Le Entrevista a Pedro Sena Nunes por Rafael


Lisboa volta a desfraldar o InShadow em vários espaços da cidade. Mais do que pretexto para um saborosa corrida entre os pontos da cidade que alcança o Festival, serve também para uma conversa com Pedro Sena Nunes - cujas lides profissionais não são resumíveis numa linha ou palavra só.

Conte-me um pouco de si, em traços gerais. O desafio será mesmo condensar um currículo extenso em poucas linhas, mas apresente-se sumariamente.


Nasci em Lisboa, onde já fui três vezes pai. Sou realizador, professor, produtor e programador. No meu trabalho destaco o lugar do outro. Crio para filmar. Entre inúmeras cidades europeias, viajei e participei em cursos e workshops de cinema, fotografia, vídeo, teatro e escrita criativa como bolseiro de várias instituições. Estudei 7 anos cinema na Europa. Fui co-fundador da Companhia de Teatro Meridional. Já realizei vários documentários, ficções e trabalhos experimentais e produzi mais de 100 spots publicitários para televisão e rádio. Participei com diversos projectos nas Capitais Europeias e Nacionais da Cultura e fui júri em vários festivais e concursos. Dedico-me bastante ao ensino, lecciono realização e documentário em diversas universidades e escolas. Fui coordenador pedagógico e director criativo na ETIC. Com Ana Rita Barata, assumo a direcção artística da Associação Vo’Arte, onde co-dirijo diversos Festivais de dança, cinema, dança/arquitectura e tecnologia. Os nossos projectos actuais são Festival InShadow - Vídeo, Performance e Tecnologias, InArte - Encontros Internacionais Inclusão pela Arte e CiM - Companhia Integrada Multidisciplinar que integra pessoas com necessidades especiais e bailarinos profissionais.


Como veículo de apresentação do festival InShadow, apresente-me o festival e os seus diversos módulos.

O InShadow - 3º Festival internacional de vídeo, performance e tecnologias apresenta propostas inéditas da representação do corpo no ecrã e no palco. Integra uma sessão de competição internacional de vídeo-dança, projecção de documentários, espectáculos,  instalações e exposições.  Em 2011, o InShadow reforça a sua vocação de Festival-Laboratório abrindo uma secção exclusiva dedicada à exibição de solos  – SoloShadow –, que acontecem do Teatro do Bairro de 2 a 4 de Dezembro, e amplia a sua vertente de formação com workshops e masterclasses dirigidas a profissionais e ao público infantil. Será novamente promovida uma TalkShadow entre todos os realizadores presentes no Festival, sobre As Tecnologias nos Processos de Criação e Produção.


Que apresentações lhe importa destacar. Temos Ka Fai Choy, por exemplo, que apresentará uma masterclass. E que mais lhe agrada sublinhar?


Exactamente. Ka Fai Choy é um artista de Singapura que está a desenvolver um estudo inovador sobre a possibilidade de existência de memória muscular, e vai mostrar como o faz na masterclass que vem dirigir e no espectáculo “Notion – Dance Fiction”, no que apresenta em palco excertos das principais coreografias da história da dança, passando por Pina Bausch ou Merce Cunningham, através de um método inovador de indução de pequenos choques eléctricos no corpo de uma bailarina. Destaco também a co-produção da voarte com a MãoSimMão no novo espectáculo LAN em Fuga, que trata amplamente as relações humanas com a tecnologia, e na área do vídeo, a exibição do documentário australiano Life in Movement, estreia absoluta em Portugal, de um retrato póstumo da vida e obra da consagrada coreógrafa e a mais jovem directora da Sydney Dance Company, Tanja Liedke.


De que modo lhe parece que o Festival abarca Lisboa? E como lida com a contemporaneidade criativa, já que se anuncia como "uma referência internacional no território da criação contemporânea transdiciplinar"? Que diferentes disciplinas entram aqui em concurso?


O Festival InShadow coloca Lisboa na rota dos mais importantes Festivais transdisciplinares internacionais, nomeadamente pela qualidade dos vídeos em competição internacionais, pelos realizadores e artistas estrangeiros que vão estar em Lisboa e pelas parcerias que temos com o Cinedans (festival holandês nosso convidado e uma referência inspiradora para nós) ou pela apresentação do Canáda como país convidado. Criamos pontes com outros países e com diferentes locais em Lisboa – incluimos o Teatro do Bairro, o Museu Nacional de Arte Antiga, a Pickpocket Gallery, o Módulo - Centro difusor de  Arte, ou o MusicBox como parceiros de programação. Desenvolvemos uma estratégia de descentralização, seja na própria cidade de Lisboa, pela inclusão de novos espaços, ou internacionalmente, com a presença de várias artistas e obras de mais de 20 nacionalidades. É um festival heterogéneo, inclui video, performance, tecnologias que resultam em espectáculos, exibições, exposições e workshops. InShadow lança o desafio do pensamento sobre as relações do corpo com a imagem.    


Aproximando às ShadowTalk. Em que consiste esta "conversa" sobre as tecnologias nos processos de criação e produção?


A ideia é reunir todos os artistas nacionais e internacionais das mais diversas áreas e estabelecer duas linhas condutoras de reflexões sobre a importância das tecnologias nos mais diferentes processos de produção e criação. Esta conversa aberta, ShadowTalk, vai ser moderada pela, Elif Işıközlü, realizadora, directora artística e membro do Lincoln Center Theater Directors Lab e vai ter a participação de mais doze realizadores e artistas, nacionais e internacionais. Será um grande momento de partilha e de aprendizagem, com a possibilidade do público falar directamente com os artistas e de lhes colocar questões. Será um dos momentos altos do eixo de formação do Festival com o objectivo de obtermos vários traçados sobre a forma como os projectos são produzidos e criados sob a influência das tecnologias, uma questão fundamental do pensamento criativo e artístico contemporâneo.

Deixe então agora um convite apaixonado a que os leitores participem e assistam ao Festival.

De 1 a 11 de Dezembro Lisboa acolhe a terceira edição de um Festival que se define por desafiar os seus espectadores e mostrar-lhes novas formas de expressão artística. Momento singular e laboratorial da criação contemporânea. A todos desafio a não perderem a oportunidade de conhecer pessoalmente os criadores nacionais e internacionais que questionam e produzem o cruzamento de fronteiras entre a performance, vídeo, dança e teatro. Venham assistir aos momentos mais desafiantes da criação contemporânea. Saiam da vossa sombra, caminhem transdisciplinarmente!


Agora Lisboa - Que lhe apetece destacar sobre a cidade, sobre a sua criatividade, sobre o seu espaço urbano, sobre a massa humana? Se a apresentasse a alguém vindo do exterior - um artista, por exemplo, como a descreveria?

Destaco da minha cidade a vibração geral que a habita e a arritmia gerada entre espaços amplamente contemporâneos e outros populares, gastos pelo tempo. Gosto destes contrastes que a cidade traça. Gosto de passear por bairros "perdidos" no tempo, com ruas estreitas, estendais e senhoras que passam o seu dia à janela. Gosto de caminhar pelos jardins da cidade, pelos miradouros e pela beira-rio. Gosto dos cheiros e dos ritmos visuais e sonoros. Gosto da História e da modernidade que Lisboa tem, da sua musicalidade. O meu lugar de eleição, hoje, é mesmo a relação que se tem com o rio a partir do Museu da Electricidade, um espaço que combina o movimento industrial com uma presença muito contemporânea, um espaço de partida e chegada. O convite que dirijo a um artista estrangeiro é que veja no Tejo o ponto de partida para entrar pelos bairros da cidade. E que caminhe, até se perder no desconhecido que se torna seu. Lisboa é uma cidade de pessoas cuja fruição só é possível quando fazemos da descoberta também um acto criativo.

Criem e deixem a vossa sombra em Lisboa!

InShadow 2011 | http://inshadowfestival.blogspot.com

Sem comentários:

Enviar um comentário