei com alguns produtores de Lisboa para me irem dando dicas, acredito que vou começar em breve.
 

És consumidor de vinil?
 

Já fui, agora já não tanto. O que compro agora é mais para colecção do que para tocar em actuações. Eu comprava online, já que não haviam lojas de discos perto de onde vivia. Aqui em Lisboa, gosto das sensações de ir, tocar, ouvir os discos e talvez acabe por comprar alguma coisa.
 

És lituano e agora vives em Lisboa. Como conheceste a cidade? 

Em 2009, fiz uma road trip com um amigo. Viemos de Barcelona para Lisboa, ficámos aqui poucos dias e voltámos pela costa. Honestamente, nesses poucos dias não aprendemos muito sobre Lisboa e Portugal. Retive que tinham um tempo muito bom e o oceano, por isso é cool. Nós bebemos demasiado, agora vejo que foi um erro, éramos uns «putos» na altura. A cidade tem tanto para oferecer e nós desperdiçámos. Mas eu voltei e já consertei isso!
 

Quando e porquê é que escolheste Lisboa para viver?
 

Depois da universidade estava a sentir falta de uma vida no estrangeiro. Mudei-me para Londres, estive lá 5 meses, toquei em alguns locais e conheci algumas pessoas, mas não gostei muito. Precisava de uma coisa diferente, sempre quis experimentar a cultura do Sudoeste da Europa, o clima e os estilos de vida. Tive um amigo português que fez Erasmus na Lituânia durante um ano e trabalhou na porta de uma discoteca onde eu costumava tocar. Ele estava sempre a convencer-me para vir para Portugal, mas eu estava assustado por causa da língua. 

Um dia, estava a ir para uma entrevista para um novo trabalho em Londres. Saí da carruagem do metro, fui em direcção à porta e pensei «se eu virar as costas, perco o bilhete». Decidi não sair, voltei directamente para casa e comprei uma passagem só de ida para Portugal. Senti-me bem, como se um grande peso tivesse saído das costas! 

Aterrei em Lisboa a 30 de Novembro de 2010, sem planos, sem dinheiro, um quarto para dois meses, um amigo e um monte de ambições. Grande decisão, pelo menos até agora! 

És de que cidade da Lituânia? A cena clubbing é muito diferente?

Eu sou de Klaipeda. Contudo, em 2005, eu fui viver para a capital Vilnius para estudar e comecei a tocar na cidade, 2 a 3 vezes por semana, quase todos os fins de semana. O clubbing é diferente lá, até me esqueci até voltar lá para férias. Vilnius é muito equilibrada, as pessoas estão sempre à procura de novas coisas, nova música, novas tendências, é mais fácil encontrar oportunidades e ser reconhecido. Porém, é preciso trabalhar muito para nos mantermos na «mó de cima». Quando se toca é quase sempre em discotecas, não há uma cultura de bar como aqui em Lisboa. O público tende a ser mais jovem, mais ou menos até aos 25 anos, as pessoas mais velhas deixam de sair à noite. Além disso, tudo começa mais cedo, normalmente enche à meia-noite e fecha às 4 da manhã. 

Para uma pessoa que gosta de festas, Lisboa tem muito mais para oferecer, centenas de bares e dezenas de discotecas. Para os DJs, as portas das discotecas são mais difíceis de abrir. Além de Lisboa, tenho ouvido que Portugal tem muito para oferecer. Por isso, ainda ando à procura de descobrir noites por Portugal, assim poderei tirar melhores conclusões.
 

Qual é a música que nunca falha aqui em Lisboa?

Pergunta mazinha, existem muitas faixas que funcionam bem. Depende do espaço, público e atmosfera. 

Algum acontecimento engraçado que tenha ocorrido enquanto estavas a tocar? 

Uma vez toquei com um colega, ele foi pedir cocktails para nós e o bartender disse que estava demasiado ocupado a preparar cocktails para os clientes, apenas tinha tempo para cerveja. Ele não estava assim tão ocupado, passado um bocado não estava de todo, então o meu colega voltou e meteu uma faixa de jazz experimental, em 5 minutos apenas estávamos nós para sermos servidos. Cocktails e «Desculpa» chegaram em 2 minutos, foi uma sessão hilariante! Penso que alguns bartenders, promotores e donos de bares e discotecas não percebem muito que o negócio depende dos DJs e pensam que os clientes apenas «aparecem» e bebem sem razão aparente.

Quais são os teus DJs, produtores e bandas favoritas na cidade?

Daqueles que ouvi até agora, gostava de mencionar Ka§par, é um óptimo DJ e produtor, provou-me esta última ao lançar o álbum há não muito tempo pela editora holandesa 4lux. Fiquei positivamente impressionado com IVVVO, estive no Boiler Room e ouvi o seu set! Que selecção! Wilson Vilares escolhe malhas africanas brutais e ainda uma boa selecção de House. Também o gosto e a selecção de Mike Stellar. Quanto a bandas, fui a um concerto de Terrakota uma vez e gostei muito! Orelha Negra é brutal ao vivo. Acredito que existem mais artistas locais de que irei gostar, mas ainda há muito para explorar!
 

O que fazes além de DJ? E o futuro?
 

Como disse, fazer música está nos meus planos a curto prazo. Na Lituânia, tratava do booking de artistas e organizava festas. Lancei um projecto "Renegades of Bump" com alguns colegas, que continuam a promover os maiores beat makers locais. Tratei do booking de alguns artistas internacionais para o festival «Satta Outside», o maior festival de música em que já estive. Um dos criadores e coordenadores é português, já agora! 

Em conclusão, sempre estive muito ocupado, eventualmente gostava de voltar a desenvolver estas actividades aqui em Lisboa, usando os meus contactos e experiência. Mas leva tempo a ligação a um novo lugar. Tenho agora um pequeno, mas acredito que progressivo projecto em desenvolvimento. Se as coisas correrem bem, será lançado quando o Verão atacar!
 

Quando tens tempo livre o que gostas de fazer na cidade? Por exemplo, se tiveres um dia disponível para lazer, o que farias?
 

Tempo de lazer aqui é muito diferente da Lituânia, devido ao clima, podemos passar mais tempo na rua. Gosto de me sentar no jardim, Miradouro da Graça ou da Senhora do Monte, passear pelas ruas do Chiado, Alfama, Mouraria, perder-me nelas ou apenas sentar-me, tomar algo com os amigos, observar e apreciar. Uma cidade tão bonita com a ajuda de um clima tão bom, proporciona-nos mais tempo para aproveitar. 

Adoro Lisboa, é o sítio para viver! Jantares em casa com os amigos tornam-se uma entusiasmante e regular actividade. Recentemente, descobri a «Petiscaria Ideal» e uma maravilhosa surpresa que abriu há pouco tempo as portas: «Santa Clara dos Cogumelos». Relativamente à noite, depende, se estiver a acontecer algo que gosto muito, vou directamente para o clube, por exemplo, o Lux, senão, talvez Bairro Alto, pelos lados do Suave e Maria Caxuxa. Também a Bica, Lounge, MUV e Cais do Sodré, se ainda estiver numa de continuar a noite. Clássico de Lisboa, penso eu!
 

Gostava muito do Arte & Manha, era exactamente o sítio que a cidade precisava. Aberto muitas horas, muitos estilos de música boa e fora do circuito regular. Ocasionalmente, gosto de ir ver um jogo de futebol no estádio. Adoro futebol, costumo jogar com os amigos!
 

Contudo, os melhores tempos que me lembro e já estou a sonhar com eles outra vez é quando se sai de Lisboa no Verão. Grande parte dos fins-de-semana são passados nas praias em refor e, às vezes, viagens de carro de praia em praia, a visitar e a comer em pequenas vilas e aldeias, acampar, são das coisas que mais aprecio em Portugal.
 

O que mais e menos gostas nesta cidade? 

Vou começar com o que menos gosto, para o final ser só sobre coisas boas!
 

Detesto as casas frias no Inverno. Nos clubes, não gosto dos copos de plástico para bebidas caras e sumos baratos para misturar. Não gosto do governo, que não parece ter coragem ou preocupações relativamente a perspectivas para o país e o futuro das pessoas. Não gosto das taxas moderadoras nos serviços de saúde, para que servem os impostos? Não gosto o facto das pessoas adiarem muito os compromissos, atrasarem-se, não atenderem as chamadas, não ligarem de volta, não responderem às SMS, aos e-mails durante dias, semanas ou meses sem motivos em particular. Detesto os hábitos de estacionamento em Lisboa. Última coisa, não gosto quando as pessoas escrevem que o meu nome de DJ é Emilys, é Emylis! Bem, agora os motivos porque adoro estar aqui.
 

Adoro o tempo aqui. As pessoas que são orgulhosas pelo que são e têm, mas não são convencidas. Gosto como os locais tratam os estrangeiros, são curiosos. Perguntam de onde somos, sobre a cultura e tentam sempre mostrar que conhecem qualquer coisa sobre a nossa cultura e esforçam-se para falar de uma forma que seja mais fácil de compreender.
 

Terceiro, adoro a localização, rodeada de praias. Adoro a comida, a cozinha, o vinho e a cultura do «jantar». Quinto, adoro o tamanho de Lisboa, é grande, mas compacta e podemos sempre encontrar paz no coração da cidade, um banco com uma vista que iremos apreciar com toda a  certeza. Adoro os miradouros e a luz. Gosto da qualidade de vida, tendo em conta os preços relativamente baixos. Adoro o facto de em dois anos, continuar sem conhecer bem a cidade. Mantém-te surpreendido e motivado. Sinto-me em casa!

Traduzido e conduzido por Marcelo de Magalhães

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Ligações:

Facebook do DJ Emylis: https://www.facebook.com/djemylis

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