Le Entrevista aos ÖLGA por NunoT


Fiéis a um estilo de rock que parece ter um pé aqui e outro além. Mais concretamente um pé em hoje e outro até há mais de 50 anos. É indie rock na sua definição mais pura. E assim dito pouco parece ter de especial. O que os torna diferentes, é que os Ölga fazem isto há mais de 10 anos. E lembremo-nos todos onde estávamos em 2001. A eletrónica de dança e de ambientais relax estava na crista da onda e tocava omnipresente em todo o par de colunas stereo implantadas em qualquer espaço público. O electro clash devia ainda começar a surgir daí a uns 2 ou 3 anos, e para o rock sólido com camadas eletrónicas a la DFA faltava ainda meia década. Portanto aquela espécie de rock "à antiga" feito com sons de hoje, que atualmente se faz e ouve um pouco por todo o lado, o revivalismo rock, carregado de imagens sonoras (e vídeo) psicadélicas, já os Ölga conhecem desde que decidiram fazer música juntos.



Dos Ölga pode-se dizer, o Rock é bom, o groove rola como poucos outros, e os arranjos melódicos funcionam em perfeita harmonia. Mas sobretudo sabemos todos, que acima de tudo, os Ölga foram visionários, e provavelmente continuam a sê-lo neste preciso momento. É para saber mais sobre como aqui chegaram e para onde vão daqui a outros 10 anos que lhes perguntámos tudo o que sempre quisemos saber e não tivemos vergonha de perguntar.

Quem são e de quando e de onde vêm os ÖLGA? Falem-nos um pouco da história da banda e das pessoas por detrás dos músicos.

Os ÖLGA são três músicos na casa dos 30, residentes em Lisboa e com um prazer enorme de fazer a música que gostariam de ouvir. Todos trabalhamos noutras áreas profissionais e conciliamos desde 2001 este projeto.

Quando foi e como foi que nas vossas vidas entrou a música que se viria a transformar numa carreira (de cada um)? E como é que os vossos percursos musicais se cruzaram?

Eu e o João Hipólito somos colegas de liceu (em Lisboa) e crescemos com o boom da música alternativa/Indie dos anos 90. O Diogo Luiz, natural de Moçambique, veio para Portugal na altura da faculdade.

Com amigos em comum e na ressaca de outros projetos musicais que todos abraçaram (cá e em Moçambique), conhecemo-nos e decidimos fazer, literalmente, um estúdio de ensaio em Óbidos e aí tudo começou…

Passam férias juntos? Onde gostam de ir/estar quando se juntam fora do processo criativo?

SIm, acima de tudo há uma amizade que dura há muitos anos e, consequentemente, passámos diversas férias juntos, viajámos bastante.

Qual a vossa melhor recordação juntos sem música?

É difícil separar as melhores recordações da banda pois, enquanto ÖLGA, passamos muito tempo juntos. A tour realizada em Nova Iorque será uma bela recordação, mesmo retirando a 'parte' musical.

Antes de mais qual é a formação dos ÖLGA? Quem toca o quê?

Atualmente Diogo Luiz, João Hipólito e João Teotónio. No início era um quarteto com Rodrigo Filipe no violoncelo e piano.

Diogo na bateria e percussões; J. Hipólito no baixo, guitarra e voz; e J. Teotónio na guitarra, baixo, teclados e voz.

Basicamente há uma grande rotatividade de instrumentos na banda, fruto do longo percurso da banda e número reduzido de elementos.

Rock psicadélico, rollin' funk e ambiencias soul instrumentais. Como vieram aqui dar?

Nós tocamos aquilo que gostamos de ouvir, sem catálogos ou preconceitos. Todos gostamos de uma variedade de música enorme e, assim, as influências tendem a ser muito ecléticas. Pode andar em 'terrenos' mais Indie, psicadélicos, afro-beat, etc… mas, álbum após álbum, temos aprofundado a nossa sonoridade, resultante da combinação de tudo isso. 

O que inspira a vossa música, ou dito de outra forma, o que vos leva a fazer música?

Somos verdadeiros melómanos. E como tal, penso que há uma necessidade primária de criar também aquilo que gostaríamos de ouvir e sentir. As grandes viagens que fizemos juntos, fizemo-las dentro do nosso 'bunker'.

Como se desenvolve o vosso processo criativo? É envolvida toda a banda na composição dos temas ou nascem tendencialmente das ideias de um, depois alargadas aos restantes instrumentos?

O processo criativo é partilhado por todos os elementos da banda partindo da experimentação e improvisação intensivas que, posteriormente, despoletam diversos caminhos a seguir. Este tem sido o processo mais utilizado pela banda na composição de todos os álbuns e é assim que gostamos de criar. Contudo, há também liberdade para ser apresentada uma ideia mais específica por um elemento e depois desenvolvida por todos.

E no caso das canções, surge a letra primeiro ou as palavras vão rolando sobre a música num ensaio?

Definitivamente, a letra vem depois da música. A voz é encarada como mais um instrumento e, como tal, vai sendo aprimorada ao longo do processo.

Nos vossos vídeos (video clips e projecção ao vivo) são recorrentes a reciclagem de material vídeo antigo. Imagens de arquivo, excertos de filmes. Tudo coberto de colorações e efeitos visuais retro. Como desenvolvem as ideias dos vosso vídeos? O que vos inspira nesta área?

Pessoalmente acho muito interessante essa reciclagem. Agradam-me novos arranjos daquilo que já existia, num contexto completamente diferente. Parece que ganham outra vida...

Como amantes de cinema e audio-visual que somos, gostamos de associar a nossa música a imagens que a façam crescer ainda mais, colocando o ouvinte mais dentro do nosso universo; seja em concerto, videoclips, vídeos promocionais ou mesmo curta-metragens. Mas a recuperação de material antigo é apenas uma parte das diversas produções que assegurámos, em colaboração com amigos de longa data (Miguel Trindade e Pedro Gaspar).

Os diferentes caminhos seguidos nos diferentes projetos dependeram exclusivamente da vontade de cada um e viabilidade do próprio projeto, tentando sempre adequar a parte visual às características da música.

Costumam, ou caso contrário já pensaram em introduzir novas colaborações musicais no projecto dos ÖLGA? Em quais funções musicais?

Temos tido bastantes colaborações ao longo destes anos e estamos sempre abertos a novas experiências. Desde instrumentos de cordas, metais, percussão, vozes, etc. Penso que em todos os álbuns tivemos algum tipo de colaboração.

Geralmente, recorremos a pessoas que podem complementar a nossa música, seja pelo número reduzido de instrumentos que podemos tocar simultaneamente ou instrumentos que não tocamos. As colaborações são diversas: desde músicos de outros grupos Indie, formação clássica, jazz ou mesmo pertencentes à banda da Força Aérea (ex., nos arranjos de La Résistance, 2009).

Sabemos que já viajaram longe transportando a vossa música. Em 2011 realizaram uma tour no circuito underground norte americano. Por onde mais têm andado?

Maioritariamente no circuito Indie de Portugal e Espanha. Tivemos também a sorte de realizar algumas datas no circuito underground norte americano, mais concretamente em Brooklyn e Manhattan.

Nos últimos tempos temos estado enclausurados no nosso estúdio, compondo e preparando o novo álbum - Pandora.

Qual (onde foi e quando) o vosso melhor concerto? E o pior? O que tiveram de especial?

É difícil apontar o melhor ou pior mas… lembro-me de um em Tomar que teve uma segunda parte 'afterhours' a começar às tantas da manhã em que nos sentimos particularmente bem, acabando com elementos do público a tocar com a banda em palco.

O pior penso que terá sido o primeiro de todos, no concurso Termómetro Unplugged, em que as condições eram péssimas e as três músicas que tocámos foram acompanhadas por um belo e contínuo feedback, fruto da arte do técnico de som residente. Foi um belo cartão de visita para os anos seguintes!

Qual foi o primeiro disco que compraram (de cada um)?

Não me lembro exatamente do primeiro mas Pink Floyd, Pixies ou The Cure estarão entre os primeiros certamente.

Qual a vossa banda/produtor e tema preferido actualmente, e qual a banda/produtor e tema preferido de sempre (internacional e Português)?

Atualidade:
Radiohead
'Money [All in]' - ÖLGA

De sempre:
Pink Floyd
'The End' - The Doors

Melhor disco de sempre (internacional e Português)?

Pet Sounds (Beach Boys) e Concerto em Frankfurt (Carlos Paredes)

Melhor guitarrista de sempre?

Carlos Paredes

Melhor baterista de sempre?

Tonny Allen

Melhores vozes masculina e feminina de sempre?

Tom Waits e Aretha Franklin

Os ÖLGA já cá andam há mais de 10 anos. Como é fazer música em Portugal no auge da crise que assola o país em pleno 2012? E lá fora seria melhor?

A crise não afeta o processo criativo, antes pelo contrário. Penso que a criatividade está a aumentar bastante em Portugal.

Já ao nível da distribuição e o chegar às pessoas pelos diferentes meios é mais difícil, pois a disponibilidade financeira é menor e as pessoas desabituaram-se de comprar música e/ou de pagar para ver concertos fora das feiras populares musicais.

Penso que esta dificuldade é global embora em países que se interessem e apostem mais na cultura certamente os projetos têm outra visibilidade e procura.

Onde gostavam de fazer o vosso concerto em 2021 de título "ÖLGA - 20 psicadélicos anos a rockar around the world"? E se pudessem, quem gostariam de convidar ao palco a tocar um tema com os ÖLGA?

Lisboa e poderíamos convidar os Ladysmith Black Mambazo.

Qual é a melhor sala/espaço de concertos de Lisboa? E do país?

Dependerá do estilo musical mas sem dúvida que o CCB em Lisboa e a Casa da Música no Porto estarão entre as melhores.

Quais são o vosso local preferido em Lisboa (de noite e de dia) e qual é o o vosso canto secreto na cidade do Sol?

O estúdio Golden Pony, de dia ou de noite.

Muito obrigado. Keep on rollin'!
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Links
http://theolgamusic.bandcamp.com
http://vimeo.com/olgamusicband
http://www.facebook.com/pages/ÖLGA/49128416288

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