Le Entrevista a Ursula Meier por Edna Ladeira

Para os nossos leitores que ainda não conhecem o "Sister" [Irmã], de que trata este filme?

"Sister" conta a história de dois irmãos que se amam, mas que na realidade não conseguem demonstrar esse amor um ao outro. 

Vivem de um modo anarquista, compõem uma família sem princípios porque ele rouba e ela, que é demasiado nova e vive completamente fora das regras da sociedade, não lhe ensina os valores correctos. Eles vivem no vale industrial de uma estância de ski e o rapaz sobe, todos os dias, à estância para roubar material muito caro e voltar a vender para ganhar algum dinheiro. É nessa estância que ele vai encontrar mais do que estava à espera e que vai viver coisas que o vão por em conflito com a irmã… E mais não posso contar… este filme é um conto de fadas sobre o mundo contemporâneo.

Enquanto realizadora, qual foi o objectivo em dirigir este filme?

Houve duas preocupações fundamentais quando pensámos em criar este filme: mostrar as diferenças sociais do mundo contemporâneo em que vivemos, e que que são mais visíveis dia após dia; e demonstrar que é preciso haver amor para sobreviver. Quando este rapaz tenta sobreviver na estância de luxo, encontra alguém – o fantasma de sua mãe – que vai ser muito importante para ele porque é a esta relação que vai buscar o amor que o ajuda a ultrapassar as dificuldades sociais que vive. Esta é uma história que podia acontecer em qualquer lugar.

Então este filme fala de valores contemporâneos?

Sim, claro. Estamos a passar por uma crise económica mundial e acho que foi por isso que as pessoas ficaram tão sensibilizadas com a história, que mostra duas visões opostas face ao sistema em que vivemos hoje em dia. O rapaz percebe muito bem como funciona o capitalismo, entende como este mundo funciona e tem o objectivo de conseguir fazer parte do mesmo. A irmã é o oposto. Não confia na sociedade em que vive, e também não quer ser ajudada. Nenhum trabalho a deixa satisfeita. Por isso, estas duas personagens representam as duas posições que existem no mundo capitalista, onde as pessoas tentam sobreviver, mas vão deixando de acreditar nos seus governos. Estão desiludidas com a corrupção e com as políticas económicas.

Como foi ganhar o Urso de Prata no Festival de Berlim? O que achas que cativou o júri em "Sister"?

O júri fez um discurso incrível sobre o filme, o que me deixou muito comovida. Acho que gostaram particularmente da forma como contámos uma história que podia ser real em qualquer lugar, mas como um conto de fadas. Ficaram sensibilizados com o argumento (a singularidade da história), a fotografia (as belas paisagens da Suíça), a música e, não menos importante, a qualidade dos actores.

Como está o panorama da indústria cinematográfica franco-suíça?

Nós temos muita sorte, porque em França há muito apoio financeiro para o cinema, ao contrário de Portugal, infelizmente. E embora seja um país pequeno, a Suíça está a assistir agora ao nascimento de uma nova geração de realizadores que vêm preencher uma lacuna que existia. Há muito documentários importantes suíços, mas vê-se pouco cinema de ficção ainda. Mas o panorama está a mudar e brevemente espero podermos ouvir falar mais do cinema deste belo país.

O que tens a dizer do cinema português?

Gosto muito do cinema português, acho que tem grande qualidade, mas tenho pena que não haja tanto investimento no cinema em Portugal. Conheço realizadores como o Miguel Gomes e o Pedro Costa e acho que têm feito um belo trabalho.

E Lisboa, que tal?

Adoro Lisboa! Adoro Lisboa! É a minha cidade preferida na Europa! É uma cidade tão melancólica, tão bonita, tão preservada…

O que é que já viste, que locais não deixarias de sugerir?

Bem, não tenho ido a locais turísticos, prefiro ver a cidade de outro ponto de vista… gosto muito de andar, ver as ruas, o rio… gosto muito de ver Lisboa do outro lado do rio, há um spot em Cacilhas que recomendo vivamente. Chama-se Ponto Final e tem uma vista linda para Lisboa.

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