Le Entrevista a Eduardo Condorcet por Rafa


Nome, descrição sucinta e como te descreves profissionalmente.
Essa sempre foi uma questão algo complicada de responder. Comecei por ser músico (actividade que ainda vou praticando) e assim me registei nas Finanças. A seguir liguei-me ao teatro ainda como músico e actor. Quando terminei o curso da Nova em Comunicação comecei a ser encenador e realizador. Nessa altura quando em inquéritos me perguntavam a profissão, para simplificar continuava a responder músico.

Hoje em dia já é impossível ir descrevendo o que faço. É que às outras acresceu, actor de dobragens, argumentista/guionista, editor/montador, docente universitário, produtor de vídeo, cinema e teatro, criador de cross platform e new media e investigador. Da última vez que fiquei sem emprego o meu avô comentou, “Com que é que estás preocupado, sabes fazer tantas coisas?” Ainda não ganho dinheiro como cozinheiro, mas se a crise se mantiver...


Lisboeta de gema ou emprestadado.
As duas coisas. O meu pai era militar da Força Aérea, por isso percorremos algumas terras e cidades do país: Ílhavo, Castanheira do Ribatejo, Base das Lajes nos Açores. Quando os meus pais se divorciaram fiquei por Odivelas e até à idade adulta dizia que era de lá por lá ter crescido (e ficado mais tempo), mas desde aí seguiram-se Edimburgo, Leeds, Munique, Berlim, Paço de Arcos, Cambridge até ter vindo parar a Alcântara. Mas dito isto ganhei uma paixão incomparável pela cidade. Vai ser difícil se tiver de sair de cá outra vez.

Resume-me o mais possível o que fizeste profissionalmente em algumas linhas, não deixes nada de bom de fora, mas não te prolongues em testamento.
À parte o que vem dito em cima na primeira pergunta, penso que os pontos mais marcantes foram a minha passagem pela Comuna Teatro de Pesquisa, a minha experiência de aprendizagem e depois prática em Berlim e o período de investigação em Cambridge.

Projectos, cocktails and dreams, coisas que virão e que te trarás. O que acontecerá. Fala-me de 2011 e desse fantasma chamado crise. Fala-me do Hamlet. E dos Silvas.
Pois a crise de facto faz com que os ventos de projectos nos façam navegar de improviso ou à bolina. O Hamlet da Silva foi uma excelente experiência aquando da primeira montagem em 2005, mas totalmente superada pela carreira que estamos a fazer na Companhia Teatral do Chiado (até 15 de Dezembro, Quartas às 22h). A resposta da crítica tem sido francamente positiva e a do público ainda mais. Como por cima fui produtor para além de encenador senti um grande peso para que a peça funcionasse (sem subsidio, com investimento próprio de início que veio a ser complementado por apoios e patrocínios).

Deveria ter sido só um mês e já vamos para o terceiro. Mas sobretudo foi marcante a experiência com os excelentes actores com quem tenho trabalhado para este Hamlet. Tendo em conta a dita crise, não está nada mau. Tentei esquecer-me que ela existe (embora ela persista em fazer-se lembrar). Como diria o Sampaio, há mais vida para além do deficit e, acrescento, para além da crise. Mas penso que devemos exigir que depois destes sacrifícios as coisas se tornem mais rigorosas, eficientes, económicas e transparentes em todos os ministérios. No meu caso penso particularmente no da Cultura… Projectos futuros, para já acabar a tese de doutoramento que teima em atrasar-se e ver para que lado o vento sopra. Continuo a apresentar projectos de cinema com a Persona Non Grata Filmes do António Ferreira e pesquiso textos de cinema e teatro para ver no que pego a seguir.

Se te pusesses numa balança, esta penderia mais para o prato do realizador, do autor, do actor, do encenador, do artista?
Artista engloba tudo não é? Talvez a palavra criador, mesmo que pretensiosa, seja a mais englobante e falta falar do trabalho de investigação artística e académica. Mas insisto na primeira resposta, há um pouco de tudo. Se tanto talvez gostasse de fazer mais realização do que me é possível por agora.

Lisboa é uma menina rabina ou uma assanhada coquette?
O mito diz que Lisboa tem sete colinas, mas eu diria que para além disso tem pequenas cidades diversas dentro dela, bastante distintas. A balcanização é tal que no Bairro em que vivo, Alcântara, encontras as zonas deprimidas, os condomínios fechados, a LX Factory ao lado das discotecas mais selectas e cada esquina parece um mundo por si só. Eu prefiro a menina rabina, mas são gostos.

Acrescenta um post scriptum e sugere a língua a aprender para o ano que vem.
Já vai longa a entrevista, escusa-se o post scriptum. Línguas? O Mandarim e o Russo vão cada vez dar mais jeito.

Fala-me do teu restaurante favorito de Lisboa. Junta-lhe a praça favorita e o teu sítio preferido para andar de mão dada.
Com a crise vai-se menos aos restaurantes, de qualquer forma Lisboa tem uma oferta tão rica (faltam-nos mais gregos, turcos e árabes) que fica difícil escolher. A minha praça favorita é provavelmente a Duque da Terceira (Cais do Sodré). Está cheia de história e transportes à vista. O British Bar ali ao lado é provavelmente o meu ponto de encontro de eleição. Não costumo andar de mão dada, mas se andasse não escolhia local.

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HAMLET DA SILVA está em cena na Companhia Teatral do Chiado, Teatro-Estúdio Mário Viegas até 15 Dez


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