Nian Canard nasce do reflexo de um acrílico espalhado pelo meio da multidão. Feito de camadas fotográficas inspirou-se na vida frenética de Nova York para desenvolver o seu olhar pela cidade. Especializou-se em fotografia de moda no ICP em NY e voltou para Portugal, onde agora se encontra.
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Numa cidade onde a natureza emerge do betão e os tijolos empilhados são o
nosso habitat; esta fusão, resultado de uma urbanização, faz parte das nossas
memórias do quotidiano?
Por muito que um mesmo caminho seja feito vezes
sem conta, a memória pouco retém da calçada que pisamos, o riacho que
atravessamos e que certo arranha-céus ocupou o lugar de várias árvores
centenárias, transformando-se em objetos que servem para servir o Homem,
como por exemplo um relógio de cuco, exposto num museu; desta forma será
contemplado, sem vida.
A série de trabalhos “A Arquitectura da Natureza”, teve como ponto de partida a
vida frenética de Nova Iorque, um contexto de carros que passam aos milhares
no mesmo sentido, no horizonte o tijolo antigo, o cinzento e o ruído amarelo dos táxis, que se fundem com o azul índigo de final de tarde que se escapa por entre
prédios.
A famosa Broadway, onde perduram os musicais vibrantes, os néons de
cores e luzes vibrantes, uma paleta e uma euforia que se estende por vários
quilómetros, quebrada apenas pela interseção de certas avenidas numeradas.
Chegando ao final, tange com o sentimento pesado presente no Ground Zero, mas
entre o qual a vida acontece ao segundo.
Em Grand Street a realidade era diferente; transeuntes frenéticos, numa
corrida de pensamentos com o destino em mente, intercalados por outros
despreocupados com o tempo, mas consumidos pelas montras aliciantes,
procurando algo para os satisfazer, engolidos pelo consumismo.
Naqueles segundos, o tempo parou no pôr do sol, coberto pela paisagem; o ruído
dos veículos agarrou todos os cheiros e fumos, evaporando-se pelo infinito.
A
multidão ficou inerte, sem vida perante o silêncio.
É nesse exacto momento, através dos reflexos de um vidro, a arquitetura
fundiu-se, o urbano, a vida da cidade, a natureza, os ramos são agora
indissociáveis de varandas e as heras crescem para ser os muros que as
suportam juntamente com os troncos que as unem por colunas inquebráveis.
É este momento que está presente na série da arquitetura urbana, os layers
que se fundem por entre cimento e elementos orgânicos em contexto urbano.
Uma pausa, como se a cidade respirasse por momentos e tudo que a compõe
se tornasse num único elemento. A questão presente nesta série fotográfica
é relevante para um contexto que não nos pode ser indiferente. Uma arte em
contexto, um “não vazio” que nos dá uma sensação de liberdade infinita, captada
por um momento único num frame de segundo. Isto é o nosso contexto, até que
ponto tudo se irá fundir, ganhando outra aparência?
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