Le Entrevista a Valéria Carvalho por Rafa.El
Nasci no interior de Minas Gerais, Brasil e a dança foi a minha primeira forma de expressão artística. Há 20 anos atrás vim para Portugal com uma mochila cheia de sonhos nas costas. Ao longo deste tempo muito trabalho e dedicação, sobretudo na TV, fez-me ficar mais conhecida do grande público, mas o teatro é o meu veículo, paralelamente à formação e ao trabalho de intervenção artística na área social.
Quanto à peça em cena na Comuna (Chico em Pessoa, já passado) e que se inclui na celebração do seu quarto decénio, que aconteceria de facto se se encontrassem tantas personagens - os Pessoas e as mulheres de Chico? E os dois, se se encontrassem, haveria frutos daí?
Penso que na peça o encontro entre Chico Buarque de Holanda e Fernando Pessoa, é um "casamento perfeito", as mulheres de Chico e a consciência de Pessoa que pontua cada uma delas, na vida real seria interessante, quem me dera estar presente!
Qual foi o processo de trabalho envolvido na encenação/interpretação, suponho que envolva a leitura e a audição de muito do legado dos dois autores?
Foi um processo de absoluto "desfrute", eu cresci ouvindo Chico Buarque, ele faz parte da minha própria história de vida. Através da sua obra, eu tive consciência do meio onde estava inserida, e o Pessoa foi chegando até tornar-se o meu "livro de cabeceira". O meu encontro com o encenador Carlos Paulo, um gigante da representação em Portugal, surgiu desta mesma afinidade, ele é um "especialista" em Fernando Pessoa e um grande admirador do Chico. Por isso, já contávamos cada um com a sua "bagagem". Foi um prazeroso rever e criar o "puzzle".
E identificam muito de pessoal nesta investida por dois dos maiores agentes culturais daqui e de lá? Sem dúvida.
Agora que passou uma semana de atuação no Teatro da Comuna, qual tem sido a aceitação do público e a sua reação?
A aceitação tem sido total, acho que as pessoas vão ao espetáculo sem nada "pré concebido" e saem a dizer que vão com outra compreensão das músicas e dos textos, gostam muito da simplicidade e eficácia da encenação e da interpretação. E que sentem um prazer enorme de poder entrar em contato com as obras desses dois génios, Chico e Pessoa.
Esperamos que o espetáculo vá amadurecendo e que estas mulheres vão ganhando cada vez mais presença.
Gostava que lançasse um convite para que assistam à peça, em jeito de provocação que ficaria bem dito da boca de um qualquer heterónimo.
"Há um tempo, em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares, é o tempo da travessia e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos", por isso venham ver o "Chico em Pessoa" e reconhecer que existem estes novos caminhos.
Que lhe parece Lisboa? Está bem e recomenda-se ou tem um resfreado cultural? Parece-lhe que não haveria melhor cidade para aquela Pessoa? E que Buarque nasceu por engano fora daqui, quando esta metrópole lhe assentaria tão bem?
Eu amo Lisboa, uma das cidades mais lindas do mundo, nenhuma outra me dá tanto prazer caminhar por suas ruelas, sentar à beira do Rio, com um bom vinho, pão alentejano e azeitonas com muito azeite, cebola e alho.
Uma cidade multicultural, onde se mistura que quer nesta Lisboa que não vem nas "agendas culturais", mas que é rica e fervilha de sons, cheiros e sabores. Lisboa sabe a Pessoa, como o Rio a Chico, com seus personagens suburbanos e controversos. Quanto mim fiquei no meio do caminho... Tanto mar...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário