Le Entrevista a Sara Ribeiro (Offbeatz) por João Freire

Boa tarde. Fala-me um pouco sobre o Offbeatz, como surgiu, como se impôs e como são as perspetivas de futuro?

O Offbeatz surgiu das ideias que o Rui de Brito tem no duche! (risos) Ele imaginou o formato e modos de divulgar ainda mais a música portuguesa e assim nasceram as sessões ao vivo, que numa primeira instância aconteciam no Frágil, no Bairro Alto. Depois veio tudo o resto e a plataforma em si - o Offbeatz - que tem várias vertentes. Não temos o club no Musicbox, como um site e um programa de televisão, na SIC Radical, que compila as sessões ao vivo.  

Tem tudo o mesmo objetivo que é impulsionar o talento e a música portuguesa. E, na realidade, as coisas correram sempre muito bem porque sentimos que estávamos a fazer a diferença e a preencher uma lacuna de divulgação no meio. E percebemos isso devido ao feedback e apelo das bandas, das editoras etc. É para eles e com eles que trabalhamos.

Apercebemo-nos também que interferimos positivamente com os costumes do público. De repente, habituámos as pessoas a descobrir mais música porque o Club Offbeatz é sempre composto por quatro bandas nacionais. Isto faz com que uma pessoa vá ver aquela de que gosta e por consequência descubra outras. E a entrada nessa experiência é por conta da casa!
No futuro queremos expandir essa dinâmica que é o Club a outras cidades. O Porto vem já a seguir na lista. Em paralelo, estamos a pensar noutros formatos mas para já não posso revelar nada.

Fala-me da equipa. Qual a diferença na vossa abordagem que está a fazer este projeto um de enorme sucesso e importância no panorama musical português?

A equipa é unida e acredita no Offbeatz.

O mundo mudou, não há volta a dar, e temos de ser cada vez mais determinados para fazer com que as coisas aconteçam. É incrível ter um grande número de pessoas que se revê neste projeto, que está lá todas as semanas e que faz tudo funcionar. São pessoas ativas e com garra, o que não é assim tão fácil de encontrar por aí. Para além de motivados, acreditam todos na filosofia do projeto. Têm todas as suas vidas, mas encaixam o Off numa parte delas.

Ora, acho mesmo que podem retirar uma lição da nossa equipa. Muita gente critica ou pasma-se com o facto de fazermos isto à base de voluntariado, mas a verdade é que o fazemos, com prazer, porque todos nós encontramos algo que nos recompensa. E estando essa motivação apoiada no facto de contribuirmos para a história musical portuguesa, com os nossos registos, e podermos ajudar bandas e realizadores, faz com que o Offbeatz seja um óptimo ‘trabalho’.

Esperavam tamanha adesão? Acham realmente que esta forma de "mostrar" e fazer as coisas faz a diferença na divulgação da música portuguesa?

Começámos devagar mas fomos tomando força. Ao início, eu e o Rui andámos a distribuir flyers no Bairro Alto para que as pessoas soubessem das sessões. Hoje em dia, temos casa cheia e as pessoas procuram-nos. Foi surpreendente este sucesso, mas penso que vem do quão único é o Offbeatz e da falta que fazia. Conheces outro movimento que apresente 4 bandas nacionais por semana e ainda faça entrevistas, programa de TV, divulgação online e tudo o resto?

Uma vez, um rapaz inglês disse-me «wow, isto nem em Londres acontece!» Pois bem, acontecerá quando o Club Offbeatz estiver por lá. Divulgamos a música gratuita e regularmente, registamo-la para a eternidade e divulgamo-la através de vários meios. Esta é a nossa forma de fazer as coisas e acreditamos que é a certa. Quantos mais o fizeram, melhor.

E, já agora, qual a tua forma de ver os novos fenómenos musicais portugueses? Achas que há um aumento de qualidade, ou essa sempre esteve lá e as pessoas tornaram-me mais sensíveis e disponíveis para ouvir e apreciar?

Eu penso que hoje em dia as pessoas ouvem mais música, porque há mais facilidade. Agarram-se a uma coisa, contribuem para os fenómenos, e pouco depois agarram outra novidade. O truque por parte de quem faz música será manter o interesse. E isso não quer obrigatoriamente dizer que os projetos não tenham qualidade mas sim que é difícil permanecer num mundo em constante produtividade.

Em Portugal existem projetos de qualidade, e há bandas que vão sabendo manter essa curiosidade viva por isso não estou preocupada. O que acontece é que, por vezes, vejo umas que poderiam tentar ter um pouco mais de visão e de ousadia só para evitarem seguirem os caminhos mais normais.

Houve alguma noite que te ficou cravada na memória?

Nunca vou ter outra igual à primeira, corria o ano 2010. O caminho até lá fez-se de determinação e incertezas, o que desde logo a marcou. E depois, quando finalmente chegou, viveu-se num ambiente muito underground. O Frágil estava cheio de pessoas da indústria, o que eu achei porreiro para as bandas (Youthless e The Doups), arrasou-se no palco, houve momentos de improviso e, bem, eu sentia-me feliz por conseguirmos realizar a primeira sessão. Como podes ver, não se esquece.

Há outras noites que memorizo também como quando existem bandas de hip hop que lá vão, quase acabadas de serem concebidas, e de repente têm o Sam the Kid na plateia. Um momento como esse torna-se bom para eles e para nós, que possibilitamos isso.

Onde achas que está o futuro da música em Portugal? Em tempos de crise apertada, o facto dos vossos eventos serem gratuitos vai continuar a fazer com que desempenhem um papel fundamental na divulgação de novos valores, ou mesmo assim vai-se refletir na adesão do público?

Acho que o presente já está a pedir que pensemos em novas maneiras de fazer as coisas, quanto mais o futuro. Se não há dinheiro, terão de ser inventadas formas diferentes para desenvolver as ideias. E isto não se aplica apenas à música, mas a todas as outras áreas. O Offbeatz é um exemplo de um formato pensado de maneira alternativa e apelativa, não só para as bandas que tocam mas também para o público. É um modelo que funciona. E estaremos por cá até deixar de fazer sentido.

O Rui de Brito costumava responder «nunca!» quando nos perguntavam quando acabaríamos com as sessões. Entretanto nunca mais respondeu a isso porque o pessoal começou a perceber que vamos continuar.

A crise só faz com que as pessoas queiram poupar e ali terão sempre uma noite gratuita. E ainda há imenso para mostrar, porque já percebemos que a música portuguesa não pára de surpreender. E com isto acho que não é preciso dizer mais nada.

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* Originalmente publicado a 17 de Janeiro de 2013, na Le Cool Lisboa * 375

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