Boa tarde. Fala-me um pouco sobre o Offbeatz, como surgiu, como se impôs e como são as perspetivas de futuro?
O Offbeatz surgiu das ideias que o Rui de Brito tem no duche! (risos) Ele imaginou o formato e modos de divulgar ainda mais a música portuguesa e assim nasceram as sessões ao vivo, que numa primeira instância aconteciam no Frágil, no Bairro Alto. Depois veio tudo o resto e a plataforma em si - o Offbeatz - que tem várias vertentes. Não só temos o club no Musicbox, como um site e um programa de televisão, na SIC Radical, que compila as sessões ao vivo.
Tem tudo o mesmo objetivo que é impulsionar o talento e a música portuguesa. E, na realidade, as coisas correram sempre muito bem porque sentimos que estávamos a fazer a diferença e a preencher uma lacuna de divulgação no meio. E percebemos isso devido ao feedback e apelo das bandas, das editoras etc. É para eles e com eles que trabalhamos.
Apercebemo-nos também que interferimos positivamente com os costumes do público. De repente, habituámos as pessoas a descobrir mais música porque o Club Offbeatz é sempre composto por quatro bandas nacionais. Isto faz com que uma pessoa vá ver aquela de que gosta e por consequência descubra outras. E a entrada nessa experiência é por conta da casa!
No futuro queremos expandir essa dinâmica que é o Club a outras cidades. O Porto vem já a seguir na lista. Em paralelo, estamos a pensar noutros formatos mas para já não posso revelar nada.
Fala-me
da equipa. Qual a diferença na vossa abordagem que está a fazer este
projeto um de enorme sucesso e importância no panorama musical
português?
A equipa é unida e acredita no Offbeatz.
O
mundo mudou, não há volta a dar, e temos de ser cada vez mais
determinados para fazer com que as coisas aconteçam. É incrível ter um
grande número de pessoas que se revê neste projeto, que está lá todas
as semanas e que faz tudo funcionar. São pessoas ativas e com garra, o
que não é assim tão fácil de encontrar por aí. Para além de motivados,
acreditam todos na filosofia do projeto. Têm todas as suas vidas, mas
encaixam o Off numa parte delas.
Ora, acho mesmo que podem retirar
uma lição da nossa equipa. Muita gente critica ou pasma-se com o facto
de fazermos isto à base de voluntariado, mas a verdade é que o fazemos,
com prazer, porque todos nós encontramos algo que nos recompensa. E
estando essa motivação apoiada no facto de contribuirmos para a história
musical portuguesa, com os nossos registos, e podermos ajudar bandas e
realizadores, faz com que o Offbeatz seja um óptimo ‘trabalho’.
Esperavam
tamanha adesão? Acham realmente que esta forma de "mostrar" e fazer as
coisas faz a diferença na divulgação da música portuguesa?
Começámos
devagar mas fomos tomando força. Ao início, eu e o Rui andámos a
distribuir flyers no Bairro Alto para que as pessoas soubessem das
sessões. Hoje em dia, temos casa cheia e as pessoas procuram-nos. Foi
surpreendente este sucesso, mas penso que vem do quão único é o
Offbeatz e da falta que fazia. Conheces outro movimento que apresente 4
bandas nacionais por semana e ainda faça entrevistas, programa de TV,
divulgação online e tudo o resto?
Uma vez, um rapaz inglês disse-me «wow, isto nem em Londres acontece!» Pois bem, acontecerá quando o Club
Offbeatz estiver por lá. Divulgamos a música gratuita e
regularmente, registamo-la para a eternidade e divulgamo-la através de
vários meios. Esta é a nossa forma de fazer as coisas e acreditamos que é
a certa. Quantos mais o fizeram, melhor.
E, já agora, qual
a tua forma de ver os novos fenómenos musicais portugueses? Achas que
há um aumento de qualidade, ou essa sempre esteve lá e as pessoas
tornaram-me mais sensíveis e disponíveis para ouvir e apreciar?
Eu
penso que hoje em dia as pessoas ouvem mais música, porque há mais
facilidade. Agarram-se a uma coisa, contribuem para os fenómenos, e
pouco depois agarram outra novidade. O truque por parte de quem faz
música será manter o interesse. E isso não quer obrigatoriamente dizer
que os projetos não tenham qualidade mas sim que é difícil permanecer
num mundo em constante produtividade.
Em Portugal existem
projetos de qualidade, e há bandas que vão sabendo manter essa
curiosidade viva por isso não estou preocupada. O que acontece é que,
por vezes, vejo umas que poderiam tentar ter um pouco mais de visão e de
ousadia só para evitarem seguirem os caminhos mais normais.
Houve alguma noite que te ficou cravada na memória?
Nunca
vou ter outra igual à primeira, corria o ano 2010. O caminho até lá
fez-se de determinação e incertezas, o que desde logo a marcou. E
depois, quando finalmente chegou, viveu-se num ambiente muito
underground. O Frágil estava cheio de pessoas da indústria, o que eu
achei porreiro para as bandas (Youthless e The Doups), arrasou-se no
palco, houve momentos de improviso e, bem, eu sentia-me feliz por
conseguirmos realizar a primeira sessão. Como podes ver, não se esquece.
Há
outras noites que memorizo também como quando existem bandas de hip hop
que lá vão, quase acabadas de serem concebidas, e de repente têm o Sam
the Kid na plateia. Um momento como esse torna-se bom para eles e para
nós, que possibilitamos isso.
Onde achas que está o futuro
da música em Portugal? Em tempos de crise apertada, o facto dos vossos
eventos serem gratuitos vai continuar a fazer com que desempenhem um
papel fundamental na divulgação de novos valores, ou mesmo assim vai-se
refletir na adesão do público?
Acho que o presente já
está a pedir que pensemos em novas maneiras de fazer as coisas, quanto
mais o futuro. Se não há dinheiro, terão de ser inventadas formas
diferentes para desenvolver as ideias. E isto não se aplica apenas à
música, mas a todas as outras áreas. O Offbeatz é um exemplo de um
formato pensado de maneira alternativa e apelativa, não só para as
bandas que tocam mas também para o público. É um modelo que funciona. E
estaremos por cá até deixar de fazer sentido.
O Rui de Brito costumava
responder «nunca!» quando nos perguntavam quando acabaríamos com as
sessões. Entretanto nunca mais respondeu a isso porque o pessoal começou
a perceber que vamos continuar.
A crise só faz com que as pessoas
queiram poupar e ali terão sempre uma noite gratuita. E ainda há imenso
para mostrar, porque já percebemos que a música portuguesa não pára de
surpreender. E com isto acho que não é preciso dizer mais nada.
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* Originalmente publicado a 17 de Janeiro de 2013, na Le Cool Lisboa * 375

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