Na rua tal há uma pacata residencial com nome de cidade ancestral. Ou “a
pensão do coração” como lhe chama o patrão da menina Assunção.
Há uma lojeca de ortopedia moderna, com imagens de morfologia externa e uma prótese de perna.
E depois há um velho baeta forreta (que ao que consta também é
proxeneta) promete penteados aperaltados e rostos bem escanhoados, por
uma nota preta.
Vizinho da velha garagem da Castrol, onde se vê futebol ao lado do calendário de uma tipa nua, só de cachecol.
O alfarrabista fez-se à pista para se dedicar ao comércio de alpista ou
para ser artista (já não sei). Livros sobre educação sexual, manuais
para o estudante mais anormal, literatura ocidental, o almanaque animal e
até o folhetim imoral, esperam novo dono com capital.
A cabeleireira Tila, é dona tranquila mas tem um filho reguila que aniquila a freguesia que ela depila com cera de argila.
Só falta a boite profana, onde o Aníbal conheceu a Ana, essa cinquentona balzaquiana, ex-paroquiana ovolactovegetariana.
E a tasca da esquina, onde a cozinheira é uma marroquina albina e franzina, que faz ordinarices em plasticina.
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* Originalmente publicada a 15 de Abril de 2010, na Le Cool Lisboa * 235
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