Marcos Farrajota apresenta-se como unDJ MMMNNNRRRG no Jazz em
Agosto 2012, dia 7 de agosto no Teatro do Bairro, logo depois da atuação
de Nuova Camarata. Um set de Dj acaba por ser o motivo para nos
lançarmos em conversa com uma pessoa que se expande por muitos outros
universos de criação.
Quem não é o Marcos Farrajota?
Quem não é? Pá, isto começa mal, não? (risos) Não faço ideia, essa pergunta é um bocado bizarra.
Para já, uma coisa que não sou, é nacionalista. Essa é assim a coisa que me lembro de repente. Odeio bola, odeio qualquer fenómeno nacionalista. Não sou religioso, não sou católico. Definitivamente não sou católico. Não sou consumista.
Não
sou coleccionista, pronto. No sentido clássico de todos os números
daquela revista ou da discografia completa não sei de quem. Isto foi a
dissecar no sentido inverso.
Nos tempos que correm, sobretudo neste país à beira mar plantado, ser míope pode ser um segredo para a alma de um negócio?
Caramba, fazes as perguntas ao contrário!
Se
estás a dizer que quando acreditas numa coisa e queres levá-la avante e
depois ela pode transformar-se num negócio ou, pelo menos, numa
situação rentável qb para manter essa estrutura, então tens toda a
razão.
Desde que eu comecei a fazer fanzines em 92, até
chegar agora em que tenho duas estruturas editoriais para gerir, fora
outras coisas em que estou envolvido, sem dúvida que isso... se tivesse o
tal olho na terra dos cegos, não sei se seria muito feliz. Porque,
apesar de tudo, acaba por ser uma fórmula. E isso não tem tanto
interesse quanto isso. Eu vejo que há pessoas que ficam felizes quando
descobrem um género musical e o transportam para o país plantado. De
repente pode ser giro gerires uma empresa. Ou uma situação qualquer de
dubstep ou de garage. Mas depois queres passar o resto da tua vida a
ouvir garage e dubstep?
Acho que isso é estares fechado num business e não fazeres coisas que não são livres.
E entre o Porto e a Barceloneta da treta, é a massa cinzenta que prevalece?
Andaste a ler alguma coisa? (risos)
Os
últimos rumores dizem que o Porto se está a degradar de alguma forma.
Há aqui algum descalabro entre as duas cidades, entre Lisboa e Porto.
Como é que de alguma forma o Porto conseguiu regenerar toda a falta de
vida que aquilo criou, com o fim da Ribeira, com a fragmentação da vida
noturna, a falta de apoio na vida cultural. E a maneira engraçada e
pujante como surgiram coisas que são mais interessantes do que acontecem
em Lisboa, definitivamente. Lisboa, por ser a capital, por estar perto
das fontes de interesse, no caso dos media, das editoras, criou
nitidamente fossos. Hypes em torno de uma série de coisas que no Porto
tu não sentes. As coisas lá são muito mais sinceras, são mais sentidas,
mais fortes, mais estruturadas, a nível intelectual, mental, a nível
estético, tudo.
Agora, ao que parece, aquilo está um pouco
a apodrecer, ao que parece. Não tenho ido lá muito regularmente, mas
tenho contactos com as pessoas de lá. E acho que lá fazem um trabalho
muito mais interessante do que em Lisboa.
Se não tiveres o
mínimo de esperança na humanidade, seja em Lisboa ou no Porto, ou no
Ceilão, mais vale cortar os pulsos e acabar com isto tudo. Eu acho que,
definitivamente, a estrutura arquitetónica de Lisboa levou a um modelo. E
o Porto é completamente diferente. Isto acontece em quase todas as
grandes cidades europeias. Tens uma cidade menos interessante que é a
capital. E a segunda cidade é a mais interessante. Porque é mais barata,
por isso mais artistas vão lá parar porque têm menos dinheiro.
Nitidamente,
Paris não tem piada nenhuma, nem Madrid, nem Londres, versus Marselha,
Barcelona... se bem que Barcelona eu odiei aquilo, mas isso é outra
história. Mas supostamente isso também aconteceu com Lisboa e Porto.
Lisboa é definitivamente cara, é uma cidade turística. Obviamente, quem
faz comércio cultural faz espetáculos menos interessantes, mais caros. E
no Porto, havendo mais artistas pobretanas, criaram-se estruturas bem
mais interessantes.
Quem quiser ir ver Guns'n'Roses a um
grande estádio, bem pode ficar feliz com o Rock in Rio. Mas eu prefiro
concertos mais intimistas. Eu prefiro ver concertos no Porto. Também há
concertos intimistas em Lisboa, também é possível de vez em quando, mas
[a cidade] parece-me menos rica.
O teu trabalho tem sobretudo incidido na BD e nas fanzines. Dentro desta área, em que projectos estás envolvido?
Os
fanzines, quase que não os faço. Porque como as estruturas cresceram,
adoptaram o aspecto de livro, publicações mais profissionais, no sentido
mais formal. Obviamente que o espírito é mais pela liberdade. Um livro é
um livro, não vais escrever um editorial doido. Não podes criar
secções. Não podes criar a mesma coisa do que numa revista amadora, como no caso dos
fanzines, não é?
Mas mantém-se essa mesma ideia de
sempre, a de editar as coisas que sejam um bocado reação ao que as
pessoas estejam habituadas. Já me aconteceu ver livros ou ver situações
em que se calhar não me apetece, quer dizer, eles não foram publicados,
não foram editados ainda por ninguém, mas eu acho que alguém vai pegar
neles, e não preciso ser eu a pegar neles, porque não são assim tão
difíceis quanto isso. Embora muitas vezes estas coisas também não sejam
assim tão claras.
Também não existe “quase nada”, no caso
da banda desenhada em Portugal, o mercado implodiu. Se calhar a dada
altura também há coisas que publico conforme os projetos, se é Chili Com
Carne, ou é o caso da MMMNNNRRRG. No caso da Chili Com Carne, como é um
projeto mais coletivo, se calhar há mais essa onda, essa situação de
publicar coisas mais “facéis”, e o caso da MMMNNNRRRG, é assumidamente
uma coisa diabólica. (risos)
Sobre isso, já lá iremos mais à frente.
Porque
achas que há uma certa resistência quanto ao teu trabalho: serão os
desenhos, a cor, os diálogos, a mensagem que queres transmitir?
Bem,
pode haver dois tipos de resistências em relação ao meu trabalho, em
especial como autor de banda desenhada, sim. Primeiro deve ter a ver com
um facto meramente económico, uma estrutura pequena, não consegue
colocar livros, aqui e acolá, não tem facilidades, não há distribuição.
Depois assim, obviamente a banda desenhada tem uma tradição popular, um
tipo de banda desenhada autoral não é facilmente compreendido,
compreensível cá em Portugal e mesmo no mundo; lá fora, no resto da
Europa, noutros paíse.
Nos Estados Unidos e em França, concretamente ao nível mais autobiográfico, teve outro impacto?
Há
fenómenos, há situações, é verdade. Mas não te esqueças que uma massa
livreira, vais reduzir isso para uma massa de banda desenhada e depois
da banda desenhada, ainda vais reduzir para autoral. E depois claro, há
roturas. Há pessoas que conseguem passar isto tudo e passar para um
mercado livreiro grande, como a [Marjane] Satrapi, como aconteceu com o
Joe Sacco e alguns outros nomes. Conseguiram romper fora do guetto da
banda desenhada. Conseguiram fazer isso!
Mas o Joe Sacco tem um trabalho, o Palestina…
Palestina.
No início aquilo estava a sair em fascículos, em comic books nos
Estados Unidos para uma editora pequena, para uma dimensão de mercado
livreiro dos Estados Unidos. E ele conseguiu romper, obviamente o tema
fugia às fronteiras normais da banda desenhada da diversão e do
entretenimento, do escapismo dessas coisas todas, não é? Obviamente
aquilo depois começou a ter uma direção e um impacto sobre outras
situações, nomeadamente sobre o jornalismo.
De repente, os
jornalistas começaram a olhar também para aquilo; já ninguém faz
jornalismo como este gajo faz e ainda por cima é banda desenhada. Por
isso, há excepções à regra. Cá em Portugal o Joe Sacco vendeu bastante
bem. Nenhuma livraria ou mesmo uma distribuidora de livros consegue
perceber o que é banda desenhada logo à partida, mete nos
infanto-juvenis, só para começar. Coisas a preto e branco, epá, o que é
que a gente faz com isto. Depois, se calhar esta é a parte mercantil da
coisa, a nível artístico ou da cena do pessoal da BD, há uma tradição
muito antiga da banda desenhada, dessa banda desenhada comercial,
tradicional, que obviamente, se estás a fazer um trabalho intimista,
autobiográfico e isso tudo, as pessoas não acham piada, porque não tem
personagens, porque não tem murros, não tem cuequinhas fora das calças,
não tem mamas à mostra e grandes armas. E essas coisas tornam-se um
bocadinho mais difíceis dentro desse parâmetro.
Depois,
pronto, ok, não desenho como um virtuoso, um desenho comercial. Pronto,
então o Marcos desenha mal, pumba! Há sempre esse estigma. Epá, até
contas histórias giras, mas desenhas muito mal, tens que apanhar com
essa história e realmente, depois curiosamente, foram pessoas mais fora
da área da BD que têm gostado do meu trabalho e foi assim desde o início
em 92, quando comecei a fazer zines. A minha ideia dos zines, não era
vender aos cromos da BD. Era sempre ir para bares, concertos, festas,
etc, e trocar por cerveja, ou o raio que o parta e mostrar a pessoas que
nunca leram banda desenhada, sem ser o Asterix, ou os X-men ou o
Manara. Ler outro tipo de banda desenhada que se calhar tem a ver com a
vida delas e com as vivências delas. Coisas que estragam uma mais valia
qualquer.
Não, mas essa coisa de se dizer que não
gosto do tipo de desenho que ele faz, não tanto o tipo de desenho, mas
dizer que não sabe desenhar. Isso é muito comum veres aí nas exposições,
estarem aqueles quadros minimalistas com um traço e entrar ali um gajo e
dizer, isto também o meu filho faz. Não faz!
Não faz!
Não
faz, não estás dentro de um conceito e do processo criativo do autor e
em segundo lugar, esquece-se que o autor fez aquilo, não porque não
saiba desenhar, mas faz aquilo que tu nem imaginas.
No
caso do pessoal da banda desenhada querem sempre a tabela que já está
instituída que é a da diversão e do entretenimento. Querem lá ler coisas
que tragam um pensamento e reflexão.
O íntimo sempre incomodou, não é?
Exacto!
Eu não estou a dizer que os meus temas sejam intelectuais, nada disso.
Mas se calhar tem a ver com essa questão da intimidade que incomoda,
pode ser por aí.
Arte Bruta para brutos? É assim?
Não,
a, a MMMNNNRRRG é só para gente bruta, é o nome do slogan da
MMMNNNRRRG. É um slogan que inventei. Tive um fascínio pela Arte Bruta,
pela arte outsider e achei a dada altura que os planos que tinha das
minhas edições pela MMMNNNRRRG eram realmente pessoas fora, a maior
parte deles estavam assim em terra de ninguém, ou seja, por um lado, ou
porque não eram comerciais, não eram, comerciais para os comercias, não
eram alternativos para os alternativos, existia uma terra de ninguém e
achei que era um bom slogan. Apenas. Mas tenho um fascínio obviamente
por trabalhos que não se enquadrem em géneros.
Quem são as tuas grandes influências e preferências na BD, além de Igor Hofbauer de quem também gosto bastante.
O
Igor é muito recente. Se fossem influências tinha que ir muito para
trás. Talvez aquela que faz uma separação entre a fase da puberdade, a
adolescência e a fase adulta, uma revista, que era uma revista
brasileira, a Animal.
De São Paulo?
Eu
acho que era, mas não tenho bem a certeza disso. Foi no final dos anos
80, princípio dos anos 90, que ela fazia uma espécie de um best of, do
melhor que havia nos Estados Unidos, na Europa e no próprio Brasil. E a
revista tinha um teor muito forte, sexo e violência, que obviamente te
anima quando tens 16 anos (risos).
Mas não só, porque a
revista [tratava de] casas ocupadas, pornografia bizarra, serial
killers, temas obscuros, ou de uma forma, numa época pré-net,
nitidamente obscuros, não podias imaginar, sei lá, gajos que gostassem
de gajas para cima dos 50 anos, ou que houvesse casas ocupadas na
Holanda. E isso trouxe-me muito, eu era um puto muito fechado, muito
fechado no seu mundo, muito suburbano, de tudo, e de repente tive assim
uma cacetada de informação, não só de banda desenhada, mas de toda a
cultura underground que eles divulgavam imenso na revista. Foi qualquer
coisa de estonteante. A revista tinha várias coisas, tinha
hiperrealismo, mesmo a nível estético, ao nível do Rank Xerox, como
tinha coisas completamente rock, completamente rupestres de desenho,
como o caso do Fábio Zimbres, que era o diretor dessa revista, com um
desenho sujo e errado.
Curiosamente conheci-o há 5 anos,
quando ele esteve cá em Portugal, e tive por acaso até um teenager wet
dream (risos), ele gostou do meu trabalho e chegámos a fazer uma
bedesinha de 3 páginas. Mas foi assim uma cena um bocado, como o
encontro com aquele teu pólo de influência. Sem saber quem era o editor e
não me passava assim muito pela cabeça, chegar ali, conhecê-lo e
chegarmos a fazer uma coisa em conjunto, é assim uma coisa engraçada.
(risos)
A autobiografia em BD é um campo de que
sempre gostaste. Um dos melhores exemplos disso foi um trabalho teu,
editado nos anos 90, “Noitadas, deprês e bubas”. Atualmente, também
estás a fazer uma cobertura para a revista Jazz.pt no âmbito do Xjazz.
Porquê, o que te move tanto?
Comecei a fazer
autobiografia porque tive essa necessidade, quer dizer, apanhei um
modelo ou outro, percebi que era possível fazer, tive contato com
autores norte-americanos que faziam e comecei a trabalhar por aí porque
tinha essa necessidade, de contar histórias, amores de verão, drogas e
afins.
Atualmente, houve assim um período meio esquisito
porque deixei quase de fazer. Porque essas produções ainda foram
grandes, era universitário, e os universitários como sabes nunca estudam
(risos), fazem outras coisas. E eu aproveitei de alguma forma, e fiz
outras coisas, que depois mais tarde compilei em livro. Depois houve
assim um período, em que tive assim uma encomenda ou outra, de trabalho
ou participações em antologias e fiz umas coisas, mas sempre coisas
curtas.
Só recentemente, o ano passado, é que voltei à
carga com um trabalho assim maior, este que te estive a falar, que ainda
nem sei bem o título, mas que tem assim a ver com estas questões do
colecionismo, da posteridade, blá, blá, blá, dessas coisas do
colecionismo e essas envolventes. Mas houve um período em que
desenvolvi, não sei se podemos chamar assim, reportagem, de alguma
forma. De críticas a discos, críticas de concertos ao vivo, que espalhei
algumas revistas e fanzines que havia na época, ou aconteceram.
Isto
que aconteceu com a Jazz.pt foi apenas a continuidade. O Pedro da
Jazz.pt/JACC/Xjazz falou-me no projecto Xjazz, para fazer qualquer coisa
com ele. Acho que também não sabia muito bem o que é que queria, mas
tudo bem, e eu encaminhei logo para essa situação. Vamos lá ver as
coisas, vamos relatar o que é que aconteceu em banda desenhada, pronto.
Não há assim grande mística.
O colecionismo incomoda-te, essa repetitividade?
Incomoda-me
a dois níveis. O primeiro, o colecionador obsessivo, que coleciona as
coisas sem olhar para elas de forma alguma, apenas porque é o número 1
ou apenas porque quer mais e isso é um bocado estranho. Embora depois
possa reconhecer o valor que possa ter a nível histórico, não é? De
pegar em coisas, sei lá, que as instituições públicas não pegam. E cá em
Portugal não houve nenhuma instituição pública que pegasse na história
do rock, na história do jazz ou coisas assim do género. Pronto, isso tem
o seu interesse obviamente, mas é sempre uma espécie de amor ódio sobre
essas criaturas que acumulam todas as coisas (risos).
Depois
é uma questão pessoal. Desde miúdo, desde que me conheço, sempre
colecionei coisinhas, é verdade, e depois começo a olhar para elas,
porque é que eu tenho estas coisa todas e de repente não faz sentido. Só
me considero colecionador de coisas que eu gosto mesmo, não sou capaz
de colecionar uma revista inteira, todos os números, só para ter todas,
se calhar só vou colecionar os números que eu gosto. Há casos e casos,
depois é completamente diferente. Mas não consigo fazer discografias
completas. Se calhar há situações que vale a pena, mas não sei, isso
leva tanto o teu tempo que não sei…
Mas gostas que
os teus seguidores, aquelas pessoas que te seguem, que compreendem o
teu trabalho, que dão valor ao teu trabalho, que tenham todo o teu
trabalho, façam questão de ter todo o teu trabalho? Como é que vês isso?
Epá,
nunca pensei nisso. Porque para já está tudo tão fragmentado, nunca
pensei nesse sentido. Acho difícil elas conseguirem fazer porque as
coisas estão tão fragmentadas que de repente faço uma tira para um
jornal na Finlândia, depois faço um fanzine completamente obscuro de 100
exemplares, uma coisa assim do género, como é que as pessoas conseguem
colecionar isso? Se houver algum gajo assim, ele é doente, mas pronto.
(risos). Tem que ser mesmo um fanático. Eu espero que isso não aconteça,
porque qualquer coisa está errada, nele ou em mim! (risos)
Fala-me
um pouco sobre a Mesinha de Cabeceira, a Associação Chili Com Carne e a
editora que criaste para “Gente Bruta”, a MMMNNNRRRG.
Pá,
são coisas muito diferentes, porque obviamente o Mesinha de Cabeceira
era a génese de quase todos os outros projetos. Foi uma fanzine que eu
comecei a fazer em 92 com o Pedro Brito, fotocópia, reação contra a cena
da BD que havia nesse período. Um esquema em que eu não me sentia à
vontade para desenhar, o Pedro para contar, para escrever histórias,
estávamos dessa forma, estávamos fascinados com a cultura punk, com a
cultura alternativa, que também emergiu muito nessa altura, é isso. E
fazer um fanzine só de BD não significava nada, se não pudesses pôr uma
vida lá dentro, é claro que a vida passava pela música, passava por essa
cultura toda que estavas a descobrir, arquitetura, colagem, a música, o
cinema, a poesia etc.
De repente fazia sentido fazer um
fanzine que eu, até ironicamente, lhe chamo assim uma espécie de punk do
quarto. Não é, bedroom punk, não é? Meio assim, uma coisa tipo nerd,
mas de gajos que se acham que estavam tão iluminados naquela altura, não
sei. Pronto, obviamente que esses números que foram saindo, 8, 9 etc.
depois foram transformados, não num fanzine. Mas as pessoas estavam à
volta.
Criar uma estrutura, o caso da Chili Com Carne, que
é uma associação, legalizada, para justamente poder fazer livros,
vender livros, fazer as faturas, poder fazer essas coisas todas chatas,
conseguir apoios. Criar uma estrutura que tivesse mais impacto
obviamente que os 100/150 fanzines dentro da mochila e depois vais para
um bar, difundi-los. Pronto. Transformar a coisa mais séria, obviamente
um fanzine não vai para uma biblioteca nacional, não é colecionável.
O
caso da MMMNNNRRRG, foi mesmo uma situação que eu vi, pelo menos três
casos, o caso do Janus, do Mike Diana e do Christopher Webster, que
tinham trabalhos que eu achava piada, continuo a achar que são
fabulosos, os gajos tinham editado em fanzines aquilo. Daqui a 100 anos,
ou menos do que isso, parece, se olhasse de repente para a banda
desenhada portuguesa ou mundial - realmente a portuguesa não me
interessa assim tanto - de grosso modo pelo mundo inteiro, parecia que
de repente, no caso português especificamente, parecia que eram todos
uns chatos de primeira apanha. Quando havia pessoas como o caso do
Janes, que tem um trabalho, que retrata o bas fond portuense, com uma
pujança inacreditável, aquilo nunca iria desaparecer, não havia retrato
do que é as putas, vinho e Ribeira. Todo aquele espectro social
fortíssimo, isso não ia existir nunca em lado nenhum. Talvez num livro,
talvez num documentário, num filme, ok, mas em banda desenhada nunca
iria existir. Tudo o que iria existir era umas coisas que eu não vou
falar para não arranjar problemas (risos).
Mas podes falar à vontade (risos)
Mas não quero.
Voltando
um bocadinho atrás, eram situações que me angustiavam seriamente.
Daquelas fotocópias foram feitos poucos exemplares, iam desaparecer.
Pelo menos quando fazes um livro tens um depósito legal, onze, catorze
livros, vão parar a bibliotecas, vão parar à biblioteca nacional, vão
tocar às bibliotecas de todo o país e tu já não podes apagar essa
história que existe, já ninguém pode dizer, ah, não há nada sobre,
novamente, sobre o Porto, naquele espectro social não existe. Não, não,
existe, está aqui, está provado que existe. (risos).
E
isto obviamente, depois pode passar para os críticos, historiadores,
pelo mercado. Agora pelo facto de teres um livro é colecionável e um
gajo pode dizer: senhor historiador, o senhor está enganado, eu tenho um
livro (risos), que mostra.
Mas isso depois também tem a ver com a sensibilidade do historiador em dar credibilidade a essas histórias.
Mas
isso são outras questões. Não podes apagar este registo, isto é nítido,
é óbvio. Não podes esquecer que houve outras vertentes, outros sentidos
para além do bonequinho bonitinho, narigudo à Spirou, ou bonequinho
vou-te partir esses dentes todos. Porque isso existe, isso é o normal de
existir no mercado. Mostrares outras coisas é um ponto de honra (risos)
O
mundo em que vivemos é o melhor lab para as nossas experiências
expressivas enquanto artistas. Que mais te motiva na expressão do teu
trabalho enquanto autor independente que tanto privilegias?
Estava
a tentar lembrar-me de exemplos mas, depois no final, é a vida em si. É
tipo, há coisas que encontras por mero acaso, é a descoberta, não é?
Tipo, estás numa situação completamente chata, e de repente acontece uma
coisa engraçada aqui no meio da rua, isso pode ser interessante para
relatar, pronto.
Agora, também não procuro um motivo
propriamente para criar. Embora agora, quando estou a tratar destas
questões do colecionismo e, por exemplo, fui procurar uma série de
livros que tratassem um bocado sobre o tema. Andei aí maluco atrás dos
Paraísos Artificiais do Baudelaire, porque eu lembrava-me quando li
aquilo, sei lá há quantos anos. Lembrava-me duma frase que sempre me
marcou. E fui buscar esse livro passados 17 anos, à procura dessa frase,
para ver se aquilo ainda fazia sentido. Basicamente, era uma alucinação
qualquer, em que dizia [algo como]: sou um artista, um criador
qualquer; criar um objeto e em seguida queimá-lo, porque ele já existiu
no mundo, pronto. (risos).
Tu podes ter aí um gajo
milionário a comprar todos os carros para mostrar daqui a alguns anos,
deste modelo ou de outro, mas pode haver um grande incêndio e o gajo
ficar sem a coleção para sempre (risos). Mas claro, que aqui, isto era
muito mais poético, tinha apenas a ver com uma criação poética, que
depois podes destruí-la etc. mas andava com a dúvida desta frase e fui à
procura dela, como fui à procura de outras referências e depois de
estar a reler, encontrei ainda mais referências e voltei a procurar.
Quando
me mudei para um prédio há três anos, havia um apartamento ao meu lado
que estava completamente abandonado, estava lá com a porta escancarada e
estava lá tudo, tudo lá dentro, tudo. Como se as pessoas tivessem tido,
sei lá, um acidente de automóvel, que é o que eu penso, e que morreram e
que não tinham mais ninguém e aquilo ficou lá, anos ou meses, ou seja o
que for. E eu a certa altura comecei a ir lá com amigos, tipo
entrávamos lá para dentro, e olha que isto é muito giro. Levávamos uma
cadeira ou uns documentos, umas coisas, umas fotografias, coisas
vintage, se quiseres chamar ironicamente dessa forma, pá, e isso é
realmente uma história de vivência real, mas que tem obviamente também
uma estrutura por detrás. Pensar como é que estas coisas acontecem, o
que é que vai acontecer comigo se eu tiver amanhã um acidente de carro, o
que é que vai acontecer com as minhas coisas etc. É um misto, uma
espécie de autobiografia, mais ensaísta, (risos) menos miúdas giras,
vamos tomar uma droguita, oh, oh, (risos). Não, isso não, isso já
passou.
Quais são as tuas referências na arte?
Jesus Christ! (risos) Tira isso, tira o Jesus Christ. Estou a gozar contigo (risos).
Já sabes que nós não cortamos nada! (risos)
Não, estou a gozar.
Não,
Jesus Cristo, por acaso, fogo, estou sempre a ler coisas em volta ao
cristianismo, mas pronto. Há montes de coisas, coisas que nem sequer dá
para pôr num saco comum. Por exemplo, o caso da Arte Bruta, é assim uma
lufada de ar fresco há muitos anos e ainda continua a ser, pela
espontaneidade da criação.
Tu és dureza nas entrevistas! (risos)
Quando começaste a dar música?
A
dar música? Pois, eu acho que foi para aí 2003 ou 2004, depois da
explosão do electroclash, das tretas todas. Pá, vem-me assim à cabeça,
mas que caraças, tipo, está-se a falar muito do eletro, mas havia muitos
gajos assim de um rock industrializado e afins, que eu achava mais
interessantes, que a Peaches, e essas coisas todas. Então eu comecei
assim a meter, a fazer umas sessõezinhas com um nome ridículo, que era o
DJ Golden Shower, justamente a gozar com todo esse lado pop da
electroclash, que era só nomes escatológicos e sexuais.
E sobre a tua música, que me queres contar, além de muito scratch e ritmos do Médio Oriente?
Scratch, não! Eu não sei fazer scratch.
Não?
Não, eu não sei fazer nada!
Ok!
(risos)
Pá, no máximo ponho para aí três cenas a tocar ao mesmo tempo e vejo o
que é que aquilo vai dar, mas juro que é sem querer. Também faço montes
de erros (risos). A ideia é ser unDj, não, epá, pronto, claro que quero
dar o melhor que conseguir dar, mas pode correr mal, de alguma forma.
Não sou professional de nenhuma forma e tipo. Eu ambiciono apenas que
seja uma noite divertida para toda a gente. Porque o que eu acho, acho
muito esquisito, numa era em que tu podes ter acesso à música da Etiópia
dos anos 70 e ao rock do Cambodja dos anos 60 e não sei o quê mais,
quando tens acesso a todo este manacial de informação, basicamente a
tudo, porque é que estás sempre a passar o mesmo, exatamente as mesmas
coisas, sempre com o mesmo tema dos Pixies. Ao menos se fosse outro dos
Pixies, não é? Sais à noite e estás a ouvir sempre o “Here comes your
man.” Sempre as mesmas coisas, sempre, sempre, sempre.
Farto-me
de passar, por exemplo, o Macarena pelos Brujeria, ou passar os Nirvana
pelo japonês, o Dokaka, por exemplo. Acho muito mais divertido e
continuas a ter o mesmo feeling de alguma forma. Porque só vais dançar
aquela para te mostrares às tuas amigas (risos), mas tens um sentido de
humor, uma ironia, sobre a tua própria cultura que não precisa de passar
sempre pela mesma chapa cinco. Isso faz-me muita confusão. Quando
comecei a sair à noite, no princípio dos anos 90, era também a
descoberta das coisas, mas eu acho que fui assim a sítios que passavam
coisas muito mais variadas, que eu acho que nos dias de hoje, ou é um
pop dos anos 80, que é um vómito, uma nausea mesmo, não dá, foda-se,
como é que podemos estar ainda nos anos 80, tanto tempo ainda a
remisturar naquilo, para quê? Juro, não percebo, para quê? Não percebo
porque é que ainda há festas dos anos 80! E porque é que não há festas
dos anos 90 ou dos anos 10, pronto, do novo milénio, não percebo esta
obsessão pelos anos 80. Pode ter piada as noites especializadas, uma vez
uma noite só dos anos 60, uma vez uma noite só de afrobeat, ok, tudo
bem, isso é porreiro. Mas porque é que as coisas tem de ser tão
focalizadas nisso, porque é? Não consegues ouvir dub a noite inteira e
depois um gajo mete Slayer assim de repente. Isso já me aconteceu, faz
parte das minhas descobertas de querer ser unDJ, seja o que for, foram
para aí 2 ou 3 momentos fabulosos que eu assisti, pá, que me abriram
assim um bocado os olhos.
Porque eu sempre fui assim,
sempre gostei de ouvir coisas muito diferentes umas das outras, e à
noite ou numa festa nunca o pude fazer e de repente assisti, pelo menos a
duas situações, uma por acaso foi em Berlim e com uns gajos chamados
Errosmith, que estavam a passar só aquele ska, reggae dos anos 60, de
repente os gajos passam para Slayer, depois passam para Lydia Lunch, e
tu ficas assim, uau, fabuloso! Outro gajo, que infelizmente já não mete
assim tanto som como costumava pôr, era o João Mascarenhas dos Stealing
Orchestra, uma vez “contratei-o” para o lançamento de uma Mesinha de
Cabeceira. E o gajo de repente estava a pôr, o que é que eu me lembro,
Yma Sumac, Naked City, depois não sei o quê, uma coisa fixe, mais
ritmada, mais normal, de alguma forma, um rock pop. Essa capacidade de
todas as músicas são matéria para enfiares, para projetares para as
pessoas, quase não vês.
Nessa desilusão que eu te estava a
falar mesmo há bocado, por exemplo, os gajos do hip hop, só vão
samplar, blues e funky e jazz, ou então, os tenebrosos "expertos" de
música clássica, tipo aquelas orquestrações super pirosas. De repente
vejo os Dälek, e aqueles gajos estão a samplar noise e tu, fogo! E no
hip hop podes samplar noise (risos), podes depois pôr beats e voz para
não transformar aquilo em hip hop outra vez. Mas fogo, é esta falta de
imaginação. Epá, porque é tudo massificado. No dia-a-dia é raivosa esta
situação, daí que tenho uma raiva permanente em relação a quase todas as
coisas no mundo, que nunca fico satisfeito (risos).
Mas é
estranho, porque há 20 anos, pré-net e o caraças, eu diria que havia
mais abertura em casas comerciais, ou de diversão noturna, para passar
coisas que andavam em fronteiras. Eu agora também já refreio os cavalos,
também já não vou à procura de tudo, prefiro continuar, uma coisa quase
estúpida, quase anacrónica, que é tipo voltar a encontrar coisas, tipo
estar num alfarrabista ou estar numa discoteca e ver assim um CD que
ninguém quer, que está ali abandonado, com um aspeto, o que é que é
isto. Tipo, já ouvi falar nesta editora e levar aquela coisa (risos)
para casa, assim meia orfã, de certa forma e descobrir e criar uma
relação com aquilo, do que fazer uma descarga de vinte álbuns por dia ou
por semana e não conseguires ouvir aquilo, não teres nenhuma intimidade
com o que estás a ouvir e isso. Eu agora realmente comprei este livro,
epá, andei assim a ver montes, montes e se fosse colecionador andava a
ver números específicos para completar qualquer coisa. Mas não, isso eu
já conheço de alguma forma? A procura, ya, do desconhecido, que chavão,
não é? (risos)
Eu acho que os miúdos ouvem coisas, se
calhar, com muito mais abertura nos dias de hoje, que se calhar nós
jovens nos anos 90. Tu a dada altura, ficavas num raciocínio mesmo assim
género, é punk, é punk, e só oiço punk, não é? Devia ser uma raiva
contra as tribos urbanas e essas tretas todas e eu acho que os miúdos
mais facilmente ouvem um pop manhoso, e a seguir estão a ouvir death
metal lixado, grind, noise e isso tudo. Mas é estranho, havendo esse
público, que consegue só ouvir noise e ouve a pop mais assolapada do
mundo. Como é que tu sais à noite e não podes ter as duas coisas, as
três, quatro, cinco, dez coisas numa mesma noite? Talvez consigas se
fores a uma casa especializada, uma ou outra, mas não sei, faz-me um
bocado de confusão. Gosto de uma noite, ser surpreendido non stop, estar
a ouvir afro beat, estar a dançar com a miúda e depois, epá, e depois
vem uma coisa super macha, xunga, metal, para abanares a cabeça sozinho,
pobre diabo! (risos)
unDJ MMMNNRRRG, o que não significa?
É
uma onomatopeia que está num dos livros, no Christopher Webster, no
Malus. Um monstro qualquer a lutar e diz MMMNNNRRR. Pronto, e eu usei
isso para ser a minha editora. E recentemente, realmente há dois, três
anos, quando eu abandonei a infantilidade, do Golden Shower, (risos) foi
quando eu decidi. Ok, estou farto deste nome, até porque há quinhentos
gajos com o mesmo nome, um, dois, decidi, que ia deixar de tocar em
sítios com más condições, embora isso tenha voltado a acontecer. (risos)
Achei
que fazia parte de uma identidade, mesmo não, de não ceder uma ponta
sobre as coisas. Querem ou não querem, não querem, paciência, eu também
não tenho uma pretensão em estar aí num star system e começar a ser um
DJ aqui e depois começar a ir para acolá. Pá, é como a minha editora,
bruta!
Em que projectos musicais estás metido e com quem?
Não,
não, não estou, só aconteceram coisas sem querer, que não têm nenhuma
espécie de relação profunda, pronto. Fiz um spoken word e o gajo do
Stealing Orchestra fez uma música para uma banda sonora de um livro que
fizemos, “Futuro Primitivo”. Houve um puto sueco, que me samplou, porque
eu tinha um programa de rádio, o "Invisual", que falava sobre banda
desenhada e música e ele samplou. Editámos na Chili Com Carne uma cena, o
disco dos Çuta Kebab and Party, mas não tenho nada a ver, tirando o
facto de ter investido, ter posto o projecto avante, chatear o gajo para
isso não ficar na gaveta ou no disco rigído.
Pronto, não tenho nenhuma continuidade em relação à música.
E com o Filipe Felizardo?
Ah, foi um mero acaso, tipo, eu agora estou a usar outro nome também, só para passar música oriental que é o unDJ FarraJ.
Tudo
começou com outro tipo que é o Jibóia. E lembramo-nos de começar, ele
tocar e eu a pôr música, fazer assim uns shows por aí. Entretanto, este
sábado, gostaram da noite lá no Bartô, o tipo estava fora e eu falei com
o Filipe Felizardo para misturar coisas, para ele trazer a malta dele,
eu trago a minha, misturamo-nos, públicos, para eu não ficar ali sozinho
e pronto.
Jazz em Agosto, diz-te alguma coisa?
Claro, e já tinha lá ido uma vez ou outra.
Isto assusta-te?
Sim, completamente!
Porque
o que aconteceu foi, eu pus som numa dessas vezes por acaso, nem ia ser
pago, que se lixe, são amigos, o pessoal da Trem Azul, o pessoal do
Rescaldo e isso tudo. E eu estava ali sozinho, pronto, estava a minha
namorada, mais um bêbado ou dois, e havia mais um gajo a rir-se bué, e
eu, fogo, quem é aquele gajo, está-se a rir, fogo, que cena, depois
disseram-me que era o Rui Neves. (risos) E passado um ano, ele adorou a
cena e contratou-me para fazer o Jazz em Agosto e eu fiquei
completamente à nora. Como eu sempre disse, eu não tenho nenhuma
pretensão sobre absolutamente nada e depois uma pessoa na posição dele,
de um festival deste género e todas estas questões, epá, obviamente eu
fiquei cheio de medo.
Por outro lado, e isto obviamente
são as fragilidades, as incertezas que eu tinha em relação a tudo isto,
isto obviamente coloca-me numa situação estranha, bizarra no mínimo. Mas
por outro lado, é engraçado que é justamente a mesma coisa que me
acontece com as questões da BD. Não foi o pessoal da BD que gosta das
minhas bandas desenhadas, sempre foi pessoal de fora a dar-me feedback,
positivo, crítico, sobre o meu trabalho. E é um gajo do jazz, que vai de
repente dar um valor que eu nunca tive de nenhum lado, de nenhuma
parte. Só nos bares, mas foram os melhores tempos, mais marados (risos)
em que eu passava MERZBOW e a seguir punha ABBA e toda a gente curtia na
mesma, porque aquilo era um bar que havia ali para o lado da Rua dos
Anjos, que era só bêbados e putas e marados e isso tudo e aquilo
funcionava excelentemente. Eu punha seja o que fosse, eu punha hip hop
português, mas corria nesta espetativa que eu realmente tenho, da
música, da festa, da noite, pá, que é tipo, o inesperado, tipo, ouvires
uma versão de uma música que até toda tabelinha que conheces por um gajo
que está a destruir aquela coisa toda, é fabuloso, eu acho fabuloso! Eu
faço isso, se calhar sou fabuloso! (risos)
A Le
Cool, também teve desde o princípio teve todo o interesse em
entrevistar-te. Quando nos propuseram, eu e o Rafael Vieira, editor, não
hesitámos. (risos)
(risos) Quê, mas a Le Cool é tão marada, também, ah é? (risos)
Os
gajos todos que trabalham para a Le Cool, são todos marados! Além de
que um tipo para te vir entrevistar a ti, só pode ser marado! (risos)
Não sei! Pensava que era uma espécie de lobby, sei lá, Gulbenkian/Jazz em Agosto (risos)
Não, nem penses nisso!
Eu
quando faço coisas, também não espero que venham quihentos gajos dar
pancadinhas nas costas, para depois darem facadas. Bem, sobretudo cá em
Portugal, ninguém te dá pancadas, bem, dão obviamente, mas é tão raro tu
ouvires alguna coisa positiva das pessoas. Eu por exemplo, estava a
dizer-te que dou-te desconto sobre os livros, 50% (risos), porquê?
Porque para uma editora pequena, de repente eu oferecia os livros a
jornalistas do Público, do Jornal de Noticías e nha, nha, nha, e ou os
gajos não escreviam, ou escreviam barbaridades inacreditáveis. Isso
depois não te afecta nada a nível de vendas que te pareça.
Quantos livros e livrinhos fizeste até hoje, tens ideia?
Epá,
sei lá, os dois catálogos juntos da MMMNNNRRRG e Chili deve chegar para
aí aos cinquenta com sorte. Mesinhas de Cabeceira, o 23 vai sair em
outubro, este é o 24, pronto, são 23 números. Epá, depois fiz outros
fanzines, números únicos, tudo, mas não sei, as coisas não chegam se
calhar nem aos 100, nem coisa que se pareça. Obviamente, não podes
competir isso contra 250 CD da Trem Azul, da Clean Feed, mas também onde
é que eles estão, os problemas que eles têm. São muito mais
reconhecidos lá fora do que cá em Portugal. Ninguém dá grande valor,
quer dizer, dá.
Se não for a tua capacidade de trabalhar
internacionalmente e teres isso, ninguém te vai ajudar em absolutamente
nada. Pá, e de repente, gajos do rock e isso tudo, se calhar, olhavam-me
como um freak que punha a música que eu punha e isso tudo e foram gajos
do jazz ou do free que me permitiram agora ter assim esta escalada meio
estranha. Tipo o Travassos, o Rui Neves, é completamente out of the
blue.
Que podem esperar os brutos da tua atuação no Jazz em Agosto?
Breakcore,
versões esquisitas, música africana, árabe, sei lá, o quê mais? Música
de computador, não é? Pá, podem dançar, na realidade podem dançar.
E kaput, acho que é um bom final!
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* Originalmente publicada a 2 de Agosto de 2012, na Le Cool Lisboa * 351
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* Originalmente publicada a 2 de Agosto de 2012, na Le Cool Lisboa * 351
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