Le Editorial * 240, por Rafa
Lisboa é um ninho e berço de poetas, uma casa de poetas e um porto de poetas é. E é um braço de rio, um braço de mar, um braço de rio de mar é. E é um livro cheio de poetas e cheio da poesia dos poetas. Esta cidade é pasto de criação – é trigo para a poesia – espera por aí em redor o verso, agachado por de fora das casas, sonhando só o que pode Lisboa ser das entranhas. E o Tejo e o Mar dá-lhe tanto de possível.
Cidade triste e alegre , com suas casas, de várias cores, lá dizia e apontava Pessoa nas suas lides heteronómicas em intervalo de guarda-livros. E em passo largo apressava-se pela cidade, nos entretantos em que as coxas de Ofélia não lhe ocupavam a mente. Colo também um excerto de Cesariny, neste Poema a tal amada perdida pode bem ser a nossa Lisboa:
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
em todas as ruas te perco
Le Editorial * 239 por Rafa
… lá dizia o venerável Mies. E como é precioso o detalhe:
Sair aos tropeções da cama para descobrir já na rua que tens meias de
cada nação, perder uma tarde a perseguir a gataria no Castelo para te
insinuares pela noite à Gata da rua, apanhar o barco para o lado de lá
apenas para dar meia volta para voltar para o lado de cá, mexer o café
com afinco pela manhã para o ir beber sem açúcar, pedir um croissant
para levar para o abrir ainda no bar, tirar monos do nariz
distraidamente no meio do trânsito e dar conta que meia cidade reparou
em ti, fazer fila só porque sim para perceber que a fila nem sequer
existia só porque não, fingir que falas inglês e ir pedindo orientações a
toda a gente da rua até te surgir alguém que o fale melhor que tu, ir
ao supermercado e ter uma branca total do que querias no meio do
corredor dos enchidos e bries e pegar qualquer coisa ao calhés e
esquecer o aniversário de toda a gente e até mesmo o teu, nem que o
marques no tele e no frigo.
Le Entrevista a Alípio Padilha por Rafa
Chamo-me Alípio Padilha.
Tiro fotografias em Lisboa. Na infância costumava olhar por debaixo das
minhas pernas e via o mundo ao contrário. Olhar dessa forma invulgar
transformava então esse lugar. É assim ainda hoje que vejo a “escrita
com luz”. Polaroids e um AE-1 foram as primeiras aliadas. Hoje, vivo
onde sempre quis viver: Lisboa. Gosto da palavra, do lugar de passagem
que sempre foi. A cultura urbana que se esconde e descobre a cada
esquina, numa rua, num palco improvisado ou não, está acessível a todos
os que a queiram adoptar. Estar atento a isso para mim é fotografá-la,
espio tudo, atento, através do viewfinder de uma câmara. Um voyeur
assumido.
Lisboa deixa-se fotografar. É exibicionista e vaidosa desde as calçadas onde se tropeça na alma dos lugares, aos miradouros românticos e sempre iluminada pelo Tejo. Há novos fados de Lisboa, basta olhar para eles. Eu registo-os com o que tenho à mão: a fotografia; desafia-me o trabalho no colectivo TPP e na Rua.
Lisboa deixa-se fotografar. É exibicionista e vaidosa desde as calçadas onde se tropeça na alma dos lugares, aos miradouros românticos e sempre iluminada pelo Tejo. Há novos fados de Lisboa, basta olhar para eles. Eu registo-os com o que tenho à mão: a fotografia; desafia-me o trabalho no colectivo TPP e na Rua.
Le Editorial * 238 por Rafa
... sete colinas e meia a correr ao alto e ao baixo; casas e templos e
bairros a formar um quadro, a emoldurar uma paisagem; eléctricos
amarelos e um ou outro vermelho a chiar pelo Chiado adentro; perderes-te
no emaranhado de Alfama para logo te encontrares na vastidão de Belém;
esperar a dança dos pássaros sobre o Terreiro do Paço e adivinhar-lhe
uma coreografia estudada; ver o sol adormecer por detrás da cidade desde
o Cais do Ginjal e dormitar com o seu toque luminoso nos jardins da
Gulbenkian; ler um livro num parque escolhido a dedo, fechar os olhos a
gosto e acariciar a relva lentamente, adivinhando traços de avião
escavando o céu; jogar ao esconde-encontra com o Tejo desde um dos
muitos miradouros que a cidade criou apenas para ti; ouvir o burburinho
colorido nos mercados e nas feiras e o movimento das gentes a encher as
ruas. A tua cidade é tanto, é tudo e é tua, Lisboa a Grande, a Quente e a
Boa, Lisboa a LeCool.
E a tua Lisboa é _ _ _ _ _ _ _ _ (preenche a teu gosto).
Le Entrevista a Célia F. por Rafa
Eu, sou apenas eu mesma. Aqui e agora. Um humano comum.
Sou Célia F. e Selecta Alice.
Dois lados da mesma unidade. Escrevo para revistas como a Dif, La
Néctar, de Bs. As. e para projectos e produtoras de música. Atrás,
estudei direito. Fiz Teatro e desde muito miúda toco piano. Fiz rádio e o
amor persiste. Pinto. Sou selecta por amor à música e por acreditar na
festa, ritual de encontro e reunião consigo e com os outros.
Lisboa é um dos meus ninhos, onde vivem muitos dos que com quem criativamente partilho a existência. Uma pequena babilónia abençoada por uma luz única e temperada por uma melancolia poética. Gosto de passear pelos bairros antigos sozinha. Parar nos detalhes. Na visão do Tejo. Gosto das pessoas que fazem a cidade. O que dá saudade? A energia única que tem por ser cidade, mas pequena.
Sonhos loucos?! Ando a fazer deles os meus objectivos desde que descobri que não eram loucura!
Lisboa é um dos meus ninhos, onde vivem muitos dos que com quem criativamente partilho a existência. Uma pequena babilónia abençoada por uma luz única e temperada por uma melancolia poética. Gosto de passear pelos bairros antigos sozinha. Parar nos detalhes. Na visão do Tejo. Gosto das pessoas que fazem a cidade. O que dá saudade? A energia única que tem por ser cidade, mas pequena.
Sonhos loucos?! Ando a fazer deles os meus objectivos desde que descobri que não eram loucura!
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