Julho está a chegar ao fim assim como a minha estadia em Lima. O
curso de cinema documental termina depois de uma dose de partilha de
informação do nosso tão querido professor José Balado, director e
fundador de DOCUPERÚ. A paixão dele por cinema contagia qualquer um.
No
entanto o que me resta é digerir toda a informação adquirida e com isso
desenvolver o meu documentário. Julho. Cuzco ferve-me no sangue, mas o
meu corpo, mente e instinto dizem-me que me retire por um bom par de
semanas. Este país abriu-me os olhos e o coração. Aqui sinto-me viva,
aqui sinto-me mais pessoa. No entanto, há sempre dúvidas que permanecem e
outras que surgem. E neste momento preciso de me afastar um pouco para
aclarar as minhas ideias. Afastar também é amar. E como alfacinha de
gema que sou, sinto que me falta luz, calor e praia. Deveria voltar para
Cuzco? Sim. Deveria voltar para a comunidade? Também. Mas eles irão
compreender. E como sempre digo, nada é por acaso nesta vida.
Peru
na Copamérica. Depois de 17 fracassados anos na história do futebol ,
pela primeira vez chegamos aos quartos de final. E mais. Ficámos em
terceiro lugar! É um acontecimento histórico! Todo o centro de Lima está
em festa! Fuerza Perú! Julho é também o mês das festas pátrias. Em
Cuzco festejam-se os 100 anos de Machu Pichu. A maior ironia da história
deste país. Esse senhor americano Hiran Bingham que, diz-se,
descobridor da cidade perdida quando esta já existia, e que deixou o
povo do Vale Sagrado na miséria depois de roubar todo o ouro e jóias
incas. E hoje em dia isso é motivo de festa, apenas pelo turismo, apenas
porque traz dinheiro.
28 de Julho – Independência do Peru. As ruas cobrem-se de vermelho e branco. Os peruanos são orgulhosos de
ser quem são, depois de tanta batalha, depois de tanto sofrimento,
depois de tanto sangue derramado desde a conquista dos espanhóis à
guerra com o Chile, passando pela ditadura Fujimorista onde foram
cometidas as maiores atrocidades contra os direitos humanos da história
política deste país.
Susana Baca foi eleita Ministra da
Cultura. Uma das maiores referências da música criolla peruana, está a
cargo de defender e promover o seu sangue dentro e fora do seu país. Tal
como Lula, Ollanta, o nosso novo presidente, está a seguir as suas
pegadas, quando elegeu Gilberto Gil para Ministro da Cultura no Brasil.
Fico feliz, por saber que estamos a tomar as decisões correctas, depois
de tanta opressão imposta à cultura popular por parte dos demais.
Julho.
Documentários, café, cigarros e paixão, ou será que posso dizer amor?
Todos os dias passavas por mim e metias-te comigo. E eu que nunca te fiz
caso. Até ao teu último dia em Lima. Restavam-nos apenas algumas horas.
Tu foste a correr ao terminal de autocarros e compraste um bilhete para
o dia seguinte. Os meus olhos brilharam e o meu sorriso estendeu-se por
largos minutos. Pôr-do-sol na praia, um ceviche na Bajada de Baños ao
som da linda música criolla peruana, com a guitarra e o “cajón” dos
senhores Pepe e Javier. Felizes dancamos um bolero. E um quarto de
hotel. O dia amanhece e tens que seguir viagem. Pedes-me que te siga,
que não te deixe cruzar o oceano sem que nos vejamos outra vez. Tu
segues e há um vazio à minha volta. Dou voltas à minha cabeça tentando
compreender o que fazer e como fazer. Fiz as contas aos dias e percebi
onde te poderia encontrar. Que coincidência... Estão dois amigos
portugueses aí
também. Porque não?
E porque quero eu
fazê-lo? Estarei eu apenas à procura de uma boa história para contar e
escrever uma curta-metragem? Ou estarei eu mesmo apaixonada? Sei que não
devo, sei que poderá ser um erro, sei que nem sequer és o homem da
minha vida, sei que vou atravessar fronteiras para te ver por mais umas
escassas horas? Sei. Sei que sinto. Porque o meu coração diz “Vai!”. Vai
por mais que seja uma loucura, por mais que te entregues, por mais que
chores ou que sorrias depois, por mais que te encha o estômago de
borboletas ou por mais que depois sintas um vazio no coração e aquele nó
na garganta, mas “Vai!”. Porque a vida é curta demais para pensarmos
demasiado, porque sem paixão sei que não posso viver, porque quem não
chora não pode ser feliz, porque só assim me sinto viva, porque amar e
desfrutar de outro ser humano é a coisa mais linda que se pode fazer
nesta vida, porque não importa que sejamos felizes ou não. ”Mais vale
viver que ser feliz” e “ Por imortal que seja, posto que é chama, mas
que seja infinito enquanto dure”, já dizia o velho Vinicius.
Panamá. Já estou a caminho e aqui vou-te encontrar. E o meu coração bate tão depressa. Mal posso esperar.
Peru. Viajo porque preciso. Volto porque te amo.
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Enlace
http://www.rpp.com.pe/2011-07-26-susana-baca-considera-necesario-impulsar-el-arte-popular-noticia_388451.html
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* Originalmente publicado a 4 de Agosto de 2011, na Le Cool Lisboa * 299
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