Le Entrevista aos Electric Super Sex por Pedro Tavares


Aqui vai a entrevista dos Electric Super Sex, uma banda de rock progressivo que vem do Barreiro, uma cidade com muita tradição na cena rock portuguesa. Definem-se como uma banda de Stoner rock, psicadélico e Jam. Agrada-lhes a comparação com os barcelences Black Bombaim. A Le Cool esteve à conversa com os Electric Super Sex, antes do concerto no Bacalhoeiro. 

Os Electric Super Sex são: Luís Canto (LC) no baixo, Ricardo Graça (RG) na guitarra, André Neves (AN) na bateria e Zé  Bica (ZB) nos efeitos e no sintetizador.


Como se formaram?

RG : Formámo-nos em 2010. Inicialmente era um projecto de funk com 3 membros, eu na guitarra, o Fábio Mateus na bateria e o Luís no Baixo. A ideia era ter até uma voz feminina, mas sinceramente penso que estávamos a forçar caminhos que não eram os nossos, tendo em conta as nossas principais influências e isso depois reflectia-se quando improvisávamos, saía quase tudo, menos funk

Acontece que, em dada altura, fomos até ao Alentejo passar umas férias numa aldeia que se chama Campinho (pertence a Reguengos de Monsaraz) e levámos os nossos instrumentos para lá. Instalámo-nos no meio do campo, numa antiga malhada, agora um restaurante, que funciona esporadicamente e a ideia era a seguinte: íamos sair à noite para a festa da aldeia e, depois disso, juntava-se montes de gente lá na malhada para jam sessions que duravam até à hora de almoço, se fosse preciso. 

Quando tocávamos juntos, achámos que tínhamos algo de psicadélico e de stoner em tudo o que fazíamos. Começámos assim a perceber que o nosso caminho era esse. Mesmo assim, relaxámos um bocado, pouco ou nada tocávamos e, então, este projecto começou realmente foi passado um mês e pouco depois de termos estado no Alentejo. Uma das pessoas que conhecemos lá, ligou-nos para irmos dar um concerto no Campinho na semana da juventude, ainda lhe explicámos que não tínhamos músicas e que nem tínhamos estado a tocar, mas com tanta insistência aceitámos e em duas semanas fizemos quinze músicas.

LC : 15 riffs que dava para improvisar à volta daquilo.

RG : Na véspera, antes de irmos para o concerto, estávamos na festa da Moita e encontrámos por lá o Zé Bica - na altura ensaiávamos na garagem dele. Ele perguntou-nos se sempre íamos para o concerto no dia seguinte e ofereceu-se para vir connosco e levou o didgeridoo. Já que era uma banda de improviso, porque não vir mais um anhar lá no meio?

Então assim estava feita a formação da banda e mantivemos o mesmo nome que tínhamos no projecto de funk: Electric Super Sex. Demos então, no mesmo sítio onde tudo começou, o nosso primeiro concerto.

LC : A partir de algumas músicas que fizemos para esse concerto, começámos a construir aquilo que depois fez o álbum «Live For The King». Entretanto, fomos dando alguns concertos mais pelo Barreiro até à altura em que parámos bastante tempo, quando o Fábio Mateus saiu da banda. [Parámos] até termos encontrado o André Neves, que era essencialmente um músico de jazz, mas que encaixou perfeitamente no projecto.

AN : Eu conheci o Zé Bica no Boom Festival. Depois do festival, ele falou-me de uma banda que tinha, os Electric Super Sex, e surgiu numa noite a ideia de ensaiar com eles. Desde aí temos tocado sempre juntos.

ZB : As coisas começaram a evoluir, tínhamos um álbum gravado e não o tínhamos tocado ao vivo desde que o Fábio tinha saído. Entretanto, saí do didgeridoo e voltei-me para o teclado e efeitos, para dar outra harmonia à coisa, rumar para outros caminhos.

Vocês vêm do Barreiro, uma cidade com muita tradição na cena do rock...

RG : Sim, o Barreiro sempre esteve na cena do rock, acho que o Barreiro é essencialmente uma cidade de artes e cultura, onde a música também tem grande destaque.

ZB : Nos anos 90, havia um grande número de bandas por lá, ia desde o grunge ao metal ao garage rock, havia concertos praticamente todas as semanas. Mas foi-se deixando de ver grande parte dos projectos que surgiam, não sei muito bem porquê. Mesmo assim continua a ser uma das capitais do rock em Portugal.

LC : O Barreiro sempre teve duas vertentes, teve a vertente do metal e a vertente do rock durante muito tempo. Havia a Vinícola, onde a malta que curtia metalada ia sair à noite e surgiam algumas bandas por lá. Depois havia a malta mais virada para a «rocalhada» onde surgiram algumas bandas como o Nick Nicotine, os Actups etc...

Havia a sala de ensaios do Octávio, que era no Xangai (Baixa da Banheira). Foi o primeiro estúdio onde toquei, na altura em que tinha uma banda de covers com o Ricardo Graça. Depois apareceu o Estudio King do Nick Nicotine, que ainda hoje tem dado frutos, não só com os projectos do Nicotine, mas também com bandas como os Tracy Lee Summer. O Fast Eddie ainda passou por lá, entre outras. Foi também o estúdio onde gravámos o «Live For The King».

A «metalada», penso que desapareceu um bocado, mas apesar de terem andado por uns tempos escondidos, os My Enchantment têm regressado aos palcos. Com a cena da OUT.RA (Associação Cultural), começaram a aparecer mais experimentalismos. Depois houve sempre as bandas de garagem que, ou tiveram oportunidade de sair para fora dela ou não, ou quiseram trabalhar para isso ou não e a força de vontade também para o fazer. 

Nós estivemos muito tempo na garagem, [por] falta de dinheiro; os instrumentos podiam ser melhores, bem como a força de vontade. Mostrámo-nos numa altura em que achámos que tínhamos algo bom para ser mostrado e que estávamos confortáveis em fazê-lo.

O nome da vossa banda «Electric Super Sex» remete para 1995, por ser uma parte da letra do tema «Super Sex» do álbum «Yes», dos Morphine. Existe alguma ligação?

LC : Na altura, ouvíamos Morphine exaustivamente, não em 1995, mas aí para dois mil e qualquer coisa (risos). Ainda hoje ouvimos, é simplesmente contagiante e de grande qualidade. Tirámos um pouco proveito disso, também porque na altura tocávamos funk e o nome «Electric Super Sex» soava bem para esse tipo de música e ainda soa melhor na onda psicadélica e stoner.

RG : É também a analogia da forma como nós tocamos, é tudo praticamente feeling. Talvez de como nos sentimos na altura e não tanto metódico, grande parte do que compomos são coisas que nos saem em determinados momentos em que tocamos juntos e não algo que tivéssemos pensado meticulosamente. Pode-se dizer que é fazer amor com os intrumentos.

Como se definem enquanto banda?

RG : Isso é um pouco complicado, visto que temos tanta coisa, mas penso que é mais para o Stoner Rock, Psicadélico, Jam, talvez um pouco de Jazz e, claro, o Blues que é a raiz desta mistura toda. Mas essencialmente é um estilo livre. Mesmo tendo a estrutura da música para tocarmos, se algum de nós se lembrar de fazer qualquer coisa pelo meio, nós vamos todos atrás e há-de soar bem na mesma.

E quais são as vossas influências?

RG : A nível  colectivo, se calhar o que temos mais em comum é: Kyuss, Black Sabath, Morphine, Pink Floyd, Jimi Hendrix, Deep Purple, Led Zeppelin, Grand Funk Railroad, The Doors, muito aquilo que se passava no final dos anos 60 e, mais recentemente, o que se tem feito por agora, como por exemplo, Earthless, Radio Moscow, Atomic Bitchwax, Colour Haze, Glowsun, Graveyard, Causa Sui, Electric Wizard, The Machine, Russian Circles, The Sword, Sleep... Nunca mais acabava esta lista.

AN : Desde sempre ouvi muito Joe Anderson que, apesar de ser um saxofonista, sempre apreciei muito. Tudo o que ele fazia. Gosto muito também do Bill Evans, apesar de ser um estilo completamente diferente, mas inspira-me muito. No início, quando entrei, eles levaram-me a ver uns concertos de rock psicadélico e isso fez despertar um grande interesse por esse tipo de música e fez-me perceber o que é que eu poderia trazer para esta banda.

ZB : Somos também claramente influenciados por bandas que ouvíamos muito há uns tempos e que ainda continuamos a gostar, como Pantera, Alice in Chains e, também na onda mais progressiva, os King Crimson, Gentle Giant e Tool.

O início do tema Schizoparanoi, mas não só, recorda-me muito Black Bombaim.

LC : Percebemos a parecença, mas já tocávamos antes de os conhecer e essa música já estava feita. Pode soar claramente, se formos ver as bandas não são completamente distintas umas da outras, provavelmente temos muitas influências em comum com eles. Mas a comparação é agradável.

RG : O tipo de som até é parecido, mas são abordagens diferentes do mesmo estilo de música. É, provavelmente, em Portugal, a banda que se assemelha mais à nossa. Gostamos muito de os ouvir e já os vimos muitas vezes ao vivo, mas penso que a influência que têm mais em nós é talvez pelo excelente trabalho que têm vindo a fazer e pelas portas que têm aberto neste panorama musical, tanto em Portugal como fora do país.

ZB : São projectos paralelos que, apesar de não terem uma influência directa entre ambos, têm em comum o estilo de música, daí o facto de que possam existir músicas nossas que façam lembrar Black Bombaim, bem como músicas deles que façam lembrar Electric Super Sex.

«Eight to Eighty», é uma viagem que vai do blues ao psicadélico. Falem-me sobre este tema.

ZB : É o choradinho do blues, que basicamente fala sobre sentimento e tem uma história a contar.

RG : Podemos relacionar essa música talvez com a relação amor/ódio ou simplesmente 8 ou 80. Cabe a quem ouve associar a algo e não sermos nós a limitar essa percepção, é isso que a torna numa viagem.

AN : Essa música tem uma mensagem pelo facto de ser uma música alegre, mas também pode remeter para coisas tristes. Por mais melancólica que seja, mesmo não tendo voz, conseguimos transmitir uma série de sentimentos distintos.

Têm estado particularmente activos, recentemente tocaram no Sabotage Club, como é que foi esse concerto?

LC : Foi a nossa estreia em Lisboa, já estava mais que na altura, tínhamos tocado antes em Évora na SHE, onde rebentámos com aquilo. Foi um grande incentivo para o Sabotage. Eu acho que ficámos mais satisfeitos com o público em Évora, não sei se é por não serem da capital, mas soltam-se muito mais, era só pescoços a partir e essa energia transmite-se também em nós. Nem sabia que algumas músicas nossas davam para fazer moche.

Aqui em Lisboa, gostámos bastante, o espaço onde tocámos é relativamente novo, tem óptimas condições e um staff impecável. Temos de tocar em Lisboa mais vezes, estamos à procura disso, mas para primeiro concerto na capital foi óptimo. Tocámos uma música nova que tínhamos feito uns tempos antes, a «Burning Man», que vai ser gravada em estúdio no início do mês de Junho. Ainda não estava bem limada no concerto, mas penso que correu muito bem, recebemos imensos elogios. 

Agora o objectivo é, para além de querermos tocar mais por Lisboa, começar a espalhar o vírus mais para Norte, onde tem havido muita coisa a acontecer na onda do rock, nomeadamente no rock psicadélico.

A reacção do público como tem sido?

RG : Uma das reacções do público que nunca falha é que, no final dos concertos dizem-nos sempre, com uma palmadinha nas costas, «Foi muito bom, mas acho que deviam ter voz», nunca falha, desde a primeira vez.

LC : Melhor ainda, esta opinião tem vindo a ficar criativa, já não é uma voz qualquer. É a voz de uma gaja que, depois noutro concerto qualquer, já nos disseram novamente que deveria ser a voz de uma gaja, mas de cabelo vermelho.

RG : Mas no geral as opiniões são bastante boas, temos ouvido críticas muito boas do público em geral, bem como de pessoas que nos têm acompanhado em quase todos os concertos, dizem que estamos cada vez melhores, nota-se que temos trabalhado mais no projecto.

ZB : São críticas bastante construtivas e motivam-nos imenso, penso que seja isso que nos tem ajudado a evoluir também, nunca é suficiente, têm de continuar a fazer ainda mais críticas.

Para quando a gravação de um novo álbum?

ZB : Ainda não está definido, mas existe a possibilidade de no final deste ano termos já material para gravar novamente, com uma abordagem mais séria.

Séria é o quê, chegar ao circuito comercial?

RG : Sim, a ideia que temos estado a trabalhar é por agora mostrar o «Live For The King» e algumas coisas que temos andado a fazer, para nos darmos a conhecer antes de voltarmos a compor.

O que é que vos falta?

LC : Dinheiro!

RG : Dinheiro e não só. Falta-nos muito perder mais tempo a compor e abordar isso de forma diferente do que temos vindo a fazer, que tocamos 2 ou 3 riffs e está uma música feita em menos de 10 minutos. Queremos criar um album conceptual, pensar num tema e trabalhar à volta desse tema, ou criar uma história e compor à volta dessa história.

No final do Verão, vamos para o nosso retiro espiritual, no Alentejo, no meio de montes e vales, juntarmo-nos os quatro durante um certo tempo só para fazer música. Ou seja, perdermos muito tempo juntos só para compor, que isso é o que realmente nos faz falta. Estamos com boas ideias e vamos apostar muito neste próximo álbum, penso que se podem esperar coisas muito boas para o futuro.

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