Le Entrevista aos a Jigsaw por NunoT
Quem são os a Jigsaw? Falem-nos um pouco do trio de pessoas por trás dos músicos.
Os a Jigsaw são o Jorri, a Susana Ribeiro e o João Rui. Julgo que não há muito a falar acerca das pessoas por detrás dos músicos porque tentamos que a nossa música seja suficientemente sincera para justificar as pessoas que somos. Talvez fizesse mais sentido falar dos músicos por trás das pessoas.
Quando foi e como foi que nas vossas vidas entrou a música que se viria a transformar numa carreira (de cada um)? E como é que os vossos percursos musicais se cruzaram?
A música entrou bastante cedo na vida de cada um devido à importância que têm as memórias que lhe associamos da nossa infância. Contudo, é a Susana a primeira a enveredar por esse caminho, por via da formação clássica do conservatório. Quanto a mim e ao Jorri, esse caminho surgiria bastante mais tarde, quando percebemos que a nossa paixão por música não se bastava na sua audição. Os percursos cruzam-se entre mim e o Jorri em 99, quando formámos os a Jigsaw. Finalmente, os nossos percursos cruzaram-se com a Susana Ribeiro em 2005 quando a convidámos para tocar violino em algumas faixas do nosso primeiro álbum “Letters From The Boatman”.
Para além de A Jigsaw em que outros projectos ou actividades estão envolvidos? Há outras profissões no meio disto tudo?
Este projeto já exige tanto de nós que seria complicada a existência de outras atividades. A partir do Like The Wolf, a profissão passou a ser a música.
A música de a Jigsaw tem sido comparada à de músicos como Tom Waits, Leonard Cohen, Bob Dylan ou Nick Cave. Sempre associações muito lisonjeadoras, aliás, às quais eu acrescentaria Andrew Bird, um certo toque de Tindersticks e, se quisermos ir mais longe, afastando-nos particularmente na voz, mas não tanto no estilo musical e na secção instrumental também a um Vinicio Capossela. Antes de mais, desagradam-vos as comparações entre artistas (tanto em geral como estas em particular) ou concordam que seja algo perfeitamente natural nos dias de hoje em que a oferta e a difusão do produto musical é tão vasta?
Não desagradam, desde que sejam comparações que possamos compreender. Ou seja, onde mesmo não existindo uma ligação real nossa a essa música, compreendemos essa comparação. Em todo o caso, são uma forma do ser humano contextualizar o desconhecido. Na maior parte dos casos, as comparações que são tecidas dizem muito tanto de quem as faz como do alvo delas. Os grupos que mencionas têm uma raiz comum que são os blues. Como também a nossa música a tem, acabamos por ser fruto da mesma árvore, o que torna a comparação bastante lícita. Em Espanha, por exemplo, comparam-nos muito aos lambchop e ao Mark Lanegan.
E são artistas que nos agradam, mas que não fazem parte dos que ouvimos amiúde nem sequer os consideraria uma influência directa ou indirecta. Mas como são artistas que são bastante conhecidos em Espanha, faz sentido para eles essa conexão. Mesmo a tua referência ao Vinicio Capossela, sinceramente nunca o tinha ouvido, mas fui investigar e compreendo a comparação que fazes, pois esse é o teu contexto.
Assim, tendo em conta que hoje em dia é relativamente fácil ter acesso a uma tão vasta escolha musical, é perfeitamente normal que nos comparem a nomes que nunca ouvimos. Claro que quando assim é vamos ouvir esses nomes para compreender de onde vem a ligação.
Estes são de facto artistas que vos influenciam musicalmente? Que mais artistas o fazem e de que modo?
Mencionaste alguns dos que nos influenciam musical e liricamente, como o Tom Waits, O Leonard Cohen ou o Nick Cave. Claro que há muitos mais, como o Mississippi John Hurt, Skip James, Fernando Pessoa, Dostoyevsky, Rimbaud, Nietzsche ou até o Godard. Suponho que o modo como nos influenciam seja o horizonte que nos deixaram a partir do qual podemos seguir em diante à procura do nosso.
Como é a sensação de receber o reconhecimento de uma publicação como o The Guardian? (The Strangest Friend)
Qualquer que seja o reconhecimento que o nosso trabalho receba, vem acompanhado de uma boa sensação, porque sentimos como se o nosso trabalho tivesse encontrado eco dentro de outra pessoa. E como na nossa arte, as pessoas a quem temos que agradar primeiramente somos a nós os três, é uma boa sensação quando encontramos esse eco noutras pessoas. O facto de ser uma publicação importante como o Guardian ou como foi o caso da Les Inrockuptibles não dá mais valor a esse eco. No entanto pode contribuir para que mais pessoas ouçam a nossa música, que de outra forma não iriam ouvir falar de nós tão rápido.
Passam férias juntos? Se sim, onde gostam de o fazer ou em que sítios já estiveram juntos sem qualquer compromisso musical na agenda?
Férias? Desconheço tal palavra. Quando tínhamos outras profissões, as férias eram usadas para concertos ou tours. Portanto, agora que já não existem essas outras profissões, naturalmente também não existem essas férias. a Jigsaw acaba por ser uma ocupação a tempo inteiro. Acho que não me recordo de estarmos juntos sem qualquer compromisso musical na agenda.
Qual a vossa melhor recordação juntos sem música?
Outra pergunta complicada… o problema é que nós começámos por ser primeiro membros da mesma banda e só depois se foram criando os fortes laços de amizade que hoje nos unem. Portanto as recordações juntos acabam sempre por ter como pano de fundo a música. Aliás, quando nos tentamos recordar de algo do passado, acabamos por ter como referência os anos em que editámos os álbuns, as tours, ou em que demos tal concerto em tal parte. Acho que chegamos a um ponto em que é absolutamente indissociável
E com música, qual foi o momento mais extasiante na história de a Jigsaw para cada um de vós?
Já discutimos essa questão algumas vezes no seio da banda e chegámos a uma conclusão comum, em que por regra essa memória acaba por ser a do último concerto especialmente se se tratar de um bom concerto e em que se tenha encontrado um lugar-comum com o público: em que tenha havido uma grande intimidade com o público. Assim, acaba por ser o último concerto que demos à data da resposta desta entrevista, que foi o concerto no Festival para Gente Sentada.
Não fosse isso, teríamos que apontar a data do início da nossa primeira tour no estrangeiro que começou em Paris.
Em estúdio como desenvolvem o processo criativo? As músicas são compostas essencialmente em trio ou partem sempre de uma ideia base trazida por um de vocês?
No nosso caso, o estúdio é uma etapa adiante daquela onde se encontra o verdadeiro processo criativo. Esse processo criativo decorre durante os meses que precedem a entrada em estúdio, onde nos encerramos os três na nossa Casa Azul e onde o desenvolvemos. O Estúdio é apenas o local onde gravamos com a melhor qualidade possível o que foi composto na Casa Azul. E é um momento bastante importante onde se tenta capturar no mesmo take a emoção e a técnica ou virtuosismo. Quanto à composição das músicas é um processo bastante diverso, porque tanto pode surgir entre os três num ensaio de composição, como pode partir de uma ideia base que um de nós traga para esse ensaio. Não é exactamente uma ciência exacta.
Sendo todos multi instrumentistas façam-nos lá uma lista do que cada um de vocês toca (incluindo a "voz" e os instrumentos criados por vocês mesmos). E já agora duas questões: Se por alguma razão soubessem tocar apenas um instrumento nas vossas vidas, qual seria o que saber que preservariam? E qual é o instrumento que cada um de vocês gosta mais de ouvir cada um dos outros tocar?
Agrupando os instrumentos, seriam estes: voz, Piano, Guitarra, voz, banjo, bandolim, baixo, ukulele, harmónica, melódica, combo-organs, autoharp, kalimba, hammond, violino, violoncelo, bateria, percussões, contrabaixo, harmonium, glockenspiel e lap steel. E nem sequer estão aqui todos porque mesmo dentro de cada categoria há outros instrumentos para os quais são necessárias técnicas bastante distintas ou microfones bastante específicos, mas para poupança do papel, nomeamos estes. Neste momento pensar que poderíamos reter apenas o conhecimento de um instrumento seria um castigo demasiado violento para a ele nos subtermos, porque cada um deles já faz parte de quem somos e dele não nos podemos alijar.
Quanto à segunda questão, volta a ser complicado porque isso vai sempre depender da música que estamos a tocar e do que o instrumento de cada um contribui nessa música. Pode ser a voz e o violino ou o piano, mas noutra música já pode ser a guitarra, o violoncelo e o harmonium… Varia demasiado.
A música em Portugal nos dias de hoje. Nunca houve tanta criatividade acumulada como actualmente, ou pelo menos nunca se a ouviu antes. Ao mesmo tempo nunca ser músico foi uma profissão tão economicamente instável. Para que lado pesa a vossa balança?
É verdade, atravessamos uma excelente fase no domínio da criação musical. Tanto qualitativa com quantitativamente. Mas as artes, de uma forma geral, nunca foram propriamente conotadas como a primeira escolha de profissões economicamente estáveis. É uma balança onde é necessário olhar bem para onde colocamos os pés.
E o mundo lá fora? Melhor, pior, igual mas maior? Ou o quê?
Igual mas maior parece-me a resposta que mais sentido faz neste contexto. No entanto há especificidades próprias de cada país, como por exemplo em França, onde o estado respeita a actividade de músico e criou leis específicas no código contributivo que demonstra uma maior preocupação em compreender essa profissão. Aqui, o caso português é diverso, porque os músicos entre tantos outros tipos de artistas como os fotógrafos por exemplo, são atirados para uma categoria muito estranha e abrangente do código contributivo. Nada de estranho, é claro, quando o ministério da cultura foi extinto e os instrumentos musicais são considerados bens de luxo. Mas cada país terá outro tipo de problemas, simplesmente alguns já compreenderam que a cultura pode contribuir para a sua riqueza.
12 anos de carreira, 3 álbuns no ativo. O futuro de a Jigsaw amanhã e daqui a mais 18 anos?
Ora, amanhã partimos para a continuação da nossa tour Europeia de 2012, que nesta primeira fase, para além de Espanha, inclui França, Alemanha, Bélgica, Suiça e Holanda, onde vamos apresentar o novo álbum que agora foi editado em vinil. Até ao final do ano vamos andar bastante ocupados tanto em concertos como na edição das músicas que não foram incluídas no álbum, e como se trata do total de 35 músicas ainda há bastante música para apresentar até ao final deste ano. Serão um total de 12 edições distintas em diversos formatos, deste a Cassete, livro, vinil 7’’ onde o comum a todas será ter uma música do álbum e depois as tais músicas que não estão nele.
Daqui a mais 18 anos, pelas minhas contas devemos ter pelo menos mais 6 álbuns editados.
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Site oficial: http://ajigsaw.net/
Facebook: http://www.facebook.com/ajigsaw
Vídeo The Strangest Friend (António Ferreira):
http://www.youtube.com/watch?v=EdOuTUaW_c8
Vídeo Crow Covered Tree (Joana Linda):
http://www.youtube.com/watch?v=HM-CbdqhFO4
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