Le Entrevista às Anarchicks por João Freire
Sucesso. Popularidade. Concertos, gritos e acenos. Loucura com fartura. Mas q.b. também. Uma maneira desmedida de fazer as coisas. Porque sim e porque querem. Dizem que o que fazem é espontâneo e democrático. Crónica de um sucesso anunciado.
Comecemos pelo início. Se bem que ninguém sabe quando foi. Mas vamos tentar pelo menos.
Tudo aconteceu numa tarde qualquer, num dia qualquer. Donas e senhoras de vários e estimulantes projetos, sabiam que queriam fazer algo. Algo no feminino, que mostrasse o power deste tão interessante género. Syntetique Red e Playgirl já se conheciam de outras andanças. “E que tal aqui uma bateria electrónica? Nada disso, temos que encontrar uma baterista de jeito”. Mais uma vez munidas de um excelente conhecimento do movimento underground de ambas as margens, lembraram-se da energia e qualidade de Katari. Trio potencialmente perfeito, tendo em conta pelo menos o jeito tresloucado com que se apresentam.
Mas não chegava. Já que era para ser, ao menos que fosse como deve ser. Lançaram-se na busca então pelo quarto membro, aquele que iria trazer equilíbrio a algo que ainda nem sabiam o que era. Mas continuaram a descobrir. Sem nunca parar de tocar e ensaiar. Curtir no fundo.
Quando se depararam com JD, uma guitarrista com um toque mais clássico, a simbiose foi mais que perfeita. Pegando nas palavras da própria: “quando as conheci (ou seja, quando fui fazer a minha audição para guitarrista) senti que finalmente tinha encontrado a banda que procurava... Porque, embora nunca tivesse muito claro na minha mente a minha ideia de "banda ideal", acho que se fez um click no momento, tipo "this is it".” Nada mais a dizer certo?
O que fazer então quando se tem uma banda recém-formada, a tentar arranjar o seu espaço e a sua identidade (reza a história que o nome e o mote “Se a música é uma arma, elas são o gatilho” veio da cabeça pensante de Katari)? Ensaiar, e mais ensaios, e concertos certo? Errado. Entrar em estúdio com uma personagem a alinhar no mesmo diapasão (aka Makoto Yagyu) e gravar de imediato um EP com quatro canções. O título? Obviamente que “Look at What You Made Me Do” era a escolha óbvia. Ou não, estou apenas a embelezar agora.
Quem lê isto pensa que será algures nos princípios de 2011 pelo menos, a avaliar pelo número de concertos e notoriedade que já alcançaram, mas não, esta história começa em novembro desse ano. A verdade é que a partir daqui tudo descambou.
Talvez isto explique porquê:
Katari, os vossos gostos musicais claro que influenciam a música que tocam. Não sei se concordas. Mas de que maneira é que se influenciam?
No meu caso pelo menos isso está sempre a acontecer. elas surpreendem-me e inspiram-me. cada uma tem uma input pessoal e insubstituível. têm todas um background próprio e uma personalidade musical bem vincada, mas ao mesmo tempo são super permeáveis às ideias alheias.
No que toca à música, falamos a mesma língua. Se uma diz mata, a outra diz esfola. Entendemo-nos e puxamos umas pelas outras. Temos química. estamos sintonizadas na mesma frequência. Deve ser por isso que cada vez que tocamos sai uma faixa nova. Até em soundchecks já parimos músicas novas!
Concluindo, para mim elas têm o que é preciso: feeling, bom gosto, humildade e uma fome insaciável por rock! Tocamos todas com o coração. Não pode haver influência melhor que esta.”
O que é certo é que o projeto saltou para os palcos desse país. O EP foi gravado num instante, e fez tanto impacto que rapidamente chamaram a atenção da Chifre.
Convém agora aqui fazer uma pausa. Se não sabem do que estou a falar ouçam primeiro algumas músicas e vejam uns quantos vídeos que andam aí no éter a circular. O que é facto é que estas senhoras fazem o que muitos não conseguem: cativar. A energia sente-se, a maneira despreocupada com que tocam, com que falam, riem-se, interagem, no fundo existem, é entusiasmante. Para mim pelo menos, habituado a padrões e esquemas politicamente corretos. Aqui nunca se sabe o que se leva. Ou melhor, sabe-se apenas que deixam tudo em palco, em cada música, em cada batida. E que batida. Que power e que energia. Tudo se encaixa, tudo é perfeição. Sem ter nenhuma presunção de o ser. É porque soa bem. Porque não sabem soar mal. Lembro-me algures na conversa de escutar a Playgirl a falar com tal paixão do processo criativo, apelidando-o de “uma criação democrática, natural, orgânica e simples. Tal e qual uma amizade bem cimentada”.
E exemplifico porque resulta sempre bem.
Miss Red, o que significa para ti a música? O que te move para a criares e tocares?
A música para mim é uma linguagem universal, uma forma de transmitir sentimentos e emoções a outras pessoas e de as unir por esse mesmo motivo....quando a música nos deixa indiferentes não creio que seja por a música ser classificada como má ou boa, acho que apenas existem aquelas coisas que nos fazem click..outras não..desde cedo comecei a aprender música (9 anos) e tive formação clássica. Foram as minhas ferramentas para conseguir comunicar algo com essa mesma linguagem..cedo comecei a compor também, com essa mesma necessidade d comunicar.
As Anarchicks são 4 pessoas cujos ideais e personalidades se juntam e sai a nossa mensagem, a nossa música. Compor é uma necessidade, é como uma pequena droga que nos ajuda a viver. É que hoje em dia todos nos preocupamos em sobreviver à crise, às doenças, aos problemas, às desilusões. Acho que a música é o momento em que podemos sonhar um bocadinho, viver um bocadinho.
Posso dizer que a nossa música é o que nos vai nas almas e acho que as pessoas gostam dela porque de algum modo partilham e gostam daquilo que transmitimos.
Por isso resumindo, o que me motiva a criar é uma necessidade brutal de sacar o que está cá dentro e pô-la cá fora.
E é isto mesmo que se sente. Mas o que levou a que este projecto, ao contrário dos outros de cada um dos elementos, nascesse com toda a força e energia?
A este ponto a conversa já vai célere. Os apontamentos, já de si esparsos e pouco precisos, agora são inexistentes. Divaga-se. Divaguemos então. O mundo em Portugal neste momento está dotado de momentos destes. De histórias de como do nada se faz muito, com pouca coisa. Já o disse, a vontade de fazer e de fazer acontecer corre nas veias de quem se atreve a tentar. E claro, com confiança inabalável, tudo começa.
O pessoal anda mais atento. Há um público mais velho revoltado e com necessidade de sentir isto. De sentir que tudo é possível. Não interessa a idade, de onde vais ou para onde vais. Apenas interessa o teu querer e a vontade.
Há também um despertar para as novas bandas portuguesas. Há mais pessoas com poder a acreditar em nós. Projetos atrevidos, feitos por pessoas atrevidas e soltas. Capazes de chocar mentes, abanar conceitos, trilhar caminhos novos. Mesmo que já tenham sido construídos ou caminhados. Mas serão sempre novos. Porque a abordagem é diferente.
O futuro? Esse será pensado à medida que vai surgindo. Para já concertos, vários e variados. Festivais quem sabe. Tocar com fartura. Cada vez mais. Cada vez com mais pica. Gravações, videoclips, concertos inteiros gravados e disponibilizados (aqui um obrigado em nome das Anarchicks ao Miguel Bombaja) na atmosfera. Para todos ouvirem e sentirem. Entram em estúdio em julho, já com ideias na manga. Cá estarei para o escutar com atenção. Até lá um muito obrigado pelo vosso tempo e disponibilidade.
E nunca se esqueçam, estamos aqui pela música. Pelo ROCK!!
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Links
http://chifre.org/project/anarchicks
https://www.facebook.com/AnarChicks
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