Falamos com Rui Pina, largamente conhecido e reconhecido como vocalista dos Dealema. O mote? O lançamento de novo álbum como Expeão, o «O Fim de Todas as Estradas».
Gostava de uma breve apresentação de Expeão e o porquê da escolha deste
nome de artista. Achas, como apontou Octávio Paz, que o artista não tem
biografia, a sua biografia é a sua obra - a frase original é «os poetas não têm
biografia. A sua obra é a sua biografia»?
O nome EXPEÃO é um nome que te faz pensar no significado, por isso o escolhi. Para mim significa deixar de ser um mero peão no jogo de xadrez que é a sociedade e passar a ser mais autónomo e árbitro do próprio destino.
Concordo com Octávio Paz, o poeta tem a sua intemporalidade explícita na sua obra.
Tens álbum, o «O fim de todas as estradas», para o qual compuseste,
escreveste e onde cantas. Queres explicar-me um pouco todo este processo
de criação e de desmultiplicação? No encarte do álbum agradeces a mil e uma
pessoas (talvez mil e duas, tenho que recontar). Achas importante toda essa
massa humana ao compor e ao criar, é um bom anteparo e sustento?
Gosto de ser eu a ter o controle de todas as fases dos meus álbuns, desde a
composição até à gravação, mistura etc. Assumo toda a responsabilidade do
disco, embora este novo álbum tenha produção minha e de Zé Nando Pimenta da
Meifumado. Foi um disco que contou com alguns músicos executantes das minhas
composições, pois eu gravei todos os instrumentos no meu estúdio, e depois
levava para o estúdio da Meifumado e regravávamos o que eu tinha tocado na
maquete, se fosse necessário.
Chegámos a guardar muitos «taques» da minha gravação
(especialmente as vozes), mas as baterias gravámos todas de novo, assim como
muitas das partes de guitarra e baixo.
Quanto a compor e a criar, geralmente, faço-o no piano ou na guitarra, raramente
componho de outra forma. É muito directa a minha forma de trabalhar, basta-me
uma ou duas guitarras, um baixo, os meus teclados vintage (e a funcionar mal), uma
bateria, e é muito rápido, a partir daí, mas geralmente faço-o sozinho ou com o meu
baixista, Guito Maldiva.
Agradeço a todas as pessoas e instrumentos que ajudaram
ao resultado final por muito pouco que tenham feito.
Expeão. Vês-te como um óptimo seguidor das características humanas? O
amor ou a desilusão, por exemplo, vêm bem explícitos nalgumas das faixas do
disco, no primeiro single, por exemplo, onde até há um piscar de lírica a Rui
Veloso / Tê. Quais são os interesses que te movem?
O amor e a desilusão são temas constantes nos meus trabalhos, pois são reais para
mim, assim com a morte e a dor. Há quem ache que falar desses temas demonstra a
tua fraqueza, mas eu acho que é o contrário. É preciso sentir e é preciso ter coragem
para abordar esses temas. Toda a gente fala agora em revolução e manifestos, mas
continuo a ver no terreno os mesmos de sempre, há quem possa confundir a minha
música com activismo, mas estão muito enganados, eu não vou vender a minha
música para essa falsa revolução e aproveitar-me do momento do manifesto para
fazer promoção à minha banda ou empresa.
Conheço muitos casos desses e é triste, como lhe chamo, «vender a revolução».
Eu
actuo nos locais onde as pessoas possam beneficiar da minha ajuda, contactos para
resolverem alguma situação grave no bairro, por exemplo, ou actuo em escolas e
associações de apoio a crianças de rua, onde existem problemas com a comunicação
entre alunos e professores.
Por exemplo, agora estou a fazer um projecto com uma
turma de risco de uma escola em Matosinhos. Não confundo isso com a música, a não ser quando acho que deva escrever sobre
esse tema. Mas não me vejo como um alguém que diga às pessoas como devem
pensar (política), mas sim como alguém que te faz pensar.
Dealema e agora a solo como Expeão. Chamas-lhe virar de página - ou de disco
- ou é fundamental para um músico procurar sempre novas alternativas para
a sua «voz»? «O Fim de todas as estradas» não é vincadamente um disco de Hip-
hop...
O meu primeiro disco como Expeão saiu em 2006, «Máscara», e este foi uma
evolução desse primeiro, mas mais conceptual. Com uma sonoridade mais rock,
com rap e seja lá o que lhe quiserem chamar, eu não me enquadro em nenhum
movimento, faço música, tenho diferentes bandas: toco punk hardcore desde
sempre com os meus amigos de infância, pois foi a música que nos fez querer ser
músicos, tenho a minha editora de música electrónica: Facamonstro, assim como
Santo Ovídeo Grime, Expeão, Dealema. Gosto de separar as águas, por isso nunca
vou fazer um disco na mesma onda que DEALEMA, pois estaria a sugar a banda.
Felizmente consigo separar bem as coisas na minha cabeça.
Alguns concertos, pois a banda com que estou neste momento é incrível e está a soar
muito forte ao vivo, podemos competir com qualquer banda de rock nacional.
Lisboa. Casa e pátria, bom combustível para letras?
Lisboa é uma cidade muito bonita e inspiradora, pois costumo estar em certas
acções da “Plataforma Artigo 65” – Direito à Habitação, da qual faço parte
e tive a oportunidade de conhecer sítios com uma cultura incrível, como a Cova da
Moura, entre outros guetos, e é sem dúvida inspirador.
Mas a maior parte da minha inspiração vem da cidade do Porto, onde sempre vivi, e
todos os bairros que já percorri.
A pobreza no Porto chega a atingir os 30% da população e é ao mesmo tempo uma
cidade com pessoas muito acolhedoras e sentes mais a entreajuda humana, o que é
essencial para lutar contra a ditadura do Rui Rio.
«O fim de todas as estradas» não será um fim, mas mais um ponto de situação?
Que podemos esperar de ti em termos musicais para os próximos meses?
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Ligações
www.myspace.com/expeao
www.facebook.com/expeao.oficial
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