Fala-me de ti como se entre nós estivesse uma mesa de café. Passa-me um cigarro, no entretanto.
Então, anda daí e senta-te. Que se é para ser à mesa do café, faço questão que seja a sério. Enquanto bebemos um café, conto-te tudo. Sem açúcar, se bem me lembro... Cigarros é que não tenho, já não se usa disso por aqui. Hurray...! Pois que sou uma importação minhota. Uma das muitas, não há grande originalidade aí, que aterrou em Lisboa para frequentar o ensino superior e nunca mais se foi embora. Nine, já ouviste falar? É uma aldeia que herdou o nome dos engenheiros britânicos que ajudaram a construir a linha férrea até Braga. Não há ferroviário ou viajante regular para aquelas bandas que não a conheça.
E o teu nome? Parece saído dum romance de Le Carré se este fosse alfacinha. Ou é nom de plume para quando escreves?
Nada disso. É tal e qual o que está no registo… Há pessoas que têm pais iluminados na hora de escolher o nome. O apelido é culpa do pai, não há aí grande mestria ou inspiração literária. Já o nome próprio, temo que também seja. Lamentavelmente, cheira-me a inspiração vinda de telenovela brasileira, mas não tenho a certeza. Espera aí... Ò mãe…? Mãe…? Responde aqui aos senhores...
Conta-me das tuas lides profissionais, por onde param e para onde se esvai o teu tempo?
O meu tempo esvai-se em frente ao computador, como a grande parte dos homens modernos… No meu caso é a escrever, diz que a contar histórias. Mas também me conseguem encontrar com o telefone numa mão e a caneta na outra, a tomar notas, para não perder os pormenores das histórias. Isto de trabalhar em televisão não é só ligar a câmara e deixar rolar, é preciso fazer o trabalho de casa.
E é isso que eu faço, mas só durante o dia. Depois da janta, sento-me em frente a outro computador que, vendo bem, mais parece uma
central multimédia. Faz as vezes de tv, sala de cinema, sound system,
jornal, revista, newsroom, eu sei lá... Ocasionalmente, lá o ponho a
computar qualquer coisa, pouca...
Lisboa, quantas sílabas de prazer tem este nome?
Se
estás à procura da resposta tendo em conta os ensinamentos gramaticais é
melhor mudares de ideias… Não chega uma internet inteira para resumir
tudo aquilo que Lisboa tem de bom. Só os distraídos ou cheios de má
vontade podem dizer o contrário e eu sou um nortenho convicto. Lembro-me
de quando cheguei cá – agora convém que imagines aquela coisa do aldeão
de província que chega a Santa Apolónia – ter dado de caras com aquele
rio enorme à minha frente a reflectir a luz do sol. Ainda agora, quando
penso em Lisboa, é isso que me vem à cabeça, a quantidade de luz que a
ilumina. Um luxo.
Depois descobres os miradouros, os telhados, os cafés,
as esplanadas, os restaurantes, as tabernas, as tascas e as pessoas que
as frequentam. Depois tens as casas de fado, tens Alfama, Bairro Alto,
Bica, o Cais do Sodré... Se quiseres, podes fazer um plano para os 365
dias do ano sem ter de repetir um sítio que seja.
Sugere-me aí os melhores espaços de entre casas de Lisboa para deambular.
Puxando
a brasa à minha zona - ao meu bairro, se quiseres – tenho de eleger a
Mouraria.
A malta andava distraída, mas, felizmente, alguém percebeu que
a diversidade tem de ser aproveitada. Deixem os medos em casa e
aventurem-se. Nunca sabes quando é que uma porta aberta não se
transforma em mesquita. No meu caso, não fossem os sapatos empilhados e
nem dava por nada. Depois tens comida vinda dos quatro cantos do mundo, é
só escolher. Tanto podes ir para as tasquinhas com petiscos
portugueses, como africanos. E tens restaurantes muito bons, a maioria
muito em conta, e que vão da comida vegetariana, à indiana, sem esquecer
um famoso chinês clandestino que, se procurarem, encontram com
facilidade.
Façam é um favor a vocês próprios, ainda que possam começar a
jornada no Martim Moniz ou Largo do Intendente, metam-se pelas ruas
mais estreitas e aí sim vão perceber... E não vale imprimir guias ou
mapas, é à aventura mesmo.
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