Trujillo : Huanchaco. Chego num sábado ao fim da tarde. Entro
no primeiro hostel que encontro, onde o meu quarto cheira a ratos
mortos, mas não estou nem aí. Só quero água de mar e chinelo no pé. A
praia está apinhada de gente, porque hoje termina o campeonato de surf.
Huanchaco
é uma antiga vila pescatória, a cerca de 14 km a noroeste de Trujillo, a
terceira maior cidade do Peru. O nome tem a sua origem por volta do
século XVIII e significa “ lagoa de peixes dourados”. Isto porque reza a
história de que os antigos pescadores antes de se lançarem ao mar,
pintavam o peito de vermelho,
imitando uma ave que tem pelo nome de “huanchaco”, ficando apelidados assim de “huanchaqueros”.
Quando
chegaram os espanhóis, resolveram chamar a este lugar a vila dos “
Cavalinhos de Totora “, que são uns pequenos barcos bem estilizados,
feitos de umas canas semelhantes às de bambu, que dão pelo nome de
“totora”. O cultivo desta cana, já vem desde o séc. XVII com a
civilização Moche, característica desta zona, onde os “huachaques” eram
poços de totora dos quais se aproveitavam as filtrações do subsolo,
assim que daí ser possível a semelhança fonética entre “Huanchaco” e “
Huachaque”. Outra civilização pertencente a esta zona foram os Chimú.
Tanto estes como os Moche, foram antecessores dos Incas, e Trujillo é
uma
zona bastante turística desde que foram descobertos os seus templos, conhecidos por “Huacas”.
Qualquer
amante do surf, sabe o que se passa por estes lados. A cerca de uma
hora de Trujillo, na praia de Chicama, encontra-se a “esquerda mais
larga do mundo”. Sofia Mulanovich, uma surfista peruana, foi campeã
mundial no Campeonato de 2004, e estas praias são o seu quintal.
Huanchaco
é um lugar simpático. Tem a sua onda. Aos fins-de-semana, é muito comum
as famílias de Trujillo escaparem ao centro da cidade, para virem
desfrutar dos seus apartamentos à beira da praia, qual Aroeira ou Costa
da Caparica. “Cremoladas! Raspadillas! Tamales! Manzanas Dulces!
Anticuchos! Picarones!
Marcianos de Lúcuma!! “ São os pregões dos
comerciantes ambulantes ao longo de todo o paredão. Deitada na areia,
perdida nos meus pensamentos, e sou abordada por um lindo menino de rua
dizendo “Hola mi reina, me compra un chocolate?”. Um sol, dois soles, e
assim se vão as moedas do fundo da carteira. Menus de 10 soles, com
“ceviche” para entrada, um crocante “chicharrón” de peixe como prato
principal, e para baixar pelo estreito, uma geladinha “ Inca Kola”.
Existem
uns quantos cafés de estilo mais ocidental, com deliciosos menus
vegetarianos e um ambiente bastante acolhedor. Classes de yoga na praia,
à hora em que o sol acaricia o horizonte, onde todos param entre o
terminar de um gelado, ou um partilhar de um abraço, em silêncio, antes
de voltarem ao ritmo normal do seu passeio de fim de tarde.
Ruínas
de Chan Chan. Às portas da maior cidade de barro do mundo, com uma
extensão de 14 km2, um taxista aborda e tenta-me convencer com o seu
serviço directo e eficaz a mais 3 atractivos turísticos, tudo por 50
soles com uma duração de 3 horas. E por mais que deteste agarrar estes
pacotes, hoje o sol bate forte, e não estou em modo “ combi”. Hoje sou
turista.
“ Huaca del Arco Íris”, “ Huaca del Esmeralda”,
Museo de Sikan y “Chan Chan“. Recorri todas as pérolas da cultura Chimú,
ficando-me a faltar as “Huacas del Sol, Luna y del Brujo”, da cultura
Moche. Mas isso ficaria para o meu regresso.
Aqui
aconselho vivamente que se hospedem no Hostal My friend (com económicos
menus) , e a noite a 10 soles com banho privado, ou para quem procura
mais comodidade “Surf Lily Hostal” ou “Sudamérica Hostel“. Para os
vegetarianos ou os tão ou mais “cafeteros” que eu: “Outra Cosa” com uma
incrível vista para o mar, (onde também podem consultar bons guias de
viagem e desfrutar de um mini-cinema), “Chocolate Café”, “La Casona” ,
"Abacaxi” e “Las Carmencitas” onde não podem perder dois bons dedos de
conversa com a dona com o mesmo nome.
Equador : De Guayaquill para passar a fronteira e para chegar a Montañita na costa.
Em
vez de venderem t-shirts na rua que dizem “I love Montañita”, deviam
fazer outras a dizer “I FUCKING HATE MONTAÑITA”. A gringolândia sul
americana em peso. Toda a Argentina e Chile decidiram mudar-se
para aqui nas férias da universidade.
Montañita
é sujo, a praia não é grande espingarda, apesar de ser um bom destino
para o surf, por onde quer que passes os “waykis” ( artesãos de
pé-descalço ), saem-se com um constante “Hola amiga!”, como se tivessem
andado contigo na escola, à espera que te derretas pelos seus longos
cabelos negros, e corpo moreno musculado com tatuagens incas, achando
assim que já te venderam o par de brincos mais “in” da
América Latina.
Se
viajas sozinho esquece Montañita. Os dormitórios não são partilhados,
assim que senão vais em grupo, estás lixado, as matrimoniais por alguma
razão especial apenas alugam a casais, assim que onde dorme quem gosta
de ser um pouco mais solitário? Aqui é a pura “juerga”. Sexo, drogas e
reggaetown.
O Sr. Ruben é o único que às 8h da manhã de um
domingo tem a sua banca aberta com boas empanadas de queijo e café
quentinho. Falou-me do paraíso que era este lugar, há cerca de 30 anos
antes de chegar o primeiro turista. Não existia dinheiro em Montañita.
Trocavam-se peixes por arroz e batatas. Dinheiro? Nem sabia o que era
disso. O caminho que me separa entre a banca dele e a saída do meu
hostel, faz-me
andar aos ziguezagues para fugir dos comentários
obscenos daqueles que ainda não dormiram, e caminham tipo “zombies” com
uns olhos que mais parecem os faróis de um carro avariados.
Os
meus planos de continuar a subir pela costa alteram-se. Não queria mais
correr o risco de encontrar este tipo de festa à beira-mar e a preços
estupidamente caros. Assim que regresso a Guayaquill para encontrar-me
com um português que vive em Lima e seguirmos viagem, num destino que
decidiremos mais à noite. Passamos horas à conversa no “malecón” de
Guayaquill, uma cidade que antigamente pertenceu aos piratas. Parece que
temos pilhas na língua, e trocamos o máximo de impressões possíveis,
como que a matar saudades do que é falar em bom português.
Baños,
Equador. Conhecida como a cidade das Cascatas e do vulcão Tungurahua,
ainda ativo, que em 2006 foi a última vez que entrou em erupção. Depois
de uma boa caminhada na montanha e a miradouros, e de fazermos o
percurso das cascatas principais, rumbo a Latacunga, a Oeste de Quito,
para desfrutar os últimos dias de viagem juntos, de volta à costa.
Mas agora acompanhada.
Por
Ollantaytambo, sei que a vida continua tranquila, e a chover. E eu,
mesmo de férias, sei que o trabalho não pode parar, tentando espalhar ao
máximo a campanha para as vítimas das cheias em Urubamba, que senão
alcançarmos parte do limite final, terá os seus últimos dias nos
próximos meses. Assim que vos
peço que difundam o máximo que
possam, e para os que possam fazer uma pequena contribuição, que se
lembrem que por mais pequena que seja, aqui por estes lados, pouco
significa muito. A comunidade agradece, e todos juntos com pequenos
gestos podemos mudar o mundo.
Deixo-vos com um
documentário publicitário sobre a cultura peruana. Espero que gostem e
que assim de alguma forma possam perceber, como este país me apaixona
cada vez mais, a cada dia que passa.
Ligações
Pintura por Augusto Brocca
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