Le Vitória 11
Viver em Ollantaytambo, a 2750 metros acima do nível do mar, num povoado com 1500 habitantes no centro, cerca de 3500 pela montanha. Depois de tantos meses a viajar dentro e fora do Peru, chegou a hora de assentar. Arrendei um quarto num pátio castiço, com vista para as ruínas, numa rua construída pelos próprios Incas.
Ollantaytambo é a cidade viva dos Incas. O único lugar onde os espanhóis foram derrotados e por essa mesma razão ainda hoje se mantém tal como há 500 anos. A cerca de 3 horas de caminho pelo meio da montanha com vistas incríveis, passando pelos 100 terraços agrícolas Incas, estão as ruínas de Pumamarca, construídas a 3200 metros de altitude, num ponto estratégico com um ângulo de 360º, para que os Incas pudessem avistar a chegada do inimigo. Aqui, foram encarcerados os espanhóis quando tentaram invadir este lindo povo.
Le Entrevista aos Nigga Poison por NunoT
Quem são os Nigga Poison? Falem-nos um pouco das pessoas por detrás dos músicos.
Os Nigga Poison são originalmente formados por mim, Karlon e pelo Praga. Agora junta-se a nós o Beat Laden também. Somos pessoas muito simples, e que amam a música acima de tudo, e estamos sempre dispostos a novos desafios e a explorar novas fronteiras para além dos géneros musicais.
Como começou a vossa vida na música e como foi que as vossas carreiras musicais se cruzaram?
Já nos conhecemos desde miúdos, crescemos juntos no Bairro da Pedreira dos Húngaros. Quando começámos a querer rimar, não tínhamos equipamento nem beats, então fazíamos beatbox e rapávamos por cima. Os anos foram passando e em 1991 começámos com o grupo TWA; o Praga era Mc e eu era o programador musical deles. Depois eu e ele, em 1994, decidimos criar um grupo só os dois, e foi assim que nasceram os Nigga Poison.
Le Entrevista aos LIKEarchitects por Rafa
Gosto de começar pelas introduções, abraço e mão, dá-cá-o-bacalhau, como te chamas e o que fazes. Apresentem-se. Quero mais do que apenas os LIKE, quero o Aguiar e quero a Otto. Falem-me do atelier e das pessoas por detrás. Respondam ao cliché do eu querer saber o porquê do nome e mostrem-me o resto.
Somos do Porto. Amigos desde a escola secundária, fizemos a faculdade juntos e Erasmus em sítios bem diferentes - a Teresa (Otto) em Roma e o Diogo (Aguiar) no Rio de Janeiro.
Os LIKEarchitects, propriamente ditos, terão começado quando regressámos ao Porto, vindos do estágio académico - a Teresa dos RCR Arquitectes, em Olot, e o Diogo dos UN Studio, em Amesterdão – e, a meio do processo que é fazer a tese de licenciatura na FAUP (!), decidimos participar no concurso para o bar da Associação de Estudantes da Faculdade do Porto, que viríamos a vencer com um bar que se constrói a partir de caixas do IKEA.
Le Crónica | Rebelbingo Lisboa 9 Dez
Eu já não saía à noite há muito tempo, mas ontem, foi daquelas que soube que nem ginjas relembrar bons velhos tempos. Não sei se sou eu que estou a ficar velho, mas aquilo estava tudo louco ao rubro, a mandar patrões e "troikas" passear.
Se não, "veja-se": em cima do palco está um louco a puxar pelo pessoal enquanto se joga bingo, a pedir abracinhos valentes cada vez que saem os números; depois estão duas loucas, a tirar os números e a fazer rimas sexuais com os números saídos (é preciso ver para crer); depois os prémios vão desde um fato de canguru, até um personal trainer gordo que nem um texugo; para finalizar dão-te uma caneta supostamente só para jogar bingo, mas... a caneta acaba a ser como um "intermediário" de um engate perfeito.
InShadow 2011 | Crónica por Eduardo Condorcet
De 1 a 11 de Dezembro de 2011, realizou-se em Lisboa a terceira edição do festival internacional de vídeo, performance e tecnologias InShadow, tendo a organização do evento cabido à associação cultural VoArte.
A organização liderada por Pedro Sena Nunes trouxe à capital nomes relevantes da intermediação tais como:
Ka Fai Choy, artista/investigador de Singapura que estuda as intersecções da memória muscular com a electrónica, criando coreografias em que a electrónica domina a movimentação do performer através de eléctrodos; Daniel Conrad, canadiano que estuda a "combustão espontânea na improvisação em vídeo-dança e ainda o britânico Caswell Coggins e o aclamado português Rui Horta, cuja apresentação versou sobre os desafios da percepção nas artes performativas.
Le Entrevista aos Duo Porcelana por Rafa
Apresentem-se e digam-me o porquê de Duo Porcelana.
(Nuno Afonso) O Duo Porcelana sou eu e o Guilherme. Somos ambos Djs, tocamos há alguns anos, e recentemente começámos a tocar juntos. Quisemos dar um nome ao projecto, e sempre que se procura um, a coisa demora tempo, é quase como estudar fenomenologia. Ainda tocámos uns dois ou três gigs sem nome, e um dia, por brincadeira, enquanto trocávamos uns emails, chamei ao projecto de Duo Porcelana. Assentou tão bem que o Guilherme no dia seguinte mandou imprimir umas t-shirts e uns chapéus com o nome. (risos)
Le Entrevista a Anna Glogowski por Rafael Vieira
A meio caminho entre o início e o fim do doclisboa 2011, pergunta-se à sua actual directora, Anna Glogowski, sobre a sua relação com o documentário, com o doc e com Lisboa. Um relato próximo e documental da vida de alguém que encabeça aquele que é, neste momento, o segundo maior festival dedicado ao documentário na Europa, logo depois do IFFR de Rotterdam.
Apresente-se e partilhe por favor a sua relação imediata com Lisboa - como lhe surge Lisboa no percurso.
Tenho um afecto particular pela cidade de Lisboa, onde vivi de 74 a início de 78, trabalhando como socióloga e colaborando em alguns filmes ligados ao PREC.
Le Vitória 10
Le Petit Routárd: Pérou et Bolivie.
MachuPicchu
pela segunda vez em low budget. Em Ollantaytambo tomo uma combi até
Piscacucho, ao km 82, onde começa o famoso “Inca Trail”. Até Aguas
Calientes são 28 kms. São 9h da manhã e são cerca de 8 horas a caminhar
seguindo a linha do comboio. Poucos minutos depois encontro umas ruínas
Incas. Entro e faço um pago à Pachamama, com folhas de coca e um pouco
de água florida, e peço-lhe para que nos acompanhe nesta caminhada.
Estamos rodeados por montanhas de cor terra, áridas, o clima é seco e a
vegetação de verdes suaves.
Ao longe do nosso lado
esquerdo avistamos parte do Caminho Inca, que leva numa subida muito
íngreme a vários aglomerados de ruínas. Depois de 5 horas sentimos o ar
húmido, as montanhas de um verde tropical e ruídos ligeiros: estamos a
entrar na selva. Em menos de 4 horas chegamos a Aguas Calientes. No
hostel deito-me, com as pernas doridas e só quero dormir, dormir e
dormir, mas não posso. Amanhã o despertador toca às 4h da manha para
subir a Machu Picchu.
Os planos de viajar pelo Peru
alteram-se: à última da hora decidimos ir À Bolívia fazer o Salar de
Uyuni e visitar as minas em Potosi. Em Tupiza, no sul da Bolívia, já
quase na fronteira com a Argentina marcamos uma tour de 4 dias e 3
noites para o Salar de Uyuni. Santos era o nosso condutor e guia e a
pequena Maria com apenas 19 verdes anos era a cozinheira que sofria de
anemia crónica e passava o tempo todo a dormir e apenas acordava à hora
das refeições e que, incrivelmente, nos colocava delícias no prato a
condições inóspitas, a 4400 metros de altitude.
Aqui vi
das paisagens mais bonitas de toda a minha vida. Lagoas de cores e tons
sem fim. Brancas, azuis, verdes, vermelhas e depois de 4 dias a viajar
pelo meio do deserto, no último dia dormimos num hotel feito de sal e
acordamos às 5 h da manha para ver o sol a nascer no Salar. Somos os
primeiros a chegar. E observamos em silêncio os primeiros raios de sol a
nascer num horizonte tão perfeito, num branco mais belo que o branco da
neve. Santos passa-me o jeep para as mãos e é com emoção que conduzo no
maior deserto de sal do mundo. Terminamos no Cemitério dos Comboios em
Uyuni, onde se encontram abandonados a maior parte dos comboios que os
espanhóis trouxeram da Europa para a América do Sul.
Já
com saudade despedimo-nos de Santos e de Maria, e está na hora de
seguirmos viagem. Potosi: a cidade mais alta do mundo, a 4000 metros,
foi no tempo da colonização a cidade mais rica do mundo, pela riqueza
das suas minas de prata assim como a maior cidade do mundo. Londres,
Paris e Nova Iorque cabiam dentro dela e ainda sobrava espaço para mais
alguns. Todos queriam viver em Potosi e depois dos espanhóis lhes terem
sugado toda a prata que puderam, uma cidade tão rica transformou-se numa
cidade-fantasma e numa das mais pobres de toda a América Latina. Hoje
em dia, ainda existem minas activas e uma das maiores fica no Cerro
Rico, a 4600 metros de altitude. São 8h da manhã quando o bus nos apanha
no hostel e nos leva ao Cerro Rico. Óscar um ex-mineiro é o nosso
guia. Antes de entrarmos, vestimo-nos a rigor: capacete com luz,
fato-macaco e botas de borracha. Compramos tabaco, folhas de coca,
sumos, água e dinamite como oferendas aos mineiros. Sabemos que vamos
passar até ao 4º nível, a praticamente 300 metros abaixo da terra, onde
quase não há oxigénio.
Não gosto de espaços fechados nem
escuros, mas para isso aqui estou. Para ver outra realidade e enfrentar
este medo. Ao entrarmos no segundo nível temos que nos deitar no chão,
pois a passagem não passa dos 50 cm de diâmetro. Concentro-me tanto em
todas as manobras a serem executadas, as condições de segurança são
escassas e tudo é escorregadio e vejo buracos sem fundo por todo o lado.
Este processo é tão complexo que não há tempo para o sequer pensar no
medo. Ao mesmo tempo sinto adrenalina por querer saber como será lá em
baixo. Hoje é segunda-feira e disseram-nos que há muita gente a
trabalhar na mina. A passagem para o terceiro nível é mais perigosa e
dão-nos folhas de coca para aguentarmos a caminhada. O pó aumenta, a
temperatura está demasiado alta, começamos a suar, o oxigénio já começa a
ser cada vez menos, mas o que incomoda mais é o cheiro insuportável a
enxofre. Chegámos ao inferno. Estamos numa cova onde 4 mineiros
trabalham arduamente em tronco nu, onde os seus poros vertem água a cada
segundo que passa. Num processo manual aqui chegam os minerais dos
níveis abaixo vagão a vagão, cada um contendo duas toneladas de minerais
em bruto. E há que parti-los nesta pequena cova para passar para
os níveis acima. Somos 9 pessoas a contar com os mineiros, não há tubos
de ar, assim que cada um respira o oxigénio do outro e o espaço é
demasiado pequeno e perigoso.
Estou a transpirar demasiado
e tenho o coração a mil, tentando encontrar uma respiração moderada. O
pó que paira no ar é tão denso que mal nos podemos distinguir. O Óscar
passa-me uma pá para a mão e diz-me: “Trabalha! Ajuda! Há que dar dois
minutos de descanso a estes homens!“ Ele mesmo despe-se e começa a
ajudá-los.
Sei que não posso dizer que não e não quero
dizer que não porque quero ajudar, mas tento ganhar consciência da
tarefa que tenho pela frente e só consigo pensar onde vou arranjar a
força para o fazer. Enquanto carrego os minerais, ao meu lado reparo num
mineiro encostado, com o suor a queimar-lhe os olhos e pela primeira
vez vejo que respira fundo de descanso. Olho à minha volta, as condições
são desumanas, olho estes homens no fundo dos seus olhos e não consigo
sentir pena, senão respeito e admiração. Estamos todos os turistas a
trabalhar, enquanto os mineiros se limpam, bebem água e mascam mais
folhas, até ficarem com uma bola de coca tão grande que lhes chega a
deformar a cara.
O cansaço é tanto, que penso que não vou
aguentar mais. Mas Óscar diz-me que a saída está no nível abaixo e já
pouco falta para terminar. Mal baixamos e surpreendentemente sentimos
uma ligeira brisa de ar fresco. Aos poucos cada um já controla a
respiração ao seu ritmo. Aqui Óscar fala-nos da vida dos mineiros. Já o
pai dele era mineiro, assim como o seu avo e bisavô. E quando a próxima
geração nasce, o homem mineiro será. E não é como uma obrigação, senão
como que uma atitude de respeito para com os seus antecessores, e
também, porque hoje em dia não há muito mais que um homem possa fazer em
Potosi.
Estes homens dão o suor e o sangue para estarem 8 a 10 horas por dia, nestes pequenos buracos
que
se parecem com o inferno, ao saberem que não passarão dos 40 ou dos 50
anos de idade, e sem terem um salário fixo. O rendimento depende da
quantidade e da qualidade do mineral recolhido a cada dia. Já perto da
saída visitamos o “El Tio”- o santo padroeiro dos mineiros. Tem a figura
de um diabo e está rodeado de vários tipos de oferendas.
Quando
um mineiro entra na mina, Deus e os problemas ficam do lado de fora.
Aqui dentro só existe o companheirismo e o El Tio. Aqui dentro jamais se
diz “ Não se pode.” Os meus olhos enchem-se de lágrimas que não lutam
muito por sair e escorrem-me pela cara coberta de pó. Engolimos todos em
seco e temos o batimento cardíaco acelerado não desta vez pela falta de
oxigénio, senão pelo nó que temos na garganta. A visita chegou ao fim, e
eu queria mais. Queria entrar de novo e ficar a trabalhar com estes
homens. Mas às mulheres não lhes é permitido trabalhar nas minas. No
entanto, Potosi ficará para sempre guardado no meu peito.
Bolívia,
mostraste-me o que de melhor tens em ti. Santos, o guia mais
profissional, alegre e companheiro do Salar de Uyuni. Eduardo um
ex-mineiro dono do hostel Koala Den em Potosi. O melhor anfitrião que em
pouco depois de chegarmos já estávamos com a sua família a beber e a
comer do bom e do melhor. Dançámos as melhores “morenadas” bolivianas
horas sem fim, com o mesmo copo de whisky a rodar entre todos. Óscar o
melhor guia das minas de Potosi, que espero que siga com a paixão das
minas a correr-lhe pelas veias. Depois de me mostrares a tua melhor
gente. Depois de um Sudoeste repleto de paisagens incríveis, áridas,
rudes, de cores que só vemos em arco-íris, de ver o nascer do Sol no
maior deserto de sal do mundo com uma extensão de 18 mil kms, mostras-me
um mundo de pó, de condições desumanas,
de temperaturas extremas,
de homens dignos, respeituosos e companheiros, mostras-me um inferno
onde jamais pensei que pudesse existir tanta vida e tanta esperança.
E
em ti Bolívia, encontrei mais uma das minhas paixões assolapadas que
tanto me fazem sentir viva. Gosto de ti e não sei porque. Mas julgo que é
sempre assim. Talvez é essa tua timidez e esses olhos verdes, azuis,
cinzentos, que mesmo depois de tanto prenderem no meu olhar não percebo
de que cor são. E também tu te apaixonaste seriamente por mim.
Caros amigos e leitores: o meu tempo no Peru está a chegar ao fim. Assim diz o meu coração.
Quero
voltar a pisar as minhas pedras da calçada, a voltar a sentir o cheiro a
sardinha assada, ouvir o eléctrico a passar e a ver as ruas da minha
Lisboa cheias de cores dos Santos Populares. Quero voltar a pedir ao Sr.
Ulisses da Bijou do Calhariz : “Uma meia de leite e sandes mista no
pão da casa, se faz favor. “Quero voltar a olhar nos olhos dos meus
amigos e rir e sorrir com eles. Quero voltar a dançar kizomba e kuduro
no calor da minha família de que tantas saudades tenho. Quero beber
minis na Bica e dançar no Cais do Sodré. Quero conhecer melhor a França,
Espanha e Holanda. Quero trabalhar nesses campos maravilhosos a apanhar
fruta e conhecer novas gentes. Quero fazer o caminho de Santiago. Quero
passear pelos jardins de Londres e perder-me nas livrarias da Charing
Cross Road. Quero caminhar tranquilamente pelas ramblas de Barcelona e
que me cresça água na boca na “La Boqueria”.
E se até lá
eu não te esquecer e tu não te esqueceres de mim, quero pisar esse
branco das montanhas no coração da Europa onde vives, meter-te no meu
carro, levar-te a conhecer a minha tão querida Costa Vicentina e
perdermo-nos nas suas dunas, como diz a música dos GNR.
No
entanto, sei que assim que pisar esse lado, vou morrer de saudades
deste lindo continente que me faz tão feliz. E por essa mesma razão eu
vou voltar. Europa: quero desbundar agora nas tuas terras, quero reviver
tudo isto, porque sei que tão cedo não irei regressar. Estas gentes,
estas culturas, estas cores, estes caminhos, estas paisagens, estas
vidas, estas lutas, estas comidas, estas danças, estes cheiros, estes
mares, estas montanhas, estes segredos, estas crianças, estas caras,
estas peles, estes olhos tão escuros cheios de tanta história, isto sou
eu que tanto procurei e que finalmente encontrei.
Mais uma vez América Latina: Viajo porque preciso, Volto porque te amo, porque por agora
não consigo viver sem ti.
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Ligações
http://www.boliviahostels.com/Hostal_Koala_Den-Potosi_713-es.html
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* Originalmente publicado a 1 de Dezembro de 2011, na Le Cool Lisboa * 316
Le Entrevista a Pedro Sena Nunes por Rafael
Lisboa volta a desfraldar o InShadow em vários espaços da cidade. Mais do que pretexto para um saborosa corrida entre os pontos da cidade que alcança o Festival, serve também para uma conversa com Pedro Sena Nunes - cujas lides profissionais não são resumíveis numa linha ou palavra só.
Conte-me um pouco de si, em traços gerais. O desafio será mesmo condensar um currículo extenso em poucas linhas, mas apresente-se sumariamente.
Nasci em Lisboa, onde já fui três vezes pai. Sou realizador, professor, produtor e programador. No meu trabalho destaco o lugar do outro. Crio para filmar. Entre inúmeras cidades europeias, viajei e participei em cursos e workshops de cinema, fotografia, vídeo, teatro e escrita criativa como bolseiro de várias instituições. Estudei 7 anos cinema na Europa. Fui co-fundador da Companhia de Teatro Meridional. Já realizei vários documentários, ficções e trabalhos experimentais e produzi mais de 100 spots publicitários para televisão e rádio. Participei com diversos projectos nas Capitais Europeias e Nacionais da Cultura e fui júri em vários festivais e concursos. Dedico-me bastante ao ensino, lecciono realização e documentário em diversas universidades e escolas. Fui coordenador pedagógico e director criativo na ETIC. Com Ana Rita Barata, assumo a direcção artística da Associação Vo’Arte, onde co-dirijo diversos Festivais de dança, cinema, dança/arquitectura e tecnologia. Os nossos projectos actuais são Festival InShadow - Vídeo, Performance e Tecnologias, InArte - Encontros Internacionais Inclusão pela Arte e CiM - Companhia Integrada Multidisciplinar que integra pessoas com necessidades especiais e bailarinos profissionais.
Le Capa * 315
por Atelier Concorde
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* Originalmente publicado a 24 de Novembro de 2011, na Le Cool Lisboa * 315
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* Originalmente publicado a 24 de Novembro de 2011, na Le Cool Lisboa * 315
Le Entrevista a Paula Pinto por Rafael Vieira
Numa estremunhada tarde de Outono em Lisboa, encontro-me com
Paula Pinto e perante umas desafiantes Pataniscas de Bacalhau ao
Adamastor.
A conversa fluiu entre garfadas de ataque ao
Fiel Amigo e a longa carreira de Paula nos palcos, na Gulbenkian e no
exterior, a plataforma Sentidos Ilimitados e o espectáculo Compota do
próximo dia 30 ao Teatro do Bairro. Pelo caminho da conversa, foram
surgindo outros temas, como a vida, o sonho, o futuro, metas e o
suculento arroz de feijão que emparceirava a patanisca:
Fui
bailarina do Ballet Gulbenkian durante 20 anos e saí dois anos antes da
extinção. Sou de São Tomé e Príncipe, nasci em São Tomé, vivi na Guiné e
um mês antes do 25 de Abril vim para Portugal. A dança começou em
frente à minha casa na Guiné. Havia uma árvore muito grande, sempre com
muita gente à volta, crianças a brincar, pessoas a tocar tambor.
Portanto, era muito fácil, quando eu vinha da escola, participar
daquelas celebrações.
Que árvore era?
Ah,
não me lembro. Era daquelas muito grandes, com a copa muito larga.
Cheia de animais, pássaros, macacos... Gente sempre reunida, com
crianças e era muito normal ir para lá dançar, tocar, bater com os pés
no chão e tocar tambores.
Uma vez contaram-me uma história sobre uma árvore muito larga, comunitária. Havia sempre um bando por debaixo.
Sim,
as pessoas juntam-se onde faz uma grande sombra, aproveitam para vender
os seus artesanatos, a sua comida. Fazem ali as suas refeições, era
tudo feito ali. Era como com os banhos, caia uma chuva torrencial e ia
tudo tomar banho para o meio da rua. Era fantástico. Foi uma infância
bastante selvagem, bastante ligada à terra e isso fez-me a pessoa que
sou. Vem um bocadinho daí, dessa ligação profunda.
É muita memória.
Muita
muita. E os cheiros. Ainda há pouco tempo cheirei uma caixa de caju. Eu
pedi para trazerem caju em fruta, não sei se já provaste?
Provei.
Nós
apanhávamos da árvore. Limpávamos e comíamos. Há pouco tempo uma amiga
que me trouxe caju de Cabo Verde. E quando abri a caixa e cheirei, tive
que me sentar, deu-me uma tontura. Levou-me à memória. Nem os comi todos
pois alguns estavam já passados da viagem, mas só o cheiro, foi assim
uma coisa...
E voltaste lá?
Não.
Não voltei. Voltei a Cabo Verde e ao Senegal com o Ballet Gulbenkian,
mas à Guiné nunca mais voltei. E São Tomé também não. De São Tomé saí
com dois anos de idade e aquilo que me lembro é aquilo que os meus pais
me contam. Gostava muito de voltar e até de trabalhar em São Tomé. Até
cheguei a contactar a Roça de São João. Há aquele senhor, o João Carlos
da Silva, com um programa em que cozinha ao ar livre. Eles têm uma
residência artística e um centro cultural e já os tentei contactar. Mas
também há muita malária e eu não posso levar o meu filho com 11 anos e
não posso levar e expô-lo ainda assim.
Quando fui para
Sintra fui para um colégio onde havia ballet e eu gostava imenso de
ballet, de dança. E o meu pai ofereceu-me um livro, o Ballet Sem Mestre,
que era um livro pequenininho que ensinava as primeiras posições, a
técnica dos braços, a posição dos pés, o Arabesque, as mãos... a minha
mãe dizia que eu andava sempre a treinar, agarrada à barra da cama a
treinar.
Foi assim que começou a tua formação?
Primeiro
em África, com as danças mais tradicionais, mais espontâneas. Tudo mais
espontâneo. E, depois, nos bailaricos cá em Lisboa, com o folclore e as
festas e os Santos. E a ida para Sintra fez-me conhecer esta escola,
que era duma senhora inglesa, a Neilma Williams. Que foi a minha mãe do
ballet, a pessoa com quem trabalhei esses primeiros momentos para
aprender um pouco a técnica, para além do livrinho. E ela despois
sugeriu aos meus pais levarem-me à Gulbenkian, porque a Gulbenkian fazia
cursos de bailado e fazia audições anuais para integrar outros alunos,
miúdos jovens. E tinham cursos de bailado que foram criados pelo Jorge
Salavisa. Eu fui à audição, tinha onze anos, quase a fazer 12.
Isso não é considerado tarde?
Sim,
pode ser considerado tarde. Mas tive a sorte de passar na audição. Eu e
outra colega minha, que depois continuou a ser minha colega durante 20
anos, que é a Paula Fernandes, que é artista plásticae faz jóias com
motivos do Minho. E, a partir daí, tínhamos aulas ao final do dia,
andava em Sintra no liceu e vinha de comboio para Lisboa todos os dias
ao final do dia para fazer as aulas de dança clássica e de dança
contemporânea com a Manuela Valadas. Aulas com o Jorge Salavisa de pas
de deux. Paralelamente a isso, havia muita gente a vir à Gulbenkian ver
os bailarinos, o Jorge sempre foi uma pessoa muito interessada.
Em expor?
Não
só em expor, mas também em dar novas oportunidades às pessoas. Havia
por exemplo, o Fernando Lima, que era coreógrafo do teatro de revista e
televisão. Ele foi uma das pessoas que nos angariou para fazermos
coisas. Uma das coisas que fiz foi uma peça do Bernardo Santareno no D.
Maria II, com Ruy de Carvalho, Rui Mendes, todos esses grandes do Dona
Maria II - nem consigo dizer o elenco todo, e estivemos em cena nove
meses, o que foi uma experiência brutal. Isto para uma miúda de 14 anos!
Fiz também trabalhos para a televisão, o Sabadabadu, publicidades
também, sempre pela mão do Fernando Lima, porque ele estava muito ligado
a essas produções de televisão e teatro. Depois, aos 16 anos, o Jorge
Salavisa convidou-me para entrar para o Ballet Gulbenkian, como
profissional. E eu aceitei, obviamente.
Foste bastante precoce, então.
Foi
uma experiência gira, toda essa dinâmica da televisão, dos programas e o
contacto próximo com os organizadores, com os assistentes, com todas as
equipas. Todo aquele mundo, abriu-me... Sempre fui muit aberta, sempre
me considerei não portuguesa mas uma mulher do mundo. Eu sou terráquea.
Sou habitante do planeta Terra. Até haver outra novidade, para mim não
há fronteiras, não há delimitação.
A ideia da portugalidade é o fado, não é estática. Temos muito da raiz africana, também.
Temos essa raiz, sim.
Sou
sempre ávida de conhecimento, apesar de não ler jornais, não ver
televisão, não ver as notícias. Mas gosto de estudar, gosto de me
informar. Tenho amigos que me telefonam a dar as notícias.
Eu
compreendo isso, também não vejo televisão. Até vi ontem, mas calhou,
estava ligada e passei. A televisão nem é minha, é da casa onde estou.
Investigo
tudo o que tem a ver com sustentabilidade, com ciência, com
diversidade, são coisas que me interessam. Novas descobertas da ciência,
tudo isso me interessa muito, gosto muito. A expansão do Universo, isso
é que realmente é importante, não se o Manel matou a Maria. Naturamente
as pessoas morrem e nascem, a cada segundo, mas interessam-me outros
tipos de informações. Faço a triagem da informação, daquela que me faz
realmente pulsar e avançar e não aquela que me prende ao sistema no qual
eu não me sinto muito pertencente.
A triagem é importante, há demasiado lixo.
Entretanto,
achei que precisava de conhecer mais, de ampliar a formação em dança
clássica e moderna. Pedi uma bolsa de estudo à Fundação, a qual não foi
aceite. E, então, despedi-me, tinha 17 anos.
Querias ir para fora?
Sim.
Eu queria ir para a London Contemporary, o The Place. Eu tinha feito
uma audição e tinha entrado e apesar de já ser velha - eu teria 16, 17
anos. Eu já era velha, entre aspas, mas gostaram e escreveram uma carta
de recomendação.
Estavas ainda no Ballet Gulbenkian?
Estava no Gulbenkian, sim.
Causa-me sempre estranheza falar de ballet e juntar-lhe contemporâneo.
O
Gulbenkian sempre foi contemporâneo, a partir da altura que eu entrei,
já apanhei numa fase neo-clássica a caminhar para o contemporâneo. Já
não se faziam aquelas produções clássicas tradicionais, já não se fazia.
A última que vi foi quando tinha para aí nove ou dez anos e foi o Quebra-Nozes. Eu assisti ao Quebra-Nozes e disse à minha mãe: "Mãe, eu quero estar ali naquele palco, eu quero ser bailarina com esta companhia."
Passados uns anos, conseguiste.
E fui.
Associa-se o ballet ao clássico.
Sim, associa-se ao clássico. Dança contemporânea é dança contemporânea. Tem várias famílias, várias vertentes ou caminhos.
Variantes.
Variantes, sim. Dança moderna, Isadora Duncan, Martha Graham e por aí fora.
E foste para Londres?
Acabei
por não ir para Londres, porque não ganhei a bolsa de estudo e não
tinha capacidade financeira para pagar a escola. Despedi-me e fui para o
centro de dança da Rosella Hightower em Cannes, que é uma escola
internacional. Fantástica, onde tive parcialmente uma bolsa de estudo.
Durante algum tempo trabalhei com o marido da Rosella Hightower, na
construção de grandes guarda-roupas para ópera. Ele era figurinista e
cenógrafo e na casa dele tinha um atelier enorme onde tinha duas
costureiras. E eu fui ajudante, separava as peças, ajudar a colocar os
brocados e a fazer as missangas. E aí também, o lado meu de figurinos,
também o fiz. A oportunidade de trabalhar com ele foi muito gira, a
oportunidade de observar, pois eu estava ali a ajudar e a assistir. E
depois fazia a escola e aquilo era o que ajudava a pagar a escola.
Depois, para ganhar algum dinheiro, criámos um grupo de breakdance, mais
três rapazes.
Isso foi quando?
Teria
18, foi em 84. Sempre gostei muito de dança jazz, de flamenco. Sempre
tentei fazer uma formação ampla, tem a ver comigo. Eu gosto de tentar
isto, de tentar aquilo. Claro que aprofundei mesmo a dança clássica, a
dança contemporânea. Mas depois também a dança jazz, disto e daquilo,
experimentar um pouco de tudo. Agora ando a querer aprender a dançar o
tango, a dançar o tango à séria.
Depois, ao final de um
ano, recebi um novo convite do Jorge Salavisa, Director Artístico do
Ballet Gulbenkian, nessa altura. E aceitei, com o meu coração muito
grato, porque eu sou portuguesa, apesar de ser uma mulher do mundo. Sou
patriota, gosto muito de Portugal e acho que temos aqui muito para dar e
é bom voltar para casa. Foi mesmo essa sensação que eu tive, de voltar
para casa.
Não ficaram ressentidos?
Não, não havia razões para ficar.
Nas áreas criativas há uma coisa essencial, que é a mobilidade.
Também
acho, é muito importante. O que é mais importante mesmo é a partilha de
ideias, e não digo o confronto, confronto é uma palavra muito forte.
Mas o facto de te dispores voluntariamente a novas culturas, de forma a
testar novas ideologias, novos ambientes. Tudo isso, é enriquecedor.
Voltei
para o Ballet Gulbenkian, foi maravilhoso, reencontrar muitos amigos e
colegas da escola. Aquele ano em França foi muito importante para mim,
para o meu crescimento especialmente como pessoa. Voltei para casa sem
perspectiva de voltar a sair tão cedo. Andava sempre aqui e ali. Fui uma
pessoa que ganhei poucas raízes e voltar para casa naquele momento foi
importante para ajudar a construir uma base. Mas foi sol de pouca dura,
pois ao fim duns anos já estava outra vez com vontade de sair para
aprender mais ainda, apesar da experiência no Ballet Gulbenkian foi um
privilégio, incrivelmente enriquecedora. Os coreógrafos que vinham, toda
a dinâmica, o repertório que tínhamos, as viagens que fazíamos. A
companhia é reconhecida internacionalmente.
Conseguias propor as tuas ideias?
Havia
espaço. Foi daí que surgiram muitos dos coreógrafos que tens por aí. A
Olga Roriz, a Vera Mantero, tanta gente que entrou nos estúdios
coreográficos do Ballet Gulbenkian.
Era um ambiente fértil para criar.
Muito
muito. Sempre houve um espírito muito familiar de reaproveitar tudo o
que havia de figurinos, de cenografia de obras anteriores que tinham
sido feitas. Mais uma vez precisei de apanhar ar e fiz um projecto com o
Jan Fabre. Precisava duma pessoa para integrar a equipa dele para fazer
uma criação no Frankfurt Ballet e ele veio na altura a Portugal. Não
sei se assistiu a um espectáculo, mas disse-me: “Queres vir comigo?”,
“Quero.” Então estivemos quinze dias na Bélgica a tentar estruturar a
criação que ele ia fazer para o Ballet de Frankfurt, para a companhia do
Forsythe. E depois fomos viver para Frankfurt durante dois meses e meio
e a trabalhar todos os dias com o Ballet de Frankfurt. Foi uma coisa
espectacular, não tanto a obra do Jan Fabre, mas a experiência com o
Forsythe e com os bailarinos, excelentes bailarinos. E depois daí fui
para Nova York, fui bolseira e estive lá uns meses, até – se não estou
em erro - Maio de 91. E ali fiz aulas com todos aqueles que já ouviste
falar, com o Cunningham e mais.
Depois, Lisboa. Nova
Iorque foi extenuante, não só pela experiência de andar de um lado para o
outro de Metro, mas também porque fazia cerca de seis aulas por dia. Eu
chegava exausta ao final do dia. Eu sinto Portugal dentro de mim, adoro
estar aqui. O que eu mais gosto é mesmo a humanidade, a humanidade do
português.
(Passa uma versão portuguesa dum Chakda, ao
qual a Paula tira foto com o telemóvel e eu explico o que é de facto um
Chakda indiano)
Há muito muito para ver, tanto para descobrir.
Quando
eu voltei para o Ballet Gulbenkian, continuei o meu trabalho e chegou a
altura de parar. Eu tenho muitas lesões físicas e depois fiquei
grávida, também. Foi outro projecto e a dança ficou para trás, já há
nove ou dez anos que não faço nada na área. Quando eu saí da Gulbenkian,
fui ainda trabalhar com a Olga Roriz durante um ano e meio, fizemos
umas produções juntas, como bailarina ainda. E, depois, parei mesmo. Saí
de Lisboa, fui viver para o campo, para junto do mar. E a minha vida,
durante dois anos, resumia-se a fazer meditação, em levar o meu filho à
escola e a estudar, a pesquisar, a aprender, a procurar resposta para a
transformação que eu própria estava a sentir. Fiz muitos cursos
pequeninos, de gestão de projectos e de gestão de projectos culturais.
Pequenos cursos de formação. Comecei a sentir que precisava de
aprofundar conhecimentos. Inscrevi-me na Universidade, tenho estado a
fazer uma licenciatura em estudos artísticos.
E foi então
que surgiu essa intenção enorme, que eu não podia mais fingir que não
estava a acontecer e achei que era interessante criar uma entidade que
pudesse ser e representar esse sentido e propósito de vida em todas as
direcções. E dei-lhe um nome, Sentidos Ilimitados. E se reparares nas
iniciais, formam SI. O sentimento de si.
Não acolhendo apenas a dança.
Em todas as direcções. Claro que a minha formação é de dança.
A Compota surge dentro dos Sentidos Ilimitados.
É
anterior à criação da marca, que a SI é uma marca registada e que
depois se tornou em associação. A Compota surge numa brincadeira em que
se falava “Vamos juntar artistas e fazer uma jam”, e alguém disse “Ah,
ya, vamos fazer uma compota.” Foi o Vítor Garcia, que também foi
bailarino e que trabalhou muito tempo no Ballet de Frankfurt e que agora
é professor aqui na Escola Superior de Dança e que trabalhou muitos
anos com improvisação. Excelente pessoa, excelente bailarino, excelente
mestre de bailado. E, em conversa com o Vítor, começámos a brincar.
“Olha, compota.” “Compota é giro, bora lá.”
Começámos a
organizar umas sessões aqui no Conservatório, cederam-nos a sala,
começámos a juntar artistas e muita gente veio. E tomou proporções muito
grandes, agora são cerca de duzentos e tal colaboradores. Era muita
gente a querer participar de várias áreas. Mas aquilo chegou a um ponto,
que sem uma estrutura por detrás e sem uma equipa de gestão de
projecto, se tornou insustentável. Eu queria criar uma marca e não o fiz
e então o projecto esteve parado durante cinco anos. Em 2009, a pedido
de várias famílias, como se costuma dizer, recuperei o projecto.
E a marca?
A
marca surge duma motivação artística de querer providenciar um serviço
que seja verdadeiramente útil, que as pessoas possam mesmo beneficiar
pelo contacto, pela proactividade, pela proximidade com o projecto em
si. Não só o artista ou o colaborador da actividade, mas quem está
presente também possa beneficiar. Que seja uma actividade que toque as
pessoas e que possa conduzir a uma ideia de serviço pelas artes. Pela
ideia de progresso enquanto artista e enquanto pessoa.
O Manifesto ID justifica-se por esse querer?
E a Compota também.
A Compota é uma mistura de várias coisas.
É uma mistura de ingredientes.
E cada espectáculo é diferente.
Sempre
diferente. É única e irrepetível. Estamos a falar de improvisação, é
composição improvisada que não é possível de replicares. Há imenso
material no canal Youtube da Sentidos Ilimitados. Há muita coisa. E são
sempre diferentes.
E depende também de quem está presente.
Depende.
Há ainda e é perfeitamente normal, alguma resistência por parte do
público de participar. Apesar de o desejar ardentemente, ainda tem algum
receio. Eu acho que as pessoas gostam de se sentirem integradas nas
coisas.
Agostinho da Silva dizia que todos nós “somos
estrelas de brilho ímpar.” E que ele, não tem o direito de dizer o que
deve ser feito, mas ajudar para seres tu próprio. O mesmo dever que ele
consigo próprio é de ser quem ele é. Um direito e, ao mesmo tempo, um
dever de ser quem ele é. E a ideia de ser o que sou, com toda a sua
exuberância ou não, porque nem todas as pessoas são extrovertidas.
Interessa valorizar o que és e aquilo que sabes. Todos nós somos
criativos, todos temos capacidades que devem ser nutridas.
Eu costumo dizer que cada pessoa, mesmo por mais desfasada que pareça, tem sempre algo para oferecer.
Eu acredito piamente nisso.
Nem que seja a fazer uma tarte de maçã.
Por isso eu dizia que acredito na pessoa, acredito na humanidade. Na identidade, e daí o manifesto identidade.
O Manifesto iD.
Identidade.
Explica-me um pouco...
O
Manifesto iD? Eu estreei um solo na Malaposta e o Manifesto iD foi um
estudo meu sobre a minha natureza, a natureza humana. E fiz um solo como
um desafio para mim própria como outra coisa que eu queria oferecer. As
pessoas gostaram bastante. E o meu grande objectivo era tocar,
tocar-te. E emocionou-me.
Tudo o que tens feito, anda muito à volta da identidade, da participação.
Sim.
Parece-me a procura da essência.
Eu acho que não ando à procura da essência, eu acho que já vislumbrei.
Queres é partilhá-la.
Quero
é partilhar esse sentido e esse propósito, o sentido de vida e esse
propósito meu. O que eu gostava mesmo é que as pessoas redescobrissem
isso em si e pudessem partilhá-lo também. Porque é que o Agostinho da
Silva eu me sinto tão próxima – apesar de não ter lido a obra toda. É um
pedagogo, existe arte no saber e no fazer, toda a sua obra é muito
humanista, universalista. É assim que me vejo, cheia de humanidade, e
quero os projectos que se façam providenciei essa oportunidade a quem
participa. Não é uma coisa que se possa fazer de repente, para as
massas, mas um trabalho muito íntimo, muito cuidado, muito delicado, com
muito amor. Porque não pode ser feito doutra maneira. As pessoas são
muito diferentes, cada pessoa é um mundo.
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Enlaces
Sentidos Ilimitados : http://sentidosilimitados.blogspot.com
Sentidos Ilimitados YT : www.youtube.com/sentidosilimitados
Manifesto iD : http://www.idmanifesto.blogspot.com
Compota (dia 30 Nov) : http://www.teatrodobairro.org e http://www.youtube.com/watch?v=RLMB9Nct05w
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* Originalmente publicada a 24 de Novembro de 2011, na Le Cool Lisboa * 315
Le Entrevista ao elenco d'A Fuga por Pedro Alfacinha
Pedro Alfacinha da Le Cool Lisboa encontrou-se com o elenco da peça "A Fuga" que está ainda em cena no Teatro Tivoli por Lisboa. Bem humorado o grupo, foram respondendo sem ziguezagues ao ziguezagueio do Pedro pela produção. E sem fugas.
PA - Pedro Alfacinha
MR - Maria Rueff
JPG - José Pedro Gomes
PA - Falem-nos um pouco do que trata a peça.
MR – A ideia é justamente não se perceber. Não se pode dar o trunfo, é uma comédia de enganos, de surpresas e portanto como em todas as comédias não se pode dar logo a chave porque desvia a atenção do espectador, digamos assim. A graça disto é que é justamente parece que é mas não é, no fundo a comédia é assim.
Le Crónica ao OUT.FEST 2011 por Hugo Strawn | Fotografia por Rula Domínguez
O fim da música
O Out.Fest não é
um megafestival nem coisa parecida e ainda bem. Não há confirmações
conformadas, nem seguidores incondicionais: há a tentativa de criar
espaço, olhar em frente e atrair um público que seja criativo e
interessante. Pela música, para descobrir. O Barreiro não quer as
massas, pois disso tem outro conceito. Se já noite longa alguém tripa de
forma estranha, a ameaçar cenas menos dignas, leva um toque e um «olha
pró palco chavalo!». É uma forma do velho orgulho operário que
caracteriza a cidade, que tenta redesenhar-se no meio da tormenta.
Sons do Arco Ribeirinho Sul,
um nome burocrático para um projecto louvável. Possivelmente e
desejavelmente o que mais perdurará deste festival. O que não é pouco.
Um projecto de longa duração, apresentado nesta edição e que se alongará
por quatro. Luís Antero, fonografista, músico e radialista, a recolher
sons do Sapal de Coina, da Mata da Machada e da frente industrial
ribeirinha. Do Barreiro portanto. Da foz do Coina aos silvos das
fábricas. Não é para pusilânimes.
E então os três últimos,
digamos, artistas do festival: Stephen O'Malley, Damo Suzuki &
Sunflare, Oneida. O fim da noite de sábado...
Stephen O'Malley resumiu:
um ensaio sobre o metal. Apostando bastante no impacto físico do som,
não para abanar o capacete (como se costumava dizer nos tempos em que o
metal era popular...), mas para causar uma impressão de explosão
atómica, um processo caracterizado por súbito aumento de volume e grande
libertação de energia. Deflagração. Prelúdio afinal.
Damo Suzuki
começou a noite no bar dos Ferroviários, calmo, ao lado das taças e por
detrás da banca de souvenirs. Chapéu de coco, sorriso tranquilo, um
buda da combustão. Subiu ao palco com três rapazes com ar rockeiro
familiar e parece que ninguém se lembrava que estava diante do vocalista
dos Can. Já não é, mas foi dos Can. E para quem esperasse piscadelas de
olho, Damo, com ajuda é certo, mas sobretudo ele, largou uma descarga
de voz-ruído, pseudo-metal, pseudo-nada, insuportável: Insuportável?!
Quando Demo acabou já o público estava embriagado, as suas palavras
gritadas (japonês?! inglês?! português?!) e aquele ruído todo soavam a
melodia, canção que fica no ouvido. Mais e mais e quando acabou a
performance barreirense da sua never ending tour, os humanos ali
presentes deram conta dos estado dos seus aparelhos auditivos e ficaram
perturbados e contentes. Uma experiência estética. Concerto do ano? O
que é que isso intereressa? Quantos tatamis terá o laboratório de Damo?
Para acabar, os Oneida.
Não houve canções. Houve ruído, descargas de guitarra e o funeral do
rock. Música?! Isso perguntam os Oneida. Banda sonora de bombardeamentos
em directo, melódicas, do momento da vingança, do descolar dos caças.
Com os Oneida a coisa acabou. Só ficam uns rapazes ainda a tocar. Uma
reflexão sobre o silêncio feita de granulação. Quando vivemos?
Out.Fest 2011 : http://outfest.outra.pt/2011
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* Originalmente publicado a 10 de Novembro de 2011, na Le Cool Lisboa * 313
Le Entrevista a A Mami por Rafa
Se um estranho te perguntasse "qué feito", que lhe dirias?
“Olhe vai s’andando, às vezes sentada, às vezes voando!”
Desmancha lá o puzzle do teu nome, donde brotou o Mami?
Não. Existem várias teorias místicas sobre o tema. São quase todas absurdas e, como tal, devem ser incentivadas.
Foste a editora da Le Cool e debitas texto para os Guias ConVida. E agora, onde dedilhas tu?
Já escrevi para muitos lados e algumas gavetas. Agora, para além dos Guias Lisboa Convida (saem em Novembro) e os clips de Lifestyle Compal do canal FOX LIFE, ando doida com o meu novo alter-ego…
Comenta-me esse projecto que trazes aí na palma da mão, A Arqueolojista, posso contar aí com pérolas genuínas da arte de bem vender e comprar?
A Arqueolojista é melhor que Ferrero Rocher. Adora descobrir lojas e sítios velhinhos, do tempo que o “chefe e a dona eram tu-cá-tu-lá”, nesses dias dourados em que o freguês tinha nome, as coisas custavam “100 mél-reis”, os Evaristos tinham de tudo e dava para “anotar no caderninho” e ir lá pagar no fim do mês. Ainda existem tesourinhos destes por aí escondidos e A Arqueolojista vai coleccioná-los todos.
Le Vitória 9
Quito, capital do Equador.
Foi este ano nomeada
Capital da Cultura 2011 da América Latina. A 3200 metros de altitude,
uma cidade grande, verde, com bastante movimento e muito frio. Apanho
um autocarro que diz: “ La mitad del mundo”. Uma viagem que dura
aproximadamente uma hora e meia. Chego a uma grande torre que diz: “
Latitude zero, a 2483 metros de altitude”. No seguimento dessa torre há
uma linha desenhada no chão em sentido vertical, onde coloco um pé em
cada lado. O único lugar no mundo onde podemos estar ao mesmo tempo nos
dois hemisférios.
Le Entrevista a Tigrala por Rafa
A propósito do concerto no Jameson Urban Routes neste próximo dia 29 de Outubro ao MusicBox, atiraram-se perguntas a Ian Carlo Mendoza, Guilherme Canhão e a Norberto Lobo - as três cabeças e seis braços dos Tigrala, a ver quem fisgava. Para vos poupar os olhos, abreviam-se os seus nomes nos respectivos Ian, Guilherme e Norberto. As respostas seguem agora, em cascata.
Falem-me um pouco de vocês, quem são os Tigrala e porque será que o nome badala sempre algo a ver com felinos malhados?
Ian - Somos um trio de música instrumental nascido em Lisboa. O nome é uma antiga ideia do Norberto com a qual concordamos; e a palavra em si acaba por ser um jogo em relação à crescente indistinção entre géneros.
Le Entrevista a Lady M por Daniela Catulo
Ela é uma das DJ´s nacionais que mais tem actuado nos últimos anos. Uma verdadeira Lady que nos dá música e nós adoramos. Ela é Lady M – de Mariana. Gosta de passar House, Deep House e Vocal, passando pelo Tech e Electro-House. Cheia de energia e vivacidade, Mariana não pára de surpreender de norte a sul do país e fora dele também: Luxemburgo, Suíça ou Tunísia foram alguns dos destinos por onde esta Senhora já passou e deixou a sua marca, animando pistas de dança e levando-as ao rubro.Em 2004 juntou-se à colega Miss Pink de onde nasceu o projecto L&M CONNECTION que também tem merecido o destaque da imprensa. A DJ continua a seguir a sua paixão, caminhado e dançando e animando-nos por onde quer que passe. Podem ouvi-la já no próximo sábado na Pré-Halloween Party no Ground Zero da Discoteca Kaptal, onde partilhará a cabine com o DJ Óscar Baia ( do recém encerrado Kremlin), e com as Djs Lyla VS Allure e DJ Star.
Numa semana em que foi anunciado o fecho de uma das casas míticas da cidade, o KREMLIN, existe um ar um clima de mudanças para a noite lisboeta, de reinvenção, de adaptação a um novo contexto social. O que achas essencial que aconteça para que bares e discotecas se mantenham na corrida sempre com qualidade?
De facto encerrou uma casa mítica no panorama não só de Lisboa como arrisco-me a dizer Nacional. Na minha opinião todos aqueles que vivem na e da noite deviam rever as suas estratégias e essencialmente primar pela qualidade em todos os aspectos.
Le Entrevista a Magazino por NunoT
Magazino
surgiu quando regressei de Espanha em 2008 e achei que tinha de dar uma
lufada de ar fresco na minha carreira. Precisei de um desafio extra, e
nada mais desafiante que mudar o nome artístico, não renegando o
passado, mas imprimindo uma nova dinâmica para o futuro. Magazino pura e
simplesmente porque tenho o vício de ler jornais e revistas de diversos
quadrantes e de vários países.
Como nasceu a tua paixão pela música? E depois disso, como e quando começaste como DJ?
O
meu pai tinha uma grande colecção (100 discos) de música clássica com
os melhores compositores desde Wagner, Schubert, Beethoven, Vivaldi,
etc. Na altura olhava para aquilo como uma biblioteca. Achava piada a
tantos discos e comecei a desenvolver um gosto especial por música num
sentido lato. A electrónica surge pouco depois com 14 anos numa excursão
de finalistas a Benidorm. Aí sim, fiquei encantado com a movida, as
cabines, os djs etc. Comecei então a comprar vinis (maxis) e tocava em
casa com pratos de correia, até que aos 17 tornei-me residente de uma
discoteca em Setúbal - "Clubissimo" - a convite de dois amigos que lá
trabalhavam. Recordo-me que na altura o Clubissimo já estava na
vanguarda da música electrónica o que influenciou de uma forma muito
positiva todo o meu trajecto posterior.
E como se cruzou o teu destino com o de José Belo e a Bloop?
O
Zé fundou a Bloop, na altura subsidiária da já extinta Loop. Creio que
ele ouviu um dos temas que tinha acabado de colocar no meu myspace. Não o
conhecia. Entrou em contacto comigo para assinar um disco para a Bloop e
eu não aceitei de imediato, ficara de pensar no assunto. Na altura
vivia em Barcelona e não estava por dentro do que era a editora. Quis
saber mais. Pesquisei e horas de conversa depois resolvi aceitar e o
disco saiu. A empatia e química foram crescendo culminando com um
convite para ser sócio da Bloop ao fim de alguns meses. Ele sentiu que
poderia ser muito importante para a marca, eu achei que o meu input iria
ser uma mais valia. Na altura que entrei, no fim de 2008 coincidiu com a
minha volta para Portugal e com a trágica morte da minha Mãe que
perigou a minha entrada para a sociedade. Superado o choque inicial,
seguimos em frente com tudo o que tínhamos delineado e aqui estamos hoje
com a Bloop em grande forma.
Desde aí muito mudou.
Entraram o João Cruz e o João Gonçalves como sócios, cada um com a sua
área e fomos recrutando pessoas para preencher as necessidades que a
empresa começou a gerar. Em poucos anos conseguimos consolidar e
estabilizar a marca, outros desafios se levantam, outras necessidades
surgiram. Estamos atentos e acabámos de recrutar 2 pessoas para áreas
que neste momento fazem todo o sentido, marketing e assessoria de
imprensa.
A Bloop realizou no dia 8 Outubro a sua
festa de lançamento da nova estação e conceito para 2012, o Bloop Sport
Clubbing. Conta-nos um pouco mais deste novo conceito e imagem que a
Bloop propõe.
Quando entrei para a Bloop, decidi com o Zé
e o João incutir maior dinâmica na parte dos eventos e na imagem.
Recrutámos algumas pessoas - a Partners (Design) na pessoa do Gil
Correia - que passou a trabalhar toda a imagem da Bloop, e o Nuno
Carvalho para trabalhar no emergente mundo das redes sociais (isto no
inicio de 2009). Na altura a Partners sugeriu a introdução de temáticas
com períodos de 9 a 12 meses. Começámos pelo trabalho, seguido da
fé/culto onde a imagem já passou de uma forma mais consistente. Agora
para os próximos 9 meses optámos pelo desporto. Desta vez a ideia partiu
de nós, o Gil e a sua equipa desenvolveram toda a temática de uma forma
brilhante, aliás o Gil tem tido um papel fulcral no sucesso da Bloop.
A
par da temática lançámos o Bloop Card. É um cartão que vem premiar e
fidelizar os clientes que acompanham a Bloop de forma mais interessada e
assídua. O cartão tem um chip com todos os dados do seu portador para
facilitar e melhorar a identificação na porta dos nossos eventos. Este
cartão tem uma série de vantagens associadas. Para já foram impressos
350 como forma de manter alguma restrição e exclusividade para os
portadores, com isto não estamos a fechar portas para novos
"desportistas" mas sim beneficiar aqueles que connosco já privam de uma
forma mais constante.
Entre outras vantagens, iremos ter
entrada exclusiva nos eventos para os membros, acesso preferencial para
eventos de lotação limitada, descontos nos eventos. Estão também a ser
negociadas uma série de parcerias e descontos noutras actividades para o
target do Bloop Card.
Qual é o desporto que mais segues?
Futebol, o Vitória em particular. Ténis e Basquetebol com especial enfoque na NBA.
Praticas algum desporto? Qual?
Sim, squash, futebol, xadrez e umas corridas de vez em quando.
Qual o teu sucesso/feito mais recente (dentro ou fora da Bloop)?
O
melhor ainda está por vir, o meu próximo disco que sairá na Bloop tem
tido muito bom feedback, são 2 temas e sairá em Dezembro com remixes de
Dyed Soundorom e do Tiago Marques. Antes desse sairá pela Bloop um outro
EP do Faster (Romeno que convidou os também romenos Livio & Roby
para remisturarem o mesmo EP).
Qual o teu próximo grande desafio para o futuro?
O
maior desafio que tenho para a Bloop, é fazer com que a marca tenha um
papel activo na intervenção social. Os primeiros passos nesse sentido já
estão a ser dados. Estamos por exemplo a negociar com uma ONG uma
colaboração estreita num futuro breve.
Como é ser DJ em Portugal/Lisboa?
Ser
Dj em Lisboa é seguramente mais fácil que no resto do país, excepção
feita ao Porto. É muito difícil vingar neste meio se viveres fora destas
2 grandes urbes. Infelizmente Portugal tem apenas 2 grandes pólos
urbanos ao contrário por exemplo da vizinha Espanha.
Tudo
se centra em Lisboa e no Porto, todas as novas tendências são absorvidas
por estas 2 cidades. Sim, porque em Portugal são raros os casos onde se
criam as tendências. Em 90% dos casos seguem-se tendências criadas nas
grandes capitais europeias. É um pouco o resultado de termos uma
população de apenas 10 milhões de habitantes e de estarmos no canto mais
afastado do centro da Europa. Em Portugal tocar a música que toco
também não é fácil. Existem no máximo 10 clubes onde posso tocar com
regularidade, nos restantes toco apenas esporadicamente. O mercado está
invadido pela música dita comercial. Se por um lado é mau porque sobram
poucos locais para ouvir outras correntes, por outro, as pessoas que
realmente não gostam dos géneros mais comerciais tornam-se mais fiéis às
outras correntes. No fundo é o que tem acontecido com a Bloop. Por
incrível que possa parecer, apesar de caminhar em sentidos opostos,
quanto mais o mercado da música electrónica comercial cresce, mais a
Bloop se consolida e reúne mais simpatizantes, claro está fruto também
do trabalho que temos vindo a desenvolver.
O que és tu para Lisboa e Lisboa para ti?
Vivo
em Lisboa mas não sou de cá. Nasci em Setúbal apesar de todas as minhas
origens remontarem aos Açores. É a segunda vez que cá vivo, desta vez
de uma forma mais efectiva. Lisboa é a capital e como disse antes, se
queres vingar nesta área é aqui que tens de estar. Tudo se passa aqui e,
ou acompanhas, ou tudo esmorece e morre.
Gosto de Lisboa.
Da famosa luz, da oferta cultural (aqui estamos ao nível das maiores
capitais europeias), do clima, das diferentes etnias que co-habitam num
pequeno espaço físico. Na zona onde vivo existe uma paleta de
nacionalidades incrível. Tenho conhecido gente das mais diversas partes
do globo, se ao início achava um pouco estranho, agora adoro sentir os
diferentes cheiros e ouvir vários idiomas, tenho feito inclusive bons
conhecidos de outras origens: Indianos, Brasileiros, Guineenses,
Paquistaneses, Cabo-verdianos, Espanhóis, Finlandeses, Romenos…
Para
Lisboa não sou mais que um cidadão que se limitou a migrar para cá em
busca do triunfo. Algo impossível nesta área noutra qualquer cidade
deste país com excepção do Porto. Aliás na Bloop, entre todos os que
trabalham e colaboram connosco, 90% das pessoas são de fora de Lisboa.
Mudaram-se para cá em busca de emprego e melhores condições de vida.
Qual é o teu “canto secreto” em Lisboa? (locais que te inspiram)
Não tenho, locais que me inspirem em Portugal só mesmo nos Açores.
Quando não estás atrás da consola, por onde andas? Onde te podemos encontrar na noite nesta cidade branca?
Em
Lisboa à noite, certamente no Lux, às vezes no Cais do Sodré e Santos, e
muito pouco no Bairro. Não sou particular fã, especialmente ao
fim-de-semana.
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Enlaces
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* Originalmente publicado a 20 de Outubro de 2011, na Le Cool Lisboa * 310
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