O Festival Córtex arranca com a sua 4ª formulação, no Centro Olga Cadaval, Sintra, de 10 a 13 de Outubro. Falámos com José Chaíça, um dos programadores do Festival.
A escolha do nome Córtex para o Festival de Curtas-Metragens de Sintra, não é tão óbvio no imediato. Serve para que, em igual modo, se ergam atenções e se potencie a percepção quanto ao cinema que será mostrado?
Essa é a analogia que pretendemos estabelecer quando criámos este nome. O córtex cerebral desempenha as funções que queremos activar e potenciar com este festival e com o cinema que exibimos: atenção, memória, percepção, linguagem, consciência e pensamento.
Essa é a analogia que pretendemos estabelecer quando criámos este nome. O córtex cerebral desempenha as funções que queremos activar e potenciar com este festival e com o cinema que exibimos: atenção, memória, percepção, linguagem, consciência e pensamento.
Considero que um conceito tão científico que tem simultaneamente a capacidade de desenvolver aspectos tão instintivos e intuitivos como aqueles que enumerei, presta-se na perfeição para caracterizar aquilo que me parecem os primordiais objectivos da obra cinematográfica e da arte em geral.
A imagem presente no cartaz que acompanha a mostra, transporta um desiquílibrio de proporções nas figuras, despertando tanto curiosidade, como apelando a querer saber mais. Como foi o processo de escolha da imagem e o que pretende representar?
A proposta de comunicação do Córtex, passa quase sempre, pela construção de uma imagem que esteja relacionada com o nome da mostra e, em simultâneo, que seja uma interpretação sui generis do mesmo. Toda a estruturação ou modelação das figuras responde exactamente a esse propósito. A imagem do Festival pretende, e tem conseguido, marcar a diferença. A thisislove studio, pela mão da Joana Areal, tem vindo a desempenhar um trabalho de excelência no que diz respeito a toda a imagem e design do Festival, inclusivamente, por dois anos consecutivos a imagem do Córtex consta em diversas publicações, livros de design internacionais de elevada reputação e mais recentemente na Novum Magazine (World of Graphic Design).
Quais os pontos altos que gostaria de destacar no festival deste ano, a sua 4ª edição? Terá, incluído, uma mostra retrospectiva dedicada a João César Monteiro.
De facto a Mostra Retrospectiva dedicada a João César Monteiro é sem dúvida um dos pontos altos desta edição. Será algo completamente inédito. Este ano assinalam-se os 10 anos da morte do cineasta, daí esta ser uma oportunidade perfeita para manter o João César Monteiro vivo no panorama do cinema português. Depois de percebermos que nunca tinha sido feita uma mostra com todas as curtas do realizador, a ideia desta homenagem pareceu-nos não apenas óbvia, mas perfeita, com um timing brilhante.
Foi realizada uma extensa pesquisa de fundo pela Ana Isabel Strindberg, que é responsável pela organização desta mostra retrospectiva, que teve um árduo trabalho para conseguir localizar as cópias destes filmes que são autenticas raridades, património nacional, que infelizmente não anda ser tratado com o cuidado que devia. Foi muito difícil localizar as cópias e quase fomos obrigados a desistir desta ideia. No dia 10 de Outubro, vamos exibir as 9 curtas metragens de João César Monteiro, realizadas entre 1969 e meados dos anos 90, na sua grande maioria serão projectadas em 35mm. Planeamos também convidar personalidades que estiveram envolvidas directamente com o trabalho do realizador, para partilharem num debate aberto as suas experiências, assim como, jovens realizadores influenciados pela sua obra. O público também terá a oportunidade ver uma exposição com várias fotografias de João César Monteiro, autenticas preciosidades cedidas pela Cinemateca.
As curtas na competição internacional são seis, as da competição nacional ultrapassam a dezena. Isto ajuda a explicar um maior interesse no formato - a curta - por parte dos realizadores portugueses? Naturalmente que os filmes que concorrem correspondem já a uma triagem, quantos receberam, como foi essa selecção e o que acha que representa esta adesão em termos de produção nacional? É significativo e demonstra que há mais e melhores filmes, mesmo tendo em conta constrangimentos económicos?
Bem antes de mais nada devo confessar que a competição internacional tem apenas seis filmes, mas não por falta de obras recebidas, muito pelo contrário, o volume de curtas internacionais que recebemos triplicou este ano. O facto de não podermos (ainda) exibir mais trabalhos que nos chegam de além-fronteiras, tem a ver com constrangimentos monetários, o Festival é feito com muito pouco dinheiro, daí termos apenas 4 dias. Tendo isso em conta o nosso foco sempre foi dar primazia à produção nacional, cujo volume de curtas que recebemos também aumentou bastante, mas não de forma tão evidente como no que diz respeito às curtas internacionais. Isto porque em Portugal já tínhamos edificado uma voz própria que agora também se projecta lá fora.
As curtas na competição internacional são seis, as da competição nacional ultrapassam a dezena. Isto ajuda a explicar um maior interesse no formato - a curta - por parte dos realizadores portugueses? Naturalmente que os filmes que concorrem correspondem já a uma triagem, quantos receberam, como foi essa selecção e o que acha que representa esta adesão em termos de produção nacional? É significativo e demonstra que há mais e melhores filmes, mesmo tendo em conta constrangimentos económicos?
Bem antes de mais nada devo confessar que a competição internacional tem apenas seis filmes, mas não por falta de obras recebidas, muito pelo contrário, o volume de curtas internacionais que recebemos triplicou este ano. O facto de não podermos (ainda) exibir mais trabalhos que nos chegam de além-fronteiras, tem a ver com constrangimentos monetários, o Festival é feito com muito pouco dinheiro, daí termos apenas 4 dias. Tendo isso em conta o nosso foco sempre foi dar primazia à produção nacional, cujo volume de curtas que recebemos também aumentou bastante, mas não de forma tão evidente como no que diz respeito às curtas internacionais. Isto porque em Portugal já tínhamos edificado uma voz própria que agora também se projecta lá fora.
Ao todo recebemos mais de duas centenas de filmes, cerca de 120 nacionais e 80 internacionais. Para a competição nacional seleccionámos 17. O facto de não exigirmos estreias, o que é raríssimo acontecer num Festival de Cinema, cria uma série de oportunidades na escolha dos filmes. Procuramos seleccionar os filmes mais emblemáticos dos dois últimos anos, podendo realizar assim uma mostra de alguns dos melhores trabalhos, do circuito nacional e internacional. Outro dos critérios é ter em consideração o público, tentamos sempre oferecer uma programação ecléctica, com filmes que cumpram o objectivo de ecoar em cada uma das pessoas na sala, filmes que tenham algo a dizer e que se saibam fazer compreender, o que muitas vezes não acontece no mundo as curtas metragens pelo excesso de experimentalismo.
Os géneros que temos em competição, vão desde a animação à ficção, passando pelo documentário e experimental. Não creio que tenham havido mais filmes este ano, os filmes continuam a fazer-se mesmo sem dinheiro porque os tempos que correm apesar de serem negros, acabam por nos levar a ter algo que dizer, que é urgente exorcizar porque caso contrário acaba por nos consumir. A curta-metragem é um formato que permite dizer muita coisa num curto espaço de tempo e com baixos custos, porque o avanço da tecnologia hoje em dia, já permite que os jovens tenham fácil acesso a material que lhes permita criar uma obra com relativa qualidade.
Um filme acaba sempre por ser uma história a querer contar - mesmo que se fale de videoart. A curta acaba por ser o resumo de uma história maior. Como vê o formato, a capacidade de sumarizar uma história em alguns minutos de bom cinema e como transparece isso no Córtex?
Acho que a curta é dos formatos mais difíceis de se acertar, de fazer bem, exactamente pelo facto de serem curtas metragens. Os seus criadores têm de ter as ideias muitíssimo bem elaboradas, concretas e com um poder de síntese incrível. Aliado a isto tudo, para além de se contar (ou não) uma história em tão pouco tempo, existe todo o lado artístico e da beleza das imagens que não pode ser descurado, e o lado técnico que cada vez é mais exigente, a fasquia está muito alta. Eu gosto muito de boas narrativas, na minha opinião pessoal, que também sou autor de vários textos para teatro, contar uma boa história em tão pouco tempo pode ser um calvário.
Um filme acaba sempre por ser uma história a querer contar - mesmo que se fale de videoart. A curta acaba por ser o resumo de uma história maior. Como vê o formato, a capacidade de sumarizar uma história em alguns minutos de bom cinema e como transparece isso no Córtex?
Acho que a curta é dos formatos mais difíceis de se acertar, de fazer bem, exactamente pelo facto de serem curtas metragens. Os seus criadores têm de ter as ideias muitíssimo bem elaboradas, concretas e com um poder de síntese incrível. Aliado a isto tudo, para além de se contar (ou não) uma história em tão pouco tempo, existe todo o lado artístico e da beleza das imagens que não pode ser descurado, e o lado técnico que cada vez é mais exigente, a fasquia está muito alta. Eu gosto muito de boas narrativas, na minha opinião pessoal, que também sou autor de vários textos para teatro, contar uma boa história em tão pouco tempo pode ser um calvário.
A curta também se refugia muito no aspecto mais experimental, que é válido, mas creio que o maior desafio está do lado de quem tenta contar uma história. E esse é um foco muito importante do Córtex, eu enquanto programador, estou sempre à procura de boas histórias e quero que elas tenham lugar no nosso festival. Facilmente no universo das curtas-metragens, especialmente em Portugal, caímos no abismo do experimental e da «não-
narrativa» em que tudo é deixado ao critério de quem assiste.
narrativa» em que tudo é deixado ao critério de quem assiste.
Creio que a maior parte das vezes essas obras não ecoam no público e acabam por ser objectos muito centrados numa visão demasiado elaborada de um mundo no qual ninguém consegue entrar, que ninguém compreende e com o qual dificilmente alguém se relaciona. Nós queremos envolver o público, queremos ter a certeza que o espectador se identifica de alguma forma com o que assiste.
Gostava que lançasse um convite para que visitem, participem e espalhem a palavra quanto ao Córtex.
O Córtex é feito para o grande público, não é pensado para um nicho. Por isso este convite é para ti que nunca foste a um festival ver curtas e que não estás familiarizado com este formato. Garantimos uma selecção do que de melhor se fez em Portugal entre 2012/2013, do documentário, à animação, passando pela ficção e pelo experimental.
Gostava que lançasse um convite para que visitem, participem e espalhem a palavra quanto ao Córtex.
O Córtex é feito para o grande público, não é pensado para um nicho. Por isso este convite é para ti que nunca foste a um festival ver curtas e que não estás familiarizado com este formato. Garantimos uma selecção do que de melhor se fez em Portugal entre 2012/2013, do documentário, à animação, passando pela ficção e pelo experimental.
Temos de impulsionar o cinema português, temos de criar uma nova geração de realizadores e todos temos um papel a desempenhar, o teu é melhor de todos, assistir! São 3€ por cada sessão de seis curtas, nem a crise pode ser pretexto para faltar.
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CÓRTEX 4 | Festival de Curtas-Metragens de Sintra : www.festivalcortex.com
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* Originalmente publicado a 8 de Outubro de 2013, na Le Cool Lisboa * 409
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