Fernando Caruso é uma estrela no Brasil. Melhor, é toda uma constelação. Este comediante volta para cintilar em Portugal no Espaço Brasil, nos dias 6 a 9 de dezembro, acompanhando pelos stand up António
Raminhos, Luís Barros Franco e Ricardo Vilão. Fizemo-lo descer um pouco
do firmamento do palco para responder a uma bátega de perguntas. Cá
vai. Sem risos falsos.
Quem é Fernando Caruso e o que o levou a seguir pela
carreira humorística, foi importante a influência paterna e a do tio (já
que é filho e sobrinho dos Caruso, cartoonistas reconhecidos do
Brasil)?
Fernando Caruso sou eu, muito prazer. A influência paterna pode ter
sido genética, porém nunca consciente. Acabei seguindo meus próprios
caminhos e me encontrei na comédia. No jornal onde meu pai trabalha (O
Globo), sou conhecido como "o filho do Caruso". Nas peças em que eu
atuo, com um público diferente, mais jovem, ele é conhecido como "o pai
do Caruso".
Já que é comediante posso pedir para contar uma piada sobre portugueses?
Esta foi a minha piada - interessa-me é dar a conhecer o seu
trabalho. Porque será que pedem sempre piadas aos comediantes e qual
foi a sua situação mais engraçada em que lhe tenham pedido uma tirada.
Acho engraçado que todas as piadas de português que os brasileiros
conhecem são, na verdade, piadas de alentejano "mal-traduzidas" para o
brasileiro, ou seja, não são invenção nossa. Acho que mais
constrangedor do que pedirem piada o tempo todo, é quando pessoas que
não são do meio insistem em lhe contar piadas - e mal - só porque você é
comediante. É como se alguém dissesse ao encontrar um médico "ah, você
é médico? Então observa enquanto eu opero esse apêndice sem as
ferramentas necessárias!"
No Brasil é uma celebridade mas em Portugal dá os primeiros
passos para se mostrar como comediante. O que aconteceu desde que
passou por cá com o "Muito Giro" em 2011? E sempre que atua por cá, há
muitos brasileiros ou os portugueses são já seguidores?
A última vez que atuei em Portugal foi no Muito Giro. Essa será a
primeira vez que eu volto à Terrinha, sem a pressão de fazer um
programa de televisão. Nesse meio tempo, lancei mais três programas no
mesmo canal e estou escrevendo a segunda temporada da minha última
"criação" chamada Estranha Mente. A aceitação do Muito Giro foi
excelente, tanto por brasileiros, quanto por portugueses
"abrasileirados". Fiquei muito feliz, posto que o intuito do programa
era exatamente aproximar as duas culturas, e não acentuar atritos e
diferenças, como as mal afamadas "piadas de português". Infelizmente,
não tive muita resposta de portugueses morando em Portugal, pois acho
que o programa não passou em nenhuma TV portuguesa...
O que podemos contar desta sua visita a Lisboa no Espaço
Brasil? Sei que vai ter consigo uns quantos cómicos portugueses a
partilhar o palco. O que lhe parece o humor feito em Portugal? Falta
mais acutilância política ou estão no bom caminho? O que tem
acontecido por cá é um crescimento do humor de improvisação, que soma
tanto de slapstick como de stand up. Ou então de non sense, como os Gato Fedorento. Gosta do humor mais físico ou de palavra?
Podemos contar com mais shows de humor, que era algo que eu
gostaria de ter feito mais, durante o Muito Giro e que agora eu
poderei fazer com mais calma, sem a pressão de levantar um programa de
TV. Eu adoro o humor de Stand Up em Portugal, me parece muito
mais inteligente e elegante. A meu ver, Portugal está para o Brasil
assim como a Inglaterra está para os EUA em termos de Stand Up. Não dei pela falta de acutilância política, até porque isso não é algo que eu procuro nos shows
de comédia quando sou espetador e, por não entender a fundo a situação
política de Portugal (ou de qualquer país, para dizer a verdade), eu
provavelmente não entenderia boa parte das piadas e das críticas.
Quanto a gostar do humor mais físico ou o de palavra, acho que gosto
mais do humor bem executado, independente do género. No final das
contas, gosto dos dois.
Serão os portugueses capazes de rir de si próprios? Ou nunca precisaram de rir tanto?
Não pretendo usar os portugueses como alvo de piada, acho que meu
alvo será mais o brasileiro ou eu mesmo. Acho que a função de fazer
piadas sobre o povo português caberá mais aos meus colegas portugueses,
que dominam o assunto com muito mais mestria do que um visitante.
E Lisboa, sei que gosta da cidade como todos os brasileiros
que a visitam, é quase um cliché. Mas o que acha mesmo - Lisboa tem
graça?
Assim você me coloca numa situação complicada: ou eu repito o cliché
demonstrando pouca originalidade, ou eu insulto a cidade que me
acolheu tão bem. Não sei o que responder. Adoro Paris, serve?
Gostaria de terminar e pedir um convite a que os lisboetas e mais além, assistam ao seus espectáculos de Lisboa.
Lisboetas e mais além: nos dias 6, 7, 8 e 9 de dezembro, estarei
comemorando o ano do Brasil em Portugal fazendo apresentações de Stand Up
com vários colegas comediantes portugueses. Seja você brasileiro,
português ou da Costa da Caparica, será um prazer juntar todo mundo e
ver que independentemente do nosso ponto de origem, o riso não tem
sotaque! Espero encontrá-los por lá.
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