Le Entrevista a Inês Alvim (Le Cool Team) por Fernando Mondego
Quem é a Inês Alvim? E como surge Lisboa nesse percurso – ou dito por outras palavras – não é Madrid melhor?
Conheço-a de vista, é escorregadia e foge do divã como o diabo da cruz. É hiperactiva, mas lá para o meio-dia e meia, uma hora (antes disso, é não contar com ela). Tem tendência para o disparate e está normalmente atrasada, ainda que desconheça para quê. Gosta de fazer coisas com as palavras e de escrever a direito, mas as palavras saem-lhe em ziguezague, cheias de rodriguinhos. Está, invariavelmente, embrenhada em figuras de estilo. Lisboa é casa, Madrid é invasão crónica. Vou estando muito em Madrid, mas é a Lisboa que não consigo parar de voltar.
Le Entrevista a Fernando Cabral por Nuno T
Sinto-me bem, acordar todos os dias vivo é uma benção e dou muito valor a
isso, é aproveitar a vida todos os dias ao máximo e tentar fazer algo
positivo.
Conta-nos, por favor, um pouco da tua
vida e de como nasceu a tua carreira profissional na música. Para além
da produção de eventos, és músico? Tens ou tiveste algum projeto
musical?
Nasci na Guiné Bissau e vivi em Africa
até aos 7 anos, seguiu-se Paris até aos 18 e desde 1994 em Portugal.
Sempre fui muito ligado à música, cantava numa banda quando era
adolescente mas nunca tentei uma carreira a sério, mas a música teve
sempre presente na minha vida e é a minha maior paixão. Em 1999 fiz o 3º
ano de faculdade em Nova Iorque onde fiz um estágio na VP Records,
maior editora mundial de reggae, foi aí que pensei que talvez poderia
seguir este caminho profissional além de ter sido a minha primeira
experiência no meio do reggae e dos jamaicanos.
Regressei a Portugal e
trabalhei na Universal Music e outros. Em 2000 comecei a atuar
regularmente em bares de Sintra (tive 3 anos a atuar todas as sextas no
Rustikafé em São Pedro de Sintra), Lisboa (Bar 121, Clube Naval, Mood,
Jamaica etc.) e arredores, como Dj e ao ver que a malta curtia cada vez
mais o reggae comecei a organizar festas em 2002 com a Positive Vibes e
nunca mais parei…
E a Sounds Good quando e como nasceu?
Saí
da Positive Vibes em 2008 e criei a Sounds Good, como sempre fui a
pessoa responsável pelos bookings da PV vinha já com uma bagagem muito
grande de contatos e experiência que me levaram a seguir em frente com
este projeto. Em 2009 entrou o meu sócio Miguel Ângelo e as coisas têm
estado a crescer ano após ano.
A Sounds Good está a
preparar o primeiro festival de Reggae em Portugal, o Reggae Blast, com
o primeiro dia no Campo-Pequeno em Lisboa, e o dia seguinte no Porto.
Quais são as vossas expetativas para esta inauguração, e o que deve/pode
o público esperar para estes "dois dias de Reggae non stop"?
A
expetativa é muito boa pois temos um excelente cartaz e a promoção esta
a correr muito bem. O público pode esperar duas grandes noites de
celebração da música reggae em todo o seu sentido, ou seja muita união,
boa música e vibrações fortes entre os artistas e o massivo. O cartaz
tem 3 nomes muito fortes ao vivo que prometem incendiar Lisboa e Porto,
além disso, todos os artistas são muito amigos uns dos outros portanto o
ambiente promete ser muito bom e haverá de certeza umas surpresas e
grandes momentos.
E para além do Reggae Blast, mais novidades na calha que se possam antecipar aqui na Lecool?
Já
temos garantido o regresso de alguns artistas top da Sounds Good este
verão e também estreias de novas apostas, não posso divulgar muita
coisa...
A Sounds Good trabalha vários géneros
musicais, todos de raiz fortemente Africana, sendo o Reggae talvez o
género com principal destaque. Que tempos vive o Reggae em Portugal?
Temos mercado para espetáculos de Reggae, e quem sabe para a edição de
discográfica?
Eu faço parte do movimento reggae
em Portugal há muitos anos, já oiço dizer há quase 10 anos que o reggae
esta na moda, começou com Gentleman ou Patrice e continua hoje em dia
com Dub Inc, SOJA, Alborosie, Groundation, etc…Fico muito feliz de ver
que o Reggae já se espalhou pelo país todo pois hoje em dia existem
soundsystems, bandas e festas organizadas em Aveiro, Torres Vedras,
Porto, Braga, Faro, Açores, Margem Sul, etc… a nova geração está aí com
força e isto deixa-me muito feliz pois prova que a semente foi bem
plantada e começa a dar frutos…parabéns e força a todos! Em termos de
discos, artistas como o Richie Campbell, Bezegol, Souls of Fire,
Urbanvybz, Prince Wadada, Kussondulola (sempre aí), Jah Vai, Like The
Man Said e tantos outros mostra que existe um mercado em crescimento e
público a apoiar, força para todos.
No site da
Sounds Good encontramos artistas de praticamente todos os Continentes.
Europa, América, África, Oceania. Para além de trazer cá estes artistas,
a Sounds Good trabalha também em eventos além fronteiras?
Sim,
eu sou de Guiné Bissau e a minha família tem fortes ligações a Cabo
Verde e outros países africanos como o Senegal e a Costa do Marfim, já
fizemos vários concertos em Cabo Verde que é um mercado no qual queremos
investir. Além disso e duvido as minhas muitas viagens ao continente e
ligações a artistas como Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim), Naby e Meta
Dia (Senegal), Manjul (Mali) e outros, Africa é um continente que nos
atrai muito e esperemos nos próximos anos estar cada vez mais presente
lá, Africa is the Future… A Sounds Good tem a sorte de trabalhar com
artistas do mundo inteiro e obviamente que isto também nos leva a querer
estar presente nos seus países, o meu sócio tem fortes ligações aos
artistas brasileiros que é também outro mercado que nos interessa muito.
O
Reggae é um género musical com pelo menos 40 anos de idade, e que já
está demonstrado que não morrerá nunca. No entanto, tal como todos os
géneros musicais, tem evoluído e mutado ao longo dos anos. Qual poderá
ser a próxima evolução do Reggae? E que possibilidade tem o Reggae de se
fundir substancialmente com outros géneros e quem sabe criar um
subgénero novo? (Por exemplo, lembro-me de um disco de Gilberto Gil
totalmente constituído de temas de Bob Marley tocados em chave de
Bossa/Samba. E a combinação rítmica de ambas as raízes musicais
resultou, a meu ver, muito bem). É possível esperar a afirmação de
fusões como esta num futuro próximo? Sobretudo numa era em que os
músicos, movidos pela necessidade de rentabilizar o seu tempo, se
associam muito a outros músicos.
Eu acho que o
reggae hoje em dia já não pertence apenas à Jamaica e está presente no
mundo inteiro com cada país a incorporar as suas tradições e cultura na
música, isto esta bem presente no nosso catálogo de artistas com nomes
como Dub Inc (França), Groundation (USA), SOJA (USA), Tiken Jah Fakoly
(Costa do Marfim), Terrakota (Portugal) e outros que não sendo
jamaicanos criaram o seu estilo próprio, penso que a evolução da música
passa por aí. Na Jamaica o dancehall domina as pistas de dança mas o
roots esta sempre presente e penso que regressará em breve com muita
força pois foi o que aconteceu nos anos 90 e penso que irá acontecer
novamente, o mundo atual precisa de música consciente e com mensagens
fortes.
Fernando, se não existisse o Reggae, qual seria o teu género musical de eleição?
Penso que seria a música africana que é a raiz de tudo.
Lisboa tem uma alma Reggae?
Portugal
é um país que vibra com reggae, penso que se deve ao nosso clima, às
praias e ao povo, não apenas Lisboa mas em todo o país, aliás quando cá
cheguei em 1994 sempre fiquei espantado que não houvesse mais reggae
aqui porque todas as condições estavam aqui, entretanto muita coisa
mudou e a minha visão tornou-se numa realidade, o reggae esta aí forte e
recomenda-se.
Qual é o teu cantinho especial em Lisboa?
O
Bairro Alto é sem dúvida o sítio que frequento mais há já muitos anos, o
bar do Horácio (O Pescador), o 121, Mood, Spot Bar e, ultimamente, o
Roots Bar do Tiago Careca são os meus spots de sempre.
E onde te pode encontrar nesta cidade de dia ou de noite?
De
dia numa praia com ondas e de noite em casa com a minha empress ;-)
Óbvio que quando vale a pena lá estarei nas festas e concertos a curtir
um som.
Por fim, podes sugerir locais de Lisboa
aos leitores da Lecool interessados na oferta Reggae da cidade? Locais
com regular programação Reggae.
O Jamaica continua aí
sempre as terças feiras, mas há festas um pouco por todo lado, sítios
como o Bacalhoeiro, Arte e Manha, Bicarte, Casting Club (LX Factory) e
outros, têm regularmente festas reggae com todos os soundsystems e djs
locais. É só estar atento, também podem consultar sites como o Reggae
Vybez, Inforeggae e as páginas de facebook dos diversos sounds e
produtoras.
Muito obrigado e boa sorte para o Reggae Blast. Eu vou e já estou ansioso!
Obrigado Le Cool :-)
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Enlaces
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* Originalmente publicado a 22 de Março de 2012, na Le Cool Lisboa * 332
Le Entrevista a Luís Simões por Cláudio Braga
Dar a volta ao mundo de caderno e canetas na mão, a desenhar
Luís Simões ou Simonetti para os amigos, no momento exato em que estão a ler estas palavras, já muito provavelmente partiu em direção aos 5 continentes para dar a volta ao mundo. Não serão 80 dias, mas 5 anos de mochila às costas, máquina fotográfica, portátil e - agora é que vem o mais importante - cadernos, canetas, aguarelas e pincéis.
Parte, aos 32 anos, para desenhar o mundo e dar largas àquela que se tornou, nos últimos anos, a sua grande paixão: o urban sketching. Para trás fica o trabalho como motion designer na SIC, a vida segura e o conforto da família e dos amigos.
Le Entrevista a Rodrigo Saturnino por Rafa
Fala-me de ti com letra maiúscula ou parafraseando Bocage: quem és, de onde vens e para onde vais?
Um dia destes conheci mais uma Maria aqui em Lisboa. Uma das perguntas que lhe fiz foi a mesma que aqui me fazem. Ela olhou com olhar semi-cabisbaixo e me disse: Eu sou zero. Ela me fez pensar no que eu era. E cheguei à conclusão de que eu sou quase.
Comenta-me as tuas paixões profissionais e apresenta-me a invisível - dá-me links e atira um manifesto sintético quanto à revista. Passa-lhe revista.
Eu não tenho planos para comprar uma casa própria. A Revista (In)visível não é uma organização empreendedora no sentido capitalista do termo. Ela nasce da ideia que a partilha de informações é um bem essencial e deve se estabelecer sem a exploração do lucro (na verdade nós queremos hipnotizar toda gente).
Le Entrevista a Miguel Sá e Fernando Fadigas por Rafa
Gostaria de começar com um enquadramento pessoal, com uma pequena apresentação individual do Miguel e do Fernando - organizadores do SuperStereoDEMOnstration. E, uma curiosidade sem ser abusivo, dir-se-iam alfacinhas?
O Miguel Sá é artista multidisciplinar e ultimamente tem trabalhado sobretudo como Dj em diversos clubes de música alternativa. O Fernando Fadigas tem assinado alguns trabalhos sonoros para performance, vídeo e instalação.
Alfacinhas não! O Miguel é do Porto e com isso não se brinca! O Fernando nasceu em Oeiras, ali na linha com esgotos a céu aberto... Quem não conhece a praia de Caxias e Oeiras dos anos 80 não sabe a verdade deste país.
E uma introdução quanto à Pogo e à variz.org - associação cultural, editora, promotoras. Partilhem quanto à inquietude - ou seja, necessidade criativa - de criar o SuperStereDEMOnstration e realizem um pequeno manifesto - apresentação - quanto ao evento.
O Pogo e variz colaboram há alguns anos. O Fernando também pertence a este colectivo artístico e daí esta ligação. O Pogo trabalha desde 1995 rompendo alguns cânones no teatro utilizando a multimédia nas suas performances, introduzindo disciplinas como a arquitetura, o design e as artes plásticas. A variz promove a música eletrónica de cariz mais experimental mesmo que se trate de música de dança mais exigente. têm realizado diversos eventos e programações, destacando a do festival Número com os Cluster e agora Chris & Cosey; mais um pouco de história da música contemporânea presente em Lisboa.
Le Entrevista a Francisca Carvalho (Le Cool Team) por Francisco Pinheiro
De uma Francisca para um Francisco, como me resumirias esta aventura de uma escalabitana em Lisboa?
Esta aventura é mais um reposição da peça “o bom filho a casa torna” do que uma estreia absoluta. Na verdade, sou uma espécie de híbrido ribacinho ou alfaçano, já que fui emprestada à Lezíria com 4 anos e retomei a Lisboa em 2002 quando entrei na faculdade. Sou natural da freguesia de S. Cristóvão e S. Lourenço, nasci à vista do Tejo, ali onde a cidade se inclina em direção ao castelo..
Reparei que usas peep toes com um salto assim para o meio alto. Não dás meias quedas pela calçada da cidade?
Essa pergunta tem piada, precisamente porque a única vez em que caí não ia de saltos. Foi nas escadas do metro da Baixa-Chiado. Tendo passado com distinção as principais, fui meter os pés pelos pés nas de acesso ao cais. Aterrei de cabeça no patamar intermédio. Quem me deu a mão e uns quantos lenços de papel para estancar o sangue, foi um cozinheiro-samaritano que estava de regresso ao Porto e perdeu o comboio porque só saiu “da minha beira” quando chegou o INEM. Contas feitas: cabeça aberta e um cotovelo partido, para além da convicção plena de que, se estivesse de saltos, aquilo não tinha acontecido.
Le Vitória 13
Trujillo : Huanchaco. Chego num sábado ao fim da tarde. Entro
no primeiro hostel que encontro, onde o meu quarto cheira a ratos
mortos, mas não estou nem aí. Só quero água de mar e chinelo no pé. A
praia está apinhada de gente, porque hoje termina o campeonato de surf.
Huanchaco
é uma antiga vila pescatória, a cerca de 14 km a noroeste de Trujillo, a
terceira maior cidade do Peru. O nome tem a sua origem por volta do
século XVIII e significa “ lagoa de peixes dourados”. Isto porque reza a
história de que os antigos pescadores antes de se lançarem ao mar,
pintavam o peito de vermelho,
imitando uma ave que tem pelo nome de “huanchaco”, ficando apelidados assim de “huanchaqueros”.
Quando
chegaram os espanhóis, resolveram chamar a este lugar a vila dos “
Cavalinhos de Totora “, que são uns pequenos barcos bem estilizados,
feitos de umas canas semelhantes às de bambu, que dão pelo nome de
“totora”. O cultivo desta cana, já vem desde o séc. XVII com a
civilização Moche, característica desta zona, onde os “huachaques” eram
poços de totora dos quais se aproveitavam as filtrações do subsolo,
assim que daí ser possível a semelhança fonética entre “Huanchaco” e “
Huachaque”. Outra civilização pertencente a esta zona foram os Chimú.
Tanto estes como os Moche, foram antecessores dos Incas, e Trujillo é
uma
zona bastante turística desde que foram descobertos os seus templos, conhecidos por “Huacas”.
Qualquer
amante do surf, sabe o que se passa por estes lados. A cerca de uma
hora de Trujillo, na praia de Chicama, encontra-se a “esquerda mais
larga do mundo”. Sofia Mulanovich, uma surfista peruana, foi campeã
mundial no Campeonato de 2004, e estas praias são o seu quintal.
Huanchaco
é um lugar simpático. Tem a sua onda. Aos fins-de-semana, é muito comum
as famílias de Trujillo escaparem ao centro da cidade, para virem
desfrutar dos seus apartamentos à beira da praia, qual Aroeira ou Costa
da Caparica. “Cremoladas! Raspadillas! Tamales! Manzanas Dulces!
Anticuchos! Picarones!
Marcianos de Lúcuma!! “ São os pregões dos
comerciantes ambulantes ao longo de todo o paredão. Deitada na areia,
perdida nos meus pensamentos, e sou abordada por um lindo menino de rua
dizendo “Hola mi reina, me compra un chocolate?”. Um sol, dois soles, e
assim se vão as moedas do fundo da carteira. Menus de 10 soles, com
“ceviche” para entrada, um crocante “chicharrón” de peixe como prato
principal, e para baixar pelo estreito, uma geladinha “ Inca Kola”.
Existem
uns quantos cafés de estilo mais ocidental, com deliciosos menus
vegetarianos e um ambiente bastante acolhedor. Classes de yoga na praia,
à hora em que o sol acaricia o horizonte, onde todos param entre o
terminar de um gelado, ou um partilhar de um abraço, em silêncio, antes
de voltarem ao ritmo normal do seu passeio de fim de tarde.
Ruínas
de Chan Chan. Às portas da maior cidade de barro do mundo, com uma
extensão de 14 km2, um taxista aborda e tenta-me convencer com o seu
serviço directo e eficaz a mais 3 atractivos turísticos, tudo por 50
soles com uma duração de 3 horas. E por mais que deteste agarrar estes
pacotes, hoje o sol bate forte, e não estou em modo “ combi”. Hoje sou
turista.
“ Huaca del Arco Íris”, “ Huaca del Esmeralda”,
Museo de Sikan y “Chan Chan“. Recorri todas as pérolas da cultura Chimú,
ficando-me a faltar as “Huacas del Sol, Luna y del Brujo”, da cultura
Moche. Mas isso ficaria para o meu regresso.
Aqui
aconselho vivamente que se hospedem no Hostal My friend (com económicos
menus) , e a noite a 10 soles com banho privado, ou para quem procura
mais comodidade “Surf Lily Hostal” ou “Sudamérica Hostel“. Para os
vegetarianos ou os tão ou mais “cafeteros” que eu: “Outra Cosa” com uma
incrível vista para o mar, (onde também podem consultar bons guias de
viagem e desfrutar de um mini-cinema), “Chocolate Café”, “La Casona” ,
"Abacaxi” e “Las Carmencitas” onde não podem perder dois bons dedos de
conversa com a dona com o mesmo nome.
Equador : De Guayaquill para passar a fronteira e para chegar a Montañita na costa.
Em
vez de venderem t-shirts na rua que dizem “I love Montañita”, deviam
fazer outras a dizer “I FUCKING HATE MONTAÑITA”. A gringolândia sul
americana em peso. Toda a Argentina e Chile decidiram mudar-se
para aqui nas férias da universidade.
Montañita
é sujo, a praia não é grande espingarda, apesar de ser um bom destino
para o surf, por onde quer que passes os “waykis” ( artesãos de
pé-descalço ), saem-se com um constante “Hola amiga!”, como se tivessem
andado contigo na escola, à espera que te derretas pelos seus longos
cabelos negros, e corpo moreno musculado com tatuagens incas, achando
assim que já te venderam o par de brincos mais “in” da
América Latina.
Se
viajas sozinho esquece Montañita. Os dormitórios não são partilhados,
assim que senão vais em grupo, estás lixado, as matrimoniais por alguma
razão especial apenas alugam a casais, assim que onde dorme quem gosta
de ser um pouco mais solitário? Aqui é a pura “juerga”. Sexo, drogas e
reggaetown.
O Sr. Ruben é o único que às 8h da manhã de um
domingo tem a sua banca aberta com boas empanadas de queijo e café
quentinho. Falou-me do paraíso que era este lugar, há cerca de 30 anos
antes de chegar o primeiro turista. Não existia dinheiro em Montañita.
Trocavam-se peixes por arroz e batatas. Dinheiro? Nem sabia o que era
disso. O caminho que me separa entre a banca dele e a saída do meu
hostel, faz-me
andar aos ziguezagues para fugir dos comentários
obscenos daqueles que ainda não dormiram, e caminham tipo “zombies” com
uns olhos que mais parecem os faróis de um carro avariados.
Os
meus planos de continuar a subir pela costa alteram-se. Não queria mais
correr o risco de encontrar este tipo de festa à beira-mar e a preços
estupidamente caros. Assim que regresso a Guayaquill para encontrar-me
com um português que vive em Lima e seguirmos viagem, num destino que
decidiremos mais à noite. Passamos horas à conversa no “malecón” de
Guayaquill, uma cidade que antigamente pertenceu aos piratas. Parece que
temos pilhas na língua, e trocamos o máximo de impressões possíveis,
como que a matar saudades do que é falar em bom português.
Baños,
Equador. Conhecida como a cidade das Cascatas e do vulcão Tungurahua,
ainda ativo, que em 2006 foi a última vez que entrou em erupção. Depois
de uma boa caminhada na montanha e a miradouros, e de fazermos o
percurso das cascatas principais, rumbo a Latacunga, a Oeste de Quito,
para desfrutar os últimos dias de viagem juntos, de volta à costa.
Mas agora acompanhada.
Por
Ollantaytambo, sei que a vida continua tranquila, e a chover. E eu,
mesmo de férias, sei que o trabalho não pode parar, tentando espalhar ao
máximo a campanha para as vítimas das cheias em Urubamba, que senão
alcançarmos parte do limite final, terá os seus últimos dias nos
próximos meses. Assim que vos
peço que difundam o máximo que
possam, e para os que possam fazer uma pequena contribuição, que se
lembrem que por mais pequena que seja, aqui por estes lados, pouco
significa muito. A comunidade agradece, e todos juntos com pequenos
gestos podemos mudar o mundo.
Deixo-vos com um
documentário publicitário sobre a cultura peruana. Espero que gostem e
que assim de alguma forma possam perceber, como este país me apaixona
cada vez mais, a cada dia que passa.
Ligações
Pintura por Augusto Brocca
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