Sempre desenhei mãos. Comecei é por pôr os pés pelas mãos ao desenhá-las.
Depois fui aprimorando a coisa.
Tenho um almanaque com mil e uma desenhadas. Em formas e posições para todos os gostos, como se fosse a milena e tal de receitas diferentes do fiel amigo. Sherazade ficaria orgulhosa e até daria à estampa uma por noite, para apimentar as contas.
Afixei uma data delas em folhas alinhadas junto ao Conservatório de Lisboa.
Desapareceram num ápice, levadas por outras mãos em pinça de quero-te sem que as pudesse desenhar.
São quase sempre minhas, mas nem sempre. Umas parentes, outras amigas, uma ou outra imaginada, aquela em detesto.
Reparei que os povos se identificam e valorizam (e se valorizam) muito pelo que lhes sai das mãos. Não pela mão em isso, essa é a ferramenta necessária, mas pelo produto do seu trabalho. E toque e jeito e minúcia (o olho e o tacto também entram no jogo).
Filigranas, artesanatos, olarias, relojoeiros, artífices, artistas, joalheiros, bilros, tecedores, sapateiros, gravadores. Enfins, afins e infinitos sabeses. E desenhos de mãos. Claro.
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