Le Entrevista a Marcelo Valadares (Le Cool Team) por Rafa.el

Quem é o Marcelo e quem é o Valadares e como se juntaram os dois num só em Lisboa, Portugal?

O Marcelo ainda está em formação. O Valadares é a história que está por detrás disto: os vínculos, os lugares, as aprendizagens até aqui. A união dos dois é o que me trouxe a Lisboa, acho que foi aqui que eles se aproximaram. Penso que até uma certa idade somos aquilo que nos permitem ser, depois, vamos juntando estas permissões ao que queremos e, a partir daí, começamos a ser alguém. Lisboa talvez me tenha aproximado do que eu sempre quis de mim, esta cidade representa uma parte importante da minha formação.

Sei que salivas pela Lisboa underground. Partilha aí um pouco das tuas incursões. Sugere-me três espaços - podes esconder a localização e alguns detalhes, se forem sítios ilegais - que sejam mesmo de debaixo do tapete.

Salivo por Lisboa como um todo, por diversas Lisboa”s”, as que conheço e pelas que ainda vou conhecer. No fundo, penso ser isso o que mais me encanta na cidade, a possibilidade de sempre descobrir algo novo.

Sobre espaços, não sei se consigo falar só de 3, vou dizer 3 regiões de forma geral, para ser mais justo: Começo então a citar Alfama, por suas senhoras e senhores, pelo Tejo Bar e por todas as suas ruelas, becos e escadas. Logo, o Bairro Alto, pelo Esteves, pelo Estádio, pela ZDB, pelo Mob, pela mercearia da senhora açoriana - ali na Diário de Notícias, pela senhora das fantasias - na rua do Norte e pelo Baco Alto, onde se aprende sobre vinho como em nenhum outro lugar.

Por último, a Mouraria, pela Associação Amigos do Minho, pelo sapateiro/artista Baguinho, pelos restaurantes chineses e por umas tascas perdidas. Além destas três regiões, gosto muito da praça das Amoreiras e dos miradouros, enfim, difícil ter que escolher só três coisas.

Do mundo underground? O Incógnito é underground? (Ando desatualizado...)

E que fazes profissionalmente pela Lisboa das mil colinas?

Ultimamente, escrevo uma tese, estou no fim de um doutoramento, o que não tem me permitido fazer muito mais. Entretanto, também, participo da Revista (in)visível, projeto compartilhado com mais 5 pessoas; tento escrever para a Le Cool e, por vezes, faço correspondência para alguns media no Brasil, entre eles, o Portal Terra.

Ando a investigar quais os discursos sobre Democracia na imprensa popular portuguesa. O que anda pelas entrelinhas, quem fala mais sobre democracia. Bom, vou tentar resumir o que tenho visto até aqui... O jornalismo, de forma geral, esconde relações de poder e interesses que dificilmente são nomeados. Esta relação é quase sempre explícita, basta um pouquinho de atenção para perceber a que e a quem estes meios vêm. Pelo que tenho investigado, nessa “imprensa popular comercial” portuguesa, o discurso de alguns segue o padrão do jornalismo dito de “referência”. Entretanto, além da linguagem ser um pouco diferente, têm alguns exemplos em que é perceptível uma abertura para diferentes perspetivas e discursos mas, na sua maioria, o que se observa é que os jornais ficam fechados numa perspetiva hegemónica, conservadora (tanto política como religiosa) e totalmente vinculada aos representantes e empresas que atualmente mandam no país.

Uma das coisas que foi interessante observar, foi que um dos jornais que investiguei se assemelha ao parlamento, ele só dá voz a quem tem por lá cadeiras, e quantas mais cadeiras, mais espaço e autoridade ganham. Outra coisa que também é muito explícita, é a forma como os movimentos sociais são criminalizados, por vezes de forma bruta e completamente fora da realidade. No geral, no jornalismo não há um amplo debate sobre democracia e nem sobre suas “estruturas”. Há uma perceção sobre a política que considero, estrategicamente, básica. Digo estrategicamente, pois hoje o compromisso do jornalismo, de forma geral, é com os seus patrocinadores, os leitores são meras estatísticas.

Agora a pergunta que se coloca, achas a política em Portugal de rir ou de chorar por (de)mais?

Acho que não só a política está de chorar, mas também a estagnação, o conformismo e a falta de mobilização. É desesperante que um país se permita o que tem se passado. É uma violação, não somente por parte do governo, que é sim o principal responsável mas, também, da iniciativa privada, que tem lá os seus assentos no parlamento, encaminha o país para uma gerência que atenda aos seus interesses e de uma parcela da população que fica no “deixa estar”. Acredito que não é possível insistirmos num sistema falido, feito para uma minoria. Não acredito nesses governantes que mantém uma política opressora e discriminatória, a gerir o país nesta lógica economicista que faz sentido e traz benefícios a poucos. Acho que a hora é de mudanças, não só de governo, mas, também, de paradigmas.

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