Gostava que te apresentasses sem contenção. Mostra-te, diz-me
como começaste a ilustrar, qual o teu percurso e história (isto não é
um CV).
Nasci em Lisboa no início dos oitentas e fui-me perdendo por aí até hoje. Comecei a desenhar desde que me reconheço e provavelmente continuarei até deixar de me reconhecer.
Estudei arquitectura e trabalhei enquanto arquitecto durante muitos anos, até que um dia decidi baralhar e voltar a dar: o que sempre quis ser, e na verdade sempre o fui, é ilustrador. Por uma vez na vida decidi seguir esse tal de Confúcio, que aparece amiúde em livros de auto-ajuda, e seguir a máxima do faz o que gostas e não voltarás a ter um único dia de trabalho.
E a verdade é que não lamento em nada deixar para trás as conversas inenarráveis com empreiteiros a tresandar a Casal Garcia e as escolhas de azulejos de casa-de-banho entre o salmão e o creme-platinado. Agora mesmo ando a estudar Design.
O 28 surge sempre que algum amigo de fora me pede para lhe apresentar a cidade. O 28 é o narrador por excelência, uma espécie de MC da cidade, que nunca me deixa ficar mal.
Que te agrada mais ilustrar?
Desenhar sempre foi para mim como que uma terapia, o que vendo bem me faz pensar que devo ter imensos problemas, tal é a necessidade constante em desenhar. Agrada-me pensar na ilustração como uma porta aberta para uma qualquer outra realidade que extravase esta e onde podemos ser e deixar de ser.
Lisboa aparece-te sempre assim, uma personagem, uma paixão e um fundo de estuque?
No fundo e, por mais lugar-comum que isto possa parecer, Lisboa é um palco gigante onde a vida acontece com a diferença de não existirem cortinas... excluindo, claro está, as dos peep shows ali da calçada da Glória.
Sugere-me aí algo que te pareça especial a fazer em Lisboa - um percurso, um evento, um momento.
Vejo Lisboa como alguém que se olha constantemente ao espelho (o Tejo). Não sei se por vaidade ou insegurança... talvez por aparecer por vezes aqui e ali uma ou outra borbulha. Gosto de admirar Lisboa ao longe, quando se olha ao Tejo, à medida que me aproximo à boleia de um cacilheiro desde a outra margem.
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Enlace: http://www.behance.net/ tiagogaloilustrador
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* Originalmente publicado a 10 de Outubro de 2013, na Le Cool Lisboa * 410
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