Le Entrevista a Susana Santos Silva e Torbjörn Zetterberg por Pedro Tavares [PT]

Recuperamos a entrevista que o Pedro Tavares conduziu com a trompetista portuguesa Susana Santos Silva (SSS) e o contrabaixista sueco Torbjörn Zetterberg (TZ). Calha bem, até porque se juntam novamente em Lisboa para concerto na Culturgest, no ciclo «Isto é Jazz?», comissariado por Pedro Costa, a 9 de Outubro.

Como correu o concerto? 

SSS : Gostei muito, estava inspirada. 

TZ : Foi divertido! É um sítio estranhamente inspirador.

SSS : Estranho não!

TZ : Não, não é estranho de todo! É apenas pouco habitual tocar num sítio assim.

Como se juntaram?

TZ : Bem, conhecemo-nos... Basicamente, conhecemo-nos num safari de vacas em Portalegre.

SSS : É autêntico!

TZ : Sim, é verdade. Na verdade soa...

SSS : Estávamos a tocar no festival Portalegre Jazz em Setembro [2012] e o Pedro Costa levou-nos num safari pelo meio das vacas. E então começámos a falar em tocar juntos. Eu fui a Estocolmo em Dezembro e gravámos o CD [«Almost Tomorrow», Clean Feed, 2013].

TZ : Na verdade, a primeira coisa que ouvi foi Lama [Lama Trio] que estava no alinhamento deste festival [Portalegre Jazz]. Essa, imagino, terá sido a primeira parte desta ideia musical.

SSS : Ele pensou que eu era maravilhosa.

TZ : Eu disse isso?

SSS : (ri-se) Estou a brincar.


Um dueto de trompete e contrabaixo. Se considerarem as características dos instrumentos... qual foi o entendimento? A apostar mais no experimentalismo?

SSS : Sim, não?


TZ : Não tínhamos nenhum compromisso quanto ao que tocar quando começámos. Assim, as primeiras coisas foram completamente não planeadas, não tínhamos nenhuma, nenhuma...


SSS : Ideia pré-concebida.

TZ : Pré-concebida, a começar. E então tínhamos algumas músicas que tentámos depois.

SSS : E a primeira música que gravámos, é a primeira faixa do nosso CD, não é?

TZ : Sim, está certo. 

SSS : Então começámos a colocar algumas coisas no papel, algumas pequenas ideias, ideias musicais, melodias e outras coisas, que pudessemos depois pegar e ensaiar.

TZ : Como… é experimental no sentido de ser tão música experimental quanto experimentarmos com o grupo e vemos aquilo que realmente podemos fazer. Também estamos a testar músicas não-experimentais, algo assim. Do meu ponto de vista, é testar o que podemos fazer com o contrabaixo e o trompete, o que pode caber no conceito... e connosco, também.

As vossas faixas mostram uma forma mais afirmativa de tocar e a abordagem instrumental é um pouco mais dura. Reparei nisso especialmente no tema «Knights of Storvålen». O que sentem quanto a esta afirmação?

TZ : Não sei quanto à afirmação, mas estou a pensar no todo... especialmente essa canção e algumas outras no CD... é bastante inspirada no ambiente onde foi tocada e gravada... Foi um Inverno duro...

Numa cabana coberta de neve...


TZ : Sim, tu leste! Era realmente nas montanhas, no Norte da Suécia. 

SSS : Sim, em Dezembro. 

TZ : Era muito sossegado, topos de montanha, imensa neve... um misterioso vibe. É assim que o imagino! É algo de que falámos... ainda que não o tenhamos posto na música, falámos em tentar capturar a atmosfera o máximo que pudéssemos. 

SSS : O sentimento que tínhamos era de transportá-lo para a música...

TZ : Acho que conseguimos fazê-lo.

SSS : Acho que sim! Boa!


Parece que há uma certa influência árabe nesta composição. É possível?


SSS : Ah, a chegada de Colombo... onde?

TZ : Härjedalen.

Onde é Härjedalen?

TZ : O local onde gravámos. 

SSS : Bem a Norte da Suécia. E é como: Colombo... devemos explicá-lo?

TZ : Força.

SSS : Não, explica tu porque foi tua a ideia... Colombo, sabes, ele perdeu-se e em vez de rumar à Índia, acabou em Härjedalen. Essa é a chegada de Colombro a Härjedalen.

TZ : E essa será a nossa ligação, português e sueco.

SSS : Sim. 

TZ : Bem, não sei... penso que essa canção...

SSS : Apenas saiu assim, não foi? 

TZ : É tão difícil de falar dela depois [da canção] porque, quando improvisas, quando as coisas vêm instantaneamente, é realmente difícil dizer de onde vieram... Nós temos todas estas influências, mas...

SSS : Bem, eu estava realmente a fazer algumas experiências, a tirar este pistão da válvula, para conseguir estes sons estranhos. Toquei, saiu assim, começámos a gravar e foi isso.

TZ : Será que isso a faz oriental?

SSS : Não, mas o som que retiras... A afinação que se consegue ao tirar esta válvula... torna-se estranha e monotónica de alguma maneira. Talvez por isso tenha este som, não?

TZ : Claro, se tu o dizes (ri-se). Eu diria que, desde que não tenhas nada específico em mente, quaisquer influências serão possíveis, dado que estamos a ouvir tantas coisas.

SSS : Diferentes tipos de música... A um dado ponto, mais cedo ou mais tarde, elas despontarão se continuarmos a tentar experimentar. Não foi propositado.

Que me podem dizer mais sobre o álbum que gravaram para a Clean Feed Records, o «Almost Tomorrow»?

SSS : O álbum foi gravado em Dezembro, nesta cabine nas montanhas. Foi uma experiência magnífica porque estávamos a fazer todas estas coisas na neve. Sabes, ir esquiar...

TZ : Down skiing, cross country skiing, snow scooter

SSS : Para mim foi uma experiência extraordinária, pois nunca o tinha feito. Foi a primeira vez que esquiei e, claro, tentámos colocá-lo na música de alguma maneira. Gravámo-lo, enviámos ao Pedro [Costa, da Clean Feed Records] e ele gostou.

Sei que têm vários concertos marcados para este ano. No entanto, qual o futuro para este dueto, o que podemos esperar?

TZ : Bem, falámos em fazer mais digressões e mais gravações, mas ainda é cedo para fazer planos.

SSS : Sim, quero dizer, pensamos no CD, na digressão e em tudo; mas parece-me que nos devemos concentrar no CD. Devemos tentar marcar concertos e digressões para promover este álbum. Esse é o nosso próximo passo!

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Enlace : http://ssstz.tumblr.com

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* Originalmente publicado a 3 de Outubro de 2013, na Le Cool Lisboa * 409

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