Le Entrevista a Michel Simeão por Rafa


Quem é de facto Michel Simeão - o que não nos conta a biografia anexa ao Festival Córtex e que está por detrás do criador deste mesmo. Como se passa do teatro para um evento que catapulta o cinema?

O Michel Simeão é acima de tudo uma pessoa que não sabe estar parada! Quando dei por mim a gerir o meu próprio Espaço Cultural em Sintra, para além de fazer os meus espetáculos de teatro e programação em parceria com o José Chaíça, senti necessidade de olhar à minha volta e perceber que mais poderia eu fazer para dinamizar e agitar culturalmente a Vila de Sintra.

O cinema tornou-se o caminho óbvio, dado que sou um apaixonado por esta arte que nunca esteve devidamente representada no concelho. Quando percebi que nunca tinha havido nenhum evento cinematográfico em Sintra, foi claro para mim que teria terreno para desbravar e lancei-me em mais uma aventura. No fundo ando sempre à procura de poder oferecer culturalmente algo fresco e vibrante, isso tem caraterizado todo o trabalho que tenho desenvolvido até hoje, como "A Visita Guiada à Casa Assombrada" em Lisboa, por exemplo.


Córtex. 3º Festival de Curtas Metragens de Sintra. O que serve melhor de apresentação a um festival que tem vindo a crescer - mais que visivelmente - em dimensão e participação? E qual foi a motivação para criar um festival a média distância - não longe - dos grandes centros urbanos? O que lhe empresta Sintra de cenário e de ambiência?

O que melhor serve para a apresentação deste Festival é a componente que permite fazer um apanhado de algumas das melhores curtas dos últimos dois anos, apresentando uma espécie de best of que permite ao público assistir a curtas metragens que andaram dispersas pelo país em vários festivais, e que agora estão reunidas num único festival, que também pretende desmistificar a ideia de que a curta é um formato para intelectuais e habitués dos festivais.

Daí termos a preocupação de oferecer uma programação bastante eclética que tanto tem filmes com narrativa num formato mais mainstream, como também apresenta obras mais conceptuais, animação e documentários. Dentro dos vários géneros tentámos selecionar o melhor que se fez. A motivação para criar este festival fora dos grandes centros urbanos, prende-se também com a urgência que é transversal em todo o meu trabalho de descentralizar a cultura. Há mais de 10 anos que tenho espetáculos encenados e escritos por mim que percorrem o país de norte a sul. A descentralização parece-me um fator cada vez mais fundamental. Ainda por cima neste caso, estamos a falar de Sintra, que apesar de ser perto, dá-nos sempre a sensação quando lá entramos, que estamos num outro mundo e que viajámos quilómetros para lá chegar.

Sintra sempre esteve virada para uma cultura mais clássica, devido a todas as suas caraterísticas que naturalmente privilegiam essa cultura, que muitas vezes acaba por eclipsar outras iniciativas culturais... é difícil competir com um Palácio da Pena, uma Quinta da Regaleira ou um espetáculo de música clássica em Sintra. O que me parece gritante é que existe um enorme espaço para uma cultura mais urbana, jovem e alternativa como um Festival de Curtas Metragens. A sinergia que pode ser criada ao fundir esta cultura mais urbana num ambiente místico e clássico como o que Sintra oferece é, na minha opinião, uma mais valia ímpar, que vem dar origem a todo um novo ambiente e impulsionar as pessoas a desfrutarem de Sintra de outra maneira, com um novo olhar. Passar dois ou três dias em Sintra a visitar as magníficas atrações culturais que possui, desde a Serra aos Palácios, e terminar o dia num Festival de Curtas Metragens, parece-me algo muito empolgante.

Gostava de perceber o porquê da decisão do Festival Cortéx ser de curtas - formato cada vez mais explorado em Portugal. E porquê concebê-lo via festival, já que existem outra plataformas, como o Vila do Conde. A colaboração com a Labz - via Shortcutz - é também um dado interessante para a sua frutificação e fortificação.

Primeiro porque não existia até então, nenhum festival na Grande Lisboa dedicado exclusivamente ao formato da curta e esse é o lugar que hoje ocupamos. A competição é importante porque mais do que fazer uma mostra interessa-nos revelar novos valores, mas também, como referi anteriormente, podemos assistir  a uma competição entre grandes nomes que nunca competem todos entre si porque como os outros Festivais exigem estreias, nunca podem estar todos no mesmo festival. Podemos dizer em tom de brincadeira que somos uma espécie de "Óscares" das curtas. Além disso, apesar dos prémios monetários não serem elevados, é importante a contrapartida de se poder apoiar financeiramente futuros projetos. A parceria com o Shortcutz tem sido uma grande mais valia, porque ali temos uma plataforma que tem divulgado e apoiado o formato da curta de uma forma sem precedentes. Por ali passam a esmagadora maioria das curtas produzidas em Portugal, por isso esta parceria sempre fez todo o sentido para nós.

Quais os destaques desta edição de 2012, o que interessaria ressalvar? Antonio Campos é um elemento maior presente no cardápio, que outros se sugerem?

Enquanto diretor do Festival prefiro não referir alguns filmes em detrimento de outros. São géneros muito diferentes, na minha opinião, todos bons. Sem dúvida que a presença do Antonio Campos e a estreia das suas curtas numa sala de cinema em Portugal são o ponto alto do festival.

Qual o papel que lhe parece que a competição Córtex tem na promoção da produção nacional - das 25 obras, 18 são portuguesas - e tem-se notado uma crescente participação de nacionais na competição? Há uma deflagração mais do que positiva?

O crescimento do Córtex tem vindo a notar-se muito na quantidade de filmes que temos recebido, e que tem vindo a crescer todos os anos. Relativamente à competição internacional, por exemplo, o número de filmes que recebemos triplicou. O Festival tem-se revelado uma excelente plataforma para a proliferação do género, principalmente tendo em conta os poucos anos de existência que ainda tem. A Vila de Sintra precisava de um evento do género, note-se, que até ha muito pouco tempo nem sequer haviam salas de cinema em Sintra, só muito recentemente com a abertura do Fórum Sintra é que essa lacuna começou a ser colmatada.  O crescimento galopante do Festival tem superado em larga escala as nossas melhores expetativas. O público está ávido deste tipo de iniciativa e o preço é bastante apelativo.

Uma pergunta política, como convém. Como está o estado da produção cinematográfica em Portugal e qual o papel dos promotores e produtores num trabalho de resiliência criativa? Os festivais têm uma razão de ser neste sentido, mas e como estamos de incentivos?

As perguntas políticas não serão o meu forte. No entanto acho que é muito curioso observar que, numa fase em que politicamente o cenário nunca esteve tão negro, quando não existem apoios do estado, o cinema português tem proliferado internacionalmente como não há memória. É claro que sem dinheiro não será possível fazer trabalho e só em 2013/2014 é que vamos sentir na pele a quebra da produção e a falta de verbas.

No que diz respeito ao formato da curta metragem, eu tenho uma visão muito particular, acho que até há bem pouco tempo, eram atribuídos subsídios consideravelmente altos a uns quantos realizadores, deixando de fora um mar de gente, que tem ideias e que quer mostrar trabalho. Na minha opinião a curta metragem pode ser um trabalho feito com verbas um pouco mais baixas mas que chegam a um maior número de jovens realizadores, para terem oportunidade de mostrar o seu trabalho. Acho mais produtivo atribuir 5 mil euros a 10 realizadores diferentes para fazerem uma curta (o que já é um valor considerável para este formato) do que 50 mil euros a um único realizador que em muitos casos até já tem obra feita no formato da longa e provas dadas do seu trabalho.

Acho que é urgente incentivar a produção nacional, é urgente criar-se uma estrutura que incentive as salas de cinema e ter uma ocupação considerável da programação com filmes portugueses (tal como acontece nas rádios) para que os realizadores e produtoras possam começar a governarem-se também com a venda de bilhetes e não exclusivamente dos subsídios que lhes são atribuídos. Os incentivos (monetários) para fazer o festival, ainda são muito baixos, vamos ver o que acontece no próximo ano, espero que a Câmara de Sintra seja sensível a todo o impacto que o festival tem tido e que seja mais generosa no apoio. Contamos também tentar receber fundos de organismos privados. A ver vamos.

E o que tem o Michel a comentar quanto a Lisboa - qual será o local ideal da cidade, existe tal Éden?

Eu sou um apaixonado por Lisboa, é muito ingrato ter de eleger o Éden, porque a cidade está recheada deles. No entanto nunca deixo de ficar deslumbrado com a vista do Adamastor e com a beleza do Chiado. São com toda a certeza locais onde gosto de passar o meu tempo.

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Córtex : www.festivalcortex.com

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